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"Carta de Salvador Allende à Zhou Enlai"


Ao senhor Zhou Enlai

Primeiro Ministro

República Popular da China

Pequim.

Estimado Primeiro Ministro e amigo:

É com grande prazer que li a carta que você teve a bondade de fazer chegar até mim por intermédio do Ministro de Relações Exteriores do Chile, senhor Clodomiro Almeyda.

Permita-me, em primeiro lugar, expressar-lhe o reconhecimento do povo e do Governo do Chile pela forma tão positiva e gentil com que a Ud. e as autoridades e o povo de seu grande país receberam ao Ministro Almeyda e sua comitiva. Coincido com a Ud. que esta visita contribuiu em alto grau ao conhecimento mútuo entre nossas respectivas nações e em que seus resultados redundarão no robustecimento da amizade entre China e Chile e na crescente cooperação que desejamos, tanto nas esferas políticas como econômicas e culturais.

Quero agradecer, respeitosamente também, a ajuda concreta que seu Governo tem nos fornecido e que a Ud. aponta em sua carta. Compreendemos perfeitamente as exigências à que este submetida a economia de seu país, tanto por seu magnifico esforço para impulsionar seu desenvolvimento e melhorar as condições de vida de sua população, como pela assistência prestada ao Vietnam e outros povos da Indochina, vítimas de uma agressão injusta e devastadora.

Sobretudo, o que apreciamos é a manifestação de solidariedade revolucionária e humana que envolve a atitude de seu Governo no que diz respeito ao Chile.

Felizmente, devido ao valor e sacrifício dos povos da indochina e ao apoio fraternal das nações que combatem o imperialismo, entre as quais a sua nação ocupa um lugar destacado, tal agressão caminha para seu final. Isso permitirá aos países que formam o front anti-imperialista, utilizar parte de seus recursos na intensificação da luta pelo progresso dos povos que buscam sua emancipação econômica e uma existência mais digna.

Meu Governo tem sempre sustentado que são o esforço nacional e a plena mobilização de seus recursos internos a base fundamental de seu desenvolvimento econômico-social, e isto é reiterado em todos os foros internacionais.

Como Governo que herdou uma altíssima dívida externa de governos anteriores com os países capitalista, dívida que foi empregada se não de forma parcial, investido em obras que produziram bem-estar as grandes massas diferidas, sabemos quão responsável e justa é sua opinião no sentido de que é perigoso "inclinar-se demais na ajuda externa das grandes potências". Pensamos nos empréstimos concedidos sob condições onerosas, a juros altos e prazos curtos, cujos objetivos não são promover a mobilização de recursos internos para melhorar o bem-estar de todos os habitantes e que muitas vezes estão atrelados a condições políticas ou econômicas contrárias aos interesses dos povos em desenvolvimento.

No que diz respeito a este tipo de cooperação, tão habitual no mundo capitalista, a experiência do Chile se inscreve entra as que você qualifica justamente de “dolorosa”.

Meu conhecimento sobre a China e de seus dirigentes, que data de muitos anos, faz-me adquirir uma consciência exata das admiráveis conquistas de seu país na luta para transformar sua estrutura social e econômica, superando o atraso em que foram mantidos por longos anos de exploração por uma parcela de grupos privilegiados nacionais e estrangeiros. Vocês têm obtido estes resultados, como você disse, passo a passo, mediante sacrifícios notáveis de todo o povo. Nós também estamos decididos a avançar, apoiados no esforço consciente de nosso povo: mas, ao mesmo tempo, não conseguimos escapar das tremendas dificuldades que um pequeno país como o nosso enfrenta, que está muito distante de ser autossuficiente, cuja economia depende num grau extremamente elevado de seu comercio exterior, que tem sido objeto de um virtual bloqueio econômico, que nos têm privado subitamente de uma grande porcentagem dos recursos necessários para importar alimentos, matérias primas industriais, bens de capital e que tem sido agredido econômica e politicamente pelo imperialismo com a finalidade de estrangular nossa economia e de derrubar o Governo Popular que tenho a honra de dirigir. Se estamos conseguindo superar tais tentativas e agressões, isso se deve ao sólido apoio da classe operária e camponesa, que derrotou a subversão interna – alentada e ajudada a partir do exterior –, pela solidez de nossas instituições democráticas e pela lealdade republicana e constitucional de nossas Forças Armadas. Nas recentes eleições parlamentares, meu Governo recebeu um estimulante respaldo político do povo, que consolidou notavelmente a situação e derrubou muitos dos obstáculos que enfrentamos.

Gostaria de dizer que estamos muito encorajados pela evolução auspiciosa experimentada por muitos países latino-americanos em suas posições políticas e econômicas em vista da dependência externa do imperialismo, que obedece a uma consciência revolucionária e nacionalista cada dia mais estendida e profunda, que foi recentemente manifestada na última reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas no Panamá, e nos recentes encontros da Comissão de Coordenação Latino-Americana (CECLA) no México, da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) em Quito e na Terceira Assembleia Ordinária da OEA, nos quais se refletiu o consenso latino-americano em defesa da soberania sobre os recursos naturais e de solidariedade com o Chile diante da agressão das companhias transnacionais.

A UP, termina seu informe destacando que seu Governo não omitirá esforços para que se fortaleça a amizade entre China e Chile. Além de expressar meu profundo reconhecimento por isso, quero também manifestar que esta atitude será correspondida pelo meu Governos com o máximo de vontade e com toda a potência de nossas forças.

Seguiremos impulsionando esta cooperação e buscando na esfera bilateral – para a qual confiamos na compreensão dos dirigentes da República Popular da China – sobre as realidades tão particulares deste momento histórico que atravessa o Chile. Também aspiramos revigora-la nas Nações Unidas e em outros foros multilaterais, particularmente no que diz respeito a ação para vencer o subdesenvolvimento dos países do Terceiro Mundo. Até agora temos coincidido no essencial dessa luta e estamos seguros de que seguiremos fazendo.

Envio-lhe esta carta com o Embaixador do Chile em Pequim, senhor Armando Uribe, que apresentará o testemunho de minha mais alta consideração e apreço pessoal.

Meus cumprimentos com o maior afeto, de seu amigo

Salvador Allende Gossens, Presidente da República do Chile

Santiago, 30 de abril de 1973

Traduzido por L. Henrique

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