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Mao: "A quem devem servir a nossa literatura e arte?"



O texto a seguir é datado de 23 de maio de 1942, e foi retirado do discurso de encerramento de Mao Tsé-Tung ao Colóquio de Ien-An sobre literatura e arte. Esse colóquio, iniciado em 2 de maio de 1942, teve o intuito de estudar as relações existentes entre o trabalho literário e artístico e o trabalho revolucionário, para fomentar um desenvolvimento de literatura e arte revolucionárias. Na obra, é citada a importância da “frente da pena e a da espada”, referindo-se ao exército cultural e ao armado, respectivamente. O primeiro teria tomado forma após o Movimento de 4 de maio de 1919, contra a cultura feudal chinesa e a cultura compradora imperialista, e ambas as frentes deveriam andar em conjunto, sendo indispensável a união de forças contra o inimigo.


Dessa maneira, ao final do Colóquio e das análises dos fatos objetivos, fora determinada a orientação política e os métodos para enfrentar a questão fundamental de servir às massas e de como as servir. O trecho então trata de um dos pontos fundamentais: a quem devem servir a nossa literatura e arte?


Primeiro problema: a quem devem servir a nossa literatura e arte?

Desde há muito que os marxistas, Lenin em especial, resolveram esse problema. Ainda em 1905, Lenin já sublinhava que a literatura e a arte deviam “servir ... os milhões e as dezenas de milhões de trabalhadores”. Para os camaradas que, nas bases antijaponesas, trabalham no domínio literário e artístico, poderá parecer que o problema já está resolvido, não se tornando necessárias mais discussões. Na realidade, porém, as coisas não se passam assim. Muitos camaradas não encontraram ainda uma solução clara. Em consequência, os seus sentimentos, obras, ações e pontos de vista sobre a orientação da literatura e da arte afastam-se sempre, mais ou menos, das necessidades das massas e da luta prática. Como é evidente, entre os muitos homens de cultura - escritores, artistas e outros trabalhadores da literatura e da arte que, ao lado do Partido Comunista, do VIII Exército e do Novo IV Exército, participam na grande luta de libertação -, alguns podem ser especuladores, permanecendo conosco apenas temporariamente. A imensa maioria devota-se com todas as energias à causa comum. Graças aos esforços desses camaradas, nós alcançamos grandes êxitos no domínio da literatura, do teatro, da música e das belas-artes. Muitos deles lançaram-se à obra depois que estourou a Guerra de Resistência; grande parte começou a trabalhar pela revolução bem antes dessa guerra, passando por mil sacrifícios e dificuldades e influenciando as grandes massas com o seu trabalho, com as suas obras. Por que razão, pois, dizemos que, mesmo entre estes, nem todos já encontraram uma solução nítida para a questão de saber a quem deve servir a literatura e a arte? Será acaso possível que ainda exista alguém sustentando que a literatura e a arte revolucionárias não devam destinar-se às grandes massas populares, mas sim aos exploradores e opressores?


É claro que existe uma literatura e uma arte para os exploradores, para os opressores. A literatura e a arte feitas para os senhores de terras são a literatura e a arte feudais, a literatura e a arte da classe dominante no período feudal da China. E até hoje essa literatura e essa arte exercem uma considerável influência na China. A literatura e a arte produzidas para a burguesia são a literatura e a arte burguesas. Há pessoas que, como Liam Chi-tsiu, criticado por Lu Sun, chegam a dizer que a literatura e a arte estão acima das classes, mas, no fundo, tais indivíduos tomam posição em favor da literatura e da arte burguesas, estão contra a literatura e a arte proletárias. Do mesmo modo, existe uma literatura e uma arte que servem os imperialistas, por exemplo as obras de Tchou Tsuo-jen, de Tcham Tse-pim e seus iguais; é a literatura e a arte dos traidores à pátria. Para nós, a literatura e a arte não se dirigem à categoria de gente que acabamos de citar, mas sim ao povo. Nós dissemos já que, na etapa atual, a cultura chinesa nova é a cultura anti-imperialista e antifeudal das grandes massas populares, dirigida pelo proletariado. Na nossa época, o que é autenticamente das massas populares deve necessariamente ser dirigido pelo proletariado. O que é dirigido pela burguesia não pode pertencer às massas populares. E isso, claro está, vale também para a literatura e para a arte novas, que são parte da cultura nova. Há que conservar a rica herança e as melhores tradições da literatura e da arte que nos legaram as épocas passadas da China e do estrangeiro, mas para colocá-las ao serviço das massas populares. De modo nenhum recusamos a utilização das formas literárias e artísticas do passado — nas nossas mãos, as formas velhas, reformadas e carregadas de conteúdo novo, transformar-se-ão igualmente em algo de revolucionário, à serviço do povo.

Mas quem são as massas populares? Os grandes setores do povo, que constituem mais de noventa por cento do total da nossa população: os operários, os camponeses, os soldados e a pequena burguesia urbana. A nossa literatura e a nossa arte destinam-se pois, em primeiro lugar, aos operários, que formam a classe que dirige a revolução; em segundo lugar, aos camponeses, o nosso aliado mais numeroso e mais resoluto na revolução; em terceiro lugar, aos operários e camponeses armados, por outras palavras, ao VIII Exército, ao Novo IV Exército e aos demais destacamentos armados do povo, forças principais da guerra revolucionária; em quarto lugar, às massas de trabalhadores e intelectuais da pequena burguesia urbana, que são também aliados nossos na revolução, susceptíveis de colaborar por muito tempo conosco. Essas quatro categorias representam a esmagadora maioria do povo chinês, são as grandes massas populares.


A nossa literatura e a nossa arte devem, pois, servir as quatro categorias que acabo de enumerar. Para servi-las, devemos colocar-nos na posição do proletariado e não na da pequena burguesia. Atualmente, os escritores que se agarram a uma posição individualista, pequeno-burguesa, são incapazes de servir realmente as massas revolucionárias de operários, camponeses e soldados, recaindo o seu interesse principalmente sobre o grupo reduzido de intelectuais pequeno-burgueses. Aí está, precisamente, a razão pela qual uma parte dos nossos camaradas não pode resolver, de maneira correta, o problema de saber a quem a nossa literatura e a nossa arte devem servir. E ao falar assim não estou a pronunciar-me no plano teórico. Nas nossas fileiras, ninguém considera em teoria ou em palavras que as massas de operários, camponeses e soldados são menos importantes que os intelectuais pequeno-burgueses. Estou, portanto, a referir-me apenas à prática, aos atos. Na prática, nos atos, não será acaso verdade que tais camaradas atribuem maior importância aos intelectuais pequeno-burgueses do que aos operários, camponeses e soldados? Penso que sim. Muitos camaradas entregam-se de preferência ao estudo dos intelectuais pequeno-burgueses, à análise da sua psicologia, concentram-se na respectiva descrição, procurando desculpar-lhes e justificar-lhes as faltas, em vez de os guiarem para que, com eles, se aproximem mais e mais das massas de operários, camponeses e soldados e participem nas lutas práticas dessas massas, descrevendo-as e educando-as. Originários da pequena burguesia, e de si mesmos intelectuais, muitos camaradas não buscam amigos senão entre os intelectuais e dispensam exclusiva atenção ao respectivo estudo e descrição. Tal estudo e descrição seriam corretos se fossem realizados a partir da posição do proletariado; mas acontece que não é assim, ou não é completamente assim que procedem. Eles se colocam na posição da pequena burguesia, as obras que produzem são a auto expressão da pequena burguesia, como pode ver-se em muitos trabalhos literários e artísticos. Frequentemente, mostram maior simpatia pelos intelectuais de origem pequeno-burguesa, chegam a apresentar com benevolência as faltas destes e vão até ao ponto de elogiá-las. Em contrapartida, tais camaradas só raramente têm contato com as massas de operários, camponeses e soldados, não as compreendem nem estudam, não têm entre elas amigos íntimos e não sabem descrevê-las. Quando as descrevem, a vestimenta é realmente a dos trabalhadores, mas a figura é a do intelectual pequeno-burguês. Em certa medida, sentem afeição pelos operários, camponeses, soldados e respectivos quadros, mas há momentos em que os não valorizam, registrando-se até passagens em que não lhes têm afeição: não lhes amam os sentimentos, as maneiras, a literatura e a arte nascentes (jornais de parede, pinturas murais, canções folclóricas, contos populares, etc.). Por vezes também se sentem atraídos por isso, mas é só quando andam à busca de novidades, à busca de algo para ornamentar os seus trabalhos, ou até em busca de características retrógradas. Outras vezes, desprezam tudo abertamente e voltam-se para o que vem da pequena burguesia intelectual, ou da própria burguesia. Tais camaradas têm os pés enterrados no chão da pequena burguesia intelectual, ou, para me exprimir num estilo mais elegante, o fundo das suas almas é ainda o reino da intelectualidade pequeno-burguesa. É por essa razão que ainda não resolveram, ou não resolveram perfeitamente, a questão de saber a quem serve a literatura e a arte. E isso não se aplica apenas aos que chegaram há pouco a Ien-An. Mesmo entre os que já estiveram na frente e trabalharam durante anos no território das bases de apoio, no VIII Exército ou no Novo IV Exército, ainda há muitos para quem o problema não está totalmente resolvido. Para que a questão se resolva inteiramente é necessário bastante tempo, oito a dez anos pelo menos. Por mais longo que se mostre o prazo, há que resolver o problema, encontrar-lhe uma solução clara e definitiva. Os nossos trabalhadores da literatura e arte devem cumprir essa tarefa, têm que mudar de posição, passar-se gradualmente para o lado dos operários, camponeses e soldados, para o lado do proletariado, penetrando no seio desses, lançando-se no processo da luta prática e estudando o Marxismo e a sociedade. Só assim poderemos dispor duma literatura e duma arte que sejam realmente para os operários, camponeses e soldados, uma literatura e uma arte verdadeiramente proletárias.


A questão de saber a quem servir é uma questão fundamental, de princípio. As controvérsias, divergências, oposição e desunião surgidas no passado entre certos camaradas não eram a propósito dessa questão fundamental, de princípio, mas apenas a propósito de questões secundárias, ou mesmo sobre assuntos que não envolviam qualquer princípio. Sobre a questão de princípio que nos ocupa, as partes não manifestavam quaisquer divergências, o seu acordo era até quase completo. Na realidade, em certa medida todos revelavam uma tendência para descurar os operários, os camponeses e os soldados e divorciar-se das massas. Eu digo “em certa medida” porque, de modo geral, ao descurarem os operários, os camponeses e os soldados e ao divorciarem-se das massas, não agiam nos mesmos termos em que age o Kuomintang. Seja como for, essa tendência existe. Enquanto a questão fundamental não for resolvida, muitas outras questões serão difíceis de solucionar. Vejamos, por exemplo, o sectarismo nos círculos literários e artísticos. Trata-se igualmente de uma questão de princípio. O sectarismo não poderá ser eliminado enquanto não se avançar e aplicar sinceramente a palavra de ordem de “em favor dos operários, em favor dos camponeses!”, “em favor do VIII Exército, em favor do Novo IV Exército!” e “avancemos para o seio das massas!”. Doutro modo, o problema do sectarismo nunca será solucionado. Lu Sun dizia:

“A condição indispensável da existência duma frente única é um objetivo comum... O fato de a nossa frente não estar unificada mostra que não soubemos impor-nos um objetivo comum, alguns trabalham apenas para grupos reduzidos, ou mesmo só para si. Se todos tivermos como objetivo servir as massas operárias e camponesas, a nossa frente será naturalmente unificada".


Esse problema existia, então, em Xangai, e hoje existe igualmente em Tchuntchim. Nessas regiões, porém, é difícil resolver por completo a questão, uma vez que os grupos que nelas dominam oprimem os escritores e artistas revolucionários e os privam da liberdade de mergulhar no seio dos operários, camponeses e soldados. A situação é completamente diferente entre nós. Aqui, encorajamos os escritores e artistas revolucionários a serem ativos no estabelecimento duma estreita ligação com os operários, camponeses e soldados, asseguramos-lhes inteira liberdade de ir às massas e criar uma literatura e uma arte autenticamente revolucionárias. Por isso o problema está, entre nós, quase resolvido. Mas, quase resolvido não significa completa e definitivamente resolvido. Se mais atrás falamos da necessidade de estudar o Marxismo e a sociedade, foi justamente para chegar à solução completa e definitiva desse problema. Por Marxismo entendemos Marxismo vivo, que desempenha papel eficiente na vida e na luta das massas, e não Marxismo verbal. Se passarmos do Marxismo verbal ao Marxismo da vida real, não haverá mais lugar para sectarismo. E não será somente a questão do sectarismo que ficará resolvida, pois muitos outros problemas também encontrarão solução.


Referência: Obras Escolhidas de Mao Tsé-Tung,Tomo III. Intervenções nos Colóquios de Ien-An Sobre Literatura e Arte. Pequim, 1975, pág: 105-113.

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