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Defesa e solidariedade ao movimento estudantil de Assis (SP)


Em greve deliberada em assembleia geral desde o dia 28 de maio, os estudantes da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis estão sofrendo repressão jurídica e ameaça do uso das forças policiais por parte da direção da unidade. Como desde o início do Golpe jurídico que assolou nosso país diversas frações do Estado entraram em uma maratona repressiva, ao que tudo indica, a autarquia unespiana não quis ficar para trás nesta corrida. Rompendo todas as tradições de tolerância e respeito à legitimidade das manifestações estudantis, que vigoraram desde o final da Ditadura Militar, a atual direção da unidade de Assis resolveu tratar os estudantes como caso de justiça e de polícia. Não teve o menor escrúpulo nem mesmo em impor, em casos de “esbulho”, uma multa de R$ 10 mil diários para 7 pessoas escolhidas de modo completamente obscuro, sendo que dentre elas, ao menos dois são estudantes de permanência estudantil – ou seja, estudantes oriundos das classes trabalhadoras e com situação de comprovada necessidade socioeconômica, de acordo com relatos trazidos pelo corpo estudantil.

Após a realização de um enorme piquete nesta segunda-feira (20/06), que contou com a participação de mais de 200 discentes e com o apoio de boa parte do corpo de trabalhadores técnico-administrativos, e que parou o funcionamento da unidade durante mais 10 horas, o movimento estudantil de Assis foi surpreendido no dia seguinte com o recebimento de uma liminar de reintegração de posse, onde afirmava-se que o imóvel havia sido “tomado” pelos estudantes e que o uso da polícia seria necessário. Além do mais, a multa instituída ultrapassa em muito a capacidade de pagamento de estudantes universitários de baixa renda – a maioria dos indiciados pela instituição. Neste ponto, além de esclarecer que o piquete permitiu a entrada de uma série de pessoas com atividades indispensáveis e serviços urgentes na Universidade, é importante colocar que ele almejou desde o início uma negociação com a diretoria, reivindicando apenas a reposição das aulas e a não repressão do movimento. Não obstante, tanto a diretora quanto sua vice esconderam-se dos estudantes; espalharam boatos de que não estavam na cidade e esgueiraram-se pelos portões de trás da unidade. Negaram-se ao diálogo até o último segundo, até o momento em que os estudantes avistaram-nas e conseguiram uma reunião, que afinal, não apresentou nenhuma novidade ou abertura para uma verdadeira negociação – que pressupõem que ambas as partes cedam.

E não foram apenas os estudantes que sofreram com a repressão da camarilha acomodada na reitoria e das diretorias da instituição. Para isolar as greves estudantis e impedir uma ascensão do movimento grevista de todos os segmentos da comunidade universitária, os “gestores” impuseram um escandaloso corte de pontos para todos os trabalhadores técnico-administrativos e docentes que fizessem um dia sequer de greve. É claro, em nem todos os campi da Unesp esta medida foi aplicada com o mesmo rigor, indicando como as muitas diretorias podem ser mais ou menos omissas com a destruição da Universidade pública e coniventes com as medidas repressivas da reitoria – mera porta-voz dos interesses do governo do Estado e das empresas privadas que o financiam. Um corte de ponto para trabalhadores dispostos a lutar em defesa da educação pública, antes mesmo da greve ser julgada, só pode vir de pessoas que estão comprometidas com a elitização do sistema educacional superior paulista e mesmo com o sucateamento e privatização de todos os serviços públicos.

A Unesp atualmente passa por uma crise financeira profunda, onde quase a totalidade de seu orçamento é comprometido com o pagamento da folha salarial e das aposentadorias de seu quadro de trabalhadores docentes e técnico-administrativos. Como ela é uma instituição estatal financiada por uma parcela do ICMS – imposto que incide sobre a circulação de mercadorias e serviços –, o repasse que recebe do Estado é flutuante e acaba sendo afetado pela crise da ordem burguesa-latifundiária brasileira. Entretanto, o “remédio” proposto pela reitoria para solucionar esse problema, torna-se parte da doença, na medida em que opta pelo congelamento deliberado dos gastos com reposição salarial e contratações durante no mínimo 5 anos. Na prática, a reitoria almeja onerar os trabalhadores e estudantes por uma crise que eles não criaram, ao mesmo tempo em que sucateia a Universidade por meio de um estrangulamento financeiro tão radical quanto à PEC do Teto de gastos do Governo Federal. Por conta disso, esta medida da Reitoria foi apelidada de “PEC do fim da Unesp”. É contra este cenário que os estudantes estão se mobilizando.

Em muitos outros momentos, nós da do NOVACULTURA.info, nos colocamos inteiramente à disposição para divulgar os fatos e as últimas mobilizações dos estudantes conforme nos foram passados pelos discentes e demais segmentos em luta. Divulgamos atividades estudantis em congregações abertas, paralisações e nas atividades em greve. Deste modo, diante deste novo episódio de repressão institucional, nosso site coloca-se inteiramente solidário e à disposição do movimento estudantil de Assis, sobretudo dos 7 indiciados no vergonhoso processo liminar de reintegração de posse emitido pela direção da unidade. Reiteramos que nosso site é uma arma a favor de todas as lutas sociais justas do povo brasileiro, na qual incluímos, evidentemente, as movimentações estudantis em defesa de uma Universidade pública, de qualidade e à serviço do povo.

Como dizem os estudantes do movimento, retomando um velho verso brasileiro de resistência popular, “toda a vez que um justo grita, um carrasco vem calar”. Nós saudamos a heroica resistência dos estudantes universitários de Assis e fazemos votos para que seus brados não sejam calados nunca mais. Aos carrascos, eles que saibam, chegará o dia em que o cipó de aroeira voltará no lombo de quem mandou dar [1].

NOTAS:

[1]: Referência à música “Aroeira”, de Geraldo Vandré, que também traz versos de resistência popular da época da Ditadura Militar. Na canção, Vandré coloca “Vim de longe, vou mais longe/ Quem tem fé vai me esperar/ Escrevendo numa conta/ Pra junto a gente cobrar/ No dia que já vem vindo/ Que este mundo vai virar”. Trata-se da explosão de um grito abafado por anos de repressão, que irrompe numa torrente capaz de subverter a ordem e estabelecer uma certa justiça. Eis a situação dos estudantes universitários de Assis atualmente!

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