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Foster: "Sobre a Questão do Revisionismo"


O “notório revisionismo” (usando as palavras de Duclos) do camarada Browder tem raízes diretas no atual programa agressivo do imperialismo estadunidense. Para entender isso, em muito ajuda revisar a luta do Partido Comunista dos EUA contra o oportunismo de direita em seu meio na década de 1920.

Porque o revisionismo daquela época era também um definido reflexo em nosso partido do imperialismo estadunidense. Seguindo a Primeira Guerra Mundial, o imperialismo estadunidense experimentou uma grande escalada. Os Estados Unidos se tornaram o mais poderoso país capitalista do mundo. Passou do status de uma nação devedora para uma nação credora, exportando capital na inédita quantia de 20 bilhões de dólares entre 1920 e 1929. Por todo o mundo, conduzindo uma campanha ativa de captura de mercados, contra outros países imperialistas enfraquecidos pela guerra. Com o Plano Young e o Plano Dawes, os EUA praticamente ditaram os termos econômicos à derrotada Alemanha. Sobre a América Latina, sua atitude foi de dominação arrogante e opressão militar. Enquanto isso, em casa, os capitalistas, em uma orgia de super-lucros, seguiram desenvolvendo novos métodos de produção em massa, à admiração e inveja de todo o mundo capitalista.

Como costume, na atmosfera otimista da fase ascendente do ciclo econômico, superexcitados trovadores apareceram para cantar às glórias do sistema capitalismo estadunidense. E dessa vez em uma dimensão nunca antes vista. Os Estados Unidos, eles diziam, finalmente superou as contradições do capitalismo. Não mais haveriam crises econômicas ou desemprego em massa. Produção em massa e altos salários eram a fórmula mágica. Menos Marx, Mais Ford – era seu slogan. O Novo Capitalismo havia chegado, engenheiros e economistas vieram de toda a Europa para estudar o milagre americano.

Não estranhamente, essa propaganda capitalista intoxicante teve repercussões profundas entre os trabalhadores, especialmente em seus sindicatos. O oficialato do trabalho, incluindo os progressistas, escutavam boquiabertos enquanto o Professor Carver os explicava como os trabalhadores, através de suas poupanças, estavam comprando o controle de grandes fábricas. E os teóricos do trabalho construíram sua própria pequena utopia. Declararam que o caminho ao progresso do trabalho era a cooperação os empregadores para aumentar a produção. A luta de classes havia acabado, greves eram coisa do passado, o socialismo era um dogma ultrapassado. A grande parada era a Alta Estratégia do Trabalho (sem greves, políticas de aceleração), bancos de trabalhadores e colaboração de classe em todas as frentes.

Essa lengalenga capitalista se tornou a política oficial da AFL e de sindicatos ferroviários, começando em 1923. O resultado foi que essas organizações de trabalhadores, já enfraquecidas por várias greves derrotadas durante a grande cruzada antissindical pós-guerra, se tornaram nada mais que agências de auxílio aos patrões, vergonhosamente negligenciando os interesses dos trabalhadores. Consequentemente, a moral dos sindicatos caiu a zero pela primeira vez na história, o movimento operário falhou em aumentar sua adesão nesse período de prosperidade. É uma das páginas mais belas da história do nosso Partido essa luta militante (apesar de as vezes muito estreita) contra essa orgia bêbada de colaboracionismo de classe, muitos de nossos melhores lutadores sendo expulsos de sindicatos, demitidos, presos e perseguidos por assim lutar.

A despeito de nossa política combativa, entretanto, o veneno da propaganda imperialista estadunidense conseguiu se infiltrar no nosso Partido. Sua voz principal era Jay Lovestone, que depois se tornou um renegado. Refletindo a propaganda dos grandes trustes, Lovestone somou sua voz ao coro em adoração aos capitalistas estadunidenses. Em nosso Partido, Lovestone desenvolveu a teoria do “excepcionalismo americano”, que consistia de que em nosso país o capitalismo se tornara tão forte e progressivo que não mais era sujeito das leis econômicas governando o recorrente ciclo de crises capitalistas. Os efeitos práticos do revisionismo de Lovestone foram a tentativa de desarmar a militância de nosso Partido, de cultivar falsas ilusões entre as massas, e subordinar os trabalhadores à lucrativa orgia dos capitalistas nesse país e no seu programa imperialista para exportação. Depois de uma amarga luta, o revisionismo de Lovestone foi exposto e ele foi expulso do Partido, a partir disso ele procedeu a se tornar um provocador de ódios aos soviéticos, e um lacaio do notório Matthew Woll.

E o Novo Capitalismo Americano, que regeneraria o sistema capitalista no mundo, este se explodiu com barulhentas reportagens em outubro de 1929. E os Estados Unidos, que supostamente teriam superado as contradições econômicas do capitalismo, de acordo com Carver, Chase, Tugwell, Lovestone e muitos outros teóricos burgueses, sofreram de forma mais devastadora a inédita crise econômica durante 1929-1934 do que qualquer outro país no mundo.

A SANHA IMPERIALISTA ESTADUNIDENSE POR DOMINAÇÃO

O revisionismo do camarada Browder tem, assim como o de Lovestone, se desenvolvido em um período de ascensão das ilusões imperialistas estadunidenses. Até mesmo antes da Segunda Guerra começar, haviam poderosas vozes entre os grandes capitalistas clamando pela dominação mundial estadunidense, o mais notório sendo Henry Luce, com sua teoria do Século Americano. E desde que a guerra que está acontecendo, essa aspiração estadunidense por dominação imperialista cresceu, agora é a manifesta determinação do grande capital estadunidense.

No essencial, os grandes capitalistas desse país têm apoiado a guerra à sua maneira. Mas seria estúpido pensar que em fazendo-o, eles teriam as mesmas aspirações democráticas que o povo estadunidense, ou até que o governo Roosevelt. Na maior parte, eles viram uma ótima chance de derrubar alguns perigosos rivais imperialistas e assim dar bases para o avança imperialista estadunidense. Durante toda a guerra, teriam sido felizes em fazer negociações de paz com Hitler para sua própria vantagem, sob as custas da União Soviética e das forças democráticas do mundo.

E agora que Hitler está esmagado, seus desígnios imperialistas se tornaram só mais aparentes, como visto em seu comportamento na conferência das Nações Unidas em São Francisco. Tais elementos veem a frágil posição dos outros estados capitalistas, contrastados à grande força dos Estados Unidos, e eles querem capitalizar essa situação para ditar os rumos do resto do mundo, incluso o da URSS.

Como aponta a resolução do Comitê Nacional, o capital financeiro do país, temente aos desenvolvimentos democráticos na Europa e desejando o controle mundial para si, está agora embarcando em uma política de agressão imperialista que, se não for checada pelas forças democráticas do mundo, pode ter desastrosas consequências, não só para o grande capital em si, mas também para os grandes objetivos das conferências de Moscou, Teerã e Yalta. Apesar de que o capital financeiro estadunidense tente ocultar suas ambições imperialistas, sob falso pretexto de que os EUA usarão seu poder mundial para fins altruístas, essas ambições são claras, não só por suas políticas práticas, mas também pelos escritos de muitos de seus porta-vozes -- conservadores, liberais e trabalhistas.

Assim, a espetacular demanda de Thomas E. Dewey de uma conferência Republicana em Mackinac por uma aliança EUA–Grã Bretanha era obviamente um plano de dominação sobre a URSS, e com ela o restante do mundo. O livro de Eric Johnston, América Ilimitada, é um ensaio sobre como capturar o mercado mundial e paralisar ideologicamente o povo estadunidense frente a sede de poder do capital financeiro. O tomo de Walter Lippmann, Metas Militares dos Estados Unidos, com sua concepção de uma grande Comunidade Atlântica, consistindo dos impérios britânico e estadunidense, ademais dos outros países da Europa central e ocidental, é o programa manifesto da dominação mundial estadunidense. O periódico sindical soviético, A Guerra e a Classe Trabalhadora, de 1º de março de 1945, corretamente expõe o caráter imperialista não só do Senador Vandenberg, mas também de seus associados, os Hoovers, Tafts, Deweys, Landons, McCormicks, Pattersons, Hearsts e outros porta-vozes do grande capital quando diz:

“O conteúdo inteiro do discurso de Vandenberg... É uma máscara para ocultar sua pretensão de estabelecer uma ditadura de uma só Grande Potência sobre todas as outras, grandes, médias e pequenas.”

Como nos anos 1920, mas de formas diferentes, as atuais políticas ativamente expansionistas do imperialismo dos EUA evocam uma resposta no movimento operário, como evidenciam as atitudes de figuras como Matthew Woll e muitas outras políticas do Concelho Executivo da AFL. Juntamente, os ferozes ataques de Norman Thomas, David Dubinsky e outros Social-Democratas contra a União Soviética tem suas origens no programa expansionista do imperialismo estadunidense.

BROWDER E O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE

Nosso Partido não vive em um vácuo político. É exposto a todas as ilusões de pressões do capitalismo; assim, não deve surpreender nenhum marxista que a atual sanha imperialista dos EUA por dominação mundial encontre ecos nas fileiras do nosso Partido. A tragédia da situação é que é precisamente o camarada Browder que está dando voz a essas ilusões imperialistas no nosso Partido, especialmente a respeito da situação pós-guerra. E ele faz isso sob elaboradas pretensões de um perspicaz e flexível marxismo-leninismo.

No mundo pós-guerra, que enfrentará gigantescos problemas de reconstrução e desenvolvimento industrial, os Estados Unidos, com seus tremendos recursos econômicos, está destinado a ter um papel muito importante. O que o camarada Browder não vê, entretanto, é que se o papel dos Estados Unidos é ajudar a realização dos programas de Moscou, Teerã e Yalta, isso só poderá se realizado se as amplas massas do país, especialmente o movimento operário, estejam alertas que as tendências imperialistas de nosso governo e dos grandes capitalistas sejam coibidas pela imposição popular de políticas democráticas. Os grandes objetivos da vitória sobre o fascismo e da realização de uma paz duradoura, postos por Moscou, Teerã e Yalta, podem ser conquistados, mas apenas na base de uma eterna vigilância das forças democráticas unidas do mundo. Browder, contrário a isso, está bastante confortável em deixar toda a questão para a inteligência e esclarecido interesse próprio dos grandes capitalistas.

Os imperialistas dificilmente poderiam pedir algo melhor do que a mão livre prontamente estendida por Browder a eles. É difícil imaginar uma situação mais favorável ao imperialismo estadunidense do que essa crença, que Browder expressou muitas vezes, de que podemos contar com o esclarecimento desses capitalistas para seguir uma política mundial construtiva e democrática. O resultado geral de tal crença seria que o imperialismo estadunidense, sem nenhuma vigilância popular sobre o mesmo, correria selvagem e logo teria o mundo inteiro sob um caos ainda pior do que o que reina agora. É claro, o camarada Browder não quer tal situação, mas Lenin a muito nos ensinou que os resultados objetivos de agendas políticas não têm necessariamente nenhuma relação com os desejos subjetivos de seus formuladores.

Que o efeito prático das ideias revisionistas do camarada Browder é a facilitação das políticas do imperialismo estadunidense está além de questionamento. Demonstrá-lo-ei ao indicar brevemente algumas de suas maiores propostas e suas implicações imperialistas:

1. Quando o camarada Browder propõe que os Estados Unidos no pós-guerra devam procurar construir uma exportação anual de 40 bilhões de dólares, como disse em seu livro, Teerã: Nosso Caminho na Guerra e na Paz, ele está de fato chamando ao imperialismo estadunidense a monopolizar os mercados mundiais.

2. Quando Browder diz (página 79 de seu livro, Teerã: Nosso Caminho na Guerra e na Paz), “estou inteiramente disposto a ajudar os livres empreendedores a realizar esses 40 bilhões de exportações que são requisitados inteira e completamente por seus próprios métodos”, ele está colocando os trabalhadores atrás da burguesia e entregando o povo estadunidense nas mãos dos imperialistas.

3. Quando Browder propõe que os grandes capitalistas dos Estados Unidos tenham mão livre para realizar seu programa de industrialização pós-guerra a todas as áreas devastadas e subdesenvolvidas do mundo, ele está de fato propondo a hegemonia mundial, política e econômica, dos Estados Unidos.

4. Quando Browder diz que a Grã Bretanha e os Estados Unidos passaram a página pra sempre da expectativa de a União Soviética deve desaparecer algum dia, ele está cegando os povos desses e de outros países para as perigosas maquinações dos imperialistas estadunidenses e britânicos contra a URSS. Essa consumação devotamente desejada por esses tubarões.

5. Quando Browder falha em assinalar o perigo do imperialismo estadunidense (e ele o nega, por incrível que pareça, a existência de tal ameaça imperialista), ele está escondendo do povo americano o maior perigo à futura paz e progresso mundiais. Os imperialistas dificilmente poderiam pedir algo mais conveniente a seus planos de exploração e dominação.

6. Quando Browder luta contra o povo estadunidense enfrentando os monopólios, como ele o faz, de fato ele está livrando os piores inimigos da democracia, os geradores do caos econômico, agressões imperialistas, fascismo e guerras.

7. Quando Browder espalha ilusões entre os trabalhadores para efeito de que haverá um longo período de paz entre as classes depois da guerra, durante o qual eles podem seguramente aceitar o pacto de não greves, e que os patrões vão voluntária e radicalmente aumentar o salário real dos trabalhadores, ele está tentando paralisar a classe trabalhadora frente aos ataques provocativos dos grandes capitalistas sobre os sindicatos e as condições de vida dos trabalhadores

8. Quando Browder (Daily Worker, 8 de abril de 1944) enaltece a Lei de Gestão do Trabalho (1) sem nenhuma palavra de criticismo e só lamenta que a NAM (2) não seja aliada a essa Lei, e quando (Daily Worker, 14 de abril de 1944) ele propõe que incentivos salariais sejam adotados em toda a indústria estadunidense no período pós-guerra, ele está abrindo as portas para a aceleração e intensificação da exploração dos trabalhadores do país.

9. Quando Browder dissolve o PC na APC (3), ele está enfraquecendo a força mais dinâmica que os trabalhadores possuem para se contrapor às atividades reacionárias dos grandes trustes nacionais e internacionais. Só um ignorante político para não reconhecer que todas essas teorias e propostas revisionistas de Browder encaixam perfeitamente com os interesses dos grandes capitalistas e que são, de fato, o reflexo do programa agressivo do imperialismo estadunidense. Contrária a fé de Browder na grande burguesia, as forças democráticas do país e do mundo tem de combinar sua força política para alcançar a vitória completa, estabelecer uma paz democrática e conquistar amplo emprego e melhores condições de vida em geral.

O REVISIONISMO DE BROWDER NA TEORIA

Deslumbrado pelo grande poder dos Estados Unidos nessa guerra, por sua enorme expansão industrial e de rendimentos, por seu gigante prestígio político, pelas muitas concessões que os capitalistas fizeram (obrigados a fazer) aos trabalhadores durante o regime Roosevelt, o camarada Browder em seus escritos e políticas pula para uma conclusão revisionista, especialmente depois do acordo de Teerã, de que o capitalismo estadunidense e sua classe capitalista, incluindo o reacionário capital financeiro se tornou, de alguma forma, progressista.

Sobre essa falsa base, o camarada Browder procede a construir uma utopia capitalista em seu livro, Teerã: Nosso caminho na Paz e na Guerra, em que ele vê os grandes capitalistas esclarecidos do país, atuando em seu verdadeiro interesse de classe, liderando nosso país e o mundo em uma era de democracia sem precedentes, expansão industrial e bem estar em massa. Com essa imagem cor-de-rosa na cabeça, ele chama os trabalhadores a dar as mãos harmoniosamente com a classe capitalista para realizá-la. Ele tenta alongar a unidade nacional pós-guerra para incluir o capital financeiro reacionário. Toda essa fantasia, é claro, pode ser resumida na realidade aos trabalhadores deste país se subordinando a uma mais intensa exploração, ao mundo ser levado outra vez ao crescimento do fascismo e a uma nova guerra mundial.

As ideias revisionistas do camarada Browder violam o mais fundamental princípio do marxismo-leninismo. Elas estão mais próximas das noções burguesas de Eric Johnston do que dos princípios científicos de Marx e Lenin. Como eu argumentei em carta de 20 de janeiro de 1944 ao Comitê Nacional, na sua (de Browder) imagem, o imperialismo estadunidense desaparece, sobra muito pouco de luta de classes e o socialismo não tem praticamente nenhum papel de fato. O revisionismo de Browder, enquanto vai na direção geral social-democrata de subordinar os trabalhadores à dominação capitalista é, na verdade, não social-democrata, mas liberal burguês.

Browder tenta liquidar a luta de classes pregando uma ilusória harmonia de interesses entre os trabalhadores e seus inimigos de classe, os grandes capitalistas, no período pós-guerra. Porque, se o que Browder diz é verdade, que os capitalistas iriam, por volição própria, radicalmente incrementar o salário real dos trabalhadores, não existira base para a luta de classes.

Outra ideia de Browder, que os grandes capitalistas estadunidenses, em seu verdadeiro interesse de classe, não melhorariam as condições de vida dos trabalhadores, mas viveriam em amigável harmonia com a URSS, não tem nada em comum com qualquer concepção marxista de luta de classes. Não existe nenhum princípio Marxiano que sustente que as classes sociais devam seguir seus verdadeiros interesses de classe. De fato, a história é repleta de exemplos de classes que, sob imediata pressão econômica, política ou ideológica, violaram seus interesses de classe, com desastrosas consequências às mesmas.

Um caso marcante foi como a classe dominante britânica seguiu uma política de apaziguar com Hitler a ponto de que sua posição mundial seria irreparavelmente quebrada, se a URSS não tivesse se envolvido na guerra. Para aprazer os grandes capitalistas e se certificar de que eles assim seguiriam seus reais interesses de classe, o camarada Browder não somente dissolveu o Partido Comunista, mas também estava preparado para, se ele assim conseguisse, liquidar a Associação Política Comunista, e ceder até mesmo nossa ideologia comunista.

Browder também tenta distorcer a teoria do imperialismo. De fato, em seu livro, Teerã: Nosso Caminho para a Guerra e Paz, é uma tentativa de provar que a época do imperialismo já se foi e que estamos agora em um período de inevitável colaboração amigável entre os setores socialistas e capitalistas do mundo; uma colaboração que Browder não baseia na força da URSS, dos países coloniais, das novas democracias nascidas na guerra e do movimento operário do mundo (como tem de ser baseada essa colaboração, se existir), mas a baseia sobre a boa vontade dos grandes capitalistas, particularmente os estadunidenses, cuja iluminação, moral e verdadeiro interesse de classe os ditaria esse caminho colaboracionista.

Browder, de fato, assume a tarefa de apagar o imperialismo estadunidense e sua relação com a URSS, e desenha idilicamente uma imagem de como o grande capital estadunidense irá, sob a tutela de nosso governo, inaugurar grandes campanhas de industrialização e democratização através do mundo. De acordo com ele, nossos capitalistas fariam o resto do mundo livre e próspero, assim querendo ou não. Pois, diz Browder (página 79):

“Não há um governo no mundo capitalista ou colonial que se atreveria a negar tal parceria, assim que os Estados Unidos esclarecessem os benefícios que trariam a todos os envolvidos.”

Browder também busca jogar fora a teoria de Lenin da decomposição do capitalismo durante o estágio imperialista e, assim, sepultar todo o conceito marxiano da necessidade do socialismo. Não pode haver outras conclusões para essa argumentação; por se é possível que o capitalismo mundial sob a liderança dos Estados Unidos e especificamente sob a tutela do iluminado capitalismo financeiro para superar sua crise geral e embarcar em um novo período de longa e exuberante expansão economicamente contínua, então não haveria possibilidade de estabelecer o socialismo em nenhuma perspectiva imaginável. Assim, Marx e Lenin estariam errados e Browder, certo.

Há sérios motivos para concluir que quando o camarada Browder deixou de fora o lema do socialismo (como questão educacional) em janeiro de 1944, ele não meramente o guardou conservado com naftalina para uso posterior, para o usar quando houver melhores condições; ele muito provavelmente o quis enterrar de vez. Na sua teoria de um sistema capitalista capaz de superar suas contradições básicas, não há espaço para o socialismo, nem no sentido mais remoto.

Que o camarada Browder estava tentando descartar os princípios básicos de do Marxismo-Leninismo de nosso Partido par aos substituir por um programa liberal-burguês, isso é incontestável. No seu discurso em Bridgeport há dezoito meses, ele deu clara indicação disso quando disse: Velhas fórmulas e velhos preconceitos não nos terão qualquer uso como guias para encontrar nosso caminho para o novo mundo. Quais são as velhas fórmulas e velhos preconceitos a que Browder se refere como inúteis? Essas são, nada mais nada menos, nossas análises Marxistas-Leninistas da luta de classes, do imperialismo e do socialismo. Todas essas Browder já as abandonou, e ele está tentando fazer nosso Partido abandoná-las também.

O REVISIONISMO DE BROWDER NA PRÁTICA

O camarada Browder começou a desenvolver suas ideias oportunistas pouco depois de seu retorno de Atlanta (apesar de haver raízes anteriores). Nesses tempos o Partido tinha uma firme política de guerra, atuando mesmo sob encarceramento, incluindo um total apoio à guerra, apoio crítico a administração Roosevelt, unidade nacional de todos os elementos pró-guerra, inclusive os capitalistas pró-Roosevelt, máxima produção, pacto de não-greve do movimento operário e uma ativa defesa dos direitos políticos e econômicos das massas como uma necessidade da guerra. Browder quase imediatamente começou a projetar seu oportunismo nessa essencialmente correta política de guerra. Um dos primeiros sinais foi seu manuseio utópico da questão da economia centralizada da guerra. Ele desenvolveu sua posição oportunista em seu livro, A Vitória e Depois. E sua posição oportunista finalmente chegou a sua mais extrema expressão em seu livro, Teerã: Nosso Caminho para a Guerra e Paz.

As ideias revisionistas contidas nesses trabalhos e em outros escritos e políticas do camarada Browder não só introduziram confusão em nossos pensamentos políticos, mas também enfraqueceram nosso trabalho prático no apoio à guerra. Em meu artigo ao Daily Worker de 10 de junho, eu listei alguns de nossos mais importantes erros e insuficiências durante a guerra, nascidos do oportunismo de Browder, uma lista em que, além dos citados acima, incluíam criticismos inadequados a administração Roosevelt; fracasso em demandar uma coalizão governamental com o proletariado como parceiro; rejeição a demanda que o movimento operário fosse representado em todas as conferências internacionais de guerra das grandes potências; uma proposta para uma chapa conjunta Republicana-Democrata nas eleições nacionais que, fora adotada, teria eliminado Roosevelt como candidato, etc.

A essa lista poderiam ser adotadas várias outras falhas, em todas as seções do trabalho do nosso Partido. Como, por exemplo, a tendência, nos primeiros estágios da guerra, de negligenciar a luta militante pelos direitos dos negros; a subestimação, por um tempo, da necessidade de aumentos salariais para os trabalhadores enquanto a nossa luta para estabelecer os prêmios de incentivo; e nosso fracasso em tornar pauta maior entre os trabalhadores e as massas a importância vital da educação democrática das forças armadas, pela união do governo com o movimento operário, quanto as causas e motivos da guerra.

Em todos os erros práticos e teóricos do camarada Browder o denominador comum é a tendência de confiar à grande burguesia a liderança nacional, agradar o capital financeiro, subestimar o papel independente e democrático do movimento operário e das outras forças democráticas, especificamente o papel do nosso Partido, no fronte nacional antifascista. É verdade que os comunistas estiveram a frente de todos nos seus esforços de guerra e fizeram uma história da qual o Partido deve ser orgulhoso. Mas nós devemos admitir que à luz das oportunidades existentes e das nossas responsabilidades, estivemos aquém em muitos respeitos, precisamente por conta desses erros oportunistas.

Danosas durante a guerra, as falsas políticas do camarada Browder se tornariam desastrosas se fossem arrastadas para o período pós-guerra. Uma vez os imperialistas alemães e japoneses sido derrotados, os capitalistas financeiros estadunidenses se sentirão mais livres para manobrar, provavelmente por dentro das Nações Unidas, contra a URSS, o Reino Unido e as novas democracias nascidas da guerra. Eles também intensificarão seus ataques contra o movimento operário no nosso país. Isso é óbvio no desenrolar dos eventos seguindo o fim da fase européia da guerra. Em tal situação, as forças democráticas deverão se unir firmemente para tornar realidade os objetivos de Teerã e Yalta. As ilusões de Browder, em que uma duradoura paz de classes nos Estados Unidos e em que uma tranquila colaboração do grande capital estadunidense com nossos aliados na guerra seriam um freio a necessidade da luta democrática das massas e povos, jogam-nos nas mãos do imperialismo estadunidense.

Muito provavelmente, mesmo se a carta de Duclos nunca fora escrita, nosso Partido, sob a pressão das tensões pós-guerra, teria por si mesmo jogado fora o revisionismo de Browder e encontrado seu caminho para uma política correta. De fato já haviam muitas tendências nesta direção. Essa correção da diretriz do nosso Partido, entretanto, viria apenas de uma luta contra Browder, como é evidente da sua presente resistência contra tal correção. Uma das razões básicas de porquê a carta de Duclos foi tão rapidamente endossada por nosso Partido foi precisamente porque o fim da fase europeia da guerra trouxe à luz a falência das políticas oportunistas de Browder.

COMO NÓS DESENVOLVEMOS NOSSO REVISIONISMO?

Como aconteceu que o camarada Browder pôde fazer nosso Partido adotar como política o seu revisionismo bruto, sua apologia do imperialismo yankee, que há confundido o pensamento de nosso Partido, enfraquecido seu trabalho prático, impedido seu crescimento e ferindo seu prestígio entre as massas?

Primeiro, preciso dizer, foi por um inadequado aprendizado Marxista-Leninista da parte de nossa liderança. Apesar de no Partido muitos camaradas se opuseram a linha de Browder e havia muita incerteza e inquietação em geral, a liderança não foi capaz de penetrar seus sofismas burgueses e expor seu caráter anti-Marxista. O fato de nosso Partido, através da guerra e até por poucos anos antes, estar colaborando com uma fração minoritária pró-Roosevelt da burguesia, deu ao camarada Browder um palco conveniente para tentar fazer-nos colaborar com a burguesia como um todo, inclusive suas seções decisivamente reacionárias. Que o nosso Partido não foi capaz de ver além das manobras oportunistas é uma prova da nossa necessidade de ter fortalecido nosso aprendizado teórico, rejuvenescendo nosso entendimento daqueles velhos livros (Marxistas-Leninistas) e das velhas fórmulas que Browder quer que descartemos como obsoletas.

Uma segunda, e muito decisiva razão do nosso Partido ter caído vítima do revisionismo do camarada Browder foi a falta de discussão política e democracia em nosso Partido. Durantes os últimos anos nós nos deixamos afastar em muito dos princípios do centralismo democrático. À Browder foi concedida excessiva autoridade a tal grau que, de fato, sua palavra se tornou lei dentro do Partido. Se tornou habitual que ele simplesmente formulasse nossas diretrizes, e poucos se aventuraram a disputar suas arbitrariedades. Sob tais condições, a discussão democrática, autocrítica e liderança coletiva se tornaram quase extintas nos altos comitês do Partido. Ademais disto, os líderes e membros choveram sobre Browder uma indecente quantidade de adulações e louvores que o colocaram em um lugar acima do reino da crítica.

Nessa situação, não houve discussão política real do relatório do Camarada Browder sobre Teerã quando ele expôs inteiramente sua linha oportunista na reunião do Comitê Nacional em janeiro de 1944. O fato da minha carta naquele período, protestando ao Comitê Nacional contra o revisionismo de Browder, nunca ter chegado aos membros do Partido foi por conta da falta de democracia no meio deste. Se eu tivesse tentado levar minha carta ao Partido depois desta ter sido rejeitada na reunião ampliada do Bureau Político de 8 de Fevereiro de 1944, isso teria resultado na minha expulsão imediata e provavelmente em uma racha do Partido. O camarada Browder fez isso perfeitamente claro na reunião em questão. Assim, para a unidade do Partido, eu tive de confinar minha oposição ao revisionismo de Browder nos limites do Comitê Nacional.

Todos os altos quadros do Partido, especialmente o Conselho Nacional, têm uma grande responsabilidade em avaliar a culpa dos sérios erros cometidos por nosso Partido. Pois, mesmo com a excessiva autoridade de Browder, se os membros do conselho, ou só uma minoria relevante dentre estes, tivessem se levantado contra o oportunismo de Browder, ele poderia ter sido derrotado. Infelizmente, entretanto, tal desenvolvimento não houve. Assim, a responsabilidade do conselho é gigante.

Mas gigantesca parte dessa responsabilidade é exclusivamente do camarada Browder. Ele originou as diretrizes oportunistas, desenvolveu-as teoricamente, usou de todo seu poder e autoridade como longevo líder comunista internacional no Partido para as fazer ser implantadas. E agora, se recusando a admitir seu erro, ele há votado e escrito contra a resolução do Comitê Nacional que corrige esses erros. Não é exagero dizer que se qualquer outro líder do Partido que não o camarada Browder apresentasse tal distorção da Conferência de Teerã ao nosso Partido, ele teria sido rejeitado como simples oportunismo. Mas Browder foi capaz de fazê-lo por causa de seu grande prestígio e ultracentralizada autoridade.

Tudo isso demonstra a nossa necessidade de desenvolver um verdadeiro centralismo democrático em nosso Partido. Na nova liderança que vai crescer desta situação não pode mais haver o controle por um homem só, mas um genuíno trabalho coletivo. Também é preciso restabelecer a autocrítica e discussão política livre. Somente sobre a base desses corretos princípios leninistas poderá se desenvolver a clareza, unidade e disciplina comunistas.

O PERIGO DE UMA SUPERCORREÇÃO

Quando um Partido Comunista realiza uma mudança drástica de diretrizes, seja por erros prévios ou pela mudança profunda da situação objetiva, há sempre o perigo de se supercorrigir as diretrizes, isso é, voar de um extremo ao outro. Tais supercorreções já aconteceram mais de uma vez na história de nosso Partido, assim como nos de outros países. Esse é o maior perigo que confrontamos agora, e deve ser cuidadosamente evitado.

É uma certeza agora que o nosso Partido irá esmagadoramente endossar a Resolução do Comitê Nacional, nas organizações de base e na próxima Convenção Nacional. A votação no Comitê Nacional, de 53 contra 1, é um claro sinal de como o Partido como um todo está reagindo à Resolução. O camarada Browder está sozinho defendendo seu oportunismo no Conselho Nacional e no Comitê Nacional. E no Partido em geral é quase exclusivamente os novos e mais inexperientes membros que ainda o dão algum suporte. Já os membros melhor formados no marxismo-leninismo e nossos líderes, eles já quase unanimemente apoiam a Resolução do Comitê Central.

Entretanto, ainda existem profundas cicatrizes no partido pela nossa experiência com o revisionismo do camarada Browder. Estas precisam ser eliminadas por um processo de educação leninista. Mas ao liquidar tais vestígios de revisionismo, nós devemos estar com a guarda dobrada para não cair no poço das práticas sectaristas. Nós não devemos cair no erro letal de tentar curar o oportunismo direitista de Browder com o esquerdismo sectário.

Isso significa que nosso Partido deve fazer cuidadoso estudo e amplo uso da Resolução do Comitê Nacional. Essa resolução, se correta e sistematicamente aplicada, nos proverá com a base para os mais amplos contatos com as massas que já conhecemos na história do nosso Partido. Assim, será a grande tarefa da nossa próxima convenção, depois de ainda mais fortalecida nossa linha e reconstruída liderança nacional, proceder a mobilizar o Partido inteiro a cumprir nossas massivas tarefas, detalhadas pela Resolução do Comitê Nacional, de derrotar o Império Japonês fascista e construir um mundo pós-guerra próspero e livre.


Por William Z. Foster


Publicado originalmente em 20 de Junho de 1945.


Traduzido por Vitor B Mattos.


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HISTÓRIA DAS
REVOLUÇÕES

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