César Vallejo: "O que é um artista revolucionário?"

Trecho traduzido do livro “El Arte y la Revolución”, de César Vallejo (1892- 1938), importante poeta peruano, além de contista, romancista, dramaturgo e ensaísta. Enquanto vivo, realizou três viagens para a União Soviética a fim de aprofundar seus conhecimentos sobre o marxismo. O texto a seguir foi escrito após essas viagens, entre1930 e 1932.

O QUE É UM ARTISTA REVOLUCIONÁRIO?

Três pontos, normalmente, em geral e na linguagem comum, confundem-se, interferem-se ou simplesmente conflitam-se quando se referem ao artista revolucionário, ao artista socialista e ao artista bolchevique.

1- O revolucionário, política e artisticamente, é e sempre deve ser todo verdadeiro artista, qualquer que seja o momento ou a sociedade em que se produz. Os artistas revolucionários ainda se encaixam no meio soviético e naquilo que diz respeito à própria Revolução Russa. Ainda que o estudo objetivo e científico da história leve os artistas soviéticos à convicção de que seu papel revolucionário não está e não pode estar trabalhando contra a revolução socialista nascente, e sim para servi-la e promovê-la. A revolução russa ainda está acontecendo e, dentro dela, os artistas são revolucionários justamente porque são os pioneiros dessa grande revolução. Por outro lado, é a nível mundial que os artistas soviéticos exercem a sua função revolucionária e, a este nível, o regime social dominante é o capitalismo, contra o qual a única forma de estes artistas exercerem a sua função revolucionária é trabalhando de acordo com princípios e interesses soviéticos, que são interesses e princípios revolucionários mundiais.

2- Apenas do ponto de vista dialético é que o artista bolchevique pode ser chamado – e é chamado – de socialista. Uma vez que este último interpreta e serve os interesses de classe do proletariado, e este, por sua vez, luta pela instauração da sociedade socialista universal, a ideia de socialismo está implícita na ideia bolchevique. É como eu disse em outra ocasião: quanto mais proletário você é, mais socialista você é. É também assim que Lenin costuma chamar o proletariado socialista. [1]

Execução da arte bolchevique

Não deve ser confundida com a do poeta bolchevique, cujo papel e temperamento são diferentes.

A arte bolchevique é principalmente uma arte de propaganda e agitação. Pretende-se, preferencialmente, fomentar e doutrinar a rebelião e a organização das massas para o protesto, para as reivindicações e para a luta de classes. Seus objetivos são didáticos, no sentido específico da palavra. É uma arte de proclamações, mensagens, discursos, reclamações, raiva e advertências. Seu verbo se nutre de acusação, polêmica, eloquência agressiva contra o regime social vigente e suas consequências históricas. Sua missão é cíclica e até episódica, e termina com o triunfo da revolução mundial. Seu destino abrange um ciclo da história, que vai desde os primórdios do movimento operário, até a ditadura universal do proletariado, isto é, até a implantação do comunismo. No início da construção socialista mundial, cessa a sua ação estética, cessa a sua influência social. A arte bolchevique serve a uma vicissitude periódica da sociedade. Uma vez realizada esta transformação, ou “salto” marxista, os discursos, proclamações e advertências perdem toda a validade estética e, se continuar, seria como se no meio de uma semeadura ou colheita se ouvissem hinos de guerra, apóstrofos de luta.

A arte bolchevique, por sua fulminante proeza contemporânea, requer e prende a atenção coletiva mais do que a arte socialista. A arte temporal sempre predomina – no momento de onde vem e para o qual serve – sobre a arte atemporal. [2]

Notas:

[1] O artista na Rússia deve ser um revolucionário contra o capitalismo mundial, ou seja, ele deve se colocar no plano internacional. Você trabalha contra o Soviete? Não. Para agir contra o regime burguês, que é a maioria do mundo, deve trabalhar contra a maioria.

[2] Se completar satisfatoriamente a arte bolchevique. Completará para uma escala geral de todos os artistas.