top of page
textura-03.png

Dimitrov: "Sobre a luta contra o fascismo e os Sindicatos Amarelos"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

 

Devemos saber de maneira bastante clara que o fascismo não é um fenômeno local, passageiro ou transitório. Ele representa um sistema de domínio de classe da burguesia capitalista e da sua ditadura na época do imperialismo e da revolução social. Depois da guerra imperialista, depois da vitoriosa Revolução de Outubro, depois da existência decenal da União Soviética e da enorme influência revolucionária destes fatores sobre o proletariado, as massas camponesas, as nacionalidades oprimidas e os povos coloniais, a burguesia não pode conter por muito tempo as massas populares sob a sua hegemonia de classe e fazer face aos problemas da estabilidade e da racionalização capitalistas com a ajuda dos antigos métodos e fórmulas da democracia parlamentar. Sob este aspecto, a única saída para a burguesia consiste na submissão das massas por intermédio do fascismo. O fascismo é a última fase do domínio de classe da burguesia. Todos os países burgueses passam sucessivamente ao fascismo, mais cedo ou mais tarde — duma ou doutra forma, por golpe de Estado ou por via “pacífica” mais brutal ou “mais delicada” — os métodos de transição não são essenciais e dependem das particularidades do ambiente, da estrutura social e da relação das forças políticas e de classe num dado país.

 

O perigo do fascismo para o proletariado e para o movimento sindical de classe é simultaneamente permanente e crescente. A eliminação definitiva desse perigo só é possível pela eliminação do próprio domínio da burguesia, substituindo a ditadura burguesa pela ditadura do proletariado aliado aos camponeses trabalhadores. Considerar o fascismo como um fenômeno passageiro e transitório que, no quadro do capitalismo, poderia ser substituído pela restauração do antigo regime democrático burguês, e negar o perigo da instauração do fascismo nos grandes países capitalistas, constituem apenas vãs ilusões que podem enfraquecer a vigilância e a resistência do proletariado, servir o fascismo e contribuir para o reforço passageiro da ditadura fascista. Estas ilusões devem ser rejeitadas da maneira mais decisiva; os adeptos da Internacional Sindical Vermelha são obrigados a lutar contra elas por todos os meios.

 

Tudo isto é ainda mais verdadeiro quando se refere à Europa de sudeste (países balcânicos, a Hungria, etc.), onde toda uma série de razões históricas, econômicas e políticas particulares empurram inevitavelmente a burguesia para a via do fascismo. As razões principais são as seguintes:

 

1. Ainda não houve revolução democrática burguesa realizada nos Balcãs e na Hungria. A burguesia não realizou as tarefas revolucionárias que teriam podido determiná-la como dirigente das massas populares contra o feudalismo e o absolutismo do passado e a teriam unido fortemente às massas, do ponto de vista ideológico e político. Os camponeses não receberam terras a seguir a qualquer revolução democrática da burguesia. Bem pelo contrário, eles foram apenas objeto da mais hedionda exploração e da espoliação mais vergonhosa, duma espoliação com vista à acumulação primitiva de capitais. O feudalismo não foi definitivamente destruído. A questão nacional não foi resolvida. Na maior parte destes países, o proletariado provém diretamente do meio das massas camponesas; está ligado a elas e desde a sua formação está penetrado do seu espírito de oposição e dos seus sentimentos anticapitalistas.

 

Os países balcânicos e a Hungria encontram-se no estado de semicolônia do imperialismo. São essencialmente países agrícolas e com uma indústria relativamente fraca, atacada pela rude concorrência do capitalismo poderosamente desenvolvido dos Estados imperialistas. Encontram-se num estado de guerra intestina econômica embrionária, de conflitos territoriais e nacionais incessantes, atiçados e utilizados pelos Estados imperialistas. O seu mercado interno está muito limitado devido à capacidade de compra extremamente baixa das largas massas populares, e os mercados externos estão-lhe, na maioria das vezes, fechados. As suas próprias possibilidades de estabilização do capitalismo e racionalização da produção são muito limitadas. Os prejuízos da guerra imperialista, o fardo das reparações para alguns de entre eles e o pesado encargo das dívidas de guerra para todos agravam ainda mais a sua situação econômica, acentuando também a sua crise econômica.

 

A guerra imperialista e as suas consequências comprometeram bastante a burguesia aos olhos das massas. O abismo entre a burguesia dominante e as massas exploradas que lhe estavam subordinadas tornou-se ainda mais profundo. Protegendo-se contra a concorrência estrangeira, a burguesia explorava continuamente e sem limites o proletariado nestes países, espoliando imprudentemente as massas camponesas. Depois da guerra imperialista tudo isto se pratica a uma escala ainda maior. Os operários só se asseguram das suas conquistas, mesmo as mais ínfimas, ao preço de lutas penosas e prolongadas, Daqui provém a intransigência do proletariado para com a burguesia, o espírito revolucionário relativamente elevado das massas. É daqui que decorre também a fraqueza da aristocracia operária e do reformismo, comparados aos dos países imperialistas, onde a burguesia, graças aos lucros provenientes das colônias, pôde criar camadas privilegiadas do proletariado para as depravar, concedendo-lhes esmolas e transformando-as em seus servidores, diretos ou indiretos. Na Europa do sudoeste a burguesia não está, sobretudo agora, a ponto de fazer sérias concessões econômicas de qualquer natureza que seja aos operários e às massas trabalhadoras, a fim de lançar uma ponte sobre o profundo abismo aberto que deles a separa.

 

Devido à grande semelhança entre a estrutura social da antiga Rússia e a estrutura social da Europa de sudoeste, a influência da Revolução de Outubro foi, precisamente lá, muito grande; é o ainda no presente, bem como a ligação das massas à União Soviética.

 

Portanto, é inteiramente evidente que a ditadura da burguesia não podia ser assegurada pelos meios da democracia parlamentar, com maior razão presentemente, quando se tornou inevitável e necessário à burguesia recorrer a medidas exclusivas a fim de manter o capitalismo à custa da classe operária e das massas camponesas.

 

Não é senão com a ajuda da ditadura fascista que a burguesia pode alimentar a esperança de manter passageiramente o seu domínio, quebrar a resistência das massas e realizar uma permanência e uma racionalização máximas à custa dessas massas.

 

A burguesia dos Balcãs e a burguesia de toda a Europa de sudeste seguirá inevitavelmente esta via em consequência da pressão do imperialismo, sobretudo relativamente à participação dos Balcãs e dos outros países do sudeste na preparação de uma guerra imperialista e antisoviética, cuja condição decisiva seria abafar, desorganizar e enfraquecer o movimento revolucionário do proletariado, das massas camponesas e das nacionalidades oprimidas.

 

Mas as condições específicas dos países da Europa de sudeste conferem ao fascismo características particulares. Esta originalidade consiste, antes do mais, no facto de que nesses países, diferentemente do fascismo em Itália, o fascismo provém sobretudo não de baixo, como consequência dum movimento de massas, mas do alto, até se estabelecer como forma de governo de Estado. Apoiando-se no poder de Estado usurpado, nas forças armadas da burguesia e no poder financeiro do capital bancário, o fascismo esforça-se por penetrar nas massas e de criar aí um suporte ideológico, político e de organização. Na Bulgária, isso teve lugar depois do golpe de Estado militar e fascista de 9 de junho. Na Iugoslávia é o bloco do monarquismo, do militarismo e do capital bancário que é o inspirador e o organizador do fascismo. Com algumas pequenas exceções, passa-se o mesmo na Romênia e na Grécia. A Hungria, com Horthy e Bethlen à cabeça, não faz exceção à regra. Na Áustria, e de uma maneira um pouco dissimulada na Checoslováquia, o fascismo organiza-se, arma-se e prepara-se ativamente com vista a um ataque decisivo sob os auspícios e o concurso máximo dos próprios governos “republicanos”.

 

Neste movimento do fascismo de cima (com os meios do aparelho de Estado) para baixo, na direção das massas, os seus promotores mais preciosos são os reformistas que, destruindo todos os restos da luta de classe, proclamando e aplicando a política de “paz industrial” e de arbítrio obrigatório, lutando sem descanso contra o movimento operário revolucionário, alinham abertamente em posições fascistas.

 

Apoderar-se dos sindicatos, destruir o movimento sindical de classe — tudo isto constitui para o fascismo ascendente uma necessidade essencial. Tal como a ditadura do proletariado é impensável sem os sindicatos de classe, a existência durável da ditadura fascista da burguesia é impossível, também ela, sem a subordinação do proletariado e dos camponeses (sob uma forma ou outra) e, antes de tudo, sem o aniquilamento do movimento sindical de classe.

 

Sem de modo nenhum renunciar às palavras de ordem demagógicas, aos meios de demagogia e de corrupção, o fascismo balcânico e do Sudeste está constrangido a contar sobretudo com a violência e o terror mais feroz contra o proletariado consciente da sua classe, chegando mesmo a massacres de massas de centenas e de milhares de operários revolucionários, como é o caso de Bulgária e da Hungria.

 

Os principais esforços do fascismo visam apoderar-se do movimento dos ferroviários, dos mineiros e dos operários dos outros ramos mais importantes da indústria, bem como do movimento dos empregados que diretamente asseguram o serviço do aparelho de Estado. Criando toda a espécie de obstáculos à existência e à consolidação das organizações de classe dos ferroviários, correios, empregados do Estado, mineiros, etc., o fascismo deita mão das organizações amarelas e reformistas nestes domínios, beneficiando do concurso ativo dos próprios reformistas e dirigentes amarelos. Em todos os países balcânicos, o fascismo tem, além de tudo, uma influência preponderante nas direções das organizações atuais dos ferroviários, correios e empregados do Estado, e paralisa entre os mineiros qualquer tentativa de organização legal. O fascismo despende igualmente grandes esforços com vista a consolidar a sua influência no seio dos operários agrícolas, aproveitando-se do estado atrasado da sua cultura, tal como no meio das m