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A decadência do império anglo-americano: o caso Skripal


No dia 04 de março deste ano, Sergei Skripal e sua filha Yulia Skripal foram encontrados inconscientes em uma praça pública em Salisbury, cidade a 140km de Londres, no Reino Unido. Ao serem hospitalizados, rapidamente foi descoberta a presença de um agente químico de uso militar desenvolvido décadas atrás na União Soviética, conhecido como Novichok. Imediatamente, o governo britânico, na pessoa da própria primeira-ministra Theresa May, acusou o governo russo de responsabilidade pela tentativa de assassinato. Como retaliação, o governo britânico expulsou um grupo de 23 diplomatas russos de sua embaixada no Reino Unido. Poucos dias depois, os Estados Unidos e outros 20 países adotaram a mesma medida, expulsando mais de 140 diplomatas russos no total, em suposta solidariedade ao Reino Unido.

Skripal foi um ex-espião da União Soviética que atuou na Europa durante a guerra fria. Não obstante, a partir da década de 90, começou a atuar como agente duplo, fornecendo informações sensíveis de seu país de origem para os serviços de inteligência do imperialismo britânico. Por conta disso, em dezembro de 2004, ele foi preso pelo Serviço de Segurança Russo e condenado a 13 anos de prisão. Mas em 2010, em um acordo de troca de espiões prisioneiros, ele foi solto e se instalou no Reino Unido desde então.

A lógica da acusação do governo imperialista britânico, apoiado pelo seu aliado fundamental, os Estados Unidos, e seguido imediatamente por seus aliados e capachos de plantão, parece óbvia e demasiado simplista: Skripov era um sujeito protegido pelos britânicos e odiado pelos russos, por isso, foi envenenado por estes últimos. Indício maior disso é o uso de uma substância química desenvolvida para fins militares na era soviética. Sustentando-se unicamente nesta lógica, Theresa May e seu corpo de burocratas começaram uma campanha de acusação e retaliação política contra a Rússia, causando imensa instabilidade internacional e a maior crise diplomática entre Rússia e Ocidente desde a anexação da Crimeia.

Fato é que não existiam e ainda não existem provas que apontem para a responsabilidade dos russos neste caso. Os laboratórios europeus contratados para estudar amostras do químico localizado nas cenas do crime foram incapazes de constatar a origem da substância. Apenas comprovaram que trata-se do tóxico A-234, conhecido como Novichok. Entretanto, foram incapazes de determinar a procedência do mesmo, levando em consideração que esta substância pode ser produzida atualmente em mais de 20 países e, portanto, pode ser facilmente obtida por quaisquer outros que o desejem.

É também digno de nota a insistência dos governos britânicos e de seus aliados na esfera internacional em impedir a participação do governo russo e dos órgãos internacionais multilaterais na condução da investigação do caso, que podem ter conservado ainda algum grau de autonomia em relação aos ditames cada vez mais exclusivistas e arrogantes do império anglo-americano. Exercendo esta arrogância, David Williams, o juiz que procedeu o inquérito do caso no Reino Unido – que aconteceu de portas fechadas e onde nenhum representante do governo russo foi ouvido nas audiências –, afirmou que não proveria informações e que os russos poderiam saber da sentença no momento em que ela fosse divulgada. Não obstante, este mesmo juiz apontou não conseguir ter reunido provas para indicar ou comprovar culpa aos governos russos. E também pontuou que entidades internacionais, como a Organização Para Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês), fizessem testes independentes, afirmando que este era também o desejo dos familiares vivos de Skripal e sua filha.

É provável que nos próximos dias a OPCW e outros órgãos internacionais comecem uma investigação mais ampla para averiguar o caso. Mesmo assim, os britânicos continuam negando acesso e informações ao governo russo sobre o estado de saúde dos Skripal – lembrando que Yulia é, para todos os efeitos, cidadã russa. Espera-se que com o avançar das investigações internacionais, todos tenham garantidas as condições de investigação exigidas pelo caso, com acesso à amostras e aos exames já realizados. Esta seriam as condições mínimas para uma investigação legítima.

Entretanto, neste ponto é importante explicitarmos que mesmo antes de qualquer investigação mais ampla, independente e séria, o governo britânico, seus aliados e caudatários de plantão já estavam sustentando uma conclusão e emitindo uma sentença: a expulsão de mais de 140 diplomatas russos de diversos países, incluindo membros da comissão russa na ONU, que residiam nos Estados Unidos, e da missão diplomática russa na OTAN. Trata-se, de modo flagrante e incontestável, de uma demonstração de força e mandonismo típico do comportamento das grandes potências imperialistas, em especial do império capitalista principal, o império anglo-americano, composto, conforme o nome indica, pelos Estados Unidos e Reino Unido (possuindo em Israel um apêndice fundamental).

Percebe-se que desde o final da guerra fria, com o fim da União Soviética e consequentemente do bloco socialista europeu, os órgãos internacionais, que anteriormente serviram como instrumentos minimamente independentes e multilaterais, foram rapidamente se convertendo em instrumentos vulgares de legitimação dos interesses dos monopólios imperialistas, em especial dos monopólios norte-americanos e britânicos, que se consolidaram após as duas guerras mundiais como impérios hegemônicos do capitalismo mundial. Em especial a ONU, mas também outros órgãos e mesmo as legislações internacionais, se tornaram impotentes diante dos ditames destes dois impérios coloniais. Quando elas estão de acordo com os interesses destes dois impérios, as legislações internacionais são legitimadas e afirmadas como valores universais e naturais da ordem internacional. Mas quando os contrariam, elas são simplesmente ignoradas e postas de lado. Assim foi na invasão norte-americana no Iraque – que resultou em um massacre humano e uma crise societária geral em boa parte do Oriente Médio –, condenado pela ONU e pelas legislações internacionais. Naquela ocasião, bem como no atual caso Skripal, uma narrativa simplista, que foi sustentada sem a apresentação de provas, justificou as medidas unilaterais e beligerantes do império anglo-americano.

Outro fato é que no presente caso do atentado à Sergei Skripal existe flagrante instrumentalização política do império anglo-americano no sentido de intensificar a pressão exercida contra o governo russo. Alguns fatos fundamentais podem ser enumerados para explicar esta afirmação. Primeiramente aqueles enumerados acima, acerca da falta de investigações e provas contrastando com a certeza e as medidas adotadas pelo espectro de países influenciados pelo império anglo-americano. Destaca-se também a fraqueza da narrativa simplória apresentada pelos britânicos. Afinal, que vantagem teriam os russos em assassinar um agente que eles mesmos liberaram anos atrás em um acordo bilateral, ainda mais em um contexto de cerco diplomático e embargos econômicos voltados contra a Rússia? Sem apelar para uma suposta pureza moral dos russos, fato é que seria uma ação demasiadamente estúpida, pois levantaria muitas e imediatas suspeitas contra eles. Outro ponto a ser levantado é que este incidente caiu como uma luva, de modo muito conveniente à escalada da política europeia e norte-americana de pressão sobre a Rússia.

A verdade é que sucessivas derrotas do império anglo-americano – incluindo aqui sua humilhação na península coreana, onde não conseguiram curvar a República Democrática Popular da Coreia, bem como os avanços do exército sírio na guerra civil daquele país, comandados por Bashar al-Assad e apoiados pelos russos e chineses –, junto de uma insistente crise econômica que mantém seu espectro rondando as economias capitalistas ocidentais, levam estes impérios aprofundar seus ataques à antagonistas regionais, bem como a extremar as exploração dos países sob sua influência colonial. A atitude de britânicos e norte-americanos, que se põem a ladrar mais alto do que nunca, refletem a decadência destes países e o consequente aprofundamento de suas condições parasitárias em relação ao resto do mundo.

Parafraseando um grande revolucionário russo, que permanece mais atual do que nunca, o imperialismo significa guerra, inevitavelmente. Atualmente, o imperialismo anglo-americano já promove diversos tipos de “soft war” (que incluem guerras diplomáticas, econômicas, midiáticas e outros tipos que não incluam uma declaração de guerra bélica formal e direta) contra antagonistas regionais, como Rússia, Irã e China. Toda a humanidade progressista e amante da soberania e autodeterminação dos povos, deve se colocar contra as agressões do império anglo-americano. E em meio desta conjuntura crítica, os comunistas devem lançar mão das análises mais completas, integrar todas as frentes amplas anti-imperialistas e se esforçar para construir uma saída revolucionária para as massas trabalhadoras diante da profunda crise em que se afunda o sistema capitalista-imperialista mundial.

Por G. Nogueira

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