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"O Imperialismo Ianque e o Mundo Colonial"


A luta entre os movimentos coloniais de libertação e as potências imperialistas atingiu uma nova fase de desenvolvimento em todo o mundo colonial. A guerra realizou profundas modificações, tanto na força e nas posições relativas das potências imperialistas, como na correlação interna de forças nas colônias e dependências.


A Alemanha, o Japão e a Itália desapareceram como potências coloniais. A luta antifascista, da qual participaram os povos dos países coloniais e semicoloniais, lançou as bases para os novos avanços dos movimentos de libertação em todo o mundo. Por um lado, os movimentos de resistência antifascista melhoraram, nas colônias, a organização, a força coletiva, a militância e a compreensão política dos movimentos de libertação nacional. Por outro lado, não só foram derrotados os países fascistas, mas no curso da guerra a opressão das demais potências imperialistas sobre as colônias foi consideravelmente enfraquecida.


Durante as primeiras etapas da guerra, especialmente no Extremo Oriente, as potências coloniais europeias e os Estados Unidos sofreram uma série de derrotas. Desapareceu o mito de superioridade branca e invencibilidade imperialista. Os povos coloniais não esqueceram que a derrota do Eixo só foi possível graças a uma coalizão que se estendeu muito além das potências imperialistas. A coalizão vitoriosa incluía igualmente a União Soviética (que não só exibiu sua força na Europa, mas vibrou golpes decisivos contra o exército japonês) e as forças mais combativas dos próprios povos coloniais. Durante um período de tempo relativamente curto, os povos coloniais testemunharam primeiro à derrota de seus tradicionais governantes imperialistas e depois, à derrota do Japão imperialista, que conseguira dominar, temporariamente, uma região bastante extensa da Ásia colonial.


Com o fim da guerra, os movimentos coloniais de libertação estavam mais fortes e mais avançados em sua consciência anti-imperialista que antes da guerra, ao passo que a posição imperialista ficara enfraquecida. Aí está a chave dos conflitos e transformações que se estão processando hoje no mundo colonial.


Os movimentos coloniais ascendentes excluíram a possibilidade de um retorno automático às antigas formas de domínio imperialista de antes da guerra. O que temos testemunhado desde o Dia V é a luta dos movimentos de libertação, por um fado, por tornar realidade as novas oportunidades criadas pela derrota do fascismo, e das potências imperialistas, por outro lado, por esmagar ou enfraquecer os movimentes de libertação nacional e reimplantar a dominação imperialista.


O incremento de após-guerra em favor da libertação nacional, empolgou todos os países coloniais e semicoloniais. Estão sendo trovadas lutas por independência e direitos democráticos nos países latino-americanos, no Oriente Próximo, no Extremo Oriente e na África. É na Ásia, porém, que a lura está mais avançada. Toda a Ásia está hoje virtualmente em revolta contra o imperialismo. Estão sendo arrostadas lutas revolucionárias por liberdade., por todos os povos subjugados da Ásia. O nível de desenvolvimento dos vários países coloniais e de seus movimentos de libertação é extremamente desigual, é claro. Alguns deles obtiveram vitórias significativas, enquanto outros sofreram derrotas temporárias nas mãos dos imperialistas. Em toda parte, porém, a luta de libertação colonial atingiu alturas sem precedentes, lançando um novo desafio ao reacionário e caduco sistema colonial. Concentrando nossa atenção na Ásia, poderemos ver melhor a crise do imperialismo no mundo colonial e a nova estratégia das potências imperialistas no período de após-guerra.


As Novas Oportunidades na Ásia


No fim da guerra, já havia condições para um grande revés do colonialismo e uma grande expansão da área libertada da Ásia. Em duas regiões vitais da Ásia Meridional, os grilhões do colonialismo já estavam quebrados. A 19 de agosto de 1945 (às vésperas do Dia V), o Partido do Viet Minh na Indochina — uma coalizão de forças nacionalistas democráticas — havia destroçado o governo títere japonês e estabelecido a República democrática do Vietnã, com um esmagador apoio popular nas três províncias anamitas de Tonkin, Annam e Cochinchina. Repetidas tentativas militares francesas para derrubar a República do Viet Nam foram mal sucedidas.


A República da Indonésia (enraizada nas ilhas de Java, Madura e Sumatra, e abrangendo a maioria esmagadora da população da Indonésia) completará em breve seu 2.° aniversário e impediu de fato a tentada reimplantação do domínio holandês pela força das armas.


Na China, sob muitos aspectos o país asiático decisivo, já havia condições no fim da guerra para um governo de coalizão democrático, incluindo os comunistas chineses, que dirigiria uma China unida, pela primeira vez, no caminho do desenvolvimento democrático e da soberania nacional.


Nas Filipinas, cuja independência fora prometida para 4 de julho de 1946, pela Lei Tydings-McDuffle, o poderoso movimento antijaponês de resistência, forjado durante a guerra, deu origem após a guerra a uma coalizão política democrática, abrangendo o movimento camponês organizado, o proletariado e a burguesia nacionalista, que prometia uma revolução democrática vitoriosa, nessa dependência ianque ainda semifeudal.


A derrota do imperialismo japonês libertou as forças e energias democráticas há muito reprimidas, mais claramente representadas no rápido crescimento do movimento operário japonês, que já ultrapassou a cifra de 5 milhões. O programa político adotado em agosto de 1946 pelo Congresso dos Uniões Industriais, a maior e mais combativa organização operária do Japão, pedia ao proletariado japonês “que desempenhasse o papel de força motriz contra o feudalismo, o militarismo e o fascismo, unindo-se a uma frente democrática, e fizesse um esforço pelo estabelecimento de um governo democrático, apoiado pelo povo.” Uma plataforma especial sobre a política externa do Japão, ainda da declaração da CUI, afirmava:


“Nós, a classe operária japonesa, dedicamo-nos à nossa parte na tarefa de preservar a paz mundial, pelo combate ao racismo, que se evidencia na noção de que os japoneses são uma “raça superior” na Ásia; pela cooperação com as nações vizinhas sobre o princípio de igualdade; pelo apoio a movimentos revolucionários em prol da independência nacional; e pela adesão à Federação Mundial de Sindicatos, que simboliza a solidariedade internacional dos trabalhadores”.


Na Índia, coração do Império Britânico, o movimento em prol da liberdade também não tem precedentes. Em 1946 tiveram lugar os maiores conflitos grevistas da história da Índia, demonstrações de âmbito nacional pela libertação de soldados do Exército Nacional Hindu aprisionados, uma revolta dos soldados das forças naval e aérea, exigindo igualdade de tratamento com os seus correspondentes britânicos, e movimentos pela abolição do governo autocrático nos Principados. O líder comunista hindu, G. Adhikari, em seu panfleto “Resurgent Índia” que relata os acontecimentos de 1946, observa:


“O levante naval e a grande solidariedade de ação representada pela vanguarda da classe operária em seu apoio, não constituíram um incidente isolado. Foram um sinal luminoso que anunciou ao mundo que um descontentamento vulcânico e uma pressão anti-imperialista estava lavrando no pensamento de povo hindu e de suas forças armadas, prontos para se unirem e se defenderem até a liquidação final da estrutura podre do domínio feudal-imperialista...


Portanto, o grande movimento nacional, que cresceu em torno da exigência de libertação do ENI e do levante naval de fevereiro, marca o início de um novo período, que não é apenas o de um crescente descontentamento e inquietação, mas de uma profunda crise da dominação imperialista na Índia — aquele em que a luta revolucionária da Índia por independência e democracia, aparece na agenda”.


Durante a guerra, surgiu na Malásia o primeiro movimento nacionalista poderoso, sob a forma do Exército Popular Malásio Antijaponês. Após a rendição japonesa, ele estava tão forte e tão profundamente enraizado no povo, que lhe foi possível tomar conta da administração das principais cidades da Malásia, antes que os ingleses voltassem.


A Coreia, vítima de há muito do domínio japonês, viu nascer a Frente Nacional Democrática da Coreia, uma coalizão de forças democráticas, bastante representativas e amadurecidas para dirigir a formação de uma Coreia democrática, com o auxílio dos governos militares aliados, de transição. Quando os aliados chegaram à Coreia, já encontraram funcionando um Governo Popular, reconhecido e assistido peles autoridades soviéticas no norte da Coreia, mas que as forças iaques no Sul da Coreia se recusavam a reconhecer


Na Birmânia, do mesmo modo, o movimento nacionalista adquiriu nova força e maturidade, colocando arrojadamente na ordem do dia a independência birmanesa.


Portanto, o desenrolar da guerra, e acima de tudo os grandes avanços realizados pelos movimentos coloniais de libertação, como aliados das Nações Unidas, debilitaram todo o sistema colonial e deram fim ao domínio imperialista em regiões decisivas da Ásia, ao seu alcance. A execução da Carta do Atlântico e de outras declarações das Nações Unidas, a continuação da política progressiva de Roosevelt por parte dos EUA, teriam possibilitado aos movimentos de libertação nacional na Ásia consolidar sua posição de liderança e teria resultado numa Ásia democrática e estável. Tal desenvolvimento histórico, ao lado do advento das novas democracias da Europa, que obtiveram a soberania econômica e se libertaram do jogo do capital estrangeiro como uma das garantias de sua democracia popular, teria acelerado a derrota de todo o sistema imperialista e o desenvolvimento de uma paz democrática.


A Contraofensiva Imperialista


Mas não é próprio do imperialismo abdicar ou ceder passivamente ante os movimentos democráticos em ascensão. Com o fim da guerra contra o Eixo, as forças mais imperialistas no mundo capitalista espalharam uma contraofensiva contra os movimentos coloniais de libertação, num esforço para salvar o sistema colonial do colapso e restaurar a dominação imperialista sobre os ricos recursos e as grandes populações das nações submetidas.


Considerada como objetivo histórico remoto, é claro, essa contraofensiva está condenada ao fracasso. Todos os cavalos do rei e todos os homens do rei, ou na versão moderna, todos os dólares de Wall Street, não poderão reerguer o decadente sistema colonial. Mas seus estertores de morte podem ser prolongados, e intensificados, os sofrimentos dos povos coloniais.


A contraofensiva imperialista assumiu duas formas. Uma é a força, o terror e a violência, para esmagar os movimentos democráticos e de libertação, ou sob a forma de guerras imperialistas contra as novas repúblicas democráticas (Indonésia e Viet Nam), ou com a assistência financeira e militar a grupelhos reacionários para fomentar guerras civis ou movimentos repressivos contra o povo (China e Filipinas). A outra, é a reforma constitucional.


A intervenção imperialista ianque na China é diretamente responsável pela guerra civil. Uma análise detalhada da intervenção ianque na China, feita pelo Comitê pró-Política Democrática no Extremo Oriente, revelou que os E.E.U.U. concederam um auxílio no valor de 4 bilhões de dólares a Chiang-Kai-Shek, do Dia V até dezembro de 1946, além de 271 navios, numerosas bases aéreas, a instalação naval ianque de Tsingtao com mais de 100 navios, transporte em larga escala de materiais de guerra, e várias formas de ajuda indireta. Em objetivo, magnitude e significação estratégica, a guerra apadrinhada pelos EUA e que visa impedir que a China se torne unida, democrática e livre, é a operação militar decisiva do após-guerra, das forças imperialistas. Não é, porém, a única região onde o imperialismo recorreu à luta armada contra o povo, desde a derrota do Eixo.


Nas Filipinas, estão sendo realizadas operações militares em larga escala, contra o movimento camponês organizado. A guerra contra o campesinato filipino, como a guerra na China, é apadrinhada pelos EUA Os soldados do exército filipino têm treinamento americano. Empregam armas e munição ianques e são dirigidos pela administração Roxas, que é um títere dos interesses americanos que dominam tanto a vida econômica como política das Filipinas.


A guerra francesa contra o Viet Nam persiste. A guerra holandesa contra a República da Indonésia explode periodicamente, pois as autoridades holandesas violam continuamente as tréguas e outros acordos com os indonésios. O período posterior ao Dia V foi um dos mais sangrentos da história hindu. Como salientou G. Adhikari:


“Foi também um ano de contraofensiva imperialista contra o movimento de libertação, que assumiu formas incomuns e criou horrorosos conflitos internos, rom o fim de afogar a luta por liberdade num banho de sangue fratricida”.


Também na Malásia, Birmânia e outras áreas coloniais, a contraofensiva imperialista se expressa sob a forma de uma aguda repressão e perseguição aos líderes do movimento de libertação, e assaltos contra os movimentos mais conscientes pela libertação colonial. E no Japão, que está virtualmente sob ocupação exclusiva dos EUA, a política de Mac Arthur reprimiu a revolução democrática e impôs sérios obstáculos ao movimento operário japonês e às forças democráticas


Todavia, o fato significativo é que em parte alguma do mundo colonial ou semicolonial conseguiu a força imperialista obter uma vitória imperialista decisiva. A enorme ajuda a Chiang-Kai-Shek não resolveu o conflito a favor do imperialismo.


Pelo contrário, o grupelho reacionário do Kuomintang que o imperialismo americano está apoiando, sofreu revezes militares. Nas Filipinas, a administração Roxas está seguindo o caminho do fascismo e, embora os direitos das forças de libertação nacional tenham sido severamente restringidos, a oposição popular está crescendo e se estende às maiores regiões das Ilhas.


O imperialismo, com seu método flexível e esforço contínuo por adaptar-se às diferentes formas de luta nacional, tem consciência de que a força bruta isolada não pode conter a maré de libertação nacional que se ergue nas colônias. Juntamente com sua luta armada, as potências imperialistas formularam novos planos constitucionais, reformas, mudanças administrativas, como uma concessão aos movimentos nacionais fortalecidos. Esses planos foram anunciados com grande pompa e alarido como planos de “independência”, equivalentes à libertação das colônias. Na realidade, eles visam reter o máximo possível de controle imperialista, permitido pelas condições existentes. Assim, ruma sequência bastante rápida, assistimos desde o fim da guerra à proclamação da independência filipina, ao reconhecimento de facto da soberania da República Indonésia por parte da Holanda e a planos britânicos de independência da Índia e da Birmânia. Do ponto de vista da ofensiva contra os movimentos coloniais de libertação, as boas intenções das potências imperialistas são francamente suspeitas. Não basta, porém, apontar apenas essa contradição óbvia entre a promessa e a ação imperialista. Os vários planos de “independência” são uma outra revelação da crise imperialista nas colônias, da incapacidade de manter o controle imperialista na base anterior à guerra, e a nova estratégia do imperialismo, que causou tão grande confusão.

Propaganda Imperialista


Acompanhando os planos de “independência”, vem uma intensa onda de propaganda, que tenta camuflar tanto a crise imperialista como os métodos brutais das potências coloniais hoje em dia, com uma demagogia sobre o ocaso do império, a desaparição do colonialismo, e o apoio espontâneo à libertação nacional das colônias pelas grandes potências coloniais.


A moda foi lançada com a proclamação de uma República Filipina independente, a 4 de julho de 1946. O General Mac Arthur, um dos maiores propagandistas atuais do imperialismo, lançou o tom pessoalmente, com esta declaração grandiloquente:


“Que a história recorde este acontecimento, na difusão da democracia através do mundo, como uma profecia do fim da dominação de povos pelo poder exclusivo da força — o fim do império, como a cadeia política que amarra o fraco descontente ao forte impiedoso”.


Quando Henry Wallace criticou a Doutrina Truman como um ponto de partida para os EUA, no sentido de um “imperialismo impiedoso”, foi adotada uma linha uniforme pelos proponentes da Doutrina. Desde o colunista de Hearst, George Rothwell, às histórias em quadrinhos da imprensa de Scripps-Howard, até um editorial do New York Post, fez-se um esforço por ridicularizar a acusação de Wallace, apontando as Filipinas como a suposta contestação irrefutável a qualquer acusação ao imperialismo americano! Os propagandistas do imperialismo exploraram o novo plano britânico para uma Índia fracionada, como uma nova oportunidade para um coro de hurras! e aleluias! e cantam ainda mais alto que antes sobre o ato de desaparição do colonialismo! O New York Times proclamou num editorial de 1º de junho de 1947:


“O domínio imperial dos ocidentais está terminando. Está terminando, em parte porque o poder ocidental diminuiu, em parte porque o imperialismo deixou de ser uma empresa lucrativa, e em parte porque a consciência ocidental revoltou-se contra ele”.


Longe do Times a ideia de mencionar a revolta dos povos coloniais. É uma propaganda tão melhor falar do imperialismo abandonando o negócio, da revolta da consciência ocidental, do abandono do imperialismo pelas potências imperialistas. O sistema colonial é odiado universalmente pelas forças democráticas dos países colonizadores, e os verdadeiros motivos do imperialismo são melhor disfarçados quando se tenta igualar o imperialismo ao anti-imperialismo. Essa propaganda é calculada para desarmar os inimigos do sistema colonial e as forças anti-imperialistas, a fim de apaziguá-los com a falsa crença de que não há necessidade de combater o imperialismo, uma vez que os piores aspectos do imperialismo foram abandonados.


A Teoria de Browder


Coube a Earl Browder, no entanto, prestar o mais extraordinário serviço à atual campanha de propaganda imperialista sobre a dissolução do sistema colonial. Em seu novo livro “Guerra ou Paz com a Rússia?” Browder presta esse serviço ao imperialismo, em nome do Marxismo e do Leninismo. Ele se propõe corrigir “o ponto de vista dos marxistas ortodoxos”' sobre o problema colonial. São suas palavras:


“É minha opinião, formulada após longo estudo e muita hesitação, de que os EUA da América estão num processo de estabelecimento de uma política a longo prazo, no sentido da dissolução do sistema colonial...


Desde que esta obra vai mais. fundo que os acontecimentos atuais, à própria estrutura do poder mundial, eu tive que responder às objeções levantadas contra a minha conclusão, do ponto de vista do marxismo ortodoxo, isto é, a presunção já firmada da maior parte do pensamento marxista de que o colonialismo é um característico invariável e inalterável do capitalismo, em sua fase final de desenvolvimento...


Todavia, já se está tornando claro que a política dos EUA é cada vez mais definida e energicamente orientada no sentido da dissolução do sistema do império colonial; o ato de garantir independência às Filipinas é visto hoje sob o aspecto não de um caso especial, mas como o primeiro passo para uma política mundial compreensivo. Os EUA estão a título de experiência e com muita hesitação, mas apesar disso definitivamente, assentando uma nova estrutura imperial da qual o colonialismo está excluído”.


Ele não analisa de modo algum as realidades da situação atual nas Filipinas e não pode apresentar nenhuma prova que consubstancie qualquer política anticolonial sólida dos EUA Ao invés disso, cita duas piedosas declarações anticoloniais do New York Herald Tribune e do United States News, à base das quais conclui:


“Quando tais expressões vêm, como assunto, é claro, de representantes típicos do conservadorismo republicano e da alta finança, pode admitir-se que a base de apoio à política anticolonial iniciada por Roosevelt, em todas as classes, é muito mais ampla e tem raízes mais profundas que por ocasião da maior parte da política do New Deal. Parece já estar firmada como uma política nacional bipartite, e quase imune a qualquer desafio sério”.


Construir essa teoria falsa à base da política dos EUA nas Filipinas, é uma chicana política da pior espécie. Até mesmo certos jornais capitalistas, como se verificará abaixo, admitem abertamente que a América concedeu apenas uma independência títere às Filipinas.


Wall Street se utiliza dos latifundiários e da burguesia comercial filipina como uma associação contra o movimento de libertação nacional filipino. A legislação adotada pelo Congresso americano em 1946 e os tratados comerciais e militares entre os EUA e o governo títere filipino, deixam o controle essencial da economia filipina nas mães de corporações americanas e o controle das bases militares das Ilhas, nas mãos do Exército dos EUA, contrariamente à política filipina esboçada pelo presidente Roosevelt.


Uma colunista do jornal conservador Christian Science Monitor, (24-2-47) divulgou o fato de que o “Philippine Trade Act” “lança o domínio público das Filipinas completamente aberto à exploração americana” e salientou que


“... não se pode enquadrá-lo na Carta do Atlântico ou em quaisquer princípios sãos por um mundo melhor... ele prejudica, e no futuro poderá destruir a independência das Filipinas, e a tal ponto que sua filiação às Nações Unidas poderá ser debatida como visivelmente inválida”.


Isso é característico da mais responsável e sóbria avaliação da política ianque nas Filipinas.


Muito antes de ter Browder terminado seu livro, ficou evidente nos EUA que a independência das Filipinas foi grosseiramente mutilada pelo Philippine Trade Act e por outras medidas oficiais americanas. Uma análise detalhada da política americana nas Filipinas, publicada no Far Eastern Survey, órgão do Instituto Americano de Relações Pacíficas, ainda em 5 de junho de 1946, concluía:


“A 4 de julho, a América retirará oficialmente sua soberania das Filipinas. Mas o nascimento da República filipina foi cercado de tantas restrições e emendas que deixou de proclamar a aurora de uma nova Ásia. A América é hoje a pioneira de novas formas, que deixem o conteúdo colonial antigo, de antes da guerra, substancialmente imutável”.


Browder ignorava porém os fatos e não se dispôs a criticar a política imperialista ianque nas Filipinas, mas a reformar o “marxismo ortodoxo”, de acordo com as ambições do imperialismo americano, a dar uma sanção marxista à sua conclusão errônea de que


“os EUA concederam finalmente independência às Filipinas, após haver verificado não serem as colônias lucrativas” (grifo de Browder).


Tão pouco lucrativas que as inversões ianques e o número de associações ianques nas Filipinas são hoje maiores que em qualquer ocasião e a Constituição filipina, inicialmente aprovada pelo Presidente Roosevelt, foi emendada por insistência de Wall Street, a fim de dar ao capital ianque autoridade “constitucional” para controlar os recursos das Filipinas, que são mais ricos que os do Japão.


O Que Lenin Realmente Disse


Com uma fantástica imprudência, Browder cita Lenin, numa tentativa por proteger sua teoria. Extrai a citação de uma polêmica de Lenin, intitulada “Uma caricatura do marxismo e Economismo imperialista” (Obras escolhidas, vol. XIX). Mas é justamente essa polêmica de Lenin que expõe de maneira completa o reformismo crasso da própria posição de Browder. Algumas citações dessa polemica, às quais Browder deixa de fazer referência, desmascaram Browder e revelam que a análise “ortodoxa marxista” de imperialismo toma inteiramente em consideração as manobras imperialistas na série atual de planos de “independência”. Eis o que salientou Lenin:


“Se é realmente possível à “riqueza” em geral, dominar qualquer república democrática através do suborno e da Bolsa, como poria P. Kievsky afirmar, sem cair numa divertida “contradição lógica”, que é impossível à imensa riqueza dos trustes e bancos que manipulam bilhões, “exercer” o domínio do capital financeiro sobre uma república estrangeira, isto é, politicamente independente?”


Para mostrar que a origem de novos Estados era perfeitamente possível sob o imperialismo, Lenin apontava o exemplo da separação entre a Noruega e a Suécia. Disse Lenin:


“A Noruega adquiriu o direito, alegado como impossível, da autodeterminação, em 1905, na era do mais desenfreado imperialismo... A independência norueguesa “obtida” em 1905 foi apenas uma independência política. Ela não pretendeu, nem o poderia, alterar sua dependência econômica”.


Lenin foi mais longe, e falou das condições em que o próprio capital financeiro consideraria mais vantajoso realizar ou reorganizar a independência política das nações submissas, que continuariam ainda a ser vítimas da dominação imperialista. Já em 1916, dizia Lenin:


“Sob tais circunstâncias, não só é “possível”, do ponto de vista do capital financeiro, mas às vezes é mesmo uma vantagem direta dos tristes, de sua política imperialista, e de sua guerra imperialista, garantir a determinadas pequenas nações a maior liberdade democrática possível, e inclusive completa independência política, de modo a isentar as “suas” operações militares de todo o risco. . .”


Naquele ensaio, escrito antes de finda a guerra imperialista, de 1914-18, Lenin salientou, baseado nos fundamentos do imperialismo.


“Se, com um determinado desfecho da guerra atual, a formação de novos estados na Europa: Polônia, Finlândia, etc., é perfeitamente “possível”, sem perturbar de maneira alguma as condições de desenvolvimento do imperialismo ou seu poder — mas, pelo contrário, podem mesmo fortalecer a influência, as ligações e a pressão do capital financeiro — então, com um desfecho diferente, a formação de um novo estado húngaro, checo, ou outro qualquer, é igualmente “possível”...


No próprio livro “Imperialismo”, Lenin foi muito cauteloso ao observar:


“A divisão do mundo em dois grandes grupos — de países colonizadores, por um lado, e de países coloniais por outro — não é a única característica de período atual; existe também grande variedade de formas de países dependentes; países que oficialmente, têm independência política, mas que de fato, caíram na rede da dependência política e econômica”.


As formas da dominação imperialista mudam constantemente, mas o verdadeiro anticolonialismo, a atual emancipação das colônias, é algo de completamente diferente das mudanças na forma das relações entre as potências imperialistas e as nações do mundo colonial. A posição do “Marxismo ortodoxo” frente a esse problema, segundo declara Stalin, é a seguinte:


“Que os problemas nacional e colonial são inseparáveis de problema da emancipação do poder do capital...


“Que o imperialismo (a forma superior do capitalismo) não poda existir sem a escravização política e econômica das nações e colônias não soberanas.” (Joseph Stalin. O Marxismo e o Problema Nacional).


A proclamação da independência filipina, e os planos de independência da Índia e da Birmânia, não libertam esses países da escravização política e econômica por parte das grandes potências imperialistas. Certos representantes do capital financeiro são muito mais francos em admitir isso que Browder. E o órgão da capital inglesa o Economist, disse o seguinte sobre a oferta de “independência” feita pelo governo de Atlee à Birmânia, em sua edição de 1 de fevereiro de 1947:


“A palavra mágica de hoje, em todos os países como a Birmânia, é “independência”; os birmaneses se sentirão humilhados se aparentarem menos soberania que a Índia ou o Sião. Mas, se for concedida a independência, haverá muito lugar para acordos sobre assuntos econômicos e, se puderem ser mantidas as relações amigáveis, não observa, na nova edição do já clássico “A Índia de Hoje”.


Os Planos Britânicos para a Índia


Dois comentários marxistas sobre os planos britânicos para a Índia esclarecem ainda mais sobre os objetivos dos imperialistas ingleses. R. Palme Dutt, autoridade britânica sobre problemas coloniais, observa, na nova edição do já clássico “A Índia de Hoje”, por ele atualizado e publicada recentemente em Bombaim:


“Pode se dizer, portanto, que em todo o período atual, cada passo de “reforma” constitucional na Índia foi dado por inspiração e sob direção conservadora, não por amor abstrato à reforma, mas na esperança desesperada de erguer um dique ante a maré do movimento nacional por libertação. E pode acrescentar-se que inclusive as propostas constitucionais do governo trabalhista em 1946 apenas transportaram as linhas gerais do plano de 1942, delineado quando era Amery o Secretário de Estado e sob um gabinete dominado pelos Tories.


Por meio desses diques sucessivos, dessas prolongadas séries de fases transitórias e soluções temporárias, os líderes do imperialismo inglês esperavam vencer a etapa final. Esforçaram-se por prosseguir no processo de adaptação, mediante o qual procuram ainda prolongar a existência de seus poderosos interesses econômicos e financeiros de exploração da Índia, e sua dominação estratégica da Índia, passando para a mão da Índia, passo a passo, a tarefa de manter o povo em ordem e manter a base de cooperação com o imperialismo inglês”. (R. Palme Dutt, “Índia Today”. Bombaim, 1947 — pág. 491).


O marxista hindu G. Adhikari, assim analisou a nova correlação de forças na Índia:


“Em face da crescente revolta popular, a principal base social e política do poder britânico que se apoiava comumente nos Príncipes e elementos feudais — isto é, na grande classe latifundiária criada por ele, para apoiá-lo, deixou de ser suficiente. Ficou evidente para os imperialistas ingleses que não poderiam salvar seu império vacilante, a menos que atraíssem a burguesia nascente, que estava sob a liderança dos dois principais partidos populares, ou seja, o Congresso e a Liga, a fim de cooperarem com ele e seus aliados principescos, contra as massas hindus”.


“A pequena classe capitalista hindu obteve lucros colossais com o cumprimento das enormes ordens de guerra dos imperialistas ingleses, embora às expensas das massas, que foram empobrecidas durante a guerra. Os capitalistas buscavam novas saídas para sua riqueza recém acumulada e forçavam a pressão do capital monopolista inglês, que impedia o desenvolvimento industrial da Índia independente. Eles apoiaram a liderança do Congresso e da Liga (especialmente o primeiro) quando ambos exigiram a transferência imediata do poder e a independência, e inclusive a ameaça de luta do Congresso, se os mesmos não fossem concedidos”.


“Mas os capitalistas hindus receavam o novo e crescente clamor das massas. Além disso, sua riqueza acumulada estava nas mãos dos imperialistas ingleses, sob a forma de saldos esterlinos, e deviam contar com os imperialistas para recuperá-los em forma de bens para sua expansão e obtenção de lucro. Os imperialistas britânicos sabiam que poderiam salvar sua dominação imperialista da Índia fazendo uso dessa debilidade da classe capitalista hindu.


“Sua estratégia consiste em lançar a isca de transferência pacífica do poder e a sociedade em comum do monopólio econômico inglês da Índia, aos interesses hindus invertidos e enquadrar a liderança burguesa do Congresso e da Liga num esquema de regula mento constitucional, baseado na “independência” formal da Índia”. (Resurgent Índia, p. 6).


As novas manobras das potências imperialistas nas colônias não confirmam o mito de “descolonização”. O que observamos é o impulso da burguesia — em alguns dos maiores países coloniais, que estão mais temerosos dos movimentos populares de libertação que do imperialismo estrangeiro — para novos aparelhos estatais, cujo objetivo é reprimir os movimentos coloniais anti-imperialistas de libertação, que estão lutando em toda parte pela reforma agrária e pela democracia em seus respectivos países. As antigas formas de colonialismo já não servem mais, e novas formas estão sendo esboçadas, com o auxílio não só dos latifundiários, mas de importantes setores da burguesia dos países coloniais.


A Rivalidade Anglo-Americana


Mas o papel de Browder como apologista do imperialismo americano, destaca-se especialmente em sua discussão sobre a rivalidade anglo-americana, no tocante ao sistema colonial. Aí, ele transforma uma meia verdade numa grosseira distorção da história contemporânea A aparente unanimidade da aliança anglo-americana oculta uma crescente intensificação da rivalidade entre os dois países. É verdade que o capitalismo ianque vem sendo há muito prejudicado pela posição privilegiada do capital britânico dentro do sistema colonial inglês. O capital americano vem ensaiando há muito tempo uma guerra contra o “sistema preferencial” britânico, que opera contra a livre expansão do capital ianque dentro do Império britânico. O capital financeiro expansionista americano está interessado em destruir o sistema “preferencial” e aqueles aspectos do sistema colonial inglês que de qualquer modo impedem as operações do capital americano dentro do Império inglês. (Essa luta é analisada sutilmente por James S. Allen em seu livro “World Monopoly and Peace”, cap. VIII: “The expansionism freedoms”). Muitos representantes e órgãos do capital financeiro americano têm feito e repetido denúncias arrasadoras do sistema colonial e do colonialismo, levando em conta aqueles aspectos do sistema colonial que restringem a expansão do capital ianque e não os aspectos do colonialismo que mantêm os povos coloniais escravizados ao capital estrangeiro. O que Browder oculta do quadro é a característica mais importante e nova do mundo de após guerra: o ímpeto agressivo do capital financeiro ianque para obter o domínio do mundo. Ele não percebe absolutamente a verdadeira significação do expansionismo imperialista americano, cujo agressivo proponente é hoje a Administração Truman.


Em 31 de março de 1947, a revista Life divulgou um resumo do recente livro de James Burnham, “The Struggle for the World” (A luta pelo mundo) que expõe o programa do capital monopolista expansionista americano, com estas inconfundíveis palavras:


“Já existe um império americano, cuja expansão foi grande nestes últimos cinco anos. Do ponto de vista da realidade política, o império se estende até onde o poder imperial é decisivo, não para todas as coisas, ou quase todas, mas para aqueles acontecimentos cruciais dos quais depende a sobrevivência política. O império americano vai com efeito até o Ocidente, para incluir as inúmeras ilhas do Atlântico e do Pacífico, dominadas implicitamente pelas instalações militares e navais dos EUA. Além disso aquelas regiões da África e da Europa onde a força armada dos EUA é suprema, estão também, pelo menos agora, dentro do império. Todas as Américas já pertencem a ele. Também o Canadá, em termos de realidade política, deve ser incluído no Império americano. Os mapas dos recursos de guerra dos EUA incluíram durante muitos anos o Canadá.


“Uma política imperialista não é, portanto, novidade para os EUA. Eles foram e continuam a ser forçados a executá-la em virtude dos efeitos dinâmicos das correlações de força. A forca relativa dos EUA é demasiado grande para permitir a passividade. Os EUA não podem deixar de construir um império”.


O retrato desenhado por Burnham, da dominação mundial pelo imperialismo americano, exige uma total união política entre os EUA, a Grã-Bretanha e os Domínios britânicos.


“Tal união, explica ainda Burnham, significaria que a Grã-Bretanha, seus Domínios e os EUA, se tornariam sócios na federação imperial. Durante os primeiras etapas, a Inglaterra seria necessariamente o sócio menor”.


Objetivos Atuais do Imperialismo Ianque


O novo expansionismo americano, o mais agressivo e ambicioso da história dos EUA, é a expressão dominante da modificação na correlação de forças imperialistas no após-guerra. A Alemanha, a Itália e o Japão, foram derrotados. A França e a Holanda foram seriamente enfraquecidas como potências coloniais. E a Grã-Bretanha, como potência colonial, sofreu sérios revezes em consequência da guerra. Ela perdeu para os EUA sua hegemonia naval, sofreu em seu comércio exterior, tendo sido reduzida a uma nação devedora, não podendo suportar o peso de suas obrigações imperialistas e coloniais sem o auxílio financeiro dos EUA Em virtude dessas transformações, o imperialismo americano, a potência imperialista dominante no mundo, visa agora o domínio mundial. Isso intensifica a rivalidade anglo-americana e a rivalidade existente entre os E. E. U. U. e os demais países capitalistas, o assume uma significação cada vez maior na evolução da político externa americana.


O antigo sistema colonial de antes da guerra, baseado na partilha do mundo colonial entre várias potências imperialistas, não pode atender convenientemente às ambições de uma única — a maior — potência imperialista, os EUA, de domínio do mundo. O expansionismo ianque entra em conflito com os empecilhos e os obstáculos às suas ambições, inerentes aos sistemas coloniais da Inglaterra. Franca e Holanda. Portanto, a política imperialista ianque entra objetivamente em choque com o velho sistema colonial. Mas enquanto o imperialismo americano busca derrubar todas as barreiras do sistema colonial que de um modo ou de outro restrinjam a penetração ianque nos países coloniais, ele visa simultaneamente preservar e utilizar aquelas facetas do sistema colonial que defendam os interesses imperialistas e dificultem a libertação dos povos coloniais da dominação pelo capital estrangeiro e pelas potências estrangeiras. Não é uma tarefa fácil nessa fase de novo fortalecimento dos movimentos coloniais de libertação, e nós testemunhamos hoje técnicas imperialistas dirigidas.


O aparecimento de novos Estados, como as Filipinas, embora não represente de modo algum independência legítima, deveriam ser encarados também como uma concessão aos movimentos de libertação nacional. Setores da burguesia comercial e os latifundiários, administram o país na qualidade de agentes do imperialismo ianque. Essa política ajuda a desarmar os inimigos do colonialismo tradicional.


O imperialismo americano, que surgiu após ter sido o mundo fracionado pelas potências imperialistas existentes, de há muito é mestre na dominação de pequenas nações, sem assumir soberania oficial: é o caso de Cuba, Panamá e outros Estados latino-americanos. O domínio colonial direto, como frisou Lenin, não é a única forma de dominação imperialista. Com a exportação do capital financeiro, como a característica fundamental do imperialismo e a força motriz do domínio mundial, o capitalismo americano está não só intensificando métodos passados, mas desenvolvendo novas formas e técnicas. Isso está claramente evidenciado na padronização de armas como meio de garantir a hegemonia militar no mundo capitalista, companhias “mistas” como as que se estão multiplicando no México, onde o capital americano “coopera” com o capital mexicano, o novo tratado comercial sino-americano, que garante direitos de exploração do capital ianque, jamais obtidos na China.


A alardeada proclamação de “independência” das Filipinas exprimiu, indubitavelmente; uma nova forma da política imperialista americana, ditada por uma situação mundial diferente. Não constitui, porém, um abandono do imperialismo ou do colonialismo, que significa em essência a escravização de nações submetidas, qualquer que seja sua forma. Browder admite que a América é imperialista. Mas o contexto e a maneira com que ele descobre um não existente anticolonialismo na política ianque, e aceita a proclamação de independência das Filipinas de valor superficial, sem frisar que as Filipinas continuam a ser uma colônia econômica e militar dos E. E. U.U., constituem um mascaramento do imperialismo ianque.



Se a (política americana fosse anticolonial, teria uma oportunidade ideal para manifestar-se na Indonésia. Os holandeses lutaram desesperadamente para salvar seu sistema colonial nas ricas Índias. E de que lado ficou a Administração Truman? Os EUA treinaram forças holandesas que entraram em combate contra a República Indonésia; ofereceram suprimentos militares ianques para serem empregados contra o povo indonésio, sob a condição de não usarem o emblema dos EUA; e fizeram um empréstimo ao governo das Índias Orientais Holandesas, administração colonial holandesa na Indonésia. Ainda hoje ele ajuda o bloqueio feito pela Holanda à República e tem dificultado o desenvolvimento das relações econômicas normais entre a República Indonésia e os EUA. O Premier socialista da República Indonésia, Soetan Sjahrir com uma amarga experiência, avalia a política ianque sobre a questão de modo completamente diferente do de Browder. Em seu famoso panfleto “Our Struggle” (Nossa luta), escreve Sjahrir:


“Enquanto existir um capitalismo e um imperialismo anglo-americano, não poderemos obter uma independência 100%, por mais que o tentemos. Por essa razão, o destino do povo da Indonésia está ligado às condições e acontecimentos internacionais, e mais que qualquer outro país, necessitamos mudar a base de nossa sociedade, ou seja, a destruição do imperialismo capitalista mundial. E enquanto não for mudada a base da sociedade, e não se puser fim ao imperialismo capitalista, a luta de nosso povo não pode ser inteiramente satisfeita e a independência que podemos obter, mesmo completamente libertados dos holandeses, será ainda uma independência nominal, semelhante àquela de outras pequenas nações, sob a influência de grandes países capitalistas”.


Terá a política ianque na China atuado a favor ou contra Q dissolução do sistema colonial? Na opinião do Partido Comunista Chines o imperialismo americano é hoje mais perigoso que o imperialismo japonês, como uma ameaça à libertação nacional. Um manifesto lançado pelo Comité Central do P.C. Chinês, no 9.° aniversário do incidente da Ponte de Marco Polo, observava:


“O mesmo grupelho reacionário ianque, agindo de mãos dadas com o grupelho reacionário da China, tenta ocupar o lugar do Japão e convertê-la (a China), numa colônia do imperialismo americano... Sendo o imperialismo americano mais poderoso hoje que o imperialismo japonês, seus métodos agressivos parecem ser exteriormente mais “legais” e “civilizados”. O perigo é maior devido à sua capacidade de fazer capital à custa da guerra antifascista e da tradicional amizade entre os povos americano e chinês. A existência da nação chinesa está, portanto, ameaçada tanto por reacionários chineses como estrangeiros, conspirando ambos para transformar a China numa dependência ou colônia, um colossal campo de concentração e uma base para novas guerras imperialistas de agressão” (“World News and Views”, 3 de agosto de 1 946).


Os elementos não-comunistas que estão na liderança das lutas coloniais de libertação não veem também nenhuma desaparição voluntária do colonialismo, em vista das políticas adotadas pelas potências imperialistas e não veem os EUA dissolverem o sistema colonial. Pelo contrário, os delegados das repúblicas da Indonésia e do Viet Nam fizeram uma declaração comum durante a recente Conferência de Relações Interasiáticas, em Nova Delhi, que dizia o seguinte sobre o colonialismo:


“Qualquer observador cuidadoso deveria ter observado que há inúmeras indicações de que o colonialismo continuará sob uma forma nova e mais perigosa, a menos que as massas ressuscitadas possam unir-se contra ele... A nova tática colonial ameaça assim a própria independência de todos os países asiáticos e faz perigar a paz e a prosperidade dos povos de todo o mundo”.


A tese de “descolonização” de Browder, sua teoria falsa de que o capital financeiro ianque apoia a dissolução do sistema colonial, injuria a causa dos movimentos coloniais de libertação em luta. Aquilo de que se tem necessidade mais urgente hoje é do mais decidido apoio do operariado e das forças democráticas aos históricos movimentos de libertação nacional, lutando por sua liberdade. Desde que a atual política americana, violando os interesses nacionais e as tradições demo* cráticas do povo americano, é o principal obstáculo à liberdade dos povos coloniais, o movimento operário americano e todos os adeptos da política de Roosevelt, têm a maior responsabilidade em encontrar todos os meios de combater o expansionismo imperialista ianque e aliarem-se às forças e movimentos de libertação nacional.


por George Phillips, publicado na Revista Problemas nº 3, outubro de 1947

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