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"Um Manifesto aos povos do Oriente"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

Em 1 de Setembro de 1920, na cidade de Baku, a capital do Azerbaijão, um Congresso de Representantes dos Povos do Oriente ocorreu. No nosso congresso participaram 1891 delegados dos seguintes países: Turquia, Pérsia, Egito, Índia, Afeganistão, Baluchistão, Kashgar, China, Japão, Coreia, Arábia, Síria, Palestina, Bucara, Khiva, Daguestão, Cáucaso Norte, Azerbaijão, Armênia, Geórgia, Turquestão, Ferghana, a Região Autônoma de Carmúquia, a República Tártara e o Distrito do Extremo Oriente.

O Congresso dos Povos do Oriente foi convocado pela Internacional Comunista. Todo camponês, todo operário precisa saber o que é a Internacional Comunista. É uma união de trabalhadores e camponeses, dos comunistas de todo o mundo, que assumiu para si o objetivo de destruir o poder dos ricos e trazer a completa igualdade de todos. No Segundo Congresso Mundial da Internacional Comunista, realizado em Moscou em Agosto de 1920, os seguintes países foram representados: EUA, Grã-Bretanha, França, Áustria, Itália, Espanha, Polônia, Boemia, Iugoslávia, Hungria, Suíça, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Bulgária, Turquia, Pérsia, Índia, China, Japão, Coreia, Indochina, Geórgia, Azebaijão, Armênia, Khiva, Bucara, Afeganistão, Argentina, Rússia, Ucrânia.

A Internacional Comunista quer pôr um fim não apenas ao poder dos ricos sobre os pobres mas também ao poder de alguns povos sobre outro. A este propósito os operários dos EUA e Europa devem se unir aos camponeses e outros elementos trabalhadores dos povos do Oriente.

O Congresso dos Representantes dos Povos do Oriente chama a estes povos a realizar esta unidade, que é necessária para a libertação de todos os oprimidos e todos os explorados.

POVOS DO ORIENTE

Seis anos atrás, explodiu na Europa uma carnificina colossal e monstruosa, uma guerra mundial onde 35.000.000 vidas humanas se perderam, centenas de grandes cidades e milhares de aldeias destruídas, países europeus devastados e todos os povos foram submetidos à tormenda de uma pobreza desconhecida e uma fome sem precedentes.

Até o momento atual, esta guerra colossal foi levada a cabo na Europa, afetando apenas parcialmente a Ásia e a África.

Esta guerra foi travada pelos povos europeus e os povos do Leste participaram relativamente pouco nela; apenas as forças de centenas de milhares de camponeses turcos que foram enganados pelos seus governantes e liderados por capitalistas alemães, e de dois a três milhões de indianos e negros – escravos, comprados pelos capitalistas ingleses e franceses, e como escravos, lançados à morte nos longínquos campos de batalha estrangeiros da França, em defesa aos interesses estrangeiros e ininteligível para eles, de banqueiros e industriais franceses e ingleses.

Ainda que os povos do Oriente tenham se mantido alheios a esta gigante guerra, embora tenham participado de maneira insignificante nela, não obstante a isto, esta carnificina foi levada a cabo, não para os países da Europa, não para os países e povos do Ocidente, mas para os países e povos do Oriente.

Foi travada pela partilha do mundo inteiro, e principalmente pela partilha da Ásia, pela partilha do Leste. Foi travada a fim de determinar quem irá controlar os países asiáticos, de quem os povos do Oriente serão escravos.

Foi travada a fim de determinar precisamente quem, os capitalistas ingleses ou alemães, esfolará os camponeses e operários indianos, egípcios, turcos, persas.

Os quatros monstruosos anos de carnificina terminaram em vitória para a Inglaterra e a França. Os capitalistas alemães foram esmagados, e junto a eles, todo o povo alemão foi igualmente esmagado, destruído, e condenado à morte pela fome. A vitoriosa França, onde a guerra quase aniquilou toda a população adulta e destruiu todas as áreas industrializadas, se feriu na luta e após a vitória permaneceu completamente impotente. E como resultado, da carnificina bárbara e colossal, a Inglaterra imperialista emergiu do solo como mestre toda poderosa da Europa e da Ásia. Ela, sozinha, em toda a Europa foi capaz de reunir força suficiente, porque travou a guerra com mãos estrangeiras dos povos que ela escravizou, indianos e negros, e às custas de suas colônias oprimidas.

Tendo surgido o vitorioso e completo mestre e dono de metade do mundo, o governo inglês começou a realizar os objetivos para os quais esta guerra foi desencadeada: começou a consolidar seu domínio sobre todos os países asiáticos e trazer a completa escravidão de todos os povos do Oriente.

Com nada a impedindo e temendo a ninguém, a junta dos capitalistas e banqueiros insaciáveis à frente do governo inglês aberta e descaradamente deixou de lado todo o pudor e começou a subjugar pela escravidão os camponeses e operários dos países do Oriente.

Povos do Oriente! Vocês sabem o que a Inglaterra fez na Índia; vocês sabem como ela transformou as milhões de massas de camponeses e operários indianos em animais submissos e sem privilégios.

O camponês indiano é obrigado a dar ao governo inglês tanto de sua colheita que o restante não é suficiente para ele nem por alguns meses. O operário indiano deve trabalhar na fábrica dos capitalistas ingleses por uma miséria tamanha que ele não consegue comprar nem o punhado de arroz necessário para sua subsistência diária. Milhões de Indianos morrem de fome anualmente. Todo ano, milhões de indianos morrem nos pântanos e selvas por conta do trabalho rígido, empreendido pelos capitalistas ingleses para seu enriquecimento próprio.

Milhões de Indianos, fracassando em conseguir seu pão diário em sua própria terra natal, fértil e muito rica, são forçados a entrar no exército inglês e ir para longe, a fim de ganhar a vida na difícil existência de soldado, pelo resto de suas vidas, e travar intermináveis guerras em todos os cantos do mundo com todos os povos do mundo, estabelecendo a brutal dominação inglesa onde quer que estiverem. Comprando com suas vidas e sangue, um aumento interminável de riqueza para os capitalistas ingleses, assegurando-lhes enormes lucros, luxo e prosperidade, os próprios Indianos não gozam de quaisquer direitos humanos; os poderes, ou seja, os funcionários ingleses, filhos insolentes da burguesia inglesa que engordou em cima de cadáveres indianos, não os reconhece como pessoas.

Os indianos não ousam sentar na mesma mesa com um inglês, usar o mesmo alojamento, viajar no mesmo ônibus, estudar na mesma escola. Aos olhos da burguesia inglesa, todo indiano é um Pariah, um escravo, um burro de carga, que não ousa vivenciar quaisquer sentimentos humanos, não ousa fazer qualquer exigência. A cada revolta provocada pelos camponeses e operários indianos, os ingleses retaliam com desumanos disparos em massa. As ruas destas aldeias indianas que se revoltaram se revestem de centenas de cadáveres e aqueles que continuam vivos são obrigados pelos funcionários ingleses, para seu próprio divertimento, a rastejarem e lamberem as botas de seus escravistas.

Povos do Oriente! Vocês sabem o que a Inglaterra fez para a Turquia. A Inglaterra ofereceu à Turquia uma paz sob a qual três quartos da Ásia Menor, habitada exclusivamente por Otomanos, incluindo todas as cidades industriais, foram para a França, Inglaterra, Itália e a Grécia; e no restante das terras turcas, taxaram impostos tão pesados que os Otomanos faliram permanentemente, e tem que pagar tributos eternamente à Inglaterra.

Quando o povo turco se recusou a aceitar uma paz tão desastrosa, os ingleses ocuparam Istanbul, sagrada para os muçulmanos, fecharam o Parlamento Turco, prenderam todos as lideranças populares, fuzilaram os melhores deles, e exilaram centenas de outros para a Ilha de Malta, onde eram encarcerados nas masmorras escuras e úmidas de uma antiga fortaleza. Agora os ingleses reinam em Constantinopla. Roubaram dos turcos tudo que poderiam pegar. Tomaram dinheiros, bancos, fábricas e fundições, ferrovias e navios, e cortaram todos os acessos à Ásia Menor. Não existe um fragmento de material e nem um fragmento de metal na Turquia. O camponês turco é forçado a trabalhar sem camisa e ele deve arar a terra com um arado de madeira.