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"A Luta do povo espanhol contra o Franquismo"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

As grandes greves e manifestações de massas que nos últimos tempos têm se desenvolvido em diversas cidades e regiões espanholas, principalmente na Catalunha, onde tiveram início essas greves, desferiram um sério golpe no franquismo e abriram o caminho para o desenvolvimento de novas ações contra o regime e pela democratização da Espanha. E não é possível deixar de notar uma estreita ligação entre a situação criada ao regime franquista por essas lutas e a pressa dos Estados Unidos em estabelecer um pacto militar com o governo do general Franco a fim de reforçar a autoridade deste último e de impedir a sua queda.

Os incendiários de guerra precisam do general Franco para fazer da Espanha uma base militar, um ponto de apoio estratégico no desenvolvimento de seus planos de agressão; precisam também das matérias primas que existem na Espanha, entre elas os minerais de valor estratégico como o volfrâmio, o zinco, o estanho, o mercúrio, o chumbo e o minério de ferro, cuja exportação já está sendo feita para os Estados Unidos. Precisam do regime franquista porque uma Espanha democrática, uma Espanha com um governo cioso de sua soberania e da independência nacional, uma Espanha na qual o povo possa expressar livremente a sua vontade, não aceitaria transformar-se numa colônia ianque, nem toleraria que nenhuma potência estrangeira pretendesse servir-se do território espanhol como trampolim para a agressão à União Soviética e às Democracias Populares, em relação as quais o povo espanhol só tem motivos de gratidão.

Os Estados Unidos vêm preparando de forma disfarçada e hipócrita a incorporação da Espanha franquista à nova "Santa Aliança" dos incendiários de guerra, e juntamente com eles seus aliados franceses e ingleses. Mas queriam que essa incorporação se realizasse de um modo natural, pela própria força das circunstâncias e sem que eles aparecessem forçando a situação, uma vez que, de outra forma, toda hipocrisia e falsidade de sua propaganda em relação aos pretensos objetivos do bloco Atlântico de defesa da «liberdade» e da «democracia» ficariam a descoberto. Somente quando sentiram que o povo espanhol está vivo, de pé, disposto à luta contra o regime franquista, forçaram a situação e, tirando a máscara, aparecem abertamente dispostos a pactuar com Franco e a consolidar o regime fascista na Espanha.

No caminho para a incorporação da Espanha ao bloco dos países agressores, os imperialistas anglo-norte-americanos serviram-se dos dirigentes socialistas como solapadores da resistência republicana. Esses dirigentes socialistas, encabeçados por Trifon Gomes e Indalecio Prieto, procuraram criar no povo espanhol um sentimento derrotista da impossibilidade de recuperação da República. Os dirigentes socialistas lutaram por destruir as instituições representativas da República no exílio argumentando que a existência dessas instituições, como o governo republicano e a representação do parlamento, criavam obstáculos à solução do problema espanhol. Ao mesmo tempo, por várias vezes reiteraram em sua imprensa e em seus discursos a opinião de que a Espanha devia participar do plano Marshall e do bloco ocidental, declarando que somente os americanos poderiam resolver o problema espanhol.

Em um discurso pronunciado por Indalecio Prieto, então presidente do Partido Socialista Espanhol, em uma assembléia desse Partido realizada em Toulouse em março de 1947, o líder socialista disse o seguinte:

«Se nos concedessem a República, não teríamos que torturar nossa cabeça para recuperá-la, mas acontece que não nô-la concedem. Não existe outro caminho que o de servir aos desejos das potências ocidentais cingindo-nos ao que essas potências nos queiram conceder».

Com esse critério trabalharam desesperadamente para impedir a unidade das forças republicanas e democráticas, e justificar, com a divisão do campo republicano, a política de proteção ao franquismo dos anglo-americanos. E também foram e são eles o veículo do anticomunismo entre a emigração espanhola.

Jogando com sutilezas casuísticas de advogados do diabo, e apoiando-se no ponto de vista reacionário de que a força faz o direito, os dirigentes socialistas procuraram demonstrar a falta de base jurídica da legitimidade republicana, aceitando como fato irreparável a existência do regime fascista do general Franco e chegam a conclusão de que na Espanha não existe alternativa democrática ao regime atual. Com isso procuram justificar seu pacto com os monarquistas e a sua disposição de servir aos imperialistas.

Ainda não houve ação, por mais indigna que fosse, à qual não tenham recorrido os dirigentes socialistas para impor a política norte-americana no campo republicano espanhol na emigração e no interior do país. Chantagens, ameaças, promessas, delações, principalmente na França, onde contavam com o apoio de Jules Moch, os dirigentes socialistas espanhóis se especializaram nos serviços policiais e na delação contra os comunistas.

E isso porque os comunistas eram os únicos que se opunham a uma política entreguista, porque os comunistas eram os que alertavam os trabalhadores sobre os verdadeiros objetivos da propaganda socialista a favor dos americanos, porque os comunistas eram os que mantinham vivo o espírito republicano e antifranquista na emigração e no interior do país.

O governo francês, do qual participavam vários ministros socialistas, ordenou que fossem deportados os comunistas espanhóis que estavam na França, ao mesmo tempo em que preparava o intercâmbio de embaixadores com a Espanha franquista. Foi proibida toda atividade dos comunistas espanhóis na França e suprimida a sua imprensa, que em nenhum momento interferiu nos assuntos internos franceses, dedicando-se inteiramente à luta contra o regime fascista espanhol.

Os comunistas, amordaçados, impossibilitados de falar e de agir e os socialistas e anarquistas com plena liberdade de ação, seus dirigentes se dedicaram a despejar sobre os comunistas toda espécie de infâmias, enquanto se ofereciam aos americanos com um servilismo repugnante. Os chefes anarquistas declaravam que entre Franco e os comunistas eles preferiam à Franco; os dirigentes socialistas afirmavam que eles eram mais anticomunistas do que Franco e que estavam em melhores condições que o governo franquista para realizar na Espanha a política anticomunista e agressiva de que necessitavam os americanos.

A Decisão da ONU em Favor de Franco não Abateu o Moral das Massas

Nesse clima, a realização dos planos americanos sobre Franco era muito fácil. Eles podiam esgrimir como argumentos a seu favor os próprios argumentos dos dirigentes socialistas e anarquistas, inclusive de Negrin que, em uma série de artigos publicados no «New York Herald Tribune», em abril de 1948, afirmava a necessidade de aplicar o plano Marshall na Espanha, independentemente do regime franquista.

Na ONU a maioria ianquizada, livre dos escrúpulos pela cumplicidade socialista, votava pelo levantamento das sanções contra a Espanha franquista. A Inglaterra e a França que poderiam ter impedido a aprovação dessas resoluções que feriam profundamente o povo espanhol, se abstiveram de votar, apesar de haverem sido signatárias do acordo de Potsdam que condenava o regime espanhol, por sua origem e seu caráter fascista. Por que a Inglaterra e França se abstiveram nas votações da ONU? Por escrúpulos de consciência? Não, porque sabiam que a votação estava assegurada a favor de Franco. A abstenção lhes permitia, de certo modo, guardar as aparências e continuar especulando ante as massas trabalhadoras de seus respectivos países com sua repulsa ao regime franquista.

Mas o povo espanhol não se deixou enganar por essas argúcias diplomáticas; as massas trabalhadoras espanholas conheciam já o filiteismo dos representantes dos países chamados democráticos e de sua atitude na ONU ante o problema espanhol. Não esqueceram os espanhóis anti-fascistas a posição favorável a Franco dos representantes ingleses, franceses e norte-americanos, quando nas reuniões da ONU, em 1946, negaram-se a aceitar as propostas soviéticas e dos países de Democracia Popular, no sentido de estabelecer o bloqueio econômico da Espanha franquista.

Não aceitaram essas propostas soviéticas, sob o falso pretexto de que as sanções econômicas prejudicavam o povo espanhol, mas na realidade porque não ignoravam que o bloqueio econômico era a morte do regime fascista do general Franco, cuja situação difícil era conhecida em Londres e Washington, e porque nos planos dos incendiários de guerra não entrava a derrubada do franquismo e o restabelecimento da democracia na Espanha — para eles era mais útil o regime franquista.

Com o levantamento das sanções contra o franquismo, os imperialistas americanos e seus lacaios pretendiam assestar um golpe de morte à resistência popular antifranquista no interior da Espanha, acreditavam que com esta decisão se cancelava o problema espanhol.

Mas se enganaram; a decisão da ONU a favor de Franco não quebrou o moral das massas, ao contrário, curou-as das ilusões que ainda conservavam sobre a possibilidade da ajuda anglo-norte-americana para a recuperação da República e as fez compreender que a solução do problema espanhol não dependia da ajuda americana ou inglesa, como durante vários anos vinham argumentando os lideres socialistas, mas da própria luta do povo espanhol, sustentado e apoiado pela solidariedade ativa do campo da paz e da democracia, encabeçado pela União Soviética.

Nas semanas que se seguiram ao levantamento das sanções contra o regime franquista, a Espanha oficial, que até então vivia em constante sobressalto, sentindo que o chão lhe faltava aos pés cada vez que um delegado soviético ou um representante das Democracias Populares se levantava na ONU para defender os direitos do povo espanhol e estigmatizar o regime fascista do general Franco, pela primeira vez depois da derrota do hitlerismo, pôde dormir tranquila. Não mais perturbava o seu sonho a ameaça do "bloqueio econômico proposto pelos delegados soviéticos e representantes das Democracias Populares, e que num breve espaço de tempo teria podido acabar com o regime do general Franco.

Os incendiários de guerra anglo-norte-americanos optavam publicamente: preferiam uma Espanha fascista à uma Espanha democrática. Grave e severo, apertando os dentes e crispando os punhos, o povo observava o júbilo de seus verdugos e maldizia os governantes americanos, ingleses e franceses, com ódio e asco. E pensava, pensava que a alegria dos tiranos custa sempre ao povo lágrimas de sangue, pensava que novos males, novos sofrimentos se aproximavam por detrás das luzes do palco onde se glorificava os ianques, os mesmos que levaram a Espanha à guerra de Cuba, os mesmos que quiseram apagar até o nome da Espanha das ilhas do Pacífico que os espanhóis haviam incorporado à civilização e à cultura universal.

Ante a oferta dos créditos americanos que se seguiu ao levantamento das sanções, Franco anunciou a liberação dos preços e o fim da miséria e das restrições. Más a mentira tem pernas curtas, não pode ir muito longe. O povo começou a compreender muito rapidamente, o significado da «amizade» americana com a camarilha franquista.

Poucos dias após as declarações de Franco e do ministro da Indústria e do Comércio sobre o inicio de uma nova era de prosperidade e abundância, os preços dos produtos essenciais para a população se elevaram em proporções escandalosas. O arroz, de 10 pesetas o quilo, passou a 13 e 14; em 1936, o quilo do arroz custava 80 cêntimos; o grão de bico e o feijão se elevaram na mesma proporção, o azeite de oliva desapareceu do mercado e o que estava à venda só podia ser comprado por milionários; o azeite em 1936, custava 1,80 o litro, agora é vendido a 35 e 40 pesetas o litro; o toucinho que em 1936 era vendido a 2,50 o quilo, hoje custa de 50 a 60 pesetas; a carne que em 1936 custava 4 pesetas, hoje custa 70; o metro de tecido de algodão, que em 1936 custava 0,80 ou 1,20, no mês de julho do ano passado custava, na Espanha, 14 pesetas; após o levantamento das sanções contra o regime franquista elevou-se a 30 pesetas o preço do metro. Os tecidos de lã subiram nesse mesmo período de 130 para 300 pesetas. O calçado aumentou em 50%.

Mas com o pão foi mais escandaloso. O pão é, desde que existe o regime franquista, um artigo de luxo para os trabalhadores. O racionamento do pão é hoje na Espanha, de 100 a 150 gramas para os trabalhadores, mas não de pão branco e sim de uma mescla intragável de farinhas que nunca foram utilizadas na Espanha no fabrico de pão.

O governo franquista, em fins do ano passado, preparou uma grande encenação para o povo, com relação ao pão. Foi lançada uma proclamação onde se estabelecia que todo aquele que quisesse comer pão branco poderia fazê-lo a vontade; pagando antecipadamente ao governo o preço do pão que necessitasse durante um ano, e o governo lhe reservaria a quantidade de trigo necessária. O quilo de pão ficou estabelecido em 7,50, preço oficial; em 1936, o quilo de pão custava 65 cêntimos. Nessas condições, nenhuma só família operária, que mal vive com o mesquinho salário de cada dia, pode obter pão, porque não conta com suficientes reservas monetárias para comprar o trigo necessário. Dessa forma, o pão, que era tradicionalmente a base da alimentação popular, é hoje um manjar reservado aos privilegiados da fortuna, enquanto que os operários e a população em geral continuam com as 100 a 150 gramas do racionamento.

Ao comparar os salários dos operários e os preços atuais dos produtos de amplo consumo nacional, com os que existiam em 1936 — o salário médio de um operário em 1936 era de 10 pesetas, e hoje é de 11 a 18 — pode-se compreender a tremenda miséria que o regime fascista do general Franco, acarretou ao povo espanhol. A elevação dos preços dos artigos de amplo consumo nacional, por si mesmo excessivamente caros, no breve espaço de tempo que vai de novembro do ano passado a fevereiro deste ano, ainda se acrescenta o aumento das tarifas dos serviços públicos, da água, do gás, da eletricidade, dos aluguéis e do transporte.

O governo franquista, apoiado pelos imperialistas americanos e para cumprir suas encomendas de guerra, lançava sobre a população o peso dos gastos que se via obrigado a fazer para cumprir as ordens dos incendiários de guerra. O povo espanhol sentia em seus ombros o que significava a «amizade» dos Estados Unidos com o governo franquista.

A brusca alta de preços repercutiu imediatamente entre as famílias operárias, entre os camponeses e na economia da classe média, dos pequenos comerciantes e industriais, inclusive em alguns setores da burguesia acomodada que não estão ligados diretamente às instituições oficiais ou que, por diferentes motivos, não gozam da amizade e da proteção da camarilha governamental.

As casas de comércio e as pequenas lojas viram reduzir-se sua freguesia, e, por isso, o volume de suas receitas. A capacidade de compra da classe operária diminuía em escala sensível e por isso reduzia-se toda a vida industrial e comercial. A isso se deve acrescentar ainda uma nova classificação de lojas comerciais, com prejuízo para os pequenos comerciantes, que se viram sobrecarregados ainda com novos impostos e contribuições.

Isso produziu uma exacerbação do descontentamento e da indignação dessas forças que começaram a se solidarizar com o povo, processando-se entre elas uma radicalização que, embora lenta e ainda cheia de vacilações e titubeios, as vai levando para o terreno da oposição e da luta contra o regime fascista.

Isso que ocorre de uma forma geral em toda a Espanha, se dá com maior agudeza na Catalunha, onde tiveram início os protestos contra a política de miséria e de guerra do franquismo, pela existência nessa região de uma classe operária de tradição revolucionária e de um problema nacional vivo e candente, agravado pela opressão.

Essa radicalização das massas da pequena burguesia e das classes médias provoca uma séria preocupação não apenas nos círculos governamentais, que a elas se dirigem constantemente procurando assustá-las com o perigo do comunismo, mas também nos círculos reacionários estrangeiros e no Vaticano, que se desdobram em manobras para impedir uma saída democrática à situação.

Essa preocupação em relação à radicalização das classes médias foi demonstrada em uma conferência do bispo de Tarragona, em Barcelona, em abril desse ano, na qual este alto prelado chegou a declarar:

"A classe média era a grande reserva que nos restava e agora começa a esfacelar-se com grave risco para todo o edifício social".

Explosão da Indignação Popular

O que produziu essa explosão da indignação popular que lançou à rua, em protestos, na Biscaya e na Catalunha a mais de meio milhão de homens e mulheres, lançando a confusão entre os que consideravam que o povo espanhol não poderia levantar-se da prostração em que o submergiu a terrível e sangrenta repressão franquista? Aparentemente, o aumento do preço dos transportes dos bondes que pesava duramente no orçamento da classe operária e das classes pobres em geral. Mas, no fundo, o protesto traduzia o ódio ao regime, a amargura, a raiva acumulada em 12 anos de falta de liberdade, 12 anos de tirania franquista, 12 anos de terror, de perseguições policiais, de privações, de miséria, de diminuição constante do nível de vida; 12 anos de resistência passiva à espera de uma ocasião propícia para a luta.

O aumento das passagens dos transportes foi a gota d'água que fez transbordar a paciência popular. Iniciado o protesto contra o aumento, pelos estudantes — e isso é bastante significativo, levando-se em conta a origem social destes — teve o apoio unânime de toda a população. O boicote começou pacificamente na última semana de fevereiro, mas, com o decorrer dos dias, foi adquirindo caráter violento. O povo atacava os bondes e ônibus que circulavam com a polícia e esta disparava contra o povo. Foram derrubados e incendiados alguns carros de serviços oficiais, foram queimadas bancas onde se vendia jornais franquistas e atirados líquidos inflamáveis contra a Municipalidade onde se verificaram alguns incêndios. Em alguns lugares foram arrancados os paralelepípedos da rua e se procurou levantar barricadas, mas as forças armadas dispararam sobre os manifestantes, impedindo que se atingissem tal propósito.

Com o desenrolar dos acontecimentos, os choques entre a polícia e a população produziram vários mortos e numerosos feridos. O boicote durou de 24 de fevereiro a 5 de março, data em que as autoridades se viram obrigadas a publicar uma decisão anulando o aumento das tarifas e restabelecendo os preços antigos. Entretanto, isso não acalmou a efervescência das massas que, pela própria experiência, haviam aprendido em algumas horas, depois de 12 anos de espera, que a luta era possível mesmo nas piores condições e que o franquismo não podia impedir esta luta quando o povo, e principalmente a classe operária, estão decididos a defender seu direito à vida.

No transcurso dos acontecimentos o Partido Socialista Unificado da Catalunha, Partido dos comunistas catalães, assim denominado depois da fusão de 1936, do Partido Comunista da Catalunha com diferentes pequenos partidos democratas operários de tendências catalanistas e socialistas, realizou um grande trabalho de agitação entre as massas conclamando-as à preparação da greve de protesto contra a política de miséria e de guerra do franquismo. E é interessante destacar o fato de que na Catalunha, onde o anarquismo e o nacionalismo tinham uma força preponderante entre a classe operária e a pequena burguesia, no decorrer dessa luta de que participaram dezenas de milhares de operários de tendências anarco-sindicalistas e grupos da classe média e da pequena-burguesia nacionalista, não tenham aparecido como força dirigentes nem os anarquistas nem os nacionalistas. Os trabalhadores procuraram só o Partido Socialista Unificado que, fundido com eles, estimulava-os no protesto; apenas a propaganda do Partido Socialista Unificado concitava o povo catalão à resistência e à luta, acolhendo e interpretando os sentimentos da classe operária e do povo da Catalunha.

O apelo à greve de protesto contra a política franquista, feito pelo Partido Socialista Unificado durante o boicote aos bondes não caiu no vazio. No dia 12 de março, uma semana depois de haver terminado o boicote, os trabalhadores catalães abandonavam o trabalho declarando-se a greve geral em Barcelona.

As indústrias fundamentais foram paralisadas, as lojas e os escritórios pequenos e grandes cerraram suas portas, foram suspensos as comunicações telefônicas, os espetáculos públicos e o transporte e até mesmo os locutores de rádio pararam as suas atividades. Pelas ruas de Barcelona desfilavam, em imponentes manifestações, dezenas de milhares de operários, de empregados, de homens e mulheres que levantavam seu protesto contra a política de fome, e de miséria e de guerra do franquismo, que cantavam a Internacional. «Esta é a nossa resposta à ONU», diziam os operários; «esta é a nossa resposta aos americanos». Os manifestantes quebraram todos os vidros do andar térreo do Banco Hispano-Americano. A 12 de março as massas eram donas praticamente das ruas de Barcelona.

Para elas, como para, todo o mundo, era uma surpresa o que ocorria e não sabiam como utilizar sua própria força, porque não havia uma direção conjunta, articulada, uma vez que — apesar do esforço heroico realizado pelos comunistas catalães que nas duras condições de clandestinidade trabalharam durante todos estes anos de terror fascista, mantendo o espírito de resistência da classe operária catalã, e apesar também de sua ativa participação na organização e preparação da greve — não se havia conseguido, e isso era decisivo tendo em conta o caráter fascista do regime, a unidade e a coordenação abrangendo todas as forças antifranquistas.

As Reivindicações Democráticas Fundamentais e a Organização das Forças Anti-Franquistas

Os próprios trabalhadores perguntam hoje, ao examinar os resultados da greve:

"Por que não se colocaram as reivindicações democráticas fundamentais, tais como o direito de associação, de reunião, de imprensa, a supressão da intervenção monopolista fascista na indústria e no comércio, a liberdade de comércio para os camponeses e a unidade dos operários com os camponeses na luta em defesa de seus interesses vitais? Por que, quando as massas estavam nas ruas, não se levantou a ocupação das fábricas, a libertação dos presos, a tomada dos edifícios públicos e a confraternização dos soldados quando estes estavam na expectativa e com uma atitude de simpatia para com o povo? Por que não se colocou a continuação da luta e a formação de comitês revolucionários compostos de representantes de todas as forças antifranquistas para dirigir e ampliar a luta?"

A responsabilidade pelo fato de não terem se estendido a todo o país as lutas da Catalunha e pelo fato de não terem tido essas lutas objetivos mais concretos e mais elevados, recai, fundamentalmente, sobre os dirigentes socialistas e anarquistas que negaram reiteradamente a possibilidade de luta, que desenvolvem sistematicamente uma política anti-comunista de divisão e repelem todas as propostas de unidade dos comunistas para a organização da resistência ao franquismo.

Não obstante as debilidades observadas no decorrer da luta, os acontecimentos da Catalunha, pela sua amplitude, abalaram profundamente o país, pondo em movimento a vontade e a energia das massas que se manifestaram em Euzkadi, Navarra e Madrid e que se preparam para novas lutas em toda a Espanha.

Os Planos da Igreja, da Aristocracia e da Grande Burguesia