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"Mães de Maio relembram filhos que a polícia matou"


A aposentada Maria Santa Favero Silvestre, 56 anos, moradora de Piracicaba, no interior de São Paulo, passeava neste sábado (12/5) pela praia do Gonzaga, em Santos, no litoral paulista, onde vivem seus filhos, quando se deparou com dezenas de cruzes pretas espetadas sobre a areia, junto a caixas de presentes, rosas vermelhas e pares de sapatos vazios, imagens que evocavam morte, dor e ausência, às vésperas do Dia das Mães.

Viu a faixa preta com o lema “Nossos mortos têm voz”. Achou bonito. Viu o nome “Mães de Maio” e pensou que fosse algo relacionado às Mães da Praça de Maio, que lutavam contra os crimes da ditadura argentina. Ao se aproximar, percebeu o engano. Descobriu que as mulheres reunidas ali junto aos crucifixos escuros eram todas mães de jovens mortos por policiais da democracia brasileira.

“A gente faz a nossa luta através do útero, porque nosso coração sangra”, disse à aposentada uma das mães reunidas ali, Debora Maria da Silva. Ela contou como participou da fundação do movimento Mães de Maio em 2006, logo após uma investida de policiais e grupos de extermínio matar centenas de jovens nas periferias do Estado de São Paulo, nos chamados Crimes de Maio.

Debora falou de seu próprio filho, Edson Rogério da Silva, morto com a carteira de trabalho no bolso. Apresentou Nair Torres, mãe de Nenê Tattoo, cujas últimas palavras foram “sou pai de família”, ditas antes de ser baleado pela PM, em dezembro de 2006. E contou a história de uma outra mãe, Vera Lúcia Gonzaga dos Santos, que perdeu na mesma noite a filha, Ana Paula, grávida de nove meses, o genro, Eddie Joey, e a neta, Bianca, baleada dentro do útero.

Essa mãe, explicou Debora, não estava ali, pois havia morrido há uma semana. “As mães estão todas adoecendo por causa da falta de justiça”, disse. Ao final da explicação, a aposentada Maria Santa, que nunca tinha ouvido falar das Mães de Maio, estava em lágrimas. Abraçou Debora e disse: “O movimento de vocês é uma grandiosidade que não tem tamanho”.

“A gente quer justiça. E que o Estado pare de matar menino”, respondeu Debora.

Protestar na praia do Gonzaga, no coração de Santos, fincando cruzes na faixa de areia entre o oceano Atlântico e a Praça das Bandeiras, com os estandartes dos 26 estados balançando debaixo do céu nublado, é uma escolha, explica Debora. “É importante fazer o ato aqui para que mais pessoas conheçam nossa luta Muitas pessoas apoiam as mortes nas favelas e periferias porque não percebem o que está acontecendo.”

Dor pelos filhos, saudades da mãe

Foi a primeira vez em 12 anos que as Mães de Maio relembraram o massacre dos seus filhos sem a presença de Vera Lúcia Gonzaga dos Santos, uma das fundadoras do movimento e a mais velha das Mães. Verinha não aguentou a chegada de mais um maio e a principal probabilidade de sua morte é o suicídio, cometido no terceiro dia do mês. “Maio para nós tem cheiro de sangue”, lembrou Debora.

Às lembranças dos filhos mortos, se somou ao protesto a saudade pela companheira que tombou. Paulo, filho de Vera e irmã de Ana Paula, a jovem grávida assassinada, resumiu: “Vim aqui tantas vezes para esse ato, mas nunca imaginei que viria aqui pela minha mãe”.

Na hora de levantar os punhos e gritar “presente!” acompanhado do nome de seus filhos, depois de soltar balões e rezar de mãos dadas, as mães e suas apoiadoras desta vez gritaram também o nome da companheira ausente: “Vera presente!”.

Na hora de ir embora, enquanto guardava as cruzes e faixas, Debora contou que pretendia passar o domingo “no meio do mato”, longe de tudo. “O Dia das Mães é horrível para nós”, confessou.

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