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"A partilha imperialista da África"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

Lenin muito raramente mencionou a África em seus escritos sobre o colonialismo, porém faz inferências sobre África podem ser percebidas no Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo e em outras obras. Boa parte dos escritores burgueses no tema da partilha da África fazem observações sarcásticas sobre a explicação Leninista do imperialismo. Pelo fato deles já terem estabelecido um quase monopólio do que é escrito sobre este assunto, é necessário enquadrar essa análise como uma refutação de equívocos comuns. Além disso - como também é um caso frequente com os trabalhos de Marx, Engels e Lenin - muitas críticas hostis são baseadas em pura ignorância dos textos. Portanto o leitor deve suportar citações frequentes.


Lenin geralmente é citado por ter professado uma teoria "econômica" do imperialismo. Isso deu a origem à crítica de que sua teoria era unilateral, porque os Europeus esculpiram a África por vários motivos econômicos, políticos, social-humanitário, psicológico, etc. É claro que o Marxismo não se preocupa somente com alguns tão falados aspectos "econômicos" da sociedade. É uma visão de mundo que percebe a presença de variantes múltiplas dentro da complexidade da sociedade humana, e procura desvendar suas relações com referência das condições materiais da existência. Lenin não tinha que soletrar essa posição Marxista elementar em tudo o que ele escreveu. Sua redação sobre o imperialismo lidou com a questão da expansão da economia capitalista. As dimensões não econômicas eram conhecidas, e foram tratadas como secundárias. Lenin fez duas referências de passagem neste ponto:


1 - Os capitalistas dividem o mundo, não por qualquer malícia particular, mas porque o nível de concentração que foram alcançadas os força á adotar este método para obter lucros. E eles dividem isso em proporção ao "capital", em proporção á "força", porque não pode ter qualquer outro sistema de divisão sob a produção de commodities e sob o capitalismo. Mas a força varia de acordo com o nível de desenvolvimento econômico e político. Para poder entender o que acontece, é necessário saber quais as questões são estabelecidas por essa mudança de forças. A questão de que se essas mudanças são "puramente" econômicas ou não-econômicas (por exemplo, militar) é secundária, o que não afeta de forma alguma a visão fundamental da atual época do capitalismo.


2 - A superestrutura que cresce na base do capital financeiro, suas políticas e sua ideologia, estimula a luta pela conquista colonial.

Nós precisamos estar informados de como mudanças na balança de poder político-militar e aspirações nacionais Europeias por dominação estimulou a luta por colônias em África. Tais fatores não estavam fora do campo de percepção de Lenin, e explorando-os de forma ampla não invalida suas teses de forma alguma. Por exemplo, tais fatos como que os franceses estão pendurados no "prestígio", ou essas mudanças ocorrem na tão falada balança de poder deve estar relacionadas com a economia política da Europa. Elas não surgiram do nada. Elas foram produtos do desenvolvimento do capitalismo monopolista dentro das fronteiras de diversos estados Europeus. A elaboração deste argumento nos levaria mais fundo no passado Europeu, o que está fora da mira desta breve análise. A pergunta mais pertinente é: Quão longe e de quê modos o capital monopolista impingiu na África durante o período de notória corrida?


Uma boa quantidade de encrenca aconteceu para mostrar que pouco capital foi investido na África antes da primeira guerra capitalista mundial. A Europa Ocidental investiu muito mais na Europa Oriental, nos EUA, América Latina e Ásia do que na África. Essa é uma contradição de Lenin apenas para aquelas que não leram Lenin. Os exemplos de Lenin de investimento por monopólios fora dos epicentros capitalistas estão situados na Europa Oriental, no Oriente Médio, e na América Latina. Ele citou a Rússia, Romênia, Turquia, e Argentina de forma mais vigorosa como países que receberem o investimento e exploração finais.


Apenas a Grã Bretanha, com um grande número de colônias velhas e novas, estava exportando uma proporção significativa de seu capital para suas colônias políticas no início deste século. A França estava investindo principalmente na Rússia, e a Alemanha dividiu seus interesses entre a Europa Oriental e nas Américas.

Lenin citou o geógrafo Supan para o efeito que a característica principal do final do século dezenove foi a divisão da África e da Polinésia. Ele então adicionou que "A conclusão do Sr Supan deve ser levada adiante, e nós devemos dizer que a característica principal deste período é a partilha final do globo, não no sentido de que uma nova partilha é impossível; pelo contrário, novas partilhas são possíveis e inevitáveis, mas no sentido que a política colonial dos países capitalistas tem completado a apreensão dos territórios não ocupados em nosso planeta". A ênfase de Lenin no "completado" é significante, porque coloca a corrida pela África dentro do contexto de um processo único emanando da Europa e espalhando por todo o mundo. Sua intensidade não foi a mesma em todos os pontos. Grandes quantias de capital não foram inicialmente investidas na África, mas a África não poderia escapar do processo inexorável de expansão, dominação e partilha que tem suas raízes no capital monopolista.


Lenin tomou dores para mostra que a divisão do mundo entre monopólios capitalistas e de nações-estados nos quais estavam incrustados não era uma opção política que poderia também ser substituída por um pensamento mais iluminado. Ele enfatizou a lógica interna que fez a partilha internacional inseparável da natureza do capital monopolista naquela época. África era o grande continente desconhecido. Os Europeus sonhavam com seu grande potencial. Certas observações de Lenin são particularmente aptas nessa questão:

O capital financeiro não está apenas interessado nas fontes de matéria prima já conhecidas, ... porque o desenvolvimento técnico dos dias atuais é extremamente rápido... Daí vem a luta inevitável do capital financeiro para estender seu território econômico no geral. Da mesma forma que trustes capitalizam suas propriedades estimando-as por duas ou três vezes seus valores, levando em conta seus retornos "potenciais" (e não presentes), e os resultados posteriores do monopólio, então o capital financeiro luta para apreender a maior quantidade possível de terras de todos os tipos e em qualquer lugar possível, e por qualquer meio, contando com as possibilidades de encontrar matéria bruta e temendo ficar por fora na luta insensata pelas últimas sobras disponíveis de território não dividido.

Tomou-se um tempo considerável antes das potências imperialistas fazerem esforços para investir grandes quantias de capital na África como um todo. No caso da França, investimento capital significativo na África é um fenômeno pós Segunda Guerra Mundial. Lenin notou que a possibilidade de exportar capital para países atrasados foi criado por aqueles países foi desenhado anteriormente para relações capitalistas internacionais, assim criando condições elementares (tal como o início da construção de ferrovias e portos) para envolvimentos posteriores mais avançados. A infraestrutura necessária estava emergindo na Europa Oriental, nas Américas, e em partes da Ásia; mas isso ocorreu de forma escassa em todos os lugares na África durante o século dezenove e início do século vinte. Lenin, como Marx antes dele, reconheceu a tremenda contribuição feita pela África para a acumulação de capital durante a época do comércio de escravos. O fato de que ele não lidou com a África de qualquer modo no contexto do imperialismo não foi um descuido, já que naquela época a África era marginal para o desenvolvimento do capitalismo.

Uma compreensão disso frequentemente foi obscurecida por uma tendência de caricaturar a teoria de Lenin sobre o imperialismo, dando o significado a ela como a divisão do mundo em colônias políticas. Desde que a África foi o exemplo clássico de partilha política, seguiria então que a África fosse o continente no qual o monopólio estivesse principalmente interessado. Lenin falou primeiro e acima de tudo sobre a "luta por território econômico". Nações imperialistas às vezes acharam possível e necessário transformar seus territórios econômicos em colônias políticas, para assim reforçar a exploração e proteger sua competição capitalista estrangeira. Como Lenin coloca: "A posse colonial por si dá garantia completa de sucesso para os monopólios contra todos os riscos de luta com seus competidores, incluindo o risco que o último irá se defender por vias legais estabelecendo um monopólio estatal". Todavia, o capital monopolista frequentemente estabeleceu esferas de interesse econômico nas quais retiveram níveis variados de independência política.

O capital monopolista tinha uma pequena representação no continente Africano relativa á sua presença na Ásia e na América, mas apareceu com força suficiente para precipitar a corrida implacável pela África. É necessário ter em mente que tal capital que foi investido na África foi concentrada em duas áreas chaves: África do Sul e Egito, com o Congo, Magreb e Nigéria como outros pontos decisivos. Olhando para a África Oriental, um historiador burguês (Koebner) comentou que "A Companhia Imperial Britânica da África Oriental certamente não era uma galáxia de grandes interesses capitalistas". Isso foi entendido como algo aparte na qual colocaria para baixo a interpretação Leninista, e é na realidade factualmente precisa ainda que lamentavelmente fora de foco. A posição de Lenin não implica que toda parte da África estava enchendo com capital excedente trazido por grandes monopólios europeus. Não é necessário, por exemplo, procurar uma razão específica do porquê os Europeus queriam a região que agora é a República Centro-Africana. É o suficiente saber que o capital monopolista estava interessado em algumas partes do continente onde o potencial era verificado até certo ponto. Nas lutas por essas áreas, os Europeus também consideraram proveitoso a repartição entre eles mesmos as grandes expansões desconhecidas - especialmente já que ninguém queria perder uma parte, nem mesmo a Espanha ou a Itália.

Os principais elementos da época de Cecil Rhodes na região Sul da África são muito bem conhecidos para exigir atenção aqui. Todos os ingredientes nos quais Lenin falou estavam claramente presentes. Havia Rhodes e De Beers representando o capital monopolista; havia ouro e diamantes e a possibilidade do desenvolvimento extensivo de ferrovias; também havia a competição Anglo-Alemã; e havia o espetáculo de ambos Boers e os Africanos sendo submetidos e incorporados no extenso império do capital. A cena Egípcia é igualmente bem conhecida, o canal Suez sendo simbólico de grandes ambições do capi