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Stalin: "Sobre o Problema da China"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

Passemos ao problema da China. Não pretendo estender-me a propósito dos erros da oposição no que diz respeito ao caráter e às perspectivas da revolução chinesa. Não o farei, uma vez que já se falou sobre isso bem amplamente e de modo suficientemente convincente para que valha a pena repeti-lo. Nem tampouco me estenderei relativamente à questão de que, pretende-se, a revolução chinesa seja, na etapa atual, uma revolução pela autonomia aduaneira (Trotsky). Nem vale a pena, igualmente, estender-me, sobre a asserção de que na China não existem, pretende-se, sobrevivências feudais, ou que, se existem, não têm grande importância e, portanto, a revolução agrária na China é absolutamente incompreensível (Trotsky e Rádek). Já conhecem, certamente, por intermédio da nossa imprensa do Partido, esses erros e outros análogos da oposição com referência ao problema chinês.


Passemos ao problema dos princípios fundamentais do leninismo que servem de ponto de partida para a solução dos problemas da revolução nos países coloniais e dependentes.


Em que consiste o ponto de partida adotado pela Internacional Comunista e pelos Partidos Comunistas em geral, na análise dos problemas do movimento revolucionário nos países coloniais e dependentes?


Consiste em estabelecer uma rigorosa diferença entre a revolução nos países imperialistas, nos países que oprimem outros povos, e a revolução nos países coloniais e dependentes, nos países que suportam a opressão imperialista de outros Estados. A revolução nos países imperialistas é uma coisa: neles, a burguesia é a opressora de outros povos; neles, a burguesia é contrarrevolucionária em todas as etapas da revolução; neles, falta o fator nacional como fator da luta emancipadora. A revolução nos países coloniais e dependentes é outra coisa: neles, a opressão imperialista de outros Estados é um dos fatores da revolução; neles, essa opressão não pode deixar de afetar também a burguesia nacional; neles, em determinada etapa e durante determinado período, a burguesia nacional pode apoiar o movimento revolucionário de seu país contra o imperialismo; neles, o fator nacional, como fator da luta pela emancipação, é um fator da revolução. Não fazer essa distinção, não compreender essa diferença, identificar a revolução nos países imperialistas com a revolução nos países coloniais, tudo isso significa desviar-se do caminho marxista, do caminho leninista, e situar-se no dos partidos da II Internacional.


Eis o que, sobre o assunto, dizia Lenin em seu informe sobre o problema nacional e colonial, no II Congresso da Internacional Comunista:


“Qual é a ideia mais importante, a ideia fundamental da nossa tese? É a distinção entre povos oprimidos e povos opressores. Frisamos essa distinção, em oposição à II Internacional e à democracia burguesa” (Lenin, Obras Completas, t. XXV, pág. 351).


O erro fundamental da oposição consiste em não compreender nem reconhecer essa diferença entre a revolução de um tipo e a de outro.


O erro fundamental da oposição consiste em identificar a revolução de 1905 na Rússia, país imperialista que oprimia outros povos, com a revolução na China, país oprimido, semicolonial, obrigado a lutar contra a opressão imperialista de outros Estados.


Aqui, na Rússia, em 1905, a revolução era dirigida contra a burguesia, contra a burguesia liberal, apesar de a revolução ter sido uma revolução democrático-burguesa. Por que? Porque a burguesia liberal de um país imperialista não pode deixar de ser contrarrevolucionária. Precisamente por isso, os bolcheviques não colocavam, então, nem podiam colocar a questão de blocos ou acordos temporários com a burguesia liberal. Tomando isso como base, a oposição afirma que o mesmo se deve fazer na China, em todas as etapas do movimento revolucionário; que os acordos e blocos temporários com a burguesia nacional não são admissíveis na China, em nenhum momento e sob nenhuma condição. Mas a oposição se esquece de que somente podem falar assim pessoas que não compreendem nem reconhecem a diferença existente entre a revolução nos países oprimidos e a revolução nos países opressores; que somente podem falar assim pessoas que rompem com o leninismo e se desviam para as posições dos partidários da II Internacional.


Eis o que diz Lenin sobre a admissão de acordos e blocos temporários com o movimento burguês de emancipação nos países coloniais:


A Internacional Comunista deve caminhar para uma aliança temporária com a democracia burguesa das colônias e dos países atrasados, mas não se fundir com ela e manter, de modo completo, a independência do movimento proletário, mesmo em sua forma mais embrionária” (t. XXV, pág. 290) . . . “Nós, como comunistas, só deveremos apoiar os movimentos burgueses de emancipação nos países coloniais, no caso de que esses movimentos sejam verdadeiramente revolucionários, no caso de que os seus representantes não nos impeçam de educar e organizar com espírito revolucionário os camponeses e as grandes massas de explorados” (t. XXV, p. 353).


Como pôde “acontecer” que Lenin, que lançou raios e trovões contra o acordo com a burguesia na Rússia, tenha reconhecido a admissibilidade de tais blocos e acordos na China? Lenin terá cometido um erro? Ter-se-á desviado da tática revolucionária para a tática oportunista? Evidentemente não. Isso “aconteceu” porque Lenin compreendia a diferença entre a revolução em país oprimido e a revolução em país opressor. Isso “aconteceu” porque Lenin compreendia que, em determinada etapa do seu desenvolvimento, a burguesia nacional dos países coloniais pode apoiar o movimento revolucionário em seu país contra o imperialismo estrangeiro. Isso a oposição não quer compreender; mas não o quer compreender porque rompe com a tática revolucionária de Lenin, porque rompe com a tática revolucionária do leninismo.


Prestaram atenção ao fato de como em seus discursos os líderes da oposição punham de lado, cuidadosamente, essas diretivas de Lenin, temendo tocá-las, apesar de, em seu informe, Bukharin ter focalizado de frente a questão referente a essas orientações de Lenin? Por que, então, afastam essas diretivas táticas de Lenin, conhecidas de todos, relativas aos países coloniais e dependentes? Por que temem tais diretivas? Porque temem a verdade. Porque as orientações táticas de Lenin lançam por terra todas as concepções ideológicas e políticas do trotskismo no problema da revolução chinesa.


Falemos agora das etapas da revolução chinesa. A oposição enredou-se até o ponto de, agora, negar a existência de qualquer etapa no desenvolvimento da revolução chinesa. Mas existe porventura alguma revolução sem etapas determinadas em seu desenvolvimento? A nossa revolução não teve, então, as suas etapas de desenvolvimento? Tomem as Teses de Abril, de Lenin, e verão que Lenin reconhecia duas etapas em nossa revolução: a primeira etapa era a da revolução democrático-burguesa, com um movimento agrário como eixo principal; a segunda etapa, a da Revolução de Outubro, com a conquista do poder pelo proletariado como eixo principal. Quais são as etapas da revolução chinesa? A meu ver, têm de ser três: a primeira etapa é a da revolução da frente única nacional geral, o período de Cantão, quando a revolução dirigia seus golpes fundamentalmente contra o imperialismo estrangeiro, enquanto a burguesia nacional apoiava o movimento revolucionário; a segunda etapa é a da revolução democrático- burguesa, após a chegada das tropas nacionais ao rio Yang-Tse, quando a burguesia se afastou da revolução, enquanto o movimento agrário se desenvolveu até converter-se em poderosa revolução de dezenas de milhões de camponeses (a revolução chinesa encontra-se atualmente na segunda etapa de seu desenvolvimento) ; a terceira etapa é a da revolução soviética, à qual ainda não se chegou, mas se chegará. Quem não tenha compreendido que não pode haver uma revolução sem determinadas etapas de seu desenvolvimento, quem não tenha compreendido que a revolução chinesa tem três etapas em seu desenvolvimento, não compreendeu nada do marxismo nem do problema chinês.


Qual é a característica da primeira etapa da revolução chinesa?


A característica da primeira etapa da revolução chinesa consiste, em primeiro lugar, em que foi uma revolução da frente única nacional geral e, em segundo lugar, era dirigida fundamentalmente contra a opressão imperialista estrangeira (a greve de Hong Kong, etc.). Era Cantão o centro, o quartel-general do movimento revolucionário da China? Indubitavelmente o era. Somente os cegos podem agora negá-lo.