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Fidel: "A força de Cuba é a força de suas ideias revolucionárias, a força de seu exemplo"



Companheiros do Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba (aplausos);


Desde há vários meses, companheiros, nós tínhamos a ideia de efetuar esta reunião. Seria uma reunião de massa com os membros do nosso Partido. Devido a uma série de circunstâncias não pôde ser efetuada antes e, naturalmente, no decurso destes meses foi crescendo a Organização, de maneira que praticamente para a reunião que tínhamos pensado com os militantes das três províncias ocidentais nem sequer era suficiente este teatro.


No começo tínhamos pensado numa reunião mais íntima, mas depois surgiu a ideia de que se tornasse pública, que fosse transmitida pela rádio e a televisão; surgiu o interesse dos companheiros da Revolução, e foi se convertendo para nós cada dia em algo mais solene. Quer dizer, tem-se convertido em um ato grande, em um ato importante, e em um ato que teve a virtude de despertar o interesse de todos os companheiros da Revolução e o interesse do povo todo.


Serviu, já desde sua própria convocatória, para irmos percebendo o prestígio e a seriedade do trabalho que em torno da organização do Partido da vanguarda de nosso povo tem ido se despertando na nação. E para nós é um motivo de alento ver esse extraordinário interesse, porque contribui para ir colocando nossa organização no papel e no lugar que deve ocupar dentro da Revolução.

Nós todos devemos incutir-nos da convicção, da consciência da tarefa que nosso país tem pela frente e das nossas obrigações. É bem sabido que uma Revolução é, antes de mais nada, um processo complexo, um processo duro e um processo difícil.


Nos primeiros meses da Revolução muitas pessoas sentiam entusiasmo pela Revolução e, contudo, não sabiam o que era a Revolução. Qualquer um se chamava revolucionário e, contudo, qualquer um não é revolucionário. Naqueles primeiros tempos observávamos um fenômeno que consistia precisamente numa onda de grande entusiasmo e, contudo, pouca solidez na cultura política das massas.


É tão só nessas circunstâncias que qualquer um pode fingir que é revolucionário. Os tempos de hoje não são aqueles tempos. Qualquer um de vocês compreende perfeitamente que os tempos de hoje não são aqueles tempos.


Nós sorrimos porque, na realidade, muitas vezes naqueles dias, nós explicávamos esse fenômeno próprio de certas etapas dos processos sociais e políticos, lembrando a forma em que nos primeiros meses da luta, da luta pela conquista do poder, havia um número relativamente pequeno de lutadores e que, não obstante, quando a Revolução tinha triunfado, então se percebia uma onda imensa, gigantesca. Naturalmente, nós sempre pensávamos: “Se os tempos se tornassem difíceis, se voltassem os dias da luta árdua, muitos dos que embarcam nessa onda não se mexeriam ao conjuro da Revolução”.


Quer dizer, eram os tempos do oportunismo; mas nós sabemos como são as circunstâncias, e que numas circunstâncias difíceis há menos; numas circunstâncias fáceis há muitos.


Naturalmente que todo processo revolucionário vai ascendendo gradualmente, e o número dos combatentes de experiência, o número dos combatentes provados vai crescendo de escalão em escalão. Porque se bem pode dizer-se que nas circunstâncias difíceis em que é preciso dar provas de espírito verdadeiramente revolucionário, muitos ficam em evidência, também é verdade que nesses momentos de luta e momentos difíceis, é também a oportunidade em que aqueles que valem, os que têm condições também se dão a conhecer.


E o que vale de nosso povo, o que luta de nosso povo, a parte do povo que participa de maneira ativa na luta, e que sob circunstâncias difíceis lutaria, é infinitamente maior da parte do povo que lutava no começo; porque é, simplesmente, que a Revolução foi incrementando suas fileiras a partir da massa do povo, e por isso pode avançar já como uma massa combatente e purificada.


Aquilo que mais purificou a Revolução, o que mais purificou as massas revolucionárias, são precisamente estes quatro anos de Revolução. A luta, a luta de classes, o aprofundamento do processo revolucionário, tem feito com que o melhor do nosso povo se tenha ido agrupando, se tenha ido fortalecendo, e tudo aquilo que não valia nada e pretendia figurar nas fileiras da Revolução como revolucionário tem ido abandonando a coluna revolucionária. Mas a coluna revolucionária já é hoje uma coluna revolucionária, uma aguerrida força revolucionária onde, tal como na guerra, vão ficando os mais firmes.


Nós lembramos algumas etapas da luta armada. Em certos instantes, quando obtínhamos uma vitória, quando ocupávamos um quartel, quando dispúnhamos de um número grande de armas, muitas pessoas entravam nas nossas fileiras, apareciam 20, 30, 40. Sob o calor da vitória encorajavam-se, pediam um fuzil, uniam-se à nossa coluna, mas quando vinha a perseguição, quando vinham os dias de caminhadas longas, de fome, de frio, de chuvas, algumas daquelas pessoas começavam a desertar, sob qualquer pretexto. Havia um pretexto muito simpático, que eu não sei se Che Guevara o terá contado nas suas crônicas — que eu não tenho lido todas — mas que sendo como é um homem sincero podia ter incluído. E eram algumas dessas pessoas que quando andávamos pelas montanhas, naqueles dias difíceis, pediam um momentinho, uma permissão, alegando algumas necessidades; seu pelotão parava, ficavam esperando por ele, passavam dez minutos, passavam vinte minutos, passava meia hora, e o homem não voltava. Em geral deixavam o fuzil, às vezes havia quem levava até o fuzil. Esses eram os que mais nos doíam.


E não tinha nada de estranho que, passados uns meses, quando a Revolução havia avançado e sua força se tinha começado a fazer sentir, essa pessoa aparecesse incorporada em alguma pequena guerrilha lá na planície, ou por qualquer zona onde não andassem os soldados, algumas daquelas pessoas que desertavam naquela etapa.


Dentro da Revolução, quando nos primeiros dias começou a tornar-se evidente a oposição dos setores reacionários do país, nós dissemos que a Revolução ia diminuir em extensão e crescer em profundidade. Era evidente e lógico que as medidas de benefício popular que a Revolução ditava, afetando os interesses de minorias privilegiadas e exploradoras, ia desatar com toda a força a luta de classes, e a Revolução ia começar a decrescer em extensão, mas ao mesmo tempo a crescer em profundidade.


Foi a luta contra os monopólios, a luta contra os grandes proprietários de moradias, os grandes proprietários de fazendas, os grandes importadores, e enfim todo aquele setor social que no nosso país constituía a classe exploradora, e que dominava todos os meios do poder antes do triunfo da Revolução, que monopolizava a cultura, monopolizava — praticamente — a alta instrução, que monopolizava os meios de divulgação das ideias, aquele setor todo com que começou a colidir a Revolução.


Naquele instante começou a luta, uma luta que ainda não acabou, e que poderia dizer-se que está começando. Está é uma luta longa, e esta vai ser uma longa luta; esta é uma luta longa dura e difícil, e vai ser uma luta longa, dura e difícil.


A Revolução conta, de antemão, com a vitória. Disso ninguém pode ter nenhuma dúvida, mas nós devemos saber que esta é uma luta longa, dura e difícil, porque isto é uma Revolução (APLAUSOS).


No começo não se poderia ter dito isso, porque teriam aparecido pessoas que dissessem: Por que vai ser uma luta longa, dura e difícil, se já acabou a luta, se já foi derrocado Batista? Nem sequer imaginavam que então era quando começava a luta.


Hoje se pode dizer, sim; hoje se pode compreender, e é possível que dentre as coisas, as ideias, os idealismos, os subjetivismos que nós não temos erradicado suficientemente, esteja esse de pensar que a Revolução é uma tarefa fácil. E por isso, o primeiro que um militante revolucionário deve saber, deve ter bem aprendido é que a Revolução é uma tarefa difícil.


E se qualquer revolução em qualquer época da história poderia qualificar-se de uma tarefa difícil, a mais difícil de todas as revoluções, pois é a mais radical e a mais profunda na história da humanidade, é a Revolução socialista (APLAUSOS).


A Revolução socialista tem alcances muitos mais amplos que nenhuma das revoluções anteriores na história da humanidade, porque é precisamente com a Revolução socialista que as classes sociais, a diferenciação entre exploradores e explorados desaparece pela primeira vez, desde que surgiu um dia na história da humanidade.


Nas anteriores revoluções, como foram as revoluções burguesas, o domínio de determinadas classes foi abolido para ser implantado no seu lugar o domínio de outras classes revolucionárias nesse momento histórico, progressistas nesse momento histórico, que implantaram um regime social superior relativamente ao regime social anterior, mas regime social ainda baseado, e fundamentalmente, na exploração do homem pelo homem.

Primeiramente foram os regimes escravagistas, depois os regimes feudais, depois os regimes burgueses, mudava a forma de exploração, mudava, inclusive, o grau de exploração, mas a exploração se mantinha, e em forma sempre cruéis; porque ainda nos países capitalistas mais desenvolvidos, pelo elevado desenvolvimento da técnica e da indústria que têm atingido, ainda nesses países sempre nos deparamos com o homem abandonado à sua sorte, o homem vítima de uma e mil explorações, o homem sem trabalho, o homem encurralado, porque é uma luta feroz, uma concorrência feroz do homem contra o homem.


E sob o pretexto da defesa do homem, o que fazem é liquidar o homem, encurralar o homem e abandonar à sua sorte o homem, o homem demitido da fábrica, o homem acidentado ou doente, sem recursos, sem meios de subsistência para a sua família, sem meios de subsistência para atender-se, para satisfazer suas necessidades mais elementares. Porque ainda nesses países que não puderam conseguir uma alta produção nacional, ao lado do milionário vemos o pedinte, porque essa é essa sociedade.


Para compreendermos a sem-razão histórica, ou a condenação da história a semelhante sistema social, é preciso começar por compreendermos e por conhecermos o ponto de vista marxista, a afirmação marxista de que ao quebrar as correntes do feudalismo, as forças produtivas se desenvolveram de maneira extraordinária, até que num dado momento do seu desenvolvimento começaram a colidir com o sistema social no seio do qual se tinham desenvolvido. Mas tendo atingido um alto grau de desenvolvimento, pudendo produzir elevadas quantidades de bens materiais, o quanto absurda é uma sociedade na qual ao lado do milionário aparece o pedinte. É quando se torna evidente a necessidade de mudar essa ordem social, pois é uma ordem social inadequada para o grau de desenvolvimento dos meios de produção e da técnica que o homem já criou.


Os Estados Unidos, que se gabam incessantemente de sua capacidade de produção, é um exemplo de como ao lado dos Rockefeller e dos Morgan e dos Ford, estão os pedintes que existem em todas as cidades dos Estados Unidos, os bairros inóspitos, as zonas de amontoamento; está o fato real de que uma boa parte, uma parte considerável de sua capacidade de produção, está subutilizada, trabalhando a 60%, a 65% de sua capacidade; está o fato de que invistam mais de US$ 50 bilhões em armamentos, em despesas militares.


Somente o fato de que uma sociedade humana gaste anualmente em serviços militares tais recursos, que caso serem distribuídos entre os povos subdesenvolvidos e pobres do mundo bastariam para levar um alívio infinito às suas necessidades; e compreender que essas despesas militares têm o propósito único e exclusivo de manter a dominação sobre outros povos, de subjugar e explorar o trabalho e as riquezas doutros povos, bastaria compreender isso, e ser um homem consciente, para condenar semelhante sociedade, condená-la do ponto de vista moral, e compreender, do ponto de vista histórico e científico, que está chamada inevitavelmente a desaparecer (APLAUSOS).


No nosso país, apesar de ser um país subdesenvolvido, havia usinas subutilizadas. E todos os aqui presentes, quaisquer dos aqui presentes, que são operários, sabem que se hoje há alguma fábrica subutilizada é única e exclusivamente quando falta a matéria-prima, quando por motivo das dificuldades que nos cria o bloqueio econômico do imperialismo ianque, não podemos obter essas matérias-primas.


Porque a partir do momento em que os meios fundamentais de produção passam ao povo e desaparece semelhante sistema de exploração, então não se produz para o mercado, produz-se para as necessidades. E as necessidades estão presentes em todos lados. O que mais abundava no nosso país, como país subdesenvolvido, era a necessidade, necessidade de tudo: necessidade de empregos, em primeiro lugar; necessidade de escolas, necessidade de hospitais, necessidade de casas, necessidades materiais e culturais de todo o tipo.


Ao capitalista não lhe interessava resolver nenhuma dessas necessidades; ao capitalista lhe interessava era ganhar dinheiro. Ao Estado socialista lhe interessa satisfazer necessidades. O capitalista não tem alma, não tem entranhas; quando imagina e organiza um negócio, o faz para seu único e exclusivo proveito, para ele e para sua classe.


É claro que a classe exploradora não carecia de nada; para eles não havia necessidades. Necessidades havia para as massas.


Por acaso faltava ao capitalista um magnífico hospital? Acaso faltava ao capitalista um brilhante médico? Acaso faltava ao capitalista os melhores recursos da medicina quando adoecia? E que filho de capitalista carecia de uma magnífica escola, uma magnífica casa, uma magnífica praia e uma abundante conta corrente no banco para comprar de tudo, desde Cadillacs até joias? Na hora de gastar 5 mil dólares em um Cadillac, na hora de gastar as divisas em um Cadillac, ele não pensava, nem lhe interessava pensar, que nalgum lugar da terra bem dentro do país os campos estivessem cobertos de jurema e os braços cruzados, para ele nada importava um bairro de pedintes.


Para eles as necessidades não existiam; as necessidades existiam para as massas?


Quais eram os hospitais que frequentavam as massas? Porque se vivia numa sociedade tão desumana que até para alguém entrar em um hospital devia levar a recomendação de um político. E nos poucos e mal atendidos hospitais se amontoavam os doentes, e o mais das vezes até dormiam no chão.


A Revolução chega ao poder em um país subdesenvolvido, que era paraíso de uma minoria de exploradores e inferno para a grande maioria da massa. Esse foi o estado das coisas. E a Revolução expropriou os do paraíso, liquidou os privilégios daqueles senhores para aliviar as necessidades dos explorados.


Isso, naturalmente, pode ser fácil de dizer, o difícil é fazê-lo, porque para fazê-lo é preciso defrontar a internacional dos exploradores, fazê-lo num país pequeno como este, que era quase propriedade do mais poderoso baluarte da reação no mundo, não era fácil. E, contudo, o estamos fazendo (APLAUSOS).


Poderiam ser satisfeitas as necessidades das massas pelo único fato de expropriar os exploradores? Não! Expropriar ou confiscar os exploradores era simplesmente o começo. A falta de bens materiais suficientes para satisfazer as necessidades das grandes massas tem sua causa fundamental na falta de técnica e dos meios de produção necessários, naquilo que se chama o subdesenvolvimento econômico.


Antes, apesar de sermos um país subdesenvolvido, uma minoria vivia muito bem, muito bem, porque havia uma maioria toda trabalhando para eles; com os meios de produção com que contamos, com que contava esse país subdesenvolvido, não era possível satisfazer as necessidades dessa maioria. Isto independentemente doutros fatores.


Nós sabemos qual é um dos fatores que mais dificultam, que mais travam, que mais sacrificam nosso povo, e é a inimizade, a hostilidade e a agressão do baluarte mais poderoso da reação mundial. Mas ainda sem isso, nosso povo precisava de meios de produção e de técnica.


Qualquer pessoa que tenha lido os jornais, conseguiu apreciar que uma máquina de cortar cana realiza o trabalho de 30 homens, quer dizer que uma máquina de cortar cana multiplica em 30 a produtividade de um homem, que uma máquina de fazer charutos multiplica a produtividade de um tabaqueiro; que uma máquina agrícola, um trator, multiplica a produtividade de um operário, de um agricultor. E por isso, nosso país tinha que empreender o caminho do desenvolvimento econômico, quer dizer, o desenvolvimento de uma indústria, dos meios e da técnica de produção.


O que um revolucionário nunca deve esquecer, é que só o trabalho, e o trabalho com os meios adequados e a técnica adequada, é o único que pode criar os bens materiais de que o homem precisa. Esse princípio econômico fundamental é a base da sociedade humana. Um revolucionário nunca deve esquecer isso.


O inimigo faz uma propaganda, uma propaganda realmente cínica. Nós constantemente vemos que o imperialismo baseia sua propaganda contra a Revolução Cubana na ideia das dificuldades pelas quais atravessa a Revolução. E agora mesmo, nestes dias, nos quais tem recebido com todas as honras esse grande traidor que tiraniza o povo irmão da Venezuela (VAIAS), parceiro de fantoches colonialistas como Muñoz Marín (VAIAS), e que pretendem apresentar como exemplos de governantes, porque entregaram até sua alma aos monopólios ianques, é frequente escutarmos os argumentos imperialistas dizendo que já a Revolução Cubana não pode ser atraente, por causa dos problemas econômicos que atravessa, pela fome que há.

Digo que o argumento é cínico, porque isso equivale ao seguinte: investir todo o poderio, toda a hostilidade e toda a influência em bloquear um pequeno país subdesenvolvido, e depois dizer: “Vejam, têm dificuldades”.


Precisamente o mérito desta Revolução, que os povos da América estão vendo, é que apesar de tudo a Revolução se mantém e vai na frente (APLAUSOS).


Qual é direito que têm os imperialistas de julgar nossas dificuldades, se eles foram os que as causaram com seus fatos e têm empregado seu poderio todo para criar-nos as dificuldades? Mas o fazem tranquilamente e lançam mão desse raciocínio enganoso, como é o de pretender ignorar que esta Revolução vai avançando, apesar dos extraordinários esforços que fizeram por afogá-la na fome, ou afogá-la em sangue (APLAUSOS)


E, contudo, onde há fome, onde há uma miséria espantosa, incultura, falta de atenção, é em inúmeras regiões da América, que não poderão remediar os exploradores imperialistas. Mas nós poderíamos fazer uma pergunta aos governantes ianques, aos senadores ianques: se Cuba não pode ser atraente, se o exemplo de Cuba não pode ser atraente, por que se preocupam tanto por Cuba (APLAUSOS). Se o exemplo de Cuba não fosse atraente, por que têm tanto medo de Cuba (APLAUSOS). Se o exemplo de Cuba não fosse atraente, por que essa histeria promovida no Senado e na imprensa ianque, porque essa gritaria descomunal acerca do perigo de subversão que dizem representa Cuba? Por que tanto medo? É que não basta olhar o mapa deste hemisfério para ver o tamanho de Cuba, a geografia de Cuba, ilha pequena, território minúsculo, em meio de um imenso continente, em uma de cujas partes assenta o mais poderoso país capitalista. Por que Cuba os faz ter tamanho terror?


Dizem que nós promovemos a subversão e ficam assustados. Mas, como é que nós poderíamos promover a subversão e desenvolver revoluções, se ficou provado que a subversão não pode triunfar? Porque os imperialistas e os reacionários da América o que estiveram empregando contra nós, durante quatro anos, é a subversão. E, contudo, nós não temos medo; contudo, não nos assusta. Os temos esmagado e os esmagaremos cem vezes! (APLAUSOS).


E, então, como é possível que quando o estado poderoso implementa a subversão contra nosso país e as oligarquias reacionárias da América aplicam a subversão e fracassam... Então porque têm tanto medo da subversão, se segundo sua experiência a subversão é inútil?


É natural que os imperialistas estejam usando agora estes argumentos contra Cuba. Mas, ao que parece, o que dizem é o que pensam: Contra uma revolução, a subversão fracassa! Contra a exploração, a subversão — que já não seria subversão, mas sim revolução — triunfa! (APLAUSOS).

Nós, naturalmente, não praticamos a subversão nem exportamos revoluções. Entre outras coisas, os imperialistas podem dar-se a esse luxo, os imperialistas têm infinitos recursos. Só na expedição pela Baía dos Porcos gastaram por volta de 40 milhões de dólares, mais os que tiveram que gastar depois na indenização (APLAUSOS).


Acaso nós poderíamos gastar 40 milhões de dólares para organizar uma expedição contra um governo reacionário? Não. Mas o curioso de tudo é vermos como tão tranquilamente fazem essas acusações contra nós, quando são eles os que estiveram fazendo isso. E tão só numa das ações contra nós gastaram US$ 40 milhões.


E, além do mais, porque não só é uma questão de princípios, mas sim, ainda, uma questão desnecessária. Porque o vírus da Revolução não se transporta em submarinos nem em navios. São as ondas etéreas das ideias as que transportam o vírus revolucionário (APLAUSOS), e prosperam lá onde há um caldo de cultura abundante. E na América Latina há abundante caldo de cultura revolucionário! (APLAUSOS).


O que é Cuba? Cuba é o exemplo, Cuba é a ideia. A força de Cuba é a força de suas ideias revolucionárias, a força do seu exemplo (APLAUSOS). E, naturalmente, como se poderiam isolar as ideias?


É claro que os imperialistas gastam bilhões em propaganda. Mas é que a fome, a exploração, a miséria, é um fato tão real diante das mentiras dos imperialistas, que sua propaganda toda não lhes valerá nada.


Assim, os imperialistas têm estado produzindo na América Latina fatos vergonhosos. Exemplos: as eleições na Nicarágua com um único candidato, as eleições no Paraguai com um único candidato. É a democracia representativa do candidato único (RISOS).


Que exemplo, que força podem ter essas ideias diante de um continente que sabe que Somoza (pai) foi instalado ali pelos fuzileiros ianques há 30 anos, que Somoza (filho) herdou a colônia do pai, e o secretário dos Somoza é o candidato único do imperialismo? A quem podem conquistar com isso? Naturalmente, esse herdeiro de Somoza (pai) e que herdou a presidência no oprimido povo da Nicarágua quando uma mão justiceira castigou o tirano, teve a liberdade, nos dias passados — quando estava tendo lugar essa farsa — de fazer uma declaração dizendo que se ia dedicar a organizar uma expedição contra Cuba, sendo presidente desse país.


Eles podem declarar essas coisas tranquilamente, e o Departamento do Estado sorri, os imperialistas ianques sorriem, sua imprensa lhes dedica um editorial. Ah, se por acaso Cuba declara que se vai dedicar a organizar uma expedição contra quaisquer desses tiranos, que escândalo universal, que mobilização de forças, quantas reuniões na OEA e no Departamento de Estado e no Pentágono! Quer dizer, eles podem declarar essas coisas tranquilamente, enquanto nos acusam a nós de subverter; já não falam nem de subversão, mas sim de expedições.


Não, senhores imperialistas. Nós sabemos o que somos e sabemos que somos uma pessoa e que temos a força de uma ideia, ideia que vocês — senhores imperialistas — não poderão derrotar (APLAUSOS).


E nossa coluna avança nessa ardente luta, nossa coluna avança pelas montanhas da história. É verdade que dessa coluna, quando perceberam que a luta era dura, houve uns quantos que pediram permissão. Mas esses, esses que pediram permissão, são os cobardes, os que vendem a pátria, esses não podem avançar junto da coluna de seu povo pelos caminhos da história, porque esses caminhos só os podem percorrer os que têm condições, os que têm qualidade.


E é precisamente a vanguarda dessa coluna o que estamos organizando, e é precisamente a vanguarda dessa coluna a que se reúne aqui nesta noite (APLAUSOS PROLONGADOS).


E voltando a recordar a nossa experiência dos anos de luta nas montanhas, nós sempre nos preocupávamos muito pela nossa vanguarda, e a vanguarda da nossa coluna tinha tarefas muito especiais e muito importantes: a primeira unidade em combater com o inimigo, caso se emboscasse nos caminhos, cuidar da rota, estar de plantão permanentemente. E assim, no pelotão da vanguarda da nossa coluna estava Camilo! (APLAUSOS).

E isso é o Partido: a vanguarda. E por isso nos esforçamos em que essa vanguarda esteja integrada pelos melhores revolucionários.


Numa reunião como esta, companheiros, poderia falar-se de muita coisa; são muitas e muitas as questões de interesse, são muitos e muitos os fronts de luta e é tão ardente esta luta, que muitos temas poderiam ocupar nossa atenção, porque estamos em meio da luta contra os imperialistas, estamos no profundo dessa histórica batalha, desta longa batalha.


Mas há algumas coisas, questões de conceitos, que na reunião de hoje é preciso esclarecer, certas questões fundamentais de conceitos que é necessário expor para o bom andamento do esforço da organização do nosso Partido.


Tem-se avançado devagar, mas tem vindo a ser realizado um bom trabalho. Alguns ficam impacientes, alguns perguntam: “quando vamos organizar o Partido aqui, lá?” Alguns dizem: “Se tivéssemos organizado o Partido poderíamos resolver aqui tais problemas em algumas instituições, em alguns fronts de trabalho”. E estão certos! Mas também é verdade que a questão fundamental não é ter organizado o Partido, mas sim organizá-lo bem, organizá-lo bem!


Temo-nos proposto que a tarefa da organização seja realizada cabalmente e se faça um trabalho da melhor qualidade.


Os dias da Crise de Outubro, e os problemas decorrentes, em certo sentido, interromperam este trabalho de organização, o atrasaram algo. Contudo, foi avançando, foi avançando devagar, mas certo, devagar, mas bem. Temos começado pelos locais de trabalho, temos começado pelas usinas, pelos centros proletários. Já se foram realizando trabalhos noutros fronts. Mas prova do trabalho realizado, cujos métodos vocês conhecem, é que já há — nas células de base organizadas nas províncias ocidentais — 10 mil militantes aproximadamente do Partido Unido da Revolução Socialista (APLAUSOS).


Na província de Oriente já foi estendido o esforço de organização a outro setor: às montanhas. E que método foi empregado ali? Que método têm empregado os companheiros do Oriente?


Nas montanhas do Oriente a Revolução tem 30 mil milicianos organizados e treinados (APLAUSOS), operários agrícolas e camponeses pobres fundamentalmente, de uma composição social realmente revolucionária.


Como é que os companheiros de Oriente têm organizado o Partido nas montanhas? Tem-no organizado nas companhias serranas. Como cada zona tem sua unidade militar de milicianos, a base fundamental para organizar o Partido nas montanhas têm sido essas companhias, onde também em assembleias foi discutido o mérito e a qualidade dos companheiros chamados a fazer parte do Partido, com excelentes resultados.


Temos avançado e, contudo, ainda nos resta um longo caminho. Nós temos que organizar o Partido na administração, temos que organizar o Partido no campo, temos que organizar o Partido nos bairros, e temos que organizar o Partido nas nossas Forças Armadas Revolucionárias (APLAUSOS).


Mas temos começado bem: temos ido aos centros proletários, temos aplicado um método de massa, e temos descoberto e recrutado para essa vanguarda revolucionária infinidade de valores, novos valores, porque nessa vanguarda tem que estar o melhor da pátria, os filhos mais abnegados, firmes e valentes da Pátria (APLAUSOS). E embora formos avançando devagar, isso não importa, sempre que aplicarmos um método correto e sempre que no fim possamos dizer que contamos com um formidável Partido, um Partido que esteja no mesmo patamar da tarefa histórica do nosso povo e de nossa Revolução (APLAUSOS).


E assim chegaremos a todos os setores. E quando esteja organizado, terá o apoio das massas, porque as massas saberão quem são os que fazem parte da sua vanguarda. E atrás dessa vanguarda avançará o povo; e com essa vanguarda organizada estaremos em melhores condições de travar nossa batalha, e é preciso defender essa vanguarda, não só organizá-la, mas também defendê-la.


Numa série de discursos, que foram recolhidos pela nossa Comissão de Orientação Revolucionária, nós temos exposto uma série de ideias do papel do Partido e, ao mesmo tempo, também, todas as críticas que foram feitas oportunamente acerca de vícios, de métodos errados. Mas sempre há coisas novas. Um vício que foi necessário combater foi o vício de levar os líderes políticos e os dirigentes das organizações de massa para a administração. Havia um bom dirigente sindical? Pois bem, acabava trabalhando numa oficina; havia um bom dirigente político? Acabava numa administração. Resultado: a anemia progressiva do aparelho político e das organizações de massa. Sem dúvida, a administração é muito importante, mas algo mais importante que a administração é o Partido (APLAUSOS).


Propôs-se que o Partido desenvolva seus dirigentes e defenda seus dirigentes, e que a administração desenvolva seus dirigentes, ajudada pelo Partido.


Estas questões são fundamentais. Um bom dirigente político não deve ser tirado ao Partido; um bom dirigente das organizações de massa não deve ser tirado das organizações de massa, porque caso contrário, sempre teremos aparelhos fracos com essa política. Essa poderia ser chamada de “a política do culto à administração”.


Isto independentemente, companheiros, de que convertia o Partido em um trampolim e, portanto, criávamos o caldo de cultura — repito a palavra — do oportunismo, pois se em cada ocasião em que se devia escolher um administrador, um trabalho melhor remunerado, tinha que sair dali da organização de base e ele se transformava a meio do caminho, íamos ter dois oportunistas nas portas da organização ou célula de base, como um caminho cômodo para melhorar.


Como é que nos livraremos dos oportunistas? Quando dirigir na organização de base represente, além de uma grande responsabilidade e uma grande honra, um posto de sacrifício (APLAUSOS).


Naquela ocasião nós expusemos que a organização política estava se convertendo em uma sorte de colete de força, porque não era só o trampolim para a administração mas era, ao mesmo tempo, uma intervenção constante na administração, uma substituição constante da administração.

A organização de base pretendia, ou o secretário da organização de base pretendia substituir o administrador, não substitui-lo no cargo, mas ditar-lhe o que devia fazer; e nós expusemos que a administração era responsável e que para exigir-lhe responsabilidade devia ter atribuições. Isso era muito correto.


Mas que aconteceu? O que aconteceu neste processo, após ter-se esclarecido esse problema, e ter sido esclarecido de uma maneira correta, quando ficou estabelecido quais eram as funções da organização de base? Que algumas administrações pretenderam converter-se em coletes de força do Partido. Quer dizer, aplicar ao Partido métodos também errados. Com más intenções? Não. Por terem um conceito mau das organizações de base. Não. O curioso é que era tudo ao avesso: por terem um bom conceito das células ou organizações de base.


Nossas comissões chegavam a um local de trabalho, organizavam uma célula de base, e poucos dias depois o administrador da empresa ou da oficina tirava um operário daquela organização de base e o mandava como chefe de uma outra dependência, e lhe dava outro cargo; e começaram a desfazer organizações de base. Então, nós discutimos, e foi estabelecido que os administradores não poderiam dispor de um membro do Partido dessa forma, nem para nomeá-lo administrador nem para transferi-lo, sem discutir com a instância partidária superior (APLAUSOS).


Quer dizer que numa ocasião foi necessário defender a administração contra métodos errados, e agora é preciso defender o Partido dos métodos errados da administração. Bonita coisa!, e ainda feita com grande carinho, e em virtude desse carinho fazendo-nos um grande dano. Por aqui tenho a lista — não a vou ler porque é muito extensa — de administradores que levaram os da organização de base; e cá estamos falando para os administradores, não só para os companheiros do Partido, que os companheiros das células de base não podem ser promovidos para outro trabalho fora do seu local, nem transferidos, sem consultar com o Partido (APLAUSOS).


É preciso defendermo-nos dos administradores, inclusive dos bons administradores, às vezes, inclusive, por serem bons demais. Aqui é preciso defender muitos fronts de trabalho doutros fronts de trabalho.


Talvez vocês nem imaginem quanta luta temos que travar. Aqui há empresas que tentam levar empregados doutras empresas do Estado, do Estado socialista. E caso acharem um bom técnico, um bom contador, qualquer coisa, então lhe oferecem um melhor salário. Isso se chama pirataria de técnicos e de operários.


Há empresas que praticam essa pirataria — esse é que é um dos problemas — e não só pirateiam um militante ao Partido, às vezes pirateiam a outra empresa um técnico. Qual é o outro ato de pirataria que realizam algumas empresas? Um que realmente nos dói muito, muito mesmo: pirateiam estudantes e querem levar os estudantes de uma escola técnica ou de ensino de segundo grau. A Revolução, por um lado, fazendo um enorme esforço na educação, para preparar técnicos e um administrador que atrai um estudante de uma escola tecnológica.


Fazemos uma escola de pescadores para preparar os futuros navegadores com uma técnica muito mais moderna, os futuros tripulantes de navios que terão uma capacidade de produção incomparavelmente maior, quando vão de férias há administradores de cooperativas pesqueiras que contratam alguns desses estudantes, em geral os melhores. Pirataria de estudantes.


Estes atos todos de pirataria dentro do Estado socialista nos obrigam a adotar medidas: Temos que proteger os estudantes. Deu-se o caso de chegar uma mãe muito furiosa, muito triste, porque seu filho que estava numa bolsa lhe ofereceram um emprego de cento e tantos pesos e deixou a escola.


Estamos estudando uma lei para proibir a contratação de estudantes (APLAUSOS), de estudantes do ensino de segundo grau, dos tecnológicos, inclusive de primeiro e segundo ano da universidade.


O que é que descobrimos? De 500 estudantes do primeiro ano de tecnologia, 300 trabalhando com um salário médio de 180 pesos, porque algumas empresas pagam, pagam forte. E pôr limitações à contratação quando estejam nos demais anos universitários.


O que temos feito agora com os estudantes de medicina? Subsidiar os que estavam trabalhando para que pudessem dispor do seu tempo todo para estudar; e, por outro lado, nos levam os estudantes para que trabalhem.


É uma série de questões que têm a ver com a educação. É claro que estamos numa etapa de trânsito. Futuramente teremos que complementar a docência com o trabalho, mas trabalho como parte da docência. E então considerar os casos especiais em que se possa apresentar a um jovem uma verdadeira necessidade de trabalhar, porque há casos de companheiros que têm o infortúnio de perder o pai e têm que carregar com a responsabilidade da família; estudar esses casos. O que é um bom estudante, um estudante que o país tem interesse que se prepare? Ajudá-lo de alguma maneira e que continue estudando (APLAUSOS). Que não seja um estudante muito destacado, mas que tenha necessidade? Pode ser autorizado. Todas essas coisas organizadas.


Creio que era imprescindível pôr o nome de Ano da Organização a este ano; não é porque não tenhamos avançado na organização, mas sim porque temos muita coisa que organizar: o problema dos empregos, o controle dos empregos. Temos dois problemas: um, o assunto do emprego livre; outro, os empecilhos ainda, as imperfeições de nosso aparelho responsável por organizar o controle dos empregos. E estamos estudando, precisamente, como estabelecer um método flexível, prático, que represente algum controle e, ao mesmo tempo, não se converta em um controle em excesso. Um método flexível, mas se dão todos esses casos.


Nós também temos discutido com os companheiros jovens comunistas seu método, segundo nossa opinião, também errado. Em primeiro lugar, o número de dirigentes na organização juvenil na província de Havana eram 600; os do Partido duzentos e tantos. Um número realmente desproporcionado de dirigentes na organização juvenil. Isso é errado. Mas, contudo, havia algo que nos preocupou ainda mais, feito também com magníficas intenções, mas errado. O que era? O recrutamento para dirigentes da juventude dos melhores estudantes, pois num dado centro convertiam em jovem comunista um grande rapaz, mas ao mesmo tempo o levavam depois para convertê-lo em dirigente. A intenção é muito boa, mas o método — segundo nossa percepção — era errado.


O que tem que fazer um jovem antes de nada é preparar-se, adquirir uma capacidade para prestar serviços úteis ao seu país ou produzir bens materiais. Como vamos converter um jovem de 16 anos em dirigente profissional, sem que nunca chegue a ser trabalhador, sem que chegue a saber, a adquirir uma capacidade para produzir, ou para servir ao seu país. E se por acaso depois de dois anos se considerava que não era bom para dirigente político, então não era nem dirigente político, nem tinha capacidade para servir o país. E, além do mais, como vamos converter um jovem em dirigente profissional aos 16 ou 17 anos? Não pode ser. E a primeira obrigação do jovem é capacitar-se, formar-se, que seja jovem comunista, que seja um líder dos jovens comunistas, mas que continue no centro de estudos e, ainda, que estude — não seja que passe o dia todo em reuniões — que estude e que se desenvolva como técnico, depois que se desenvolva como operário, que devem ser os requisitos indispensáveis para ser, futuramente, um dirigente dos jovens e do Partido. Porque é que o vamos frustrar? (APLAUSOS).


Segundo nossa opinião, estaríamos fazendo um grande dano a esses jovens. Por isso é preciso defender também desse método a esses bons estudantes. E o número de dirigentes profissionais, tanto do Partido quanto das organizações de massa, deve ser o mínimo, porque enquanto mais tenham que consumir e menos produzir, haverá menos bens materiais para o país.


Os dirigentes são imprescindíveis; as organizações e sobretudo o Partido precisam deles. Mas sempre deve ser acompanhado o critério de termos o mínimo de dirigentes para o trabalho das organizações de massa e para o Partido, porque temos muitas organizações de massa.


Caso hipertrofiarmos a instituição do dirigente profissional, estaremos fazendo dano às organizações e estaremos fazendo dano ao país. Esse é o critério que devemos seguir.


Há certos problemas que se têm suscitado, porque enquanto temos estado neste período de reorganização, naturalmente que o Partido não conseguiu estar assumindo as tarefas que lhe cabem, e houve certa tendência à autodeterminação das organizações de massa. E esta questão deve ser bem compreendida.


Nós temos dito que o Partido governa, mas o Partido não governa em todos os patamares. O Partido governa através de sua direção nacional, e por meio da administração pública. Quer dizer que o Partido, em nível provincial, não pode adotar uma decisão que esteja referida a uma organização administrativa ou de produção de caráter nacional. Na província o Partido não pode alterar a decisão de um ministério; pode discutir, pode expor ao ministro correspondente, por meio do Partido ou diretamente, um ponto de vista. A administração pública é um aparelho da vanguarda revolucionária. O Partido dirige as organizações de massa nos diferentes patamares, quer dizer, dirige nacionalmente. E nas províncias o Partido dirige também as organizações de massa, sem interferir nas funções de tipo nacional, que lhes sejam atribuídas nacionalmente a uma organização de massa, sem desconhecer a organização de massa, nem a hierarquia dentro da organização.


Dava-se o caso, por exemplo, que num município o Partido considerava que um dirigente da organização não era bom, e sem contar com a organização de massa substituía o dirigente. O Partido deve discutir com a organização de massa, em nível local ou em nível superior, mas não deve substituir as funções de outrem.


Ora, o Partido dirige nessa localidade para as tarefas que lhe correspondam ao partido, às organizações de massa e fiscaliza seu trabalho em nível local e em nível provincial e em nível nacional. Ora bem, o Partido procura que as organizações de massa se desenvolvam; não enfraquece as organizações de massa, não as diminui, mas sim procura seu desenvolvimento.


Da mesma forma acontece com a administração pública. O Partido ajuda a administração, tenta fazer desenvolver seus dirigentes e os dirigentes administrativos. Às vezes, um bom administrador requer de características diferentes das de um bom dirigente político. Mas isso é errado.

O que fazem os capitalistas? Os capitalistas, zelando por seus interesses, tentam escolher entre as pessoas que conhecem, e às vezes dentre os próprios operários, aqueles que tenham determinados requisitos que lhes interessam. Naturalmente, há uma questão, e é que no capitalismo muito desenvolvido, quer dizer, na sua fase imperialista, como diz Lênin, já a produção é social, embora a apropriação seja individual. Que quer dizer? Que já operam através de enormes empresas.


Qualquer empresa monopolista desenvolvida tem centenas de milhares de operários; não se diferencia de uma empresa socialista mais do que em uma coisa: que a empresa monopolista é propriedade privada de um grupo de indivíduos, e a grande empresa estatal é propriedade do povo, é nacional, não é privada.


Ninguém pense hoje que os capitalistas, eles próprios, dirigem diretamente suas empresas, têm empregados, os capitalistas estão passeando pela Europa, pelos cassinos, gastando o dinheiro. Os acionistas, os grandes acionistas nem sequer vêem as fábricas. Nunca vocês pensem que os acionistas da United Fruit vinham para ver como trabalhava a antiga usina açucareira “Preston”. Eles nunca vinham a Cuba, eles tinham administradores.


O povo deve ter seus administradores, e bons administradores, administradores responsáveis. Tem que saber escolhê-los dentre a massa dos trabalhadores, pelas suas qualidades (APLAUSOS). O Partido não substitui a administração pública, mas a ajuda, a apoia; facilita o desenvolvimento de seus dirigentes. O Partido não deve substituir a função nem da administração nem das organizações de massa.


E isso é muito importante, que tenhamos essas ideias claras, porque caso contrário se produz a substituição e o conseguinte enfraquecimento dessas organizações. E o Partido não administra diretamente. É a vanguarda, a organização que reúne os operários mais avançados, mais revolucionários; a coluna central da Revolução.


Se um secretário de uma seccional se dedica a administrar, a realizar funções que cabem à administração, abandona o Partido, as tarefas que tem que realizar dentro do Partido incessantemente. E a mais importante tarefa é a política, não esqueçam isso. A experiência nos ensina isso em todos lados.


Às vezes numa zona se fez um grande esforço de trabalho, de desenvolvimento econômico; não há um bom aparelho político, e a zona é fraca. E por todo lado vemos incessantemente que faz falta o revolucionário, que faz falta a organização política. E onde há uma boa organização política tudo vai na frente.


Agora, nós não podemos dar-nos ao luxo de não ter uma boa organização política em qualquer recanto do país. E o dirigente político sempre está alerta, estudando, examinando, explicando. Que há um problema que não pode ser resolvido? Explica-se, explica-se à massa, porque o povo entende.


O que é que vai pedir o povo aos revolucionários? Que façam o que não podem? Não! Pedir-lhes-á que façam o que podem mesmo. E quando ao povo lhe é explicada uma dificuldade raciocinada, justa, as massas entendem imediatamente.


E o dirigente político deve estar para resolver o que se possa resolver, para explicar o que não se possa resolver, para gerir, para falar, para alertar. Se em um recanto do país há uma péssima distribuição, ou uma má produção, ou qualquer problema, a direção política não pode acabar sabendo disso porque venha um morador cá e o diga. Para isso está o Partido, de olho atento a todos os problemas, trabalhando com as massas, impulsionando tudo o que se possa impulsionar, explicando, resolvendo, gerindo, advertindo aos organismos superiores.


E por isso a função do aparelho político da Revolução é fundamental. Mas esse aparelho é um aparelho que é produto da seleção, é uma organização de seleção; não é questão de quantidade, mas sim de qualidade. E se não é uma questão de números mas de qualidade, como é que vão mexer as massas? Precisamente, através das organizações de massa, porque nós temos desenvolvido poderosas organizações de massa.


Daí o interesse do Partido de que as organizações de massa se desenvolvam, porque o Partido se apoia nas organizações de massa, e por isso procura que as organizações de massa estejam bem, que funcionem bem os sindicatos, a Federação das Mulheres, os Comitês de Defesa, os estudantes, as organizações camponesas, porque se apoia nessas organizações para o seu trabalho. Se uma organização está fraca, o Partido terá um braço fraco.


Os jovens, o que é que são? Uma organização de massa? Não, são também uma organização de seleção; os jovens são a organização onde se preparam os futuros militantes do Partido. Depois os jovens não são autônomos, têm sua organização nacional, suas tarefas nacionais, mas o Partido em nível provincial, em nível local, fiscaliza o trabalho dos jovens e dirige o trabalho dos jovens.


Porque é lógico que seja assim, pois a máxima autoridade política é o Partido com as organizações de massa, e com muita mais razão relativamente aos jovens. Os jovens se desgostam, são um pouco zelosos acerca de suas prerrogativas, protestam, discutem. Mas, bem, afinal de contas, quem pode dizer aqui que é mais velho que os demais ou mais jovens que os demais? Definitivamente, esta Revolução é jovem. Não podemos criar um grupo à parte, exclusivo (APLAUSOS).


Estas questões de conceitos é preciso esclarecê-las bem. Muitas vezes mais teremos que discutir sobre todos estes problemas.


O que temos procurado fazer? Temos procurado ir devagar, ensaiar, não inventar métodos em uma mesa e depois levá-los à realidade à qual não se ajusta. Temos procurado aprender do trabalho diário. A Revolução ainda tem muitos assuntos que resolver, muita coisa, nossa Revolução procurou não ser formalista. Que é que eu quero dizer? Não resolver as coisas por razões meramente formais, mas sim atender às realidades, e que cada instituição e que cada forma responda às realidades.


Quais as tarefas que nos restam por diante? Infinidade de tarefas. Por exemplo: o poder local. A Revolução tem que organizar o poder local, é muito importante, e isso não está resolvido. É preciso resolvê-lo.


Como é que vamos fazer? Acaso vai sentar-se um grupo de juristas e de filósofos para discutir como deve estar organizado o poder local, fazer uma lei e decretá-la? Não. Estamos fazendo um teste. E o Partido na província de Havana, no município de Guines, está fazendo um teste de organização do poder local, estrutura, formas de eleição, vamos fazê-lo nessa localidade. Para quê? Para ver seus defeitos, para melhorá-lo, e com a experiência que obtivermos ir aplicando-o noutras regiões. De maneira tal que estas organizações respondam às realidades e não às ideias subjetivas, que não saiam da cabeça de ninguém, mas sim que saiam da realidade. E a realidade ensina, vocês sabem por experiência.


Ocorria, às vezes, como no caso de Baracoa, onde o INIT (Instituto Nacional do Turismo= N. do Trad.) tinha uma cantina. Então, naturalmente, não sei se ali o noutro lugar, porque não quero fazer nenhuma imputação da qual eu não esteja certo... mas não sei se era em Baracoa, ou o administrador doutra cantina noutro lugar isolado, que estava bêbado o dia todo. Então, ninguém tinha nada a ver com isso. O INIT estava em Havana, nenhuma autoridade local podia determinar nada. Há uma série de empresas artesanais que não podem ser reunidas num consolidado (fusão de empresas ou entidades= N. do Trad.), porque os consolidados são, às vezes, barris sem fundo onde se perdem as empresas artesanais (APLAUSOS).


É preciso temos em conta a função que cumpre o consolidado, em que tipo de empresa. Consolidado da indústria açucareira, perfeito, porque é um tipo de grande empresa, que tem um número de problemas semelhantes. Mas agora resulta que uma fabriquinha de tijolos, um negocinho, um posto para vender frutas — porque neste país havia muitas empresas artesanais correspondentes a sua fase de subdesenvolvimento —... Naturalmente que as empresas artesanais de sapatos, de confecções, de charutos, vão desaparecendo por causa da racionalização. Que, por sinal, ao serem fechadas essas empresas, há 40 mil operários disponíveis para outras indústrias; que o Ministério das Indústrias tem um plano de preparação tecnológica desses operários, e que serão os que começarão a ocupar os postos nas novas indústrias que estão sendo construídas. Isso é muito correto. Mas a racionalização deixa 40 mil operários livres para outras indústrias, 40 mil operários, porque o trabalho que eles faziam numa pequena oficina o faz uma máquina, o faz uma fábrica mais moderna.


Ainda há infinidade desses pequenos negócios. Que um balconista de um povinho tal foi embora, então foi colocado num desses consolidados. Outra coisa acontecia em Varadero. Ali havia 12 consolidados dirigindo. Então se fez um combinado, quer dizer, uma única autoridade que tivesse autoridade sobre todas as empresas, porque caso contrário havia 12 autoridades com comandos, com jurisdição superior na capital.


É uma série de coisas que nos têm que ir ensinando como resolvê-las de maneira inteligente e de maneira correta. Então, nós estamos fazendo uma experiência. O que é que vamos pôr ali? As empresas pequenas: um cinema, uma cantina, um café, uma empresa pequena, administrados pela localidade; não as usinas maiores. E, naturalmente, estando cientes de que este tipo de empresas sumirá com o desenvolvimento; e então, em vez de 20 pequenos negocinhos haverá um grande centro ou dois grandes centros, os quais podem ser administrados doutra maneira. E não para desenvolver essas empresas artesanais, mas sim para administrar as que houverem e que prestem algum serviço.


Se cair um poste da eletricidade, interrompe uma rua numa povoação, e não há quem resolva o problema, porque não há nenhuma autoridade ali. De quem é isso? Das obras públicas, mas é preciso que haja um poder local e uma organização local que atenda aos problemas e aos interesses da localidade e, ao mesmo tempo, administre essas empresas de tipo artesanal (APLAUSOS).


Medidas semelhantes estão sendo adotadas nas montanhas, sobretudo nas montanhas do Oriente, e vão ser organizadas as JUCEIs (Juntas de Coordenação, Execução e Inspeção= N. do Trad.) das montanhas, as quais vão atender certos serviços que só os pode atender um organismo que esteja ali mesmo e que a possibilidade de determinar esteja ali.


Porque caso cair uma ponte de madeira por onde os camponeses cruzam o rio, não vamos ficar esperando que a Junta de Planejamento determine quando é que deverá ser colocada a ponte outra vez ali (APLAUSOS). Porque, senhores, eu já percebi, às vezes, que há organismos nacionais que nem sequer sabem que uma região existe; e às vezes fica ai um recanto esquecido no mundo.


Por exemplo: Pilón, em Oriente. Tinham um centro de abate, mas reunificaram os abates e os levaram para Niquero, tinham uma cooperativa pesqueira; mas reunificaram as cooperativas e a levaram para Manzanillo, tinham armazéns, mas reunificaram os armazéns e os levaram para não sei aonde. Então, aquilo ali ficou sem abate, nem cooperativa, nem nada, esquecido o povoado lá. Então, nós ficamos sabendo. Por quem? Neste caso não recebemos a informação do Partido, essa é a realidade. Quando chamamos os companheiros do Partido, nos disseram: “Agora estamos discutindo isso”. Mas a notícia chegou primeiro aqui, por companheiros que tinham ido de visita do que pelo Partido, e imediatamente os companheiros mandaram dois dirigentes políticos ali para que fomentassem o esporte, atendessem a todos os problemas, porque caso ficar um lugar esquecido... Daí a importância de que exista o Partido em todas as localidades, organizações para atender aos problemas locais.


Que é que eu quero dizer com isto? Que há muitas coisas a serem organizadas. É uma sorte que não o tenhamos organizado, porque para tê-lo organizado a partir de uma secretária, sem sabermos as realidades, que depois se torna numa lei, e quando vai ser implementado na realidade se depara com mil problemas, porque não se ajusta às realidades.


Temos é que organizar o Estado socialista, a primeira constituição do nosso Estado socialista (APLAUSOS). Podíamos ter preenchido esse vazio com um ato formal, uma constituição formal. Não queremos isso. Por isso temos que organizar o Partido primeiro que nada, e depois a organização do poder local e de todas as lacunas que nossa Revolução tem que preencher e que não conseguiu preencher em quatro anos, ainda mais quando todo mundo aqui teve que investir um bom tempo em aprender a ser miliciano, treinar-se, estar na trincheira, tivemos que viver... O imperialismo impôs-nos a necessidade de armar-nos para existir, temos tido que defender a existência. E, claro, tivemos que dedicar a isso tempo, energia, homens.


Agora mesmo temos um problema, uma enorme quantidade de equipamentos, magníficos equipamentos que temos — vocês viram desfilar alguns por aí —, pois temos que achar o pessoal técnico. Às vezes se precisa de um bacharel, e então não sabemos o quê fazer, talvez tirá-lo de uma escola tecnológica. Então, caso o tiremos de uma escola tecnológica, como vamos resolver para que forme parte daquela unidade tecnológica e, ao mesmo tempo, possa continuar estudando? Procurar a unidade dos contrários de uma maneira dialética, esses são problemas que se nos apresentam todos os dias.


Precisamos de um bom técnico para que manipule um míssil terra-ar, mas, ao mesmo tempo, temos que tirá-lo de uma escola. Dói-nos perder um técnico, o que é que podemos fazer? Então, é preciso procurar uma fórmula que resolva e satisfaça as duas aspirações.


E, sobretudo, não estamos pensando, companheiros, para agora, estamos pensando para o amanhã. E uma das coisas que quero dizer-lhes de coração a coração a vocês aqui, é que não pensemos no presente, o presente é de luta, é preciso trabalharmos para o futuro (APLAUSOS). Os revolucionários estão de olho no futuro. Lênin e seus companheiros de revolução, quando começaram a luta na União Soviética, ali não se fabricava nem um trator naquela época, possivelmente não tinham nem um avião. Mas foram os que criaram a possibilidade de tudo o que hoje têm. Não chegaram a ver os sputniks, nem uma estação ou uma nave rumo a Marte, mas trabalharam para isso.


Os revolucionários — e aqui estamos entre revolucionários — trabalhamos para o futuro. Por isso nos preocupamos tanto por preparar professores, por preparar técnicos. E travamos a luta.


Sabemos nossas deficiências — é preciso sabê-las — o valor de saber e de vê-las e de lutar contra elas. É claro, o inimigo tenta aproveitar as deficiências. É preciso dizer ao inimigo: “Você não tem direito de criticar”. Pode criticar o revolucionário, que está lutando por fazer esta pátria melhor (APLAUSOS). A turma contrarrevolucionária (VAIAS), quando critica, critica para fazer dano à Revolução.


Vocês não devem esquecer que uma das razões pelas quais lhes dizia que uma revolução é um processo muito difícil é porque a luta séria começa quando, precisamente, o proletariado galga o poder. Então as classes que monopolizam o dinheiro, a cultura, pois, lançam mão de todos os meios, inclusive de todo os vícios que criaram. Os lúmpens — por exemplo — que são o produto dessa sociedade, acabam sendo contrarrevolucionários. Que, muitas vezes se diz, quem fazia parte dessa turma? Acha-se elemento lúmpen.


O capitalismo deixou todo tipo de vícios, jogo, jogadores de todas as classes, pessoal vadio, folgazão, por todo lado. Assim, você chega a qualquer povoado desses e se depara com dez moços jogando bilhar. De que vivem? De seu papai! E uns quantos vadios filhos de burgueses, não fazem nada. Porque o caldo de cultura do vicioso é o capitalismo. Sob o capitalismo o jogador está bem, o maconheiro está bem, o vadio está bem. Esse é seu meio. O proxeneta e toda essa classe de elemento...


Veio a Revolução e, como os privou de sua maneira de viver, reagem como os latifundiários. Mas não é só isso. Não esqueçam que os monopólios imperialistas tentavam semear sua ideologia em certos tipos de funcionários privilegiados que tinham com eles. Não só está no lúmpen o apoio da reação e da contrarrevolução quando tenta esmagar as revoluções proletárias, não só está nos grandes burgueses, está também em certo tipo de privilegiados, no lúmpen, no pensamento pequeno-burguês. Porque há pessoas que não ultrapassam o marco ideológico de sua classe. Há pessoas que o ultrapassam, e assim há muitos que o ultrapassaram e são magníficos lutadores revolucionários.


Mas o inimigo do proletariado se apoia em todos esses setores, desde o proxeneta até o pequeno-burguês, o vadio, o vicioso; esse pessoal todo é recrutado pela contrarrevolução e está em todos lados, aproveitando tudo.


Por isso o revolucionário também ter que estar em todos lados, lutando contra todos os vícios (APLAUSOS), enfrentando sem temor os reacionários, e combatendo-os nos fronts que sejam necessários, tanto na discussão como no campo de batalha, vencendo contra eles! (APLAUSOS). O revolucionário não pode ter medo da luta porque é na luta onde se desenvolvem os combatentes.


E voltando a lembrar nossa experiência da guerra, nossos oficiais, nossos chefes se forjaram na ação, na luta.


Se o imperialismo quer apresentar batalha, mobilizar sua turma de seguidores, promover a subversão, não importa. Isso também tem a sua virtude e é que dá vigor ao revolucionário, o encoraja, faz acordar seu espírito de luta. E temos visto isso uma e mil vezes: uma unidade que está sem fazer nada, que mal aparece o inimigo se comporta diferente, reage diferente. A Revolução precisa do inimigo, o proletariado não foge do inimigo, precisa do inimigo (APLAUSOS). O revolucionário para se desenvolver precisa da sua antítese, que é o contrarrevolucionário (APLAUSOS). E esse é o espírito que devem ter os revolucionários.


Com certeza que nas massas estão os valores, que a coluna é grande, que a coluna é poderosa, que a coluna do povo em meio da marcha é invencível. Quaisquer que forem os obstáculos, nós sabemos que os temos, quaisquer que forem nossas deficiências, sabemos que os temos, muitas coisas por superar em todos os campos.


E no campo da produção, é verdade que se percebe o esforço da organização nos nossos fronts da produção, se percebe. Estamos avançando, mas sabemos que é preciso avançar muito mais, que é preciso resolver muitos problemas, os problemas relativos às normas de trabalho, com as escalas de salário, com um sem-número de coisas para as quais é preciso trabalhar duro e procurar fórmulas adequadas, fórmulas inteligentes, todas aquelas que conduzam ao desenvolvimento da nossa economia, ao aumento da nossa produtividade, à seriedade do nosso trabalho, à qualidade do nosso trabalho. Sabemos disso, são muitas, mas podemos fazer-lhes face, podemos resolvê-las.


E, que as temos que resolver sob a “espada de Dâmocles” dos imperialistas? Bem, tanto faz. Melhor ainda, mais honra, mais glória para nosso povo, mais influência. Porque uma das coisas que mais faz influir Cuba é que tem uma antítese tão grande como os imperialistas e, contudo, não podem com ela. E os povos da América Latina se perguntam: Por quê, por quê? (APLAUSOS).


Companheiros e companheiras: estas questões não abrangem todos os temas, nem muitas coisas mais que são de interesse para os militantes revolucionários, mas eram questões essenciais que não queríamos perder a ocasião, no dia de hoje, de expressá-las.


Quero fazer — para finalizar — uma breve incursão no campo da situação internacional (APLAUSOS). É bem sabido que os imperialistas tentam, teimam nos seus propósitos de destruir nosso país, nossa Revolução. Sabemos disso. Podemos defender-nos? Sim, nós sabemos disso.


Não vamos falar de fatos recentes que vocês têm lido na imprensa, entre outras coisas: o fato de que tenhamos surpreendido, em flagrante, um grupo de piratas (APLAUSOS) enviados pela CIA, as ameaças dos imperialistas com motivo do reconhecimento que fizeram dois aviões nossos sobre um navio pesqueiro que nem sequer tinha bandeira, e que foi reconhecido por aviões nossos buscando os navios que tinham levado os piratas, situação — naturalmente — que é consequência do estado de caos que têm criado os imperialistas nos nossos oceanos, de falta de segurança promovida por eles contra a navegação. Já cometeram infinidade de malfeitorias, de fatos de vandalismo.


Depois, descaradamente, publicam nos Estados Unidos o que fazem. Praticam a pirataria, e quando nosso país adota medidas contra ela, os imperialistas lançam mão de suas ameaças cínicas. Mas eu não sei quando é que os imperialistas vão aprender que não sentimos por eles nenhum respeito, absolutamente nenhum respeito (APLAUSOS).


Depois que nosso povo disse Pátria ou Morte, já ficou bem convencido de que sabia que, quaisquer que fossem as consequências de sua digna atitude, se manteria na sua posição revolucionária. Pátria ou Morte quer dizer também aquilo que disse Karl Marx aos proletários, quando lhes disse: “Não têm outra coisa a perder a não ser suas correntes”. E nós não tínhamos outra coisa a perder que nossas correntes (APLAUSOS). E os imperialistas têm muito que perder porque têm um império a perder. E esta é uma luta entre aqueles que apenas podem perder suas correntes, correntes que já temos quebrado e que não estamos dispostos a que as colocam novamente sobre nossos ombros (APLAUSOS); não estamos dispostos a que nos amarrem outra vez com elas. E os imperialistas têm um império a perder, e por isso entendemos que nossa atitude é por isso mais firme e mais determinada do que a deles.


Não temos medo deles e acho — acho — que sabem disso (RISOS), embora se façam de bobos (RISOS). Eles têm medo, porque eles têm medo até de sua própria sombra, e nós não sentimos para eles nenhum respeito, nenhum medo.


Hoje, ao chegar aqui, chegou um cabograma da UPI — porque tenho dois cabogramas que ler aqui. O da UPI diz:


“O secretário da Defesa, Robert MacNamara, declarou hoje perante a Comissão dos Serviços Armados do Senado, que faz parte da política dos Estados Unidos a eliminação de Cuba tanto do castrismo como do comunismo. Nem sei por que estabelecem essa diferença (APLAUSOS).


Portanto “que é a política dos Estados Unidos”, que essa é a política.


“MacNamara fez esta declaração depois de quatro dias de sessões secretas para discutir questões relativas à defesa da nação. Parte de suas observações foram reveladas à imprensa pelo senador Richard B. Russell, presidente da aludida comissão.


“Por seu lado...” ‘mutilado’, diz aqui o cabograma. “Futuramente nossos aviões devolverão qualquer ataque de que seja alvo a navegação norte-americana em águas internacionais.” Uma ameaça.


O secretário MacNamara disse, bem esclarecido, que continuaremos uma política que terá como resultado a eliminação de Cuba do castrismo e do comunismo, ocupando-nos, ao mesmo tempo, de que o comunismo não seja exportado da Ilha para outros países da América Latina.


“Interrogado acerca de se MacNamara havia discutido os métodos que serão utilizados para levar à prática essa política, Russell respondeu que o secretário da Defesa se referiu a diferentes questões específicas. Não disse como.


“Interrogado acerca de se MacNamara havia discutido os métodos que serão utilizados para levar à prática essa política, Russell respondeu que o secretário da Defesa se referiu a diferentes questões específicas. Mas essas questões são secretas, disse”. Para nós não há segredo, nós sabemos como pensam esses bandidos (RISOS).


Então disse;


“Estou certo de que nossos aviões derrubarão qualquer aparelho de design russo que pareça — que pareça — “estar atacando nossa navegação em águas internacionais” — vejam como os imperialistas cínicos fabricam essa lenda — ainda que a nacionalidade do navio atacado não seja estabelecida previamente de imediato.” Quer dizer, pode ser um navio pirata dos que eles mandam aqui. Diz: “E depois começaremos a preocupar-nos se foi cometido algum erro”. Acaso alguém teria escutado uma declaração mais cínica! São mesmo uns descarados e uns cínicos! Bem, vamos ver o que cabe a cada um (APLAUSOS).


Todo mundo sabe — todo mundo sabe disso, os únicos que pretendem ignorá-lo são esses descarados — qual tem sido a política de Cuba, que Cuba nunca fez atos de hostilidade contra nenhum navio, que Cuba nunca pôs obstáculos nos oceanos; eles são os que têm perpetrado todo tipo de vandalismos e malfeitorias, dezenas de navios nossos têm sido atacados; cometeram crimes de todo o tipo; voos rasantes em forma provocadora, sobre todas aquelas embarcações que cruzam os mares, embarcações desarmadas. Têm cometido todo o tipo de violações, e depois fazem declarações deste tipo, ameaçadoras. Sempre com a ameaça, sempre com a ameaça; mas essa ameaça é filha da impotência!


Nós não ameaçamos porque não temos necessidade de ameaçar, simplesmente nos defendemos, e nos defendemos por todos os meios possíveis, nos defendemos por todos os meios possíveis! (APLAUSOS). E todo o dano que tentem fazer-nos, será o dano que tentaremos fazer a eles também (APLAUSOS).


Nós não somos os que provocamos, são eles; não somos nós os que travamos uma guerra contra eles; são eles os que têm uma guerra contra nós, guerra cobarde, guerra criminosa, guerra vergonhosa, guerra histérica, guerra impotente. Porque os fatos são os fatos, e cá estamos e estaremos, cá está e estará este povo! (APLAUSOS).


Bem: acabo de ler o que disse MacNamara. Bem, aqui há outro cabograma: o que disse em nome do governo soviético o marechal Rodion Malinovski, ministro da Defesa da URSS (APLAUSOS E EXCLAMAÇÕES DE: “Fidel, Jruschev, estamos com os dois!”) num discurso pronunciado com motivo do 45º aniversário da fundação das forças armadas soviéticas, cujo texto será publicado na íntegra na nossa imprensa.


Ele disse, referindo-se ao problema de Cuba:


“A ameaça da guerra termonuclear ficou conjurada, mas isso não deve induzir-nos a ficar tranquilos e minguar a vigilância. O imperialismo norte-americano teima na sua pérfida política; ele quer impor sua vontade a todo mundo; espezinha o direito internacional, a Carta da Organização das Nações Unidas, intromete-se descaradamente nos assuntos internos de outros países. Isto se demonstra com particular relevo, com toda a nitidez, no caso da República de Cuba, estado independente e soberano, membro da Organização das Nações Unidas. Apesar de que o povo de cada país tem direito a eleger ele próprio a forma de Estado que convenha aos seus interesses, o imperialismo norte-americano não quer, evidentemente, conformar-se com que o povo de Cuba tenha escolhido o caminho da construção de uma nova vida, o caminho do socialismo.

“Não podemos ser ingênuos e pensar que os imperialistas tenham deposto as armas. Os acontecimentos que hoje observamos demonstram claramente que nem todos ainda aprenderam a calibrar calmamente a correlação de forças existente no âmbito internacional.


“Os círculos reacionários mais desenfreados dos Estados Unidos, aos quais os próprios norte-americanos qualificam de frenéticos, continuam aquecendo a tensão na imprensa e no Congresso, e exigem uma política de mão dura, suas declarações são cada vez mais absurdas. Senadores como Goldwater, Keating, Steaning, alguns membros da Câmara dos Representantes e as forças mais agressivas que os apoiam têm armado uma algazarra histérica em torno de Cuba e exigem do governo dos Estados Unidos que intervenha de forma mais brutal nos assuntos da República de Cuba, até chegar ao desencadeamento de uma guerra agressiva.


“O governo norte-americano estimula, de fato, esta desenfreada campanha. Em todo o caso, nós dispomos de fatos que demonstrem que os círculos imperialistas dos Estados Unidos se afastam da política de guerra.


“E se isso não bastasse, empreenderam o caminho de novas provocações: enviam seus submarinos contra nossos pacíficos navios mercantes e; lançando mão de todo gênero de artimanhas perigosas, se interpõem nas suas rotas, o que pode resultar muito perigoso. Estas vilezas violam as normas mais elementares do direito internacional e a liberdade de navegação no mar aberto.


“Estas ações vão carregadas de graves consequências e não se sabe como podem acabar. A responsabilidade será dos Estados Unidos da América e só deles.


“Gostaríamos de prevenir os círculos agressivos dos Estados Unidos de que a agressão à República de Cuba significaria o começo de uma Terceira Guerra Mundial (APLAUSOS).


“As forças pacíficas no mundo todo não se limitarão a mandar protestos e organizar passeatas, elas se revoltarão em defesa do país agredido, e a União Soviética estará na primeira fila dos que venham na sua ajuda. (APLAUSOS).


“As forças pacíficas virão prestar ajuda à República de Cuba, porque verão nessa guerra uma guerra contra todos os amigos da paz e dos direitos soberanos dos povos. Se as esferas agressivas do imperialismo não querem respeitar os princípios da ONU e desencadeiam a guerra, esta guerra não será travada unicamente no território de Cuba, mas também no território dos Estados Unidos da América (APLAUSOS).


“A política dos Estados Unidos relativamente a Cuba, faz parte da sua política geral agressiva. Nós não nos esquecemos da declaração do presidente dos Estados Unidos, Kennedy, de que sob certas circunstâncias é possível que os Estados Unidos tomem a iniciativa em um conflito nuclear com a União Soviética. A ‘guerra preventiva’ sempre foi incluída dentre as possibilidades previstas pelo Pentágono.”


E aqui, em outro cabograma que continua, noutra parte diz:


“Sustento categoricamente que como resposta aos 344 projéteis, com os quais nos ameaça o senhor MacNamara, desferiremos um golpe simultâneo de muitos mais projéteis, e com uma força nuclear tão devastadora que eliminará da face da Terra todos os objetivos, os centros industriais e político-administrativos dos Estados Unidos (APLAUSOS), e destruirá completamente os países que têm cedido seus territórios para instalar bases norte-americanas.


“Mais uma vez lembramos firmemente aos líderes ocidentais que a União Soviética não pode ser intimidada. A potência de nosso golpe de retaliação será mais do que suficiente para carbonizar nossos agressores, nas primeiras horas da guerra” (APLAUSOS).


Nós consideramos que não existem palavras mais adequadas para contestar as declarações do senhor MacNamara do que estas declarações feitas em nome do governo soviético (APLAUSOS).


Companheiras e companheiros: Este será para nosso Partido um dia histórico: o dia da primeira reunião de massa de nosso Partido Unido, produto da mais estreita irmandade e união de todas as forças revolucionárias, de todos os revolucionários, cada vez mais e mais identificados na causa que defendemos.


Muitos de nós, há alguns anos, estávamos avançando em diferentes organizações; hoje estamos unidos numa só organização. Tivemos nossa história individual, nossas participações passadas, até um dia em que começamos a fazer todos juntos a grande história de nossa pátria.


O tempo nos unirá cada vez mais e mais. Por quê? Porque os anos que temos por diante, e os anos de Revolução que teremos por diante serão muito mais que os anos de Revolução que temos atrás.


Às vezes algo nos diferenciava: “Eu estive em tal ponto”, “eu estive na planície”, “Eu estive na serra”, “eu era de tal organização”, eu era daquela outra organização”, referindo-se a nossas histórias de antes. O que é preciso ver é a grande história que estamos fazendo nós todos juntos, a grande história que temos por diante, sua magnitude, sua importância supera tudo o de atrás. E daqui a 10, a 20, a 30 anos, não se falará daqueles que estiveram nesta ou naquela organização, mas se falará daqueles que se uniram, e se falará da grande, da formidável organização que une todos, que agrupa todos e que avança na frente da coluna, falar-se-á dos homens e mulheres que organizaram o Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba (APLAUSOS).


Companheiras e companheiros: a Revolução lhes oferece trabalho, sacrifício, luta. A Revolução não oferece privilégios ao revolucionário; os privilégios são para os fracos. Para os revolucionários, a história só tem uma coisa que oferecer, a pátria só tem uma coisa que oferecer: Sacrifício, luta!


Pátria ou Morte!


Venceremos! (APLAUSOS)


Viva o Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba! (EXCLAMAÇÕES DE: “Viva!”)


(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado


DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ PERANTE OS MEMBROS DO PURS DAS PROVÍNCIAS PINAR DEL RÍO, HAVANA E MATANZAS, EFETUADO NO TEATRO CHAPLIN, EM 22 DE FEVEREIRO DE 1963

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