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Werneck Sodré: "A Questão da Cultura"



- Quais têm sido (e são hoje) as relações entre o Estado e a cultura no Brasil? É correto ver os intelectuais como tradicional e historicamente “cooptados” pelo poder, no Brasil? Por quê? Quais as modificações na situação e na função social dos intelectuais brasileiros durante a última década?


Sodré: José Veríssimo dizia que os intelectuais – ele mencionava os escritores, especificamente – são áulicos, pela natural dependência em que se encontram em relação ao Estado, isto é, ao poder. Dizia isso pelas alturas de 1914, isto é, antes do irrompimento da I Guerra Mundial, que muitos consideram como assinalando, a rigor, o fim do século XIX, mais do que o marco cronológico. Constatava a realidade, sem dúvida, mas a realidade do Brasil do século XIX, quando apenas chegava ao fim o trabalho escravo, quando o capitalismo brasileiro dava os primeiro e incertos passos e a acumulação estava às vésperas ainda de seu primeiro salto significativo. Por que tal afirmação correspondia à verdade? Porque Veríssimo traduzia o fato social de que os escritores – parcela da minoria letrada, numa população esmagadoramente analfabeta – eram recrutados nas classes dominantes ou na camada intermediária, que se esmerava em imitar o comportamento daquelas e de lhes valorizar os padrões e conceitos. O dado de que a cultura dominante é sempre a das classes dominantes – dado geral – encontrava, no caso, confirmação particular. Outro dado, relativo ao caso brasileiro, na época, estava em que o aparelho de transmissão da cultura, especialmente o do ensino, era detido pelo Estado; em que o aparelho de Estado, inclusive, era o grande e majoritário empregador; em que, finalmente, as classes dominadas não tinham expressão política, porque finalmente, não tinham nem consciência de seus interesses nem de organização para defende-los. Menos ainda de condições para expressá-los em termos artísticos dominantes. Resumindo-se, pois, suas criações em formas rudimentares e circunscritas ao culto dos próprios interessados, como certas danças religiosas afro-brasileiras, certos cânticos, certas criações artesanais – tudo relegado a um plano absolutamente secundário. Ora, o Brasil dos nossos dias é inteiramente diverso daquele em que José Veríssimo constatava o traço do aulicismo, como dominante entre os intelectuais, especialmente os escritores. A sociedade brasileira apresenta hoje traços muito diferentes, as classes sociais se alteraram, na composição e na relação entre elas. Para resumir, e de maneira um tanto esquemática: o Brasil não dispunha de povo consciente de suas necessidades. Dispõe de povo, hoje. Para compreender isso seria preciso tomar em consideração o conceito de povo tal como procurei definir no trabalho “Quem é o Povo no Brasil”, incorporado ao volume Introdução à Revolução Brasileira. Surge, com tal modificação da estrutura social, os problemas das duas culturas, a cultura da classe dominante e a cultura da classe dominada, colocada por um mestre indispensável ao entendimento do problema. Mas que o peso de Estado na formação da cultura é enorme não resta qualquer dúvida. Quando o Estado assume a forma que assumiu, entre nós, a partir de 1964, agravando-se a partir de 1968, os contrastes tornam-se ostensivos, gritantes, escandalosos. São as modificações da última década, colocadas na pergunta. São os intelectuais, agora, “cooptados” pelo poder? Sim, alguns. É uma opção que marca as vítimas.


- Para alguns historiadores, a ideia de cultura brasileira serviu, fundamentalmente, para neutralizar e mascarar conflitos de classe, e, portanto, impedir a manifestação cultural das classes subalternas, bem como para promover uma identificação imaginária de vários setores sociais (“irmanados na construção de uma mesma cultura”), que, de outra forma, seriam divergentes. É correta esta tese? Como se pode pensar historicamente as relações entre cultura e classes sociais no Brasil?


Sodré: Mascarar conflitos de classe é propósito constante da cultura da classe dominante naturalmente. Mas não creio que a ideia de cultura brasileira tenha se prestado a isso. Ter sido utilizada é uma coisa – ela foi utilizada –, mas ter sido aceita a utilização é outra coisa – a utilização não foi aceita, pela sua transparente falsidade. Creio que na resposta anterior esbocei, sumarissimamente, o contraste historicamente condicionado entre uma época em que a cultura era monopólio da classe dominante – o Brasil não dispunha de povo consciente de suas necessidades – e uma época, a atual, em que temos povo.


- Quais as relações entre a nossa cultura e a cultura universal (europeia, burguesa, etc.)? Como se coloca o problema do imperialismo na reflexão sobre a cultura?


Sodré: A relação entre a nossa cultura e a europeia é do tipo da relação entre o universal e o particular, uma relação dialética. A relação entre a cultura do povo e a cultura dominante é também uma relação dialética, mas de outro tipo. De modo geral, a cultura brasileira autêntica está na incorporação dos valores autênticos da cultura universal, aquilo que é patrimônio do homem, aos valores específicos, e particulares, portanto, da cultura popular brasileira. Claro que na luta pela cultura, que é aspecto parcial da luta ideológica, o imperialismo é fator importante, pois é fator importante na luta ideológica. O papel a que se dedica especificamente é o de controle dos padrões de comportamento, da escala de valores, da capacidade de influir, pelo domínio dos instrumentos e das técnicas, dos meios de massa, em suma, de onde a cultura brasileira está praticamente expulsa.


- É possível pensar em termos de uma cultura nacional-popular? Qual o conteúdo e as implicações do conceito? Considerando-se o estágio atual do capitalismo (monopolista do Estado, etc.), tem sentido falar em cultura nacional-popular? Ela significa a mesma coisa que nacionalismo cultural?


Sodré: É sempre possível pensar em termos de cultura nacional-popular. Aliás, para evitar maiores confusões, convém, desde logo, frisar que só é nacional o que é popular. Não é possível separar uma coisa da outra. Estamos assistindo, precisamente na fase atual, à luta da cultura nacional e popular para se afirmar, face aos controles estabelecidos pela cultura não-nacional e dominante. Que as classes dominantes aceitem os padrões culturais estranhos por serem da mesma classe estrangeira, não é de espantar. O problema está em que tal cultura, tais padrões, não interessam a cultura brasileira autêntica, que, por definição, é a popular, Cultura Nacional e cultura popular são sinônimos, e não há como confundi-los com um nacionalismo cultural que não sei bem o que seja. É preciso não esquecer que a cultura nacional brasileira incorpora os valores universais, funde-os com os seus próprios valores, “nacionalizando-os”, por assim dizer.


- Considerando-se, também, que a indústria cultural produziu um sucedâneo de uma cultural nacional e popular (pense-se na cultura de massa em geral), a possibilidade desta não estaria definitivamente excluída? Enfim, tem sentido e é possível lutar hoje por uma autêntica cultura nacional-popular? Em que termos?


Sodré: A indústria cultural, eis o problema concretamente. O controle dos meios mecânicos, os chamados meios de massa, pela cultura importada, estão deformando inteiramente os padrões culturais brasileiros. Os filmes cinematográficos, os filmes de televisão, a música, para não falar em livros, quadros, peças teatrais, apresentam-se, esmagadoramente, como formação unilateral e maciça de cultura que não é nossa e que exclui a nossa. Esta dispõe, na fase atual, de estreita faixa, em que, além de tudo, a censura a comprime e esmaga. Mas está lutando e vai acabar por se impor. Quando os cinemas começam a sentir a abstenção do público, quando os aparelhos de televisão são desligados e quando as peças digestivas importadas não encontram quem as assista e as músicas buzinadas até o desespero, começam a cansar os ouvidos, há sinais de repulsa por uma falsa cultura, que é, maciçamente, a cultura mecanizada importada. Claro que estamos ávidos da autêntica cultura popular de outros povos, de suas criações de valor universal, daquilo em que os seus valores se afirmam. Não se trata de fechar as portas ao que vem de fora, mas de fechar as portas ao ruim que vem de fora em doses maciças, para deformar a nossa cultura, para lhe impor padrões baixos.


- A produção cultural brasileira deu um salto quantitativo, nos últimos anos: escreve-se, edita-se, filma-se, representa-se, grava-se muito mais do que antes. Fala-se muito, entretanto, em crise, em vazio cultural. É correto empregar esses termos? Qual o seu significado?


Sodré: o salto tem sido, efetivamente, quantitativo, isto é, representa o crescimento do mercado cultural, que acompanhou o desenvolvimento das relações capitalistas no Brasil, um desenvolvimento canceroso, como é fácil de verificar, com mazelas gigantescas. Edita-se mais, filma-se mais, grava-se mais, mas os produtos impostos pela indústria cultural, isto é, nivelada por baixo, fundada em padrões falsos, desprovida de alma, por assim dizer, uma cultura postiça, falsa, falsa e postiça em suas próprias origens, e não falsa por ser estrangeira, note-se. Há uma crise, sem a menor dúvida, a crise dessa cultura falsa, que, dotada de meios riquíssimos para sua expressão e expansão, começa a denunciar sua flagrante falsidade e começa a mostrar a sua nudez de conteúdo humano. É crise, nesse sentido, e, nesse sentido, a crise é positiva. Há uma cultura em crise, mas não é a brasileira, nacional, popular. Esta vem sendo esmagada, mas continua viva.


- Como não poderia deixar de ser, o recente e discutido dinamismo cultural recolocou em fogo a questão da modernidade e valor estético das obras de arte produzidas. O que é uma obra de arte esteticamente grandiosa, significativa? O que é o novo na produção cultural Como se coloca a questão da vanguarda, num país como o Brasil? Qual sua expressão, seu significado, suas implicações?


Sodré: Poucos conceitos estão tão desmoralizados, no Brasil, pelos equívocos relacionados com a chamada Semana de Arte Moderna, muito badalada e vivendo dessa badalação e da ausência de crítica, e pelos erros de interpretação do movimento batizado Modernismo. Que é, em suma, o moderno? Do ponto de vista cronológico é o que apareceu mais recentemente, mas isto não tem a menor significação. A modernidade consiste na consonância com o tempo, é sinônimo de atualidade. Ora, qualquer arte que não considere, no Brasil, os problemas que a atualidade brasileira alinha – e eles são muito sérios, profundos e graves – não é moderna. Ser moderno, pois, é estar em consonância com o seu tempo, no seu país, no seu meio, no seu povo, e nada mais que isso. Nada tem a ver – e aqui respondo ao que a pergunta coloca em relação ao conceito de vanguarda – com inovações meramente formais, quase sempre importadas, sem nenhuma relação com a nossa gente e com os nossos problemas, ainda os meramente estéticos. Não são alterações formais que resultam, intrinsecamente do nosso próprio e autêntico desenvolvimento artístico. São inovações formais que vivem nas estufas dos grupelhos, ainda mesmo que revestidos das galas universitárias, como arrimados em estacas, e que nada têm a ver com a cultura brasileira, cujos problemas não são estes, e que não encontram guarida na estreiteza formalista dos pretensos vanguardistas. Que é o novo, no Brasil? Desprezada, por desimportante e transitória, a fase que estamos vivendo, fase crepuscular, mero e terrível eclipse, novo, no Brasil, é o povo, como consciente de suas necessidades e organizando-se para defender seus interesses, inclusive em termos de arte. Novo é aquilo que interpreta, na variedade de suas manifestações, esse fato essencial. Só é novo, na realidade, o que se vincula ao nacional e ao popular.


- Não se pode negar que, na última década, foram produzidas obras artísticas, e não só artísticas, importantes, nos diversos setores culturais. Quais, no seu entender, as mais significativas? Por quê? Elas representam uma continuidade ou uma ruptura com experiências passadas na cultura brasileira?


Sodré: Apesar da ausência de condição de liberdade para a expressão do pensamento e da criação artística, podada em todos os níveis, apareceram, realmente, algumas obras importantes, mas poucas na última década. Não devo enumerá-las, pois seria preciso rever as relações de publicação e não tenho, no momento, condições para isso, não desejando, de forma alguma, cometer omissões. É preciso considerar que uma obra dessas foi – como sinal dos tempos – produzida no exílio: o Poema Sujo, de Ferreira Gullar. Outras, marcando também o que tem sido o regime que nos foi imposto, permanecem há anos amordaçadas, como as dezenas de peças teatrais, entre elas a premiada Rasga Coração de Oduvaldo Vianna Filho. Tais obras, as expressivas, estão na continuidade da experiência cultural brasileira válida. Elas são ruptura no sentido de que representam avanços qualitativos.


- Sente-se que ainda inexiste qualquer visão de conjunto (de síntese, se se quiser) que permita identificar os pontos nodais da evolução cultural brasileira nos diversos setores (cinema, teatro, música, artes, plásticas, talvez mesmo a literatura mais recente, etc.). Caso considere isso correto, como explica o fenômeno?


Sodré: Aceito a afirmação. É que a visão de conjunto, as grandes sínteses, são sempre resultado de fases de amadurecimento cultural, obras de acabamento, peculiares aos períodos criadores e livres, justamente o antípoda do que vamos vivendo, quando a crítica está podada e as análises desapareceram. Acredito que, ao serem retomadas condições menos limitadoras da liberdade de expressão e de criação, apareçam as sínteses ou tentativas de síntese, as quais, realmente, necessitamos muito. Uma das razões de não existirem, inserida no contexto geral de limitação à liberdade, é o desmantelamento da Universidade, sua desmoralização, o caráter falso, pretensioso e ornamental do que nela se ensina. Claro que há exceções, mas o quadro geral não abre perspectivas aos trabalhos de síntese.


- Nos últimos anos, parece ter-se acentuado uma característica da cultura brasileira: a ausência de crítica séria e sistemática. A atividade crítica do país permanece rarefeita, tímida, conciliatória e até mesmo desprovida de critérios teórico-metodológicos rigorosos, salvo evidentemente exceções? Como explicar isso? Qual a função da crítica cultural numa sociedade como a nossa? Quais devem ser seus parâmetros?


Sodré: A resposta está no item anterior. A propósito, a crítica passou, de alguns lustros a esta parte, dos jornais para as publicações especializadas e para a Universidade. Como aquelas não existem praticamente, e a Universidade está falida, nada resta senão o noticiário e um pouco os elogios mútuos das capelinhas em que se fecharam os manipuladores da cultura oficial. Ainda aqui, a ausência do povo – de público –, estando a criação cultural ilhada, confinada, marca o deserto.


- Para alguns, hoje se discute muito sobre cultura brasileira e se produz pouco. Para outros, o que há é que se discute mal e que a produção é de baixo nível. Tradicionalmente, fala-se que a “cultura brasileira está atrasada em relação à vida”, que perdeu a flexibilidade e a capacidade de acompanhar e refletir esta (daí a existência do chamado “vazio cultural”). Para outros, ainda, não se trata exatamente de que a cultura esteja atrasada em relação à vida e ao mundo, mas de que as formas e os métodos usados para apreendê-los é que não são os mais adequados ou consequentes (isto é, são adequados, sim, mas para cumprirem outra função). Como vê toda essa problemática?


Sodré: Acho, ao contrário, que se discute pouco, e isso é sinal dos tempos, e produz-se muito, mas qualitativamente irrelevante. A produção, globalmente, é de baixo nível, por motivos óbvios, e discute-se mal, porque, no ambiente em que vivemos, não é possível discutir bem. A cultura oficial, a cultura dominante, está, realmente, em contraste com a vida, com o novo, com o nacional, com o popular. Mas não a cultura de um modo geral. Não há vazio cultural, pois em cultura, nunca há vazio, mas espaço ocupado com lixo. Formas e métodos são dependentes do ambiente, da circunstância cultural. No nosso caso, por isso mesmo, domina arrivismo, formalismo, bizantinismo – e curiosidades importadas, como as modas: estruturalismo, controvérsias semânticas, falsa linguística e a parafernália de fuga que define o pitoresco e o grotesco das chamadas “vanguardas” e o ensino de Letras de nossas Faculdades.


- Toda a discussão aqui proposta, bem como os problemas e antinomias que lhe são inerentes nos diversos setores culturais (por exemplo: conquista de mercados versus penetração imperialista, quantidade versus qualidade, arte popular versus arte erudita, nacionalismo cultural versus cultura de exportação, etc.), vêm levantando, desde há muito tempo, sem que isso tenha resultado, necessariamente, num enriquecimento substancial do conhecimento de suas determinações. Por quê? Quais as possibilidades de se romper o aparente círculo vicioso?


Sodré: Penso que devemos continuar discutindo, na medida do possível e aproveitando todas as oportunidades, esses e outros problemas ou contradições ou antagonismos. Pouco a pouco, e na medida em que se reconquiste a liberdade, as discussões se ampliarão e ganharão conteúdo e nível mais alto. Já se discute hoje mais do que há dois anos. No ano corrente, vamos discutir muito. E mais no ano vindouro. Se ocorrerem retrocessos, serão curtos e marcarão avanços posteriores mais sólidos. Nós, que nos dedicamos às atividades culturais, temos compromisso com o futuro. O lixo será removido, sem a menor dúvida.


- Por fim, e em virtude disso tudo: quais os principais problemas e tarefas com que se defrontam a reflexão e a prática estéticas no país? Como é possível se pensar numa política cultural para o futuro?


Sodré: Os problemas e tarefas principais com que se defrontam a reflexão e a prática estéticas, no Brasil, atualmente, são, fundamentalmente, a repulsa à cultura imposta, oficial, dominante, a esse simulacro, a essa impostura, a essa falsidade, que se apelida de cultura; o esforço para a elaboração de uma cultura livre, nacional, popular, individual, mas principalmente organizada e coletiva, sob formas as mais diversas, as formas possíveis em cada momento e em cada caso. A repulsa, por si só, à cultura imposta, importada, enlatada, pretensamente vanguardista, elitista, representa algo de positivo. O esforço para elaboração de uma nova cultura, aproveitando e incorporando os valores universais e buscando alicerces no povo, há de trazer – já está trazendo – momentos e marcos de validade indiscutível, fazendo com que se distinga, pelo contraste, a qualidade da imitação, o novo da simples novidade, o moderno do ornamental, o autêntico da simulação. Quando a uma política cultural, são outros quinhentos cruzeiros. Para elaborar uma política cultural, é preciso de um mínimo de poder, de participação no poder. Ora, isso é impossível colocar, nas circunstâncias do momento. No momento, podemos mostrar como não elaborar uma política cultural. Mas o futuro pertence aos que trabalharem para fazê-lo melhor. A cultura brasileira conhecerá, certamente, melhores dias, Quem viver, verá.


Depoimento de Nelson Werneck Sodré sobre “A Questão da Cultura”, publicado na obra “História e Materialismo Histórico no Brasil”, de 1985.

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