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Stalin: "Três Anos de Ditadura do Proletariado"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

Camaradas, antes de iniciar meu informe desejava saudar os deputados operários do Soviet de Baku, por parte do Comitê Executivo Central dos Soviets de Toda a Rússia, desejava saudar o Comitê Revolucionário do Azerbaidjão e o seu, chefe, o camarada Narimánov, por parte do Conselho dos Comissários do Povo; e em nome do Conselho Militar Revolucionário da República dirijo uma calorosa saudação ao XI Exército Vermelho, que libertou o Azerbaidjão e com o seu peito defende-lhe a liberdade (Aplausos). Não há dúvida de que a questão fundamental na vida da Rússia, nos três anos de existência do Poder Soviético, é a da sua posição internacional. Houve tempo em que a Rússia Soviética era ignorada, não era levada em consideração, não era reconhecida. Constituiu o primeiro período, que vai do dia em que foi fundado o Poder Soviético até à derrota do imperialismo alemão. Nesse período os imperialistas do Ocidente, as duas coalizões, a inglesa e a alemã, empenhadas em combater-se mutuamente, ignoravam a Rússia Soviética; elas, por assim dizer, tinham coisa bem diferente na cabeça. O segundo período é o que vai da derrota do imperialismo alemão e do início da revolução alemã ao momento em que Denikin desfechou uma ampla ofensiva contra a Rússia, quando ele estava às portas de Tula. Aquele período, do ponto de vista da posição internacional da Rússia, é assinalado pelo fato de que a Entente, a coalizão anglo-franco-americana, após haver batido a Alemanha, dirigiu todas as suas forças disponíveis contra a Rússia Soviética. É o período em que nos ameaçavam com a aliança de 14 Estados, que em seguida veio a ser um mito. O terceiro período é o que hoje atravessamos, em que não só não nos ignoram, como potência socialista, não só nos reconhecem de fato, mas também nos temem um pouco.

Primeiro período Há três anos, em 25 de outubro (ou em 7 de novembro segundo o novo calendário) de 1917, um minúsculo grupo de bolcheviques, membros do Soviet de Petrogrado, reuniu-se e decidiu cercar o palácio de Kerenski, aprisionar suas tropas, já em processo de desagregação, e passar o Poder ao II Congresso dos Soviets dos Deputados Operários, Camponeses e Soldados então reunido. Naquele momento muitos nos olhavam, no melhor dos casos, como se fôssemos malucos, e no pior dos casos como "agentes do imperialismo alemão". Do ponto de vista da posição internacional, esse período poderia ser chamado o período do completo isolamento da Rússia Soviética. Não só os Estados burgueses que nos rodeavam manifestavam sua hostilidade com relação à Rússia, mas até os nossos "camaradas" socialistas do Ocidente olhavam-nos com desconfiança. Se então a Rússia Soviética se manteve todavia como Estado, foi só porque os imperialistas do Ocidente estavam empenhados na dura luta que travavam entre si. A experiência dos bolcheviques na Rússia era considerada com ironia: julgavam que os bolcheviques morreriam por si, de morte natural. Do ponto de vista da situação interna, esse período pode ser definido como o período da destruição do velho mundo na Rússia, o período da destruição de todo o aparelho do velho Poder burguês. Sabíamos teoricamente que o proletariado não poderia limitar-se a tomar a velha máquina estatal e pô-la em movimento. Esse nosso princípio teórico, enunciado por Marx, foi inteiramente confirmado pelos fatos, quando arrostamos um período inteiro de sabotagens por parte dos funcionários czaristas, de empregados e de uma certa parte das camadas superiores do proletariado, período em que o Poder estatal estava completamente desorganizado. O primeiro e o mais importante instrumento do Estado burguês, o velho exército e seus generais, foi demolido. Isso nos custou caro. Em consequência dessa demolição tivemos de ficar por um certo tempo sem nenhum exército e fomos obrigados a assinar a paz de Brest-Litovsk. Por outro lado, não tínhamos outra saída; a História não nos indicava nenhum outro caminho para a libertação do proletariado. Além disso, foi destruído, demolido, um outro aparelho de igual importância, que estava nas mãos da burguesia, o aparelho burocrático, o aparelho da administração estatal burguesa. No campo da direção da economia do país, a circunstância mais característica consistiu no fato de que foi tirado da burguesia o nervo fundamental da sua vida econômica, os bancos. Eles foram arrancados das mãos da burguesia e esta, por assim dizer, ficou sem alma. Veio depois o trabalho no sentido de demolir os velhos aparelhos da vida econômica e de expropriar a burguesia, o confisco das fábricas e das oficinas e sua entrega à classe operária. Enfim, a demolição dos velhos aparelhos de abastecimento e a tentativa de constituir novos, em condições de acumular o trigo e de distribuí-lo à população. Como conclusão, a liquidação da Assembleia Constituinte. Essas são pouco mais ou menos as medidas que a Rússia Soviética foi obrigada a tomar nesse período com o objetivo de destruir o aparelho estatal burguês.

Segundo período O segundo período teve início quando a coalizão anglo-franco-americana, após haver batido o imperialismo alemão, preparou-se para ajustar contas com a Rússia Soviética. Do ponto de vista internacional, esse período pode ser definido como o período da guerra aberta entre as forças da Entente e as da Rússia Soviética. Se no primeiro período nos haviam ignorado, haviam zombado e escarnecido de nós, nesse período, pelo contrário, todas as forças obscurantistas empenharam-se a fundo a fim de porem termo à chamada "anarquia" da Rússia, que ameaçava desagregar todo o mundo capitalista. Do ponto de vista das condições internas, esse período deve ser definido como o período da construção, o período em que, levada substancialmente a cabo a destruição dos velhos aparelhos do Estado burguês, tem início uma nova época, a época da construção, em que são reorganizadas as fábricas e as oficinas tiradas dos patrões, é efetivamente instituído o controle operário, e, em seguida, o proletariado passa do controle à gestão direta, em que no lugar do destruído aparelho para os abastecimentos é construído um novo, no lugar do aparelho ferroviário, destruído no Centro e na periferia, são constituídos novos organismos, no lugar do velho exército é organizado um novo. É preciso reconhecer que, de um modo geral, nesse período a edificação claudica, visto como a maior parte da energia construtiva, nove décimos, é empregada para criar o Exército Vermelho, uma vez que na luta de morte contra as forças da Entente está em jogo a própria existência da Rússia Soviética, que nesse período pode ser defendida somente com as forças de um poderoso Exército Vermelho. E é preciso dizer que os nossos esforços não foram em vão, uma vez que o Exército Vermelho, vencendo Iudénitch e Koltchak, já mostrou nesse período todo o seu poderio. Do ponto de vista da nossa posição internacional, esse período pode ser chamado o período da liquidação progressiva do isolamento da Rússia. Começam a aparecer os seus primeiros aliados. A revolução alemã, apresenta quadros coesos de operários, quadros comunistas, lançando, com o grupo de Liebknecht, as bases do novo Partido Comunista. Na França um grupo minúsculo, ao qual antes não se havia prestado atenção, o grupo Loriot, transforma-se num grupo importante do movimento comunista. Na Itália a tendência comunista, fraca a princípio, apodera-se, se não de todo o Partido Socialista italiano, pelo menos de sua maioria. No Oriente, em relação com os êxitos do Exército Vermelho, nota-se uma fermentação que vai se transformando, por exemplo na Turquia, numa verdadeira guerra contra a Entente e seus aliados. Os próprios Estados burgueses nesse período não mais constituem um bloco sólido, hostil à Rússia como no primeiro período, para nem se falar sequer nas dissensões que surgem no seio da Entente acerca da questão do reconhecimento da Rússia Soviética, dissensões que se aguçam com o correr do tempo. Começam a elevar-se vozes favoráveis a negociações com a Rússia, a um acordo com ela. Tais são por exemplo as que se elevam na Estônia, Letônia e Finlândia. Enfim a palavra de ordem "Tirem as mãos da Rússia!", que se tornou popular entre os operários anglo-franceses, torna impossível a intervenção armada direta da Entente nos assuntos da Rússia. A Entente foi obrigada a renunciar a enviar contra a Rússia soldados anglo-franceses; foi obrigada a limitar-se a empregar exércitos estrangeiros, dos quais não pode porém dispor a seu talante.

Terceiro período O terceiro período é o que estamos atravessando e pode chamar-se de transição. A primeira metade desse período distingue-se pelo fato de que a Rússia, tendo batido o inimigo principal, Denikin, e em vista do fim da guerra, se propôs o objetivo de organizar de maneira nova, adequada às finalidades da construção econômica, os aparelhos estatais que antes tinham sido adequados aos fins de guerra. Se antes se dizia: "Tudo para a guerra", "Tudo para o Exército Vermelho", "Tudo para a vitória sobre o inimigo externo", agora se começou a dizer: "Tudo para a consolidação da vida econômica". Não obstante, essa fase do terceiro período, iniciada após a derrota de Denikin e sua expulsão da Ucrânia, foi interrompida pela agressão da Polônia contra a Rússia. Com essa agressão a Entente perseguia o objetivo de impedir a Rússia Soviética de reforçar-se economicamente e de tornar-se o Estado mais poderoso do mundo. Era isso que a Entente temia, e por esse motivo atiçou a Polônia contra a Rússia. Foi necessário transformar de novo os aparelhos do Estado, que tinham sido adaptados às necessidades da construção econômica; tivemos de pôr novamente em pé de guerra os exércitos do trabalho criados na Ucrânia, nos Urais e no Don, para reunirmos em torno deles as unidades combatentes e enviá-las contra a Polônia. Assim termina esse período: a Polônia já está neutralizada e, ao menos por ora, não surgem novos inimigos externos! O único inimigo direto é constituído pelos restos do exército de Denikin reunidos por Wrángel, que são agora batidos pelo nosso camarada Budiónni. Agora há motivo para supor que, ao menos por um breve intervalo de tempo, a Rússia Soviética possa ter um certo repouso que lhe permita canalizar para a estrada da construção econômica toda a energia dos seus incansáveis dirigentes que, por assim dizer, fizeram surgir de um dia para outro o Exército Vermelho, e pôr em pé as fábricas, a agricultura, os organismos de abastecimento. Do ponto de vista das relações exteriores, internacionais, o terceiro período é caracterizado pelo fato de que não só cessou-se de ignorar a Rússia e não só se começou a combatê-la arrastando para a dança com todas as forças até os 14 Estados míticos com os quais Churchill ameaçava a Rússia, mas logo, após algumas derrotas, começou-se a ter medo da Rússia, a ter a sensação de que estava surgindo uma potência popular socialista muito grande, que não toleraria as ofensas. Do ponto de vista das relações internas, esse período distingue-se pelo fato de que a Rússia, após a derrota de Wrángel, acha-se com as mãos livres, e dedica todas as suas forças à construção interna; e desde já se nota que os nossos órgãos econômicos trabalham bem melhor, com muito maior segurança do que o faziam no segundo período. No verão de 1918 os operários de Moscou recebiam de dois em dois dias um oitavo de libra de pão misturado com resíduos de sementes oleaginosas. Esse período triste e duro passou. Os operários de Moscou, assim como os de Petrogrado, recebem agora uma libra e meia de pão por dia. Isso significa que os nossos organismos de abastecimento se puseram no bom caminho, melhoraram e aprenderam a acumular o trigo. Quanto à política levada a efeito por nós em relação aos inimigos internos, deve ela permanecer e permanecerá tal como foi em todos os três períodos, isto é, uma política de repressão contra todos os inimigos do proletariado. Ela não pode naturalmente ser considerada como "uma política de "liberdade geral": na época da ditadura do proletariado, para a burguesia não pode h