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"Carne Fraca", imperialismo e confusões teóricas e práticas


A recente operação deflagrada pela Polícia Federal a partir do dia 17 de março, a “Operação Carne Fraca”, se transformou em mais dos vários “escândalos da política”, da “corrupção”, que são transformados em algo semelhante a novos capítulos da mesma novela, onde o que se preocupa é muito mais fazer diversos alardes e escândalos em detrimento de esclarecer a situação real do processo, o que de fato se está passando.


A Operação Carne Fraca foi deflagrada com o intuito de se investigar esquemas de corrupção envolvendo fiscais responsáveis por verificar a qualidade das carnes fornecidas por frigoríficos. Segundo as investigações levadas a cabo pela PF, grandes frigoríficos subornavam fiscais e também políticos para que permitissem a venda e processamento de carne estragada, parte expressiva da qual era destinada para a exportação. É evidente que tal investigação de corrupção exposta como escândalo novelizado por parte da grande imprensa repercutiu imediatamente no exterior, principalmente entre os principais mercados consumidores que importam a carne brasileira. Tais países exigiram imediatamente esclarecimentos por parte das autoridades brasileiras que, evidentemente, não foram suficientes para tais países evitarem de impor barreiras para a importação da carne brasileira. Os movimentos seguintes às manchetes sobre a “Operação Carne Fraca” logo foram também vistos no exterior: Até então, a União Europeia, Japão, México, Jamaica, China, Hong Kong, Coreia do Sul e vários outros passaram oficialmente a impor barreiras sobre a carne brasileira, ou suspender completamente a importação desta por tempo indeterminado. Apenas este último país, que suspendera temporariamente a importação da carne brasileira, voltou atrás na última terça-feira (21), ao menos no que diz respeito à importação da carne de frango.


Evidentemente, devido à grande falta de informações e à confusão que já reina generalizada no movimento popular independentemente da repercussão da Operação Carne Fraca, os últimos dias foram marcados por uma série palavras de ordem erradas e direitistas, por devaneios e análises que se deslocam completamente da realidade, para além do próprio erro político. Embora ainda sejam escassas as informações mais detalhadas acerca da Operação Carne Fraca e de quais impactos esta terá sobre a economia nacional, vamos procurar dar nossas opiniões acerca dos fatos, bem como as devidas conclusões políticas decorrentes, baseados nas informações que, ainda que poucas, já se encontram em mãos do público brasileiro. Deve-se compreender o problema sob os diferentes aspectos através dos quais o mesmo se apresenta.


Comércio mundial sob o imperialismo e degradação dos termos de troca

O comércio mundial sob o sistema capitalista, evidentemente, se dá sob uma forma profundamente desigual, apóia-se em trocas desiguais. Neste comércio baseado nas trocas desiguais, os países industriais (exportadores de produtos manufaturados acabados) ganham, enquanto os países agrários, exportadores de matérias-primas e produtos agrícolas, perdem. Por qual motivo? As matérias-primas e produtos agrícolas, além de serem em geral produtos de baixo valor agregado, têm seus respectivos preços constantemente rebaixados no mercado internacional, enquanto que os produtos manufaturados apenas aumentam ou mantêm estagnados seus preços relativamente àqueles das matérias-primas e produtos agrícolas. Sendo assim, com a depreciação dos preços dos produtos exportados pelos países agrários, estes devem exportar quantidades cada vez maiores de seus produtos para importarem o mesmo volume de produtos manufaturados acabados que importavam anteriormente. A esta situação em que o poder de compra dos produtos exportados por um país periférico se depreciam, se conhece no “economês” como “degradação dos termos de troca”. Num país como o nosso, onde apenas seis produtos constituem mais de metade da pauta de exportações – minério de ferro, petróleo, soja, café, açúcar e carnes –, o comércio exterior brasileiro não poderia deixar de ser vítima desta “degradação dos termos de troca”. Com efeito, de 2014 a 2017, os preços destes produtos se depreciaram de forma veemente, a ponto de fazerem despencar as exportações. Em 2013, o Brasil exportava um valor de 242 bilhões de dólares, caindo para 225 bilhões de dólares em 2014, 191 bilhões de dólares em 2015, e 185 bilhões de dólares no ano de 2016, uma queda acumulada de 23% desde o início de 2014.


Pode-se observar que a degradação dos termos de troca é um dos principais meios econômicos dos países imperialistas para pilharem os países exportadores de matérias-primas. Aqueles conseguem destes um volume extraordinariamente maior de matérias-primas e produtos agrícolas “de graça”, via redução dos preços destas no mercado internacional, e se mantêm vendendo seus produtos manufaturados por maiores preços. Se é verdade que tal processo de redução relativa dos preços das matérias-primas e produtos agrícolas em relação aos produtos industriais é algo inerente à economia capitalista, sob o imperialismo tal fato acontece cada vez mais de forma deliberada. É constante na economia capitalista mundial que os países imperialistas, apoiados em suas semicolônias, de preferência as mais avançadas, mantenham estoques especulativos de matérias-primas e produtos agrícolas (que mantêm estocados ou desaguam no mercado internacional conforme os “vais e vens” dos interesses políticos e comerciais), que forcem países produtores de matérias-primas a acelerarem investimentos e aumentarem a produção para forçar para baixo os preços destas, etc.


A Operação Carne Fraca, desta maneira, enquanto movimento político, entra em total ressonância com os interesses comerciais do imperialismo e dos países capitalistas desenvolvidos: proibindo-se a importação da carne brasileira, bem como impondo-se todo tipo de barreiras sanitárias e não-sanitárias para a sua importação, reduzir-se-á a demanda sobre a mesma, aviltando seu preço. Neste sentido, pode-se considerar que a carne brasileira, no comércio exterior, será mais um dos produtos responsáveis pela deterioração dos termos de troca do Brasil no comércio exterior.


Atualmente, as exportações agrícolas do país geram uma receita anual de aproximadamente 90 bilhões de dólares. Destes, a pecuária contribui com o valor de cerca de 14 bilhões de dólares, segundo números do ano de 2016.Ainda existem controvérsias acerca de qual seria o real impacto da suspensão da importação de carne, ou da imposição de barreiras sobre a mesma, por parte dos mercados consumidores estrangeiros. José Augusto Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), especulou em declaração recente que as receitas externas geradas pela pecuária cairiam este ano em cerca de 2,7 bilhões de dólares (19,5% das receitas da pecuária) apenas por conta das restrições sobre a carne brasileira. A senadora Kátia Abreu, em discurso realizado no último dia 21, especulou que caso as restrições se mantivessem tal como estão, a pecuária amargaria a perda de 5 bilhões de dólares, ou aproximadamente 36% da receita. Entre 20% ou 36%, independentemente já se pode considerar que as perdas das receitas externas serão grandes.


Perdendo-se mercados no exterior, os monopólios que comercializam a carne brasileira serão obrigados a escoá-la no mercado interno, o que por sua vez levaria a uma queda abrupta dos preços internos e à perda de rentabilidade da pecuária, levando consequentemente à queda no preço da terra.


Fazendo tais constatações, deve-se proceder no sentido de estudar como as diferentes classes e grupos sociais envolvidos na pecuária (seja na produção, na comercialização, etc.) comportar-se-ão diante dos efeitos da Operação Carne Fraca.


Quem ganha, quem perde, e quem continua ganhando com as consequências da Operação Carne Fraca

Passemos ao primeiro ponto: quem ganha com os efeitos econômicos da Operação Carne Fraca? Pode-se afirmar sem dúvidas que os imperialistas e comerciantes estrangeiros ganharão muito com a perda da competitividade da carne brasileira no mercado internacional. A União Europeia e os Estados Unidos são grandes importadores da carne, e poderão agora se utilizar das justificativas apresentadas pela Operação Carne Fraca como forma de importa-la a preços aviltados, embora tanto a União Europeia e os Estados Unidos não deixem por isso de vender no mercado interno brasileiro seus produtos a elevados preços de monopólio, extraindo deste mercado fabulosos superlucros que, quando alçados, são imediatamente remetidos para suas matrizes no exterior, tornando ainda mais apertada a situação estrutural e crônica do déficit nas transações correntes com o exterior que nosso país galga. Neste sentido, as consequências econômicas da Operação Carne Fraca constituirão um fator de aumento da desigualdade entre as metrópoles imperialistas e a semicolônia Brasil.


Quem perderá com a Operação Carne Fraca? Examinemos a questão do campesinato. Muito embora a pecuária bovina de corte seja produzida principalmente em grandes latifúndios (ainda assim, os camponeses fornecem uma parcela expressiva da produção de carne bovina, em torno de um terço), a pecuária suína e a avicultura são de produção principalmente camponesa, concentrando-se basicamente nos estados do sul do Brasil, no Paraná e em Santa Catarina. Estes camponeses produtores de frango e porco mantêm com as indústrias os ditos “contratos de integração”, nos quais as indústrias fornecem para os camponeses parte dos insumos necessários para levar a cabo a produção (remédios, ração, etc.) e em seguida compram destes os frangos e porcos, descontando do preço, claro, os gastos com insumos fornecidos pelas empresas. Conforme denunciado pela ONG Repórter Brasil no documentário Corda no Pescoço, chega-se a uma situação tal em que, muitas vezes, as empresas chegam a pagar ao lavrador o preço ínfimo de apenas 17 centavos pelo quilo do frango. Com os camponeses da suinocultura, a situação é a mesma. E como as próprias empresas não fornecem para os lavradores a totalidade dos meios de produção necessários para viabilizar a avicultura e a suinocultura, aqueles devem tomar empréstimos nos bancos a taxas de juros altíssimas para construir, por exemplo, os aviários e chiqueiros, para comprar lenha, etc. Devido aos baixos preços impostos sobre os lavradores devido ao monopólio da comercialização praticado pelos grandes frigoríficos, a mão-de-obra do camponês acaba se tornando terrivelmente barata, mantendo-se explorado por métodos pré-capitalistas (pelo atravessamento e a agiotagem) por parte das grandes indústrias e dos bancos. Como parte expressiva da produção de frango e porco – senão a maior parte – é orientada pelas indústrias para a exportação, a imposição de barreiras comerciais e sanitárias ou mesmo a proibição completa da importação por parte dos principais mercados consumidores fará com que a demanda dos grandes frigoríficos pela aquisição de porcos e frangos despenque veemente, num nível em que a situação do camponês da suinocultura e da avicultura, que já é terrivelmente penosa, regrida para a situação de pauperismo completo, dado que os preços já miseráveis pagos pelas empresas pela produção camponesa diminuirá ainda mais. Sendo assim, caso perdurem os efeitos econômicos da Operação Carne Fraca, os lavradores enfrentarão um processo deplorável de pauperização, ruína e descapitalização. Os camponeses, assim, perdem com a Operação Carne Fraca.


E quanto à classe operária? Observemos primeiramente a classe operária das linhas de produção dos frigoríficos e também a classe operária que se forma nas atividades subsidiárias aos frigoríficos. Os operários da cadeia produtiva dos frigoríficos são barbaramente explorados. Os salários são baixos e é frequente as denúncias de mortes e acidentes causadas pelos excessos de trabalho impostos pelos grandes capitalistas. Não raro, as principais empresas que dominam o setor (Brasil Foods e JBS) são obrigadas a pagar indenizações por conta de operários que têm seus dedos arrancados durante o trabalho, ou que morrem pela exposição excessiva ao frio dos frigoríficos. No ano de 2007, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) realizou, no Mato Grosso do Sul, uma grande manifestação pela morte do indígena Marcos Antônio Pedro – operário de um frigorífico pertencente à transnacional imperialista Cargill –, que morreu ao cair num tanque de resfriamento de frangos, em um frigorífico do município de Sidrolândia. Sem quaisquer sombras de dúvida, o operariado empregado nas linhas de produção e nas atividades subsidiárias testemunhará uma piora ainda maior em suas condições de vida. Os grandes capitalistas que controlam os frigoríficos utilizarão as perdas no exterior como pretexto para levar a cabo uma onda de demissões dos operários dos frigoríficos e para explorar ainda mais os operários que permanecerem empregados, reduzindo os salários destes e intensificando os ritmos já extremamente elevados de trabalho. Numa época em que as classes dominantes levam a cabo sua ofensiva contra os direitos elementares das massas trabalhadoras (através de “reformas trabalhistas” e “reformas da previdência”) e em que nosso país já testemunha aproximadamente 14 milhões de operários e camponeses completamente desempregados, a classe operária será sim duramente atingida pelas consequências econômicas da Operação Carne Fraca. E quanto aos vaqueiros, assalariados rurais e semi-escravos das grandes fazendas de gado? Estes já amarguram uma existência penosa sob a exploração da classe latifundiária. Recebem baixíssimas remunerações – com os latifundiários se aproveitando da ainda baixa presença da legislação trabalhista no campo – e são ainda rampantes as formas de exploração que pouco se diferenciam da servidão, como as práticas de prender os vaqueiros nas fazendas por meio do endividamento, saqueá-los por meio de multas e cobranças abusivas pela comida, pelos “alugueis”, etc. Os vaqueiros – diante agora dos efeitos econômicos da Operação Carne Fraca, da enorme taxa de desemprego e dos ataques aos direitos das massas por meio da Reforma da Previdência ou da Reforma Trabalhista – testemunharão um agravamento de suas já sofridas condições de existência, e terão de se sujeitar cada vez mais a uma generalização maior das formas pré-capitalistas de exploração nas fazendas de gado, que crescerão motivadas principalmente pela descapitalização das fazendas e pela pobreza no campo e na cidade, num quadro de verdadeira “regressão feudal” semelhante àquele verificado a partir do final da década de 1980 nos latifúndios cacaueiros no litoral sul do estado da Bahia [1]. Sendo assim, a classe operária empregada na cadeia de produção da pecuária será também uma das classes de nosso país que perderão com os efeitos econômicos da “Carne Fraca”.


A classe operária e a população trabalhadora no geral, que não estão diretamente vinculadas à cadeia produtiva pecuarista e se assalariam em outros ramos da produção e da circulação, certamente terão também muito a perder com os efeito da operação Carne Fraca, pois a queda nas receitas externas levarão a uma piora da recessão pela qual atualmente passa a economia nacional brasileira, levando consequentemente à piora do desemprego e à ampliação dos cortes orçamentários sobre os serviços públicos que interessam diretamente à população trabalhadora (educação, saúde, transporte, assistência social, cultura, etc.) e ao aumento de impostos diretos e indiretos para aumentar a arrecadação do governo com o suposto pretexto de recompensar as quedas de receitas motivadas pela imposição de barreiras sobre a carne brasileira no estrangeiro.


E quem continuará ganhando mesmo após os efeitos econômicos e políticos da Operação Carne Fraca? Neste estrato se situam certamente os monopólios capitalistas que controlam a comercialização, o corte e o empacotamento das carnes dos fornecedores. Neste campo se situam também os grandes latifundiários, proprietários de gigantescos latifúndios para a criação extensiva de gado. Poder-se-ia imaginar que estes setores tenderiam a perder, é verdade, por conta nas quedas nos faturamentos motivadas pelas perdas de mercados no estrangeiro e pela maior imposição de barreiras sanitárias sobre a carne brasileira nos mercados consumidores. De fato, o faturamento dos monopólios e latifundiários agroexportadores já vem caindo consideravelmente há cerca de três anos, por conta da enorme queda das cotações das commodities no mercado internacional. Porém, se com uma mão os grandes capitalistas e latifundiários perdem devido à queda dos preços internacionais das matérias-primas e produtos agrícolas, com outra mão recebem do Estado as bilionárias indenizações dos lucros perdidos, que tenderão a utilizar muito mais no consumo de luxo e parasitário e na compra de mais terras, do que na melhoria nos métodos de produção, no aumento dos salários dos operários (ao contrário, mesmo após as pesadas indenizações aos latifundiários e grandes capitalistas, os operários tenderão a ter seus rendimentos depreciados) e no desenvolvimento das forças produtivas. Já tem sido corrente que os grandes capitalistas e latifundiários se utilizem de outra arma para manter seus lucros elevados, que é a questão da manipulação do câmbio, no sentido de desvalorizar o real diante do dólar, e aumentando a rentabilidade das exportações por conta da moeda desvalorizada. Durante a década de 1930, por exemplo, quando a crise econômica capitalista mundial fez decair a preços quase nulos as matérias-primas e produtos agrícolas, as oligarquias cafeeiras se utilizaram largamente das mesmas armas que utilizam agora os latifundiários para não irem à bancarrota: manipulação do câmbio e cobrança de obesas indenizações do Estado, somadas também ao método de incendiar as milhões de toneladas de café que não conseguiam saída no exterior com o fim de manter os preços. Sendo assim, atualmente, junto à queda nos rendimentos das massas trabalhadoras motivadas pela ação dos imperialistas no estrangeiro, as massas trabalhadoras passam a sofrer também a partir da ação dos latifundiários e monopólios internamente, no intuito de saquear os cofres públicos e manter o monopólio da terra. Os latifundiários e monopólios capitalistas internos se situam, então, no campo daqueles que manter-se-ão ganhando imensos montantes, a despeito da crise econômica, da perda dos mercados e da crise econômica.



Indústria nacional ou burguesia compradora-latifundiária?

É evidente que, embora ainda não tenhamos provas suficientes para colocar a Operação Carne Fraca como um movimento político orquestrado diretamente pelo imperialismo, pudemos concluir sim que a operação entre em ressonância com os interesses comerciais do imperialismo no sentido de aviltar os preços dos produtos pecuários exportados pelo Brasil. Uma parcela do movimento popular, porém – de preferência entre os partidos oportunistas de direita e mais abertamente reacionários, como o “Partido Comunista do Brasil” (PCdoB) e o “Partido dos Trabalhadores” –, foi além disso e passou a considerar a Operação Carne Fraca como uma operação de caráter político da Polícia Federal com o fim deliberado de destruir a “indústria nacional” representada na cadeia produtiva da pecuária. Segundo esta posição, haveria um intento do imperialismo em destruir a indústria nacional – semelhante ao que ocorrera por meio da Operação Lava-Jato com a cadeia produtiva do petróleo, a indústria naval, e as empreiteiras – por conta da concorrência que a carne brasileira estaria fazendo a carne norte-americana e dos países europeus no exterior. Cabe agora elucidar se os grandes frigoríficos fazem ou não parte da burguesia nacional – se são ou não a indústria nacional –, ou se, ao contrário, constituem uma extensão da dominação imperialista em nosso país, ou mesmo se não são nem um nem outro. É importante ressaltar também que a muito a Policia Federal da provas de seu envolvimento direito com as organizações de inteligência do governo norte-americano, com o próprio presidente da Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef) Francisco Garisto confirmando que “a Polícia Federal recebe dinheiro do serviço secreto americano (CIA) e de outras instituições de combate ao narcotráfico – DEA – e do Federal Bureau ofInvestigation”, organizações que financiam golpes e “revoluções coloridas” no mundo, além de terem envolvimento com o próprio narcotráfico internacional de drogas.


As empresas Brasil Foods e JBS são as principais empresas do setor comercial e industrial ligadas à cadeia produtiva da pecuária em nosso país. Como grandes empresas capitalistas, estas assumem um controle monopolista sobre o setor e, por conta desse caráter monopolista, se explicita também o parasitismo de ambas as empresas, que se manifestam através da relação destas com o Estado reacionário brasileiro; na imposição de baixos preços sobre os fornecedores – principalmente sobre os camponeses – devido à situação monopolista; no pagamento de propinas a uma enorme quantidade de altos funcionários do Estado brasileiro para manterem seus altos lucros, etc. Por conta disto, é completamente descartada a hipótese de tais empresas fazerem parte de uma média burguesia, mais ligada à burguesia nacional. Além disso, a atividade produtiva da pecuária em sua etapa industrial, nos frigoríficos, é também em parte controlada pelo capital estrangeiro através de suas empresas agrícolas monopolistas, tais como Cargill, Bunge, etc. Embora não tenhamos dados que nos permitam confirmar de fato qual o peso relativo do capital estrangeiro sobre os frigoríficos, podemos afirmar todavia que este controle é real, dado que há empresas estrangeiras atuando no setor. Além disso, se buscamos dados relativos ao comércio exterior de um país como os Estados Unidos, observaremos que estes se caracterizam principalmente como importadores de produtos de origem animal, e não como exportadores destes. É uma mentira considerar que o imperialismo norte-americano em conjunto com seus aliados europeus e japoneses são avessos à importação da carne brasileira, pois sabem muito bem que estes produtos constituem parte dos quais o Brasil deve exportar para ter divisas para importar seus produtos manufaturados acabados vendidos a preços de monopólio. O que é possível considerar que o imperialismo de fato quer é não a suspensão de da importação da carne brasileira, mas que sua importação se dê a preços aviltados, que levem nosso país a ter que exportar quantidades crescentes de carne para receber uma receita igual. Também não é verdade que os imperialistas almejem a destruição completa da cadeia produtiva da pecuária, mas sim que esta não evolua no sentido de fazer da carne brasileira um produto de maior valor agregado, produzido sob maior sofisticação tecnológica, e sim que seja exportado preferencialmente de forma crua, com pouco ou nenhum beneficiamento ou incrementos técnico-produtivos. A JBS não pode de nenhuma forma ser chamada de empresa de capital nacional, até por que é uma sociedade empresária de caráter anônima, ou seja, uma sociedade por ações, por isso a sigla “S.A.” após o nome, os acionistas não se conhecem na maioria das situações por isso leva o nome de anônima. A empresa societária encarregada de todas as operações internacionais da JBS S.A. é a JBS Foods Internacional, que tem a totalidade de suas ações negociadas na bolsa de Nova York, onde 25% destas ações estão em circulação, e o restante é negociado entre os donos das ações da JBS S.A. com fins de especulação. As ações da JBS Foods Internacional, por sua vez, correspondem à aproximadamente 65% das ações da JBS S.A., a maior parte das suas ações. Tudo isto denota o caráter comprador da burguesia burocrática nativa em relação ao imperialismo, sobretudo norte-americano, em que a maior parte dos superlucros e dividendos acionários acabam ficando nas mãos do imperialismo, pelo fato de ser uma empresa de capital aberto, com caráter de desnacionalização. Com a Operação Carne Fraca as ações despencaram em 10% na Ibovespa e 11% na Bolsa de Nova York o que acarretará em uma maior monopolização por parte do imperialismo norte-americano.


É relevante observarmos também que tipos de relações estas empresas mantêm com as massas trabalhadoras e o Estado reacionário brasileiro. A JBS, por exemplo, é a segunda maior devedora individual de contribuições à Previdência Social, com uma dívida que atualmente acumulada atinge a impressionante cifra de quase 2 bilhões de reais. É bastante curioso que ainda que deva tanto para um fundo dedicado ao bem-estar das massas trabalhadoras, a empresa permaneça operando no mercado interno. JBS e Brasil Foods, junto à classe latifundiária, são parte constitutiva da dita “bancada ruralista” que atualmente faz no governo brasileiro um poderoso lobby visando a aprovação de uma lei das mais entreguistas, como não existe em qualquer canto deste mundo, que liberará a venda de terras para pessoas e empresas estrangeiras, permitindo a estas adquirirem individualmente até 100 mil hectares de terras e arrendarem mais outros 100 mil hectares. Não há quaisquer dúvidas que a perda das receitas externas com a pecuária será utilizada pelos monopolistas e pelos latifundiários para intensificar ainda mais o lobby pela liberação da venda de terras para estrangeiros, sob um suposto pretexto de compensar tais perdas e fazer afluir para o país uma enorme quantidade de divisas externas. As pressões pela liberalização completa da economia – conforme defendida apaixonadamente por Blairo Maggi, latifundiário e Ministro da Agricultura – também tenderão a se intensificar.


Portanto, ainda que possam haver contradições entre os monopólios e o imperialismo estrangeiro, não é de forma alguma prudente caracterizá-los como parte da indústria nacional, da burguesia nacional, não apenas por conta de sua configuração econômica como também por seus posicionamentos políticos. É mais acertado caracterizá-los como sendo, assim, uma grande burguesia compradora-latifundiária.


As necessárias conclusões políticas

Concluindo nossas reflexões, é de grande necessidade que os simpatizantes da página NOVACULTURA.info e da União Reconstrução Comunista denunciem as consequências econômicas e políticas da Operação Carne Fraca como parte constitutiva de uma ofensiva imperialista-latifundiária contra as amplas massas populares, levadas a cabo sob o slogan moralista da “luta contra a corrupção”. Deve-se rejeitar os slogans direitistas, de conciliação e defesa aberta dos inimigos fundamentais do povo brasileiro, que se manifestam através de palavras de ordem demagógicas como “defesa do agronegócio nacional”, que fazem vista grossa e encobertam toda laia entreguista, antinacional e vende-pátria da reacionária classe latifundiária. Por outro lado, deve-se também rejeitar a opinião errônea – ainda que na maioria das vezes posta por pessoas bem intencionadas e que realmente desejam melhores condições de vida para o operariado e o campesinato – segundo a qual esta operação da Polícia Federal nada teria a ver com os interesses do imperialismo, que suas intenções reais são de fato investigar a corrupção e garantir que o povo brasileiro não estará sujeito a ter em sua mesa uma carne estragada, ou que a exploração das multinacionais imperialistas sobre o setor da pecuária não teria quaisquer diferenças com a exploração da burguesia compradora autóctone, ainda que sob condições de monopólio. Estas são ilusões perigosas e que escondem o caráter real da exploração direta do imperialismo sobre os setores econômicos internos. Aos operários, caberá realizarem protestos, greves e mobilizações contra os direitos que lhes retirarão os grandes capitalistas e a classe latifundiária. Aos camponeses, caberá prosseguir nas mobilizações e protestos pela garantia de melhores preços para a produção, pela redução das taxas de juros, conquista de subsídios, e principalmente pela conquista da propriedade sobre a terra.


Notas:

[1] Quanto à questão da “regressão feudal” nas fazendas do cacau no sul da Bahia, é de grande importância que o leitor leia a dissertação apresentada por Emiliano Ferreira Dantas num trabalho de pós-graduação na Universidade Federal de Pernambuco, chamada Os Meeiros do Cacau no Sul da Bahia: trabalho, corpo e documentação, disponível no link http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/12015. Neste trabalho, se constata claramente que, após a descapitalização da atividade cacaueira motivada principalmente pelo fungo da “vassoura de bruxa” em fins da década de 1980, a forma predominante de exploração nesta forma de latifúndio deixou de ser o assalariamento por empreita para se tornar a exploração por meio da “meia” e do arrendamento.



Escrito por P. Fernandes e A. Rosendo

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