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A história da ocupação da Fazenda Santa Mônica


As regiões rurais do estado de Goiás foram palco de uma recente e formidável vitória para o movimento democrático-popular brasileiro. Chutadas da Fazenda Santa Mônica (um imenso complexo de sesmarias improdutivas localizadas entre os municípios de Corumbá, Alexânia e a Abadiânia, coração do estado de Goiás) no último mês de março por meio de uma violenta e deplorável operação militar da PM fascista, as mais de 3 mil famílias camponesas organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que ocupavam o latifúndio desde o final do mês de agosto de 2014, retomaram-no na madrugada do último domingo (21).

A primeira ocupação da Fazenda Santa Mônica, realizada em 31 de agosto de 2014, foi o maior processo de tomada de terras improdutivas realizado nos últimos 11 anos pelo MST no estado goiano. A Fazenda Santa Mônica, que tinha em suas terras abandonadas nada mais do que meras socas de soja aqui ou acolá, passou a ser cultivada pelas dezenas de milhares de lavradores após sua ocupação. Mais de 200 hectares de terras foram cobertos com uma produção diversificada de alimentos e matérias primas industriais, que passaram a ser comercializados nas cidades limítrofes da ocupação, contribuindo para o desenvolvimento das forças produtivas locais, desenvolvimento este outra entravado pela predominância de terras improdutivas e da agro exportação.

Era erguido e consolidado na antiga Fazenda Santa Mônica o Acampamento Dom Tomás Balduíno, grande esperança de luta para os lavradores que buscavam seu pedaço de terra para produzir e garantirem seu sustento e o de suas famílias. No Brasil inteiro, o acampamento Dom Tomás Balduíno passou a ser visto como uma grande referência, e passou a ser constantemente visitado por figuras do movimento democrático nacional e ultramar.

Na luta para cultivarem as terras e garantirem sua fonte de renda digna sem precisarem viverem de bicos ou empregos precários nas cidades limítrofes, os lavradores passaram por grandes dificuldades. Já nos primeiros dias após o início da ocupação, policiais militares e demais braços armados locais do Estado reacionário brasileiro bloquearam os acessos ao acampamento, impedindo a circulação de veículos e mercadorias entre os camponeses e as regiões urbanas próximas da ocupação. Somente após enorme pressão política por parte do movimento camponês, os policiais desbloquearam os acessos ao acampamento.

A grande reivindicação do movimento camponês após a ocupação da Fazenda foi a sua desapropriação com fins de reforma agrária e transformação desta, na prática, em uma nova cidade habitada por milhares de famílias. De maneira correta, as lideranças do movimento camponês observavam que a criação de um assentamento na antiga Fazenda Santa Mônica seria extremamente viável do ponto de vista econômico: Muito próximo de estradas asfaltadas e relativamente próximo (cerca de 90 quilômetros) da capital goiana, sua localização geográfica facilitaria o escoamento de produtos agrícolas para os centros urbanos e a entrada de mercadorias industriais, garantindo, ao menos ao nível do assentamento, a ligação econômica mercantil entre o campo e a cidade.

Apesar de constar na Declaração de Bens do político Eunício Oliveira (proprietário do latifúndio) que o preço da Fazenda Santa Mônica era de irrisórios 300 mil reais (uma média de 14 reais por hectare), o senador, nas negociações com órgãos do governo ligados à reforma agrária, cobrou 400 milhões de reais (uma média de 19 mil reais por hectare, um valor 1357 vezes superior ao que havia declarado!) na desapropriação da Fazenda Santa Mônica para a estruturação do assentamento.

Constantes foram as ameaças de despejos dos camponeses por parte do Estado burguês-latifundiário durante todo o decorrer da ocupação. Diante da ineficiência dos pistoleiros de Eunício Oliveira em impedirem o progresso do Acampamento Dom Tomás Balduíno, o braço armado do Estado brasileiro passou a ser acionado. A violência e as ameaças por parte das forças do atraso eram proporcionais à persistência de luta dos lavradores: Não apenas as lideranças do acampamento como os próprios trabalhadores afirmavam que, caso o despejo fosse efetuado violentamente como se dá com frequência, as famílias não sairiam da fazenda com os rabos entre as pernas, e que certamente haveria resistência por parte dos camponeses.

O despejo efetuado na fazenda em março de 2015 passou por cima de uma série de promessas realizadas pelo governo federal, todas elas não cumpridas. Não foi cumprida a promessa de permitir aos lavradores realizarem a colheita dos mais de 200 hectares de culturas que haviam cultivado. Ao contrário, imediatamente após o despejo, todas as lavouras foram destruídas pelo gado de Eunício Oliveira, causando duros prejuízos aos lavradores. O governo federal, da mesma maneira, prometeu o assentamento de cerca de 1100 famílias presentes até 60 dias após o despejo. Mais uma promessa não cumprida. Ainda que com denúncias de trabalho escravo na Fazenda Santa Mônica, e com as claras provas de que aquelas terras do senador Eunício Oliveira foram confirmadas através da grilagem, expulsando milhares de famílias camponesas e causando duros golpes contra a economia local somente com fins de especulação fundiária e enriquecimento pessoal, a desapropriação do latifúndio não foi concluída.

A retomada da Fazenda Santa Mônica pelos camponeses renova as perspectivas da luta para estes trabalhadores rurais mobilizados através anos de um persistente trabalho de base por parte de militantes do MST.

Goiás, que já foi palco de históricos levantamentos camponeses como a Revolta Camponesa de Trombas e Formoso, durante os anos da década de 1950, onde milhares de posseiros se levantaram em armas contra a grilagem de suas terras por parte de latifundiários que pretendiam enriquecer através do arrendamento e da especulação fundiária, vem passando neste ano por um processo de intensificação das lutas camponesas.

No final do mês de março, 290 famílias camponesas organizadas pelo Movimento Popular Terra Livre ocuparam duas fazendas improdutivas em duas cidades diferentes, localizadas, respectivamente, no centro e no norte de Goiás: Jaraguá e Quirinópolis. No sudoeste goiano, município de Itajá, 130 famílias camponesas organizadas pelo mesmo movimento ocuparam uma fazenda improdutiva. No último dia 14, outra ocupação de um latifúndio improdutivo ocorreu no sudoeste goiano, município Aparecida do Rio Doce, quando 70 famílias camponesas, também organizadas pelo Movimento Popular Terra Livre, ocuparam a Fazenda São João. No dia 25 de maio, 300 famílias camponesas organizadas pelo MST ocuparam a Fazenda Sucupira, norte goiano.

Não há qualquer sombra de dúvidas de que a retomada da Fazenda Santa Mônica cumprirá formidável papel em impulsionar as lutas agrário-camponesas não apenas em Goiás como no Brasil inteiro.

por Alexandre Rosendo

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