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"O problema dos educadores"


O debate sobre o projeto que cria seções normais nos colégios de ensino secundário preocupa-se, com toda a sua seriedade, com os problemas dos professores do ensino primário. O projeto se propõe a resolver especificamente este problema, confiando ao ensino secundário a instrução que falta aos professores. Contudo, desde o início do debate, as únicas coisas que ficaram evidentes foram a sua conveniência teórica e a sua ineficiência prática.

O projeto não resolve absolutamente o problema, mas presta sempre um serviço apreciável ao oferecer uma oportunidade de mensurá-lo e contrastá-lo. Ao longo do debate, o senador Dr. Cavero declarou que a porcentagem de normalistas nas instituições de ensino primário é de apenas 15%. O ministro Dr. Oliveira, depois de registrar que uma das necessidades fundamentais de ensino é a formação de professores, deu o número de pessoal técnico no ensino primário: 859 alunos da segunda série e 19 da primeira série.

Aparentemente, o problema se reduz ao estabelecimento de escolas normais e, por conseguinte, converte-se em um problema econômico. Mas, na verdade, é muito mais profundo e complexo. Para comprová-lo não há necessidade de prestar atenção ao desempenho das escolas normais existentes, pois estes não podem ser mais escassos. O número anual de graduados nem sequer corresponde minimamente ao seu objetivo. Pois o que acontece, ademais, que já fartos ou decepcionados com a sua profissão, muitos destes normalistas abandonam enquanto podem o ensino.

Parece então evidente que não basta multiplicar o número de normalistas para multiplicar, na mesma proporção, os professores e que se faz urgente, antes de qualquer coisa, dignificar e enobrecer a profissão de professor. Enquanto a carreira dos educadores estiver à mercê de caciques e eclesiásticos, não será possível exercê-la com entusiasmo e perseverança de um espírito digno e de uma inteligência livre.

Não é a remuneração miserável o único fator que afasta os jovens, inclinados ao magistério, da carreira de educador. É, em geral, a condição miserável e humilhante do educador do Estado, condenada quase sempre a preservar sua posição, a renunciar a sua dignidade intelectual e espiritual, inscrevendo-se humildemente na gama de capitães onipotentes. Em um país onde o sentimento de casta e categoria cria tantas hierarquias escolares, o professor sente-se desprezado ou ignorado.

O problema dos educadores se enlaça e se confunde, portanto, com o problema social e econômico. Para valorizar a profissão de professor não basta cercá-lo de garantias e práticas formais, faz-se necessário substituir a escola de classe pela escola única, anulando todos os preconceitos que persistem e que diferenciam e hierarquizam arbitrariamente e plutocraticamente a instrução primária.

O Ministro da Educação achou muito fácil demonstrar o empirismo impotente do projeto defendido pelo Dr. Cavero e outros senadores. Não tem sido igualmente fácil encontrar, por outro lado, uma solução para o grave problema que os autores desse projeto imaginam engenhosamente resolver, transformando as escolas secundárias em subsidiárias das normais.

Mas assumiu, pelo menos no debate, uma atitude discreta e honesta, pois foi colocado em um terreno claramente democrático. Declarou-se, categoricamente, que os professores primários são necessários antes dos professores universitários, que não são necessárias mais universidades ou escolas secundárias enquanto houverem distritos que não possuem uma escola primária.

Isso indica um avanço do pensamento que governa a instrução pública. Há poucos anos um professor de autoridade inegável argumentou que não havia necessidade de se preocupar com a educação das classes superiores ou "iluminadas". Hoje a declaração da caduquez definitiva deste critério é pronunciada no parlamento por um ministro de instrução de origem universitária.

Infelizmente, não está nas mãos do ministro resolver o problema da educação pública, pois um dos aspectos típicos das instituições de ensino estão sob os olhos dos membros do Senado. Contudo, uma gestão enérgica e direta pode dar muitos bons frutos. Em nenhum outro campo pode-se trabalhar, atualmente, mais eficientemente do que no ensino. Deve-se garantir aos professores, verdadeiramente, o mínimo para trabalhar seriamente e de forma estável, fazer pela formação dos educadores do Estado o que ainda não foi feito. Assim, reivindicando integralmente o ensino fundamental, os 10% atribuídos pela lei, os recursos essenciais para a realização de um programa intensivo sem que seja necessário enfeudar ou anexar a educação normal à nossa educação secundária reumática e verbal.

Publicado em Mundial, Lima, 14 de janeiro de 1927

Escrito por José Carlos Mariátegui

Traduzido por F. Fernandes

Nota

** No texto original utiliza-se a expressão “preceptorado” no título ("El problema del preceptorado"): local onde educadores são incumbidos da educação das crianças; direção pedagógica; educador (do Estado, no caso deste texto) com orientação.

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