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Agostinho Neto: "Lançamento da campanha de alfabetização"


Esta cerimônia simples que marca o inicia de uma campanha vasta ao nível nacional na "Alfabetização" do nosso povo, reveste-se de uma importância particular, e essa importância, vem do facto, de nós todos sentirmos, que no nosso País, há carências essenciais que temos de vencer no mais breve prazo de tempo possível. Nós temos insistido em dizer que ainda não estamos a funcionar, não estamos a produzir, não estamos a viver o suficiente no nosso país.

Temos dito sempre que, os efeitos da guerra, as duas guerras de libertação, a destruição das pontes e estradas, a destruição de edifícios, a destruição de maquinarias, a falta de quadros, a falta de técnica, têm sido factores que não têm deixado desenvolver suficientemente o nosso povo, para adquirir aquele nível que nós desejamos para todos nós.

É certo que o MPLA e o Governo da República Popular de Angola têm feito o possível, por andar depressa, têm tomado medidas, têm tomado decisões concretas, para melhorar o nível do povo, para corrigir aquilo que foi destruído pelo colonialismo.

O colonialismo deixou-nos uma herança bem pesada, uma herança que nós só apagaremos daqui a dezenas de anos, mas podemos pelo nosso esforço ir diminuindo as consequências do colonialismo. E é assim que estamos a confiscar fábricas abandonadas, a confiscar fazendas abandonadas, a confiscar prédios abandonados, todos os bens enfim, que devem servir o nosso povo, e que os colonialistas criminosamente destruíram, ou deixaram abandonados.

Temos estado a tentar recuperar a maquinaria, que deve servir nas fábricas para a produção, temos tentado recuperar escolas, recuperar hospitais, recuperar enfim, tudo aquilo que podemos recuperar neste momento. Não estamos sós nesta tarefa grandiosa, estamos com os nossos amigos, com os nossos aliados, que nos têm acompanhado sempre e com uma dedicação, com uma generosidade, que nós nunca poderemos esconder, têm dado uma contribuição valiosa para levantar o nível do nosso povo.

Claro que não podemos dizer que atingimos já o nível desejável, as nossas indústrias ainda não estão a produzir aquilo que nós desejaríamos, algumas indústrias estão a funcionar de maneira a produzir apenas 30%, outras 50%, e raramente ultrapassam os 55, 60%, quer dizer que ainda não atingimos os níveis de desenvolvimento que havia em 1973, quando o colonialismo estava florescente, aqui em Angola. Nós ainda não atingimos na agricultura, os níveis que a produção colonial tinha quando estava aqui instalada. Nem se quer ainda ocupamos todas as fazendas, não fizemos ainda as cooperativas de produção, temos de fazer esforços para atingir esses níveis, para ocupar tudo aquilo que os colonos deixaram, para o nosso próprio proveito.

É claro que aqui põe-se o problema que muitas vezes alguns camaradas trabalhadores põem, de quem é que fica com os lucros. Nós hoje temos vários tipos de empresas, os camaradas sabem que os três tipos principais são, a empresa estatal, a cooperativa e a empresa privada. A maioria dos bens ou das cooperativas constituem, portanto, esses bens, bens sociais do povo, e quando nós estamos a produzir, já não estamos a produzir para patrões, para privados, para particulares, mas estamos produzir para todo o povo angolano, para que nós possamos ter não somente a roupa, a alimentação e outros bens pessoais, mas também as escolas, os hospitais e bens para todo o povo.

Por isso, é nosso dever compreender que devemos aumentar a produtividade a todo momento para atingirmos os níveis desejados. No entanto, dentro desta problemática toda, existe um capítulo que os camaradas abordaram hoje, é o problema da formação de quadros. Não pode haver uma boa produção se não houver quadros, se não houver técnicos, e não pode haver técnicos se não houver trabalhadores que saibam ler e escrever. A grande maioria do nosso povo é analfabeta. Estima-se em 85%, em cada 100 homens. 85 não sabem ler nem escrever. Isto é uma desgraça para um país que esta a pretender desenvolver-se, quer dizer que o homem que não sabe ler nem escrever não pode de maneira nenhuma ser um bom técnico, ser um bom quadro, porque não pode estudar por si próprio. Não pode ler nem um jornal, não pode ler um livro, não compreende muita coisa daquilo que se passa no mundo, não aprende a técnica, precisa portanto de aprender a ler e escrever.

E quando o Comité Central disse que aprender é um dever revolucionário, é exactamente assim, é que nós não fazemos a revolução sem concretizar a cada passo as ideias que nós temos para o desenvolvimento da nossa revolução. Temos de concretizar neste capítulo também, o capítulo da formação de quadros. Sim, nós aprendemos a manejar uma máquina, nós aprendemos a manejar uma charrua, nós aprendemos a manejar um tractor mas não passamos daí se não estudarmos, se não aumentarmos o nosso nível intelectual, e temos de começar pela base, aprender a ler e a escrever.

Por isso, a iniciativa, aqui, dos camaradas da TEXTANG, é uma iniciativa louvável, é uma iniciativa extremamente boa, que vai ser seguida em todo o País, tanto as organizações do movimento, como os Órgãos do Poder Popular, os Estudantes, em todo o país vão seguir o exemplo dos camaradas da TEXTANG, para formar também grupos de alfabetizadores, alunos que queiram aprender, para podermos no futuro produzir mais, para podermos valorizar individualmente. Cada um deve ter ambição de ser melhor do que é hoje e amanhã poder funcionar melhor do que funciona hoje. E colectivamente vamos ter uma elevação do nível do nosso povo.

No entanto, camaradas, todos precisamos que, o entusiasmo do inicio é sempre bom, mas é bom também ser-se persistente. Será bom que, daqui a alguns meses, quando nós viermos a concluir o primeiro curso de alfabetização, haja o mesmo número ou um número maior de camaradas que participaram na reunião, porque o estudo exige persistência, exige que alguém tenha de facto vontade de chegar ao fim. Há dificuldades, há por vezes empecilhos, há o trabalho, há o cansaço, há factores psicológicos que por vezes fazem com que se desista dos estudos.

É bom não desistir enquanto não se chegar ao fim, enquanto não se souber de facto ler, escrever, contar, cada um deve persistir. Não é só começar para depois acabar no dia seguinte, é preciso continuar, continuar sempre, até chegar ao fim.

E nesta questão da alfabetização, há vários factores a considerar. Há, por um lado, os professores, por outro lado os alunos. E por outro lado ainda, os livros, os materiais de ensino. Quanto aos professores, penso que todos aqueles que têm alguma instrução devem oferecer-se para ensinar os outros que não sabem ler nem escrever, aumentando assim o número de alunos que vão alfabetizar-se. Todos aqueles que podem dispensar uma ou duas horas por dia, para ensinar, devem fazê-lo porque isso é uma campanha de importância fundamental para o nosso povo. Quanto aos alunos, é preciso que os alunos sejam alunos que honestamente reconhecem se sabem ou não sabem ler. Alguns camaradas têm vergonha de dizer que não sabem ler nem escrever, e alguns dizem sim, que sabem ler e escrever e lêem o jornal ao contrário.

Não deve ser assim, quem sabe ler sabe mesmo, quem não sabe ler, vai à escola e aprende. É melhor ser-se honesto para não prejudicar a comunidade. E quanto ao material de estudo, eu teria de fazer aqui um apelo às nossas tipografias, para imprimirem mais cartilhas, aquelas que foram imprensas não chegam para o nosso País. Foram imprensas algumas centenas, umas dezenas de milhares de manuais que não é nada para o País, visto que esta campanha vai também ser iniciada noutras províncias, não somente em Luanda, mas noutras províncias também já se iniciou a inscrição de alunos, como na Huíla, Huambo, Bié, Cunnene, Cabinda, Moçamedes, Lunda, Moxico e creio, que em Malanje também. Portanto em todas estas províncias vai-se iniciar esta campanha de alfabetização com o auxílio das organizações de massas, com o auxílio de todas aquelas que podem dar o seu contributo. Eu creio que a JMPLA, a partir do mês Janeiro poderá dar uma contribuição maior, porque os exames terminam no mês de Dezembro, Janeiro.Depois deste mês poderão então os camaradas estudantes dar uma contribuição maior, para alfabetização daqueles que ainda não sabem ler nem escrever.

Eu falei de exames, talvez os nossos camaradas estudantes se admirem, porque alguns dos estudantes têm estado a pedido para não fazer exames este ano. Nós pensamos que sim, há dificuldades, não houve um período regular de aulas, tanto nas escolas primárias como nas escolas secundárias, houve irregularidades quanto a professores, quanto a manuais, quanto mesmo a frequência dos alunos, mas nós pensamos que, de qualquer maneira, é necessário para passar de classe, cada um deve prestar uma prova. E portanto, neste ano vamos fazer exame, os alunos, estudantes, que estão nas escolas primárias e secundárias devem preparar-se para fazer o seu exame final no mês de Janeiro.

As camaradas da OMA também vão fazer, vão participar desta campanha de alfabetização e assim como os camaradas da UNTA que, creio, já começaram a fazer a alfabetização e um setor muito vasto de grande importância, o exército, também já começou a realizar este processo da alfabetização. As camaradas das FAPLA precisam também de aprender, precisam de aumentar os seus conhecimentos, e isso faz com que, o conjunto da nação, todos os setores, se engaje na alfabetização, no aprendizado, no aumento do nível cultural, individual e coletivo.

Eu creio camaradas, que com este passo dado, concretizando portanto um dos capítulos da nossa Reconstrução Nacional, nós estamos assim a cumprir com as determinações do nosso Comitê Central. Estamos a por em prática as ideias que temos difundido sobre o progresso do nosso País, e vamos, assim, eliminar um dos elementos herdado do colonialismo que é um fator de atraso para o nosso povo, que é o obscurantismo, a ignorância, a falta de conhecimentos literários.


Desejo portanto, ao felicitar mais uma vez, os camaradas por esta iniciativa, que haja constância nos estudos, que haja persistência e que no fim quando fizerem as vossas provas finais, verão os seus benefícios.

A luta continua! A vitória é certa!

Discurso proferido pelo Camarada Presidente Dr. António Agostinho Neto, aos Camaradas da TEXTANG, em 22 de Novembro de 1976, que originou o Dia do Educador

Do agostinhoneto.org

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