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"A Classe Operária"


Vivi na ilegalidade em 1924-1926, sempre pelejando. Em 1925, a pobreza era cada vez maior. Desempregado desde julho de 1924, tive de procurar trabalho, embora me arriscasse. Nada encontrei. Por intermédio de um operário, resolvi ser tecelão numa fábrica na zona de Alegria, no Rio de Janeiro. Ia começar a trabalhar como aprendiz. Mas na noite anterior, a Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil decidiu o contrário.


Tornei-me, então, o fundador e o diretor do jornal A Classe Operária. Mais uma obra de pioneiro, batedor, abridor de picadas.


O 1º número apareceu a 1º de maio de 1925. Foi uma das obras magníficas e memoráveis da história épica do povo brasileiro e do seu proletariado, o primeiro órgão de massas do Partido Comunista do Brasil.


A hora era solene e grandiosa. Na China, a 30 de maio de 1925, rebentou a greve geral em Shangai. Começou a revolução nacional-libertadora chinesa de 1925-1927. Os trabalhadores do Brasil apoiaram-na.


A Classe Operária tinha um título que já era um programa teórico e de ação. Acentuava a idéia central de classe. Determinava de que classe se tratava. Levava um subtítulo que era, também, um programa: "Jornal de trabalhadores, feito por trabalhadores, para trabalhadores".


Ela prestava atenção às condições de vida dos trabalhadores, às suas reivindicações imediatas, ao movimento sindical, à situação internacional e à popularização da União Soviética socialista. Chamava as massas laboriosas aos combates e batalhas.


Em seu número 1, expus a plataforma do jornal e tracei vasto programa de ação.


Em seu nº. 7, formulei:


"O ideal literário de A Classe Operária é tornar-se um rio claro e profundo. Tão claro, tão límpido, tão acessível às massas. Tão profundo, tão substancial. Rio de águas revoltas a rolar para o grande oceano da transformação social ...” .


Falava em transformação, porque, na hora, não podia falar em revolução.


Muito tempo depois, o órgão do PCB, Voz Operária, a 30 de abril de 1955, acentuou:


"Há 30 anos, tendo por base as idéias leninistas sobre a imprensa de partido, era fundada A Classe Operária, órgão central de combate do Partido Comunista do Brasil". "Onde quer que aparecesse, A Classe Operária ajudava a levantar as lutas dos trabalhadores, levava a flama da esperança e a certeza da vitória, dava ao proletariado a consciência dos objetivos finais de sua grande luta".


Deste modo, 30 anos depois, o órgão do PCB reconhecia a imensa importância do nosso jornal.


Em 1925, muita gente considerava a criação desse órgão uma obra impossível. Mas eu sorria e rebatia: — Veremos...


Na realidade, os obstáculos e as dificuldades eram enormes. A situação internacional, desfavorável. A situação nacional também. A reação campeava. O estado de sítio esmagava a Nação, durou, de fato, de julho de 1922 a dezembro de 1926. As prisões cheias. Os próprios jornais burgueses estavam sujeitos à censura da polícia. Prevíamos que os Correios iriam sabotar a distribuição. Os fatos provaram-no, depois. Por exemplo, enviamos ao Recife 200 exemplares do n.º 4, mas só foram recebidos 80. Petrópolis e Juiz de Fora não receberam o nº. 6.


Além de tudo isto, o fundador não tinha um real para iniciar o trabalho.


Em tais condições, como fazer um jornal legal, comunista, de massas, órgão de um partido ilegal? Por onde começar? Como travar a batalha e conquistar a vitória?


Tratava-se de um órgão revolucionário pelo conteúdo, e não pelas frases.


Como em tantas outras situações difíceis, comecei por buscar ensinamentos das páginas de Lenin. Reli o Que Fazer? o plano de um jornal político para toda a Rússia. Inspirei-me nessas páginas. Orientei-me por elas.


A linha de Lênin era: um jornal revolucionário deve ser escrito por alguns jornalistas na redação e por milhares de colaboradores fora da redação, nos locais de trabalho.


Meditei as palavras de Lênin. Tomei a iniciativa. Reuni grupos de operários. Discutimos fraternalmente: — Como aplicar a linha de Lênin de acordo com as condições concretas do Brasil?


Cerquei-me de camaradas ativos e devotados. Quais? Laura Brandão, a mulher incomparável. Júlio Kengen e Hermenegildo Figueira, operários tecelões. João Borges Mendes, tecelão, posteriormente metalúrgico. Dalla, Déa e José Alfredo dos Santos, gráficos. Carlos Silva, o Lúnin, gráfico, posteriormente ferroviário e, finalmente, estudante em Moscou. José Cazini, metalúrgico. Abelardo Nogueira, futuro empregado nos Correios, então desempregado. José Lago Molares, garçom. José Maria de Carvalho, trabalhador em padaria. Hersch Schechter, estudante.


Astrojildo Pereira foi o redator. Prestou serviços. Infelizmente, tornou-se comodista. Não deu ao jornal o esforço necessário.


Em toda essa luta, Laura, como sempre, foi de absoluta dedicação. Inspirou e animou o trabalho comum. Fez propaganda do jornal. Passou a limpo as canas dos correspondentes operários e camponeses — tarefa difícil. Velou pela vida, saúde e liberdade do esposo.


O estado de sítio continuava. A polícia estava preocupada com o Carnaval. Aproveitando o momento, em fevereiro de 1925, no Rio de Janeiro, na sede de um centro cultural israelita, num sobrado à rua Senador Euzébio, hoje Avenida Vargas, perto da Praça Onze, realizou-se ilegalmente a Conferência dos Delegados de Células e Núcleos (frações sindicais) comunistas do Rio de Janeiro e Niterói, em conjunto com a Comissão Central Executiva do PCB. Esta Conferência lançou os fundamentos da reorganização do PCB sobre a base de células.


Por decido da CCE, eu fora encarregado de fundar A Classe Operária. A propósito, escrevi e apresentei à Conferência um relatório especial em vista da fundação do Jornal O operário gráfico José Alfredo dos Santos, das oficinas de O Paiz, auxiliou-me na preparação desse relatório, que foi aprovado por unanimidade.