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"O terror prefere os inocentes"


Por aquilo de “estar no momento e no lugar errado”, os homens matam outros homens. E o equilíbrio natural do mundo se estremece. Por serem brancos ou negros, homossexuais ou judeus, políticos ou religiosos, os homens matam outros homens. O pecado, contraditoriamente, ocorre em nome de um Deus, ou de um “chefe”. E o bendito equilíbrio se retorce.


A decisão de prevenir e rejeitar os horrores do terrorismo, mas do que de uma doutrina política, deveria emanar da própria natureza humana. Nem o mais fanático dos crentes, nem o mais fiel dos subordinados, nem o mais radical ou extremista poderia justificar a morte de uma só das pessoas inocentes que habitam nossa “aldeia global”. Mas o terror prefere os inocentes.


“A morte de qualquer homem me diminui”, dizia o poeta metafísico inglês John Donne. Se sua máxima fosse aplicável a todos, há certos personagens, alguns conotados, que já se teriam extinguido. Mas longe de diminui-los, a morte os reconforta e serve, desnaturalizadamente, como oferenda mercenária ou «religiosa», satânica diria eu.


E por mais desnaturalizado que seja, nem todos os mortos valem o mesmo, seja econômica ou falando em termos da mídia, embora tenham em comum a inocência ou a possibilidade de uma vida inteira por viver. Em termos de morte, os cartões de crédito fazem a diferença, as contas bancárias e até a latitude, porque nestes casos pesam os efeitos da fatalidade (quase maldição) geográfica.


É alto-falante ou silenciador mundial o dinheiro do país onde ocorre a barbárie, seu peso na balança de poder internacional e inclusive, sua capacidade para ter aliados influentes. As “mortes desenvolvidas” mudam o curso da história; as mortes terceiro-mundistas ou “em vias de desenvolvimento” apenas são histórias.


Não seria preciso buscar para expor exemplos, a preto e branco. O mundo guardou luto por Paris e compadeceu Bruxelas; as chacinas do Sul, em troca, passam sem penas nem glórias e são comentadas, acaso, entre as quatro paredes de alguns dos prejudicados. Os pobres, mortos, são mais.


Dessa partilha desigual de condolências, ao estilo das riquezas, também fomos vítimas os cubanos, da mesma forma que fomos vítimas do terrorismo, que nos obrigou a viver com a morte de 3.478 dos nossos e com as mutilações de mais 2.099.


Muitas vezes Cuba chorou sozinha seus mortos, como aquele mês de outubro de 1976, quando um brutal ato de terrorismo fez com que explodisse, em pleno voo, um avião da Cubana com 73 passageiros a bordo: 57 cubanos, 11 guianenses e cinco norte-coreanos.

Já tinha sido dito antes, mas em seu discurso de comemoração pelo 25º aniversário da barbárie, Fidel foi explícito ao assegurar que “ninguém, salvo um grupo de personalidades e instituições amigas, compartilhou nossa dor; não houve comoção no mundo, nem graves crises políticas, nem reuniões na ONU, nem iminentes perigos de guerra”.


“Poucos talvez (…) compreenderam o terrível significado daquele fato. (…) Era como algo habitual. Não tinham morrido já milhares de cubanos em La Coubre, o Escambray, Baía dos Porcos e em centenas de ações terroristas, ataques piratas ou outros fatos similares?”.


Apesar do assanhamento, esta terra sempre condenou qualquer ato de terror, seja contra o país que for, inclusive contra aquele que abrigou os assassinos mais acérrimos.


Cuba assinou os 19 convênios internacionais existentes nessa matéria e é Estado parte de todos, exceto do Protocolo que modifica o Convênio sobre as infrações e certos outros atos cometidos a bordo das aeronaves, de 2014, pois este ainda não entrou em vigor.


Também cumpre, de maneira estrita, os compromissos emanados das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e participou de forma ativa nos debates sobre o trabalho do Comitê contra o Terrorismo.


Nosso país também mantém seu compromisso com a aplicação da Estratégia Global das Nações Unidas contra o Terrorismo, especialmente de seus quatro pilares, referidos, em sentido geral, às medidas para prever e combater o terrorismo; aumentar a capacidade dos estados nessa luta e assegurar o respeito dos direitos humanos para todos.


Os antecedentes dessa postura, contudo, não se circunscrevem ao período revolucionário. Remontam a 1937, quando Cuba agonizava e estava longe ainda de poder valer-se por si própria e de fazer valer algum pronunciamento.


Mas na política, sempre contraditória, muitas coisas nem são o que parecem e as explicações quase sempre andam do lado da conveniência. Conveniente deve ter sido, então, que em data tão precoce Cuba fosse um dos assinantes da Convenção para a Prevenção e a Sanção do Terrorismo.


Digo conveniente, e até contraditório, porque em 1937 um governo de turno servia de marionete e os ombros neocoloniais continuavam recargando-se de vexames.


Para os que moviam os fios, a assinatura, provavelmente, tornou-se fachada; para os cubanos, em troca, sentou as bases de um compromisso muito mais transcendente e que depois de 1959 se tornou definitivo. Tanto, que além das diferenças, em reiteradas oportunidades as autoridades nossas informaram às administrações estadunidenses a disposição de cooperar no enfrentamento ao terrorismo.


A lista é extensa. Ao acaso, escolho o feito em 1984, quando Cuba alertou sobre um plano de atentado contra o presidente Ronald Reagan, que conduziu à neutralização dos envolvidos, por parte das autoridades norte-americanas. Também, em 1998, informou-se à administração de William Clinton sobre a intenção de fazer explodir bombas em aviões cubanos ou de terceiros países que viajavam com passageiros estadunidenses.


Em 1997, 1998, 2005, 2006 e 2010, nosso país entregou de modo oficial a representantes do Departamento de Justiça e à Agência Federal de Investigação (FBI por suas siglas em inglês), milhares de documentos que continham dados sobre terroristas radicados nos Estados Unidos e em outras nações.


O resumo não poderia obviar que em 2001 e em 2002, a Ilha apresentou às autoridades estadunidenses um projeto de Programa de cooperação para combater o terrorismo. Proposta que, de maneira expressa, rechaçou a administração de George W. Bush.


As negativas não frearam as intenções e em 2009, 2010 e 2011 Cuba reiterou ao Governo dos Estados Unidos sua disposição a cooperar neste setor. E já em 2012 entregou, por escrito, uma proposta para concordar um programa bilateral, que garantisse a prevenção eficaz ou a erradicação de qualquer atividade terrorista.


O trânsito rumo à normalização das relações também esteve isento de tais pronunciamentos. Em março de 2015, o Ministério das Relações Exteriores transmitiu o interesse de assinar acordos sobre temas de aplicação e cumprimento da lei, principalmente em áreas relacionadas com o enfrentamento ao terrorismo. No fim daquele ano teve lugar o primeiro diálogo bilateral sobre tal matéria e desde então ocorreram vários encontros técnicos.


Recentemente, em junho de 2016, realizou-se em Havana um encontro técnico entre autoridades de Cuba e os Estados Unidos, responsáveis pela prevenção e o enfrentamento ao terrorismo, que coincidiram na importância da cooperação e concordaram continuar os encontros, futuramente.


Os resultados, na prática, ainda aguardam; mas isso não minguou a disposição de avançar, embora aos cubanos ainda estejam sangrando por causa das feridas.


por Yudy Castro Morales, no Granma

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