Camponeses organizados expulsam grileiros na Baixada Maranhense

No início do mês de setembro, a organização política promovida pelos Fóruns e Redes de Cidadania (FER) junto às populações interioranas do estado do Maranhão teve uma importante vitória sobre a reação local no município de São Mateus do Maranhão, norte do estado.
Desde há muitos anos, o grileiro Savigny Sauaia tem perseguido agricultores e pescadores de comunidades ribeirinhas, violando seus meios de produção e colocando capatazes seus para soltar gado para pastar em terras dos camponeses. A atividade de criação de gado bufalino, para além dos problemas ambientais que tem causado, está relacionada a uma série de violência perpetradas por seus puxa-sacos contra trabalhadores rurais locais, que vão desde colocação de cercas elétricas (cercamento) de terras e lagos públicos, destruição de material de pesca, agressões físicas, etc. Sauaia diz ser dono de três fazendas em São Mateus: Agropastoril Boca do Cercado, Agropecuária Ilha da Onça e Fazenda Uberaba.
Durante o final do mês de julho, no povoado Lage do Curral, Sauaia tentou levantar um aterro utilizando um trator, destruindo quintais de ribeirinhos e até mesmo o campo de futebol, único lazer da população. Neste momento, alguns moradores do povoado, indignados, se colocaram na frente do trator, impedindo que ele seguisse levantando o aterro. Impediram também que fosse ligada uma caixa de força para energizar as cercas de arame erguidas em torno de lagos públicos para a criação dos búfalos. Caso o fazendeiro lograsse fazê-lo, centenas de pescadores e camponeses perderiam acesso ao local de onde tiram o sustento de suas respectivas famílias.
A despeito de o fazendeiro e seus puxa-sacos terem praticado escancaradamente crimes de grilagem, dentre outras agressões verbais e físicas, foi a comunidade, e não o fazendeiro, quem acabou criminalizada. No dia 10 de agosto, os moradores de Lage do Curral se dirigiram à delegacia de São Mateus para registrar um boletim de ocorrência, denunciando o ocorrido. No entanto, policiais se dirigiram à comunidade de forma intimidadora para intimar os moradores a prestarem depoimentos na delegacia, em 8 de setembro. Nesta ocasião, depararam-se com informações de cabeça para baixo: o fazendeiro Sauaia é quem teria sido vítima de uma “invasão”, com os arames de suas “propriedades” sendo cortados e seus búfalos sendo mortos à bala.
Contudo, a despeito das acusações, a comunidade rural não estava sozinha. Os Fóruns e Redes de Cidadania, juntos a outras entidades, mobilizaram dezenas de pessoas que ocuparam as ruas do centro de São Mateus nesta mesma data, e se sentaram em frente à delegacia entoando gritos populares e palavras de ordem, a despeito das intimidações por parte da Polícia Militar.
As ameaças feitas contra a comunidade por parte de um grileiro não são um fato isolado da Baixada Maranhense ou no próprio município de São Mateus. Ao contrário, sob a orientação do governador reacionário Flávio Dino de transformar o Maranhão em um grande “estado do agronegócio”, as ações criminosas de grilagem, desmatamento e repressão contra o campesinato, os trabalhadores rurais e as populações originárias têm se intensificado. Temos o dever de repercutir estes fatos nos grandes centros urbanos.
Tal situação não se limita ao município de São Mateus, mas a todo o estado do Maranhão, sob a perspectiva do governador reacionário Flávio Dino de transformá-lo em um “estado do agronegócio”.