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A abstenção eleitoral e a justa insatisfação na América Latina



Nas últimas eleições presidenciais brasileiras, foi batido o recorde de abstenções e votos nulos, superando a eleição anterior de 2014. Foram mais de 10 milhões de votos nulos e brancos, enquanto quase 30 milhões de eleitores não compareceram às urnas, um nível de 20,3%, ficando atrás somente do registrado em 1998.


O reacionário vencedor do pleito, Jair Bolsonaro, recebeu somente 33,4% dos votos no primeiro turno, considerando todos os eleitores que estavam aptos a votar naquele ano: ele recebeu 49 milhões de votos de brasileiros para um total de 147,3 milhões eleitores. No segundo turno, ele foi eleito com apenas 39% do total, com 57 milhões de votos. Olhando os números de uma forma mais atenta, ao contrário do que nos é empurrado pela grande mídia, vemos que mais de 90 milhões de eleitores não apoiaram Bolsonaro, o que nos faz perceber que a tal da legitimidade absoluta que seria oriunda do voto do povo não passa de mais uma das mentiras que nos vendem caro.


E nos países vizinhos o cenário também não é diferente. Os números finais das eleições também demonstram a insatisfação geral dos povos com a disputa eleitoral burguesa.


Na recente eleição na Colômbia, o candidato Gustavo Petro, apresentado com verniz de “esquerda”, mas que já na primeira entrevista garantiu que não atacará o sagrado direito da propriedade privada e que quer “desenvolver o capitalismo na Colômbia”, foi eleito em uma disputa com larga abstenção: 41,83% dos colombianos não foram votar.


A eleição realizada no Chile no ano passado também apresentou números consideráveis. Apesar da celebração de ter sido a eleição com maior adesão em 30 anos, ainda não conseguiu mobilizar pouco mais da metade do povo chileno, cuja insatisfação é justa diante do peso da política neoliberal aplicada no país desde Pinochet até o momento atual de “democracia”.


Não à toa, o governo do presidente eleito Gabriel Boric tratou de, logo nos seus primeiros passos, deixar claro que tudo permaneceria como está. A sua falta de empenho em defesa da Nova Constituição reprovada no plebiscito há semanas e seu alinhamento aos interesses de Washington atestam tal fato.


Nas eleições gerais peruanas em 2021, o descontentamento daquele povo também se manifestou nas urnas. Em uma eleição que opôs mais um nome de aparência “esquerdista”, Pedro Castillo, e a filha do criminoso ex-presidente Alberto Fujimori, quatro entre cada 10 peruanos não votaram. Mais de 6,6 milhões de eleitores do Peru se negaram a participar do jogo da “democracia burguesa” em um país que desde 2016 já derrubou 3 presidentes e dissolveu o parlamento nas disputas intraburguesas locais.


Cenários parecidos iremos encontrar se analisarmos as últimas eleições em outros países latino-americanos, ou mesmo países em situação semicolonial como a nossa, na Ásia e na África. Ou ainda mesmo em países centrais da Europa os números de votos nulos e abstenções não são muito menores dos que os citados.


Mas ao contrário do que o senso comum possa perceber, tais números não sinal de falta de cidadania ou responsabilidade de homens e mulheres desses países, mas sim reflexo imediato do descrédito da chamada “democracia burguesa” que se amplia a cada ano que passa. Todas as promessas feitas pelo Estado Democrático de Direito estão caindo por terra diante da dura realidade enfrentada pelas massas populares latino-americanas, que tentam sobreviver diante do desemprego, da fome, da falta de moradia, falta de acesso à educação e à saúde, enfim, sem usufruir de quaisquer direitos básicos que a campanha eleitoral promete a cada pleito eleitoral.


A abstenção do voto não é uma falta de patriotismo ou mesmo fazer o jogo da direita, como ouvimos muito frequentemente no cotidiano aqui no Brasil, mas um posicionamento político de boa parcela do nosso povo diante do apodrecimento do Estado burguês aos nossos olhos.


Evidentemente, a mera abstenção em si, não faz com que a situação seja revolucionária. Mas é preciso que compreendamos tal fato com clareza e de forma materialista. A condenação de quem escolhe não votar em um ou outro, mesmo que algum dos candidatos se apresente com a solução de todos os males, não é nada além da manifestação do oportunismo característico daqueles que enxergam a política somente nas eleições, daqueles que resumem a luta ideológica pelo avanço da consciência das massas apenas a apertar botões em uma urna eletrônica de dois em dois anos.


A crescente negação da participação nas eleições longe de ser um obstáculo, é uma oportunidade de alimentar o descontentamento das massas com “democracias” como a brasileira, de ampliar a compreensão dos problemas fundamentais e de quem são os nossos inimigos e de apontar que o caminho para a superação desse Estado burguês apodrecido é a luta anti-imperialista e pelo socialismo. Que somente assim os povos latino-americanos poderão construir uma verdadeira democracia popular, com o poder nas mãos dos trabalhadores, garantindo todos os direitos que a “democracia” burguesa e seus votos nunca poderão oferecer.





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