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"Nelson Werneck Sodré e as artes no Brasil"



A. INFORMAÇÃO PRELIMINAR

A sociedade colonial manifestou uma irredutível refratariedade às Artes, ainda àquelas, como a Arquitetura, que se conjugam de certo modo com a própria necessidade. As construções dos primeiros séculos marcam-se pela extrema rusticidade, assemelhando-se, quando imponentes nas proporções, as fortalezas, abrigos, habitações coletivas. As influencias locais apenas aparecem em detalhes, no alpendre ou copiar, na utilização de determinados materiais; as externas são europeias, quanto à morada da classe dominante, e surgem, de quando em quando, reminiscências de culturas peninsulares antigas, como a mourisca, nos sobrados. Outro tipo de construção é constituído pelas fortificações, obedecendo a traçado tradicional, pontilhando os ancoradouros. Os poucos edifícios públicos dos primeiros séculos são comuns, sem nenhum sinal de grandeza.


No Terceiro século é que começam a aparecer construções cuja imponência as destaca na paisagem urbana que se esboça. É a mineração que dá impulso a esses empreendimentos, em que se traduz, também, o crescimento da administração, do poder metropolitano, e a sua repartição funcional. São edifícios públicos ostentosos, mais pesados do que belos. Em alguns núcleos urbanos, a Bahia e particularmente o Rio de Janeiro, aparecem obras públicas, entre as quais se destacam os chafarizes e figura o aqueduto. Mas é nas igrejas que a arte encontra o acolhimento que o meio não lhe dá. Nelas é que se reúnem as suas variadas manifestações, através do tempo, na Arquitetura, na Escultura, na Pintura, trabalhos em pedra, trabalhos em madeira, pesados móveis lavrados, altares monumentais, sobrecarregados de ornatos, frontarias, painéis, púlpitos.


Aqui se diferencia o barroco, transferido de uma sociedade aristocrática como a europeia para uma sociedade patriarcal como a da Colônia. Os templos recolhem os vestígios e às vezes os restos do enriquecimento das zonas em que se levantam. Misturam a contribuição lusa com a colonial. Mas, por esse tempo, há aqui artífices da capacidade e de nomeada, os pintores baianos Manuel da Costa Ataíde e Manuel Meneses da Costa, os homens de cor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, mestre Valentim, finalmente José Maurício. Nas residências senhoriais, em que começa também a aparecer algum requinte, vale mais o arcabouço do que a parte ornamental.


Há, nesse difícil desenvolvimento, episódios intercalares cuja singularidade aparece à análise mais desatenta. O da fase de domínio holandês, quando aparecem alguns pintores que transpõem para as suas telas a paisagem local, e o das Missões jesuíticas sulinas, quando, em São Miguel, Primoli levanta a célebre catedral, em nove anos de labor obscuro e tenaz. Do que fizeram os artistas trazidos ao Brasil pelo descortino de Nassau e o jesuíta missioneiro se incorporam ao nosso patrimônio, nem nele encontram lugar e função. O que encontrou lugar e função foi aquilo que, menos importante qualitativamente, surgiu nas zonas de povoamento luso, em que esse povoamento teve condições de estabilidade e continuidade apropriadas e deixar vestígios de tudo o que gerou e desenvolveu. Na fase colonial, fora alguns isolados exemplos de obras públicas e particulares, estas em número muito reduzido, as Artes foram recolhidas e protegidas pelo elemento religioso, que nelas encontrou meios e motivos de glorificação do que adorou e pregou. É por isso, e caracterizadamente por isso, que o patrimônio artístico do tempo pode ser hoje encontrado nas igrejas do Pará, do Recife, do Salvador, da zona mineradora das Gerais, do Rio de Janeiro um pouco, mais principalmente aquelas da zona mineradora, em que houve possibilidade de se constituir pequeno grupo de artífices cujo esforço ainda hoje nos espanta.


Com o advento da Corte do Príncipe D. João, no conjunto de reformas logo empreendidas há iniciativas que afetam o campo artístico, principalmente a organização de uma escola e a vinda da missão de mestres europeus. São estas iniciativas que vão provocar a laicização artística brasileira. Lebreton, Debret, os irmãos Taunay, Grandjean de Montigny, Pradier, Ferrez, Neukomm não fazem os numerosos discípulos que seria de esperar de empreendimento organizado, cujos efeitos na realidade se diluíram bastante, diante das resistências naturais do meio. A missão, quando a escola começa a funcionar, estava desfalcada, senão inutilizada. Sua influência, entretanto, é ainda assim grande, como intermediária da penetração do academicismo que vai presidir a tarefa criadora dos que vieram depois, e a que não escapa mesmo um José Maurício, com a sua música. Os Vítor Meireles, os Pedro Américo, dão aos motivos nacionais que glorificam, particularmente os militares, a feição europeia a que não podem fugir. Almeida Júnior é, entre todos, o mais original, aquele que se voltou principalmente para as cenas populares, de caipiras, de violeiros, de mendigos, de homens da roça, aquele que, em suma, esboça uma pintura de traços brasileiros. Nos fins do século, a transplantação cultural mostra a sua força ainda na música de Carlos Gomes.


Só a sociedade em que aparecem e se desenvolvem novos fatores, aquela que procede à progressiva liquidação do que existe inda de colonial em nós, e da transplantação como expressão do colonial em Arte, permitirá o surto artístico de motivos e de características brasileiras, visível no esplendor da nossa arquitetura, de notoriedade universal, da escultura em que começam a surgir criações originais, da pintura em que se destaca nossos ritmos, enquanto a música popular ganha o público e surgem o cinema e o teatro com as características nacionais e alto nível artístico.


B. FONTES PRINCIPAIS

1 – ALMEIDA, RENATO DE – História da música brasileira – 2º. Edição – Rio – 1942.

2 – HEITOR, LUÍS – 150 anos de música no Brasil (1800-1950) - Rio – 1956.

3 – RANGEL, LÚCIO – Sambistas e chorões. Aspectos e figuras da música popular brasileira – S. Paulo – 1962.

4 – TINHORÃO, JOSÉ RAMOS - Música popular. Um tema em debate – Rio – 1966.

5 – COSTA, LÚCIO – Sobre arquitetura – Porto Alegre – 1962.

6 – NIEMEYER, OSCAR – Minha experiência em Brasília – Rio – 1961.

7 – REIS JÚNIOR, JOSÉ MARIA DOS – História da pintura no Brasil – S. Paulo – 1944.

8 – VASCONCELOS, SÍLVIO DE – Vila Rica. Formação e desenvolvimento, residências – Rio – 1956.

9 – MAGALDI, SÁBATO – Panorama do teatro brasileiro – S. Paulo – 1962.

10 - MENDONÇA, CARLOS SUSSEKIND DE – História do teatro brasileiro – Rio – 1926.

11 – SOUSA, J. GALANTE DE – O teatro no Brasil – 2 vols. – Rio – 1960.

12 – VIANY, ALEX – Introdução ao cinema brasileiro – Rio – 1959.

13 – ROCHA, GLAUBER – Deus e o diabo na terra do sol – Rio – 1956.

14 - RUBENS, CARLOS – Pequena história das artes plásticas no Brasil – S. Paulo – 1941.

15 – GULLAR, FERREIRA – Cultura posta em questão – Rio – 1956.



OBSERVAÇÕES

1 – Trabalho de reconstituição histórica, de análise e de crítica, abrangendo a música popular, com ideia geral de suas manifestações, e a música erudita, mostrando os motivos fundamentais do nosso desenvolvimento musical.

2 – Estudo atualizado e bem informado, de grande conhecedor da música brasileira, situando as figuras mais destacadas, as obras e os movimentos, até os dias atuais, com segura escala de valores.

3 - Estudo inteligente, bem informado, sobre a música popular brasileira, suas ligações com a literatura de cordel, seus tempos heroicos, suas mudanças com aparecimento das técnicas de gravação, suas grandes figuras, completado com a preciosa discoteca mínima no gênero.

4 – Tentativa pioneira de interpretação sociológica de temas da música popular brasileira, estudando as origens e evolução do samba e as alterações ultimamente introduzidas em nossa música popular, com pontos de vista discutidos, mas sempre inteligentes e bem fundamentados.

5 – Mestre da arquitetura brasileira, Lúcio Costa dispersou seus estudos em revistas especializadas e na correspondência. Em 1962, o Centro de Estudantes Universitários de Arquitetura, da Faculdade de Arquitetura de Porto Alegre, tomou a iniciativa de reunir no livro indicado os principais estudos de Lúcio Costa e suas notas e observações dispersas, trabalhos de extraordinária importância para a arquitetura brasileira.

6 – Interessantíssimo depoimento de Oscar Niemeyer, em que fica não apenas o esforço para a construção da nova capital brasileira como define suas concepções sobre arquitetura, em trabalho do mais alto interesse.

7 – Uma história da pintura brasileira, com levantamento dos artistas e de seus quadros, apresentando e analisando as influencias e motivos, válida pelo cabedal informativo.

8 – Excelente monografia, com o traço das residências e edifícios públicos, como das igrejas, e informação sobre os trabalhos, autores, materiais utilizados e influências sociais que presidiram a construção dos monumentos de Ouro Preto.

9 – Apresentação do desenvolvimento do teatro brasileiro segundo a ordenação cronológica de autores e de obras, bem informada e importante do ponto de vista histórico, com juízos exatos de teatrólogos do passado, menos válida quanto ao julgamento de autores e obras da etapa atual do teatro brasileiro, mas sempre útil pela informação selecionada que fornece.

10 – O trabalho de Carlos Sussekind de Mendonça, já antigo, guarda ainda interesse, apesar de abranger apenas o período de 1565 a 1840, pelas qualidades do autor, pelo seu seguro senso de julgamento.

11 – Sem interesse qualitativo, mas de enorme valia quantitativa, pela massa de informações que fornece, com o paciente levantamento das fontes. Indispensável ao pesquisador.

12 - História do cinema brasileiro por um dos maiores conhecedores do assunto, preciosa não apenas pela análise das diversas etapas do desenvolvimento do cinema entre nós, nitidamente situadas, como pela preciosa filmografia, indispensável a qualquer estudioso.

13 – O interesse do livro indicado não se resume ao que diz respeito ao filme que lhe dá o título, e só isso justificaria a sua presença aqui. Trata-se, na verdade, de verdadeiro balanço crítico da posição do cinema brasileiro atual, de suas perspectivas e de seus problemas, com depoimentos de algumas das pessoas mais qualificadas para opinar.

14 – Sumário histórico do desenvolvimento das artes plásticas, com indicação das principais figuras e obras e dos modelos e escolas a que obedeceram. Válida como informação.

15 – A obra de Ferreira Gullar é indicada para suprir a inexistência de bons trabalhos, sobre pintura e sobre artes plásticas, e particularmente da pintura, no nível a que elas já atingiram no Brasil. Seus pontos de vista podem ser discutíveis, quanto ao conceito de arte popular, mas merecem sempre reflexão.


C. FONTES SUBSIDIÁRIAS

1 – GUIMARÃE, ARGEU – As artes plásticas no Brasil – Rio – 1932.

2 – DUQUE, GONZAGA – Arte brasileira. Pintura e escultura – Rio – 1888.

3 – ANDRADE, MÁRIO DE – O Aleijadinho e Álvares de Azevedo – S. Paulo – 1936.

4 – MORAIS FILHO, MELO – Artistas do meu tempo – Rio – 1904.

5 – RODRIGUES, JOSÉ WATSH – Documentário arquitetônico – 6 vols. – S. Paulo – 1840/1945.

6 – ANDRADE, MÁRIO DE – Padre Jesuíno do Monte Carmelo – Rio – 1945.

7 – GOODWIN, PHILIP L. – Brazil builds. Architecture new and old – New York – 1943.

8 - MARINHO, HENRIQUE – O teatro brasileiro (Alguns apontamentos para a sua história) – Rio – 1904.

9 – MESQUITA, ALFREDO – Notas para a história do teatro em São Paulo – S. Paulo – 1951.

10 – PÓVOA, PESSANHA - Os dois mundos. (Academia – Teatro) – S. Paulo – 1861.

11 – AZEVEDO, LUÍS HEITOR CORREIA DE – Relação das óperas de autores brasileiros – Rio – 1938.

12 – FREIRE, LAUDELINO – Um século de pintura. Apontamentos para história da pintura no Brasil – Rio – 1916.

13 – MILLIET, SÉRGIO – Pintores e pinturas – S. Paulo – 1940.

14 – HEITOR, LUÍS – Música e músicos do Brasil – Rio – 1950.

15 – CARVALHO, ÍTALA GOMES DE VAZ DE – Vida de Carlos Gomes – 3º. Edição – Rio – 1946.

16 – KENT, ROCKWELL – Portinari: his life and art – Chicago – 1940.

17 – TAUNEY, ALFREDO DE E. – Uma grande glória brasileira. José Mauricio Nunes Garcia. (1767-1830) – S. Paulo – s.d.

18 – TAUNEY, ALFEDO DE E. – Dois artistas máximos. José Mauricio e Carlos Gomes – S. Paulo – s.d.

19– CARVALHO, FEU DE – Pontes e Chafarizes de Ouro Preto – Belo Horizonte – s.d.

20 - LOPES, FRANCISCO ANTÔNIO – História da construção da igreja do Carmo de Ouro Preto – Rio – 1942.

21 – MARIANO FILJO, JOSÉ – Influencia muçulmanas na arquitetura tradicional brasileira – Rio – s.d.

22 – MAYERHOFER, LUCAS – Reconstrução do povo de São Miguel das Missões – Rio – 1947.

23 – SANTOS, PAULO – A arquitetura religiosa de Ouro Preto – rio 1951.

24 – SILVA-NIGRA, CLEMENTE DA – Construtores e artistas do Mosteiro de são Bento do rio de Janeiro – 2 vols. – Salvador – 1950-1952.

25 - VASCONCELOS, SALOMÃO – Ataíde – Belo Horizonte – 1944.

26 – FRANÇA, EURICO NOGUEIRA – Música do Brasil. Fatos, figuras e obras – Rio – 1957.

27 – LOS RIOS FILHOS, ADOLFO MORALES DE – Grandjean de Montigny – Rio.

28 – MILLIET, SÉRGIO – Fora de forma – S. Paulo – 1942.

29 – RIOS, A. MORALES DE LOS – O ensino artístico. Subsídios para a sua história (1816-1886) – Rio – s.d.

30 – VALADARES, JOSÉ – A arte brasileira (1943-1953) – Salvador – 1955.

31 – AULER, GUILHERME – O imperador e os artistas – Petrópolis – 1955.

32 – BARATA, MÁRIO – Azulejos no Brasil – Rio – 1955.

33 – SMITH, R. C. – As artes na Bahia – Salvador – 1954.

34 – ANDRADE, RODRIGO MELO FRANCO DE – Brasil: monumentos históricos e arqueológicos – México – 1952.

35 – FALCÃO, EDGARD DE CERQUEIRA – Relíquias de Bahia – S. Paulo – 1940.

36 – FALCÃO, EDGARD DE CERQUEIRA – Relíquias da terra do ouro – S. Paulo -1946.

37 – OLIVEIRA, J. M. CARDOSO DE – Pedro Américo, sua vida e suas obras – Rio – 1943.

38 – PARREIRAS, ANTÔNIO – História de um pintor contada por ele mesmo. Brasil-França – (1881-1936) – Niterói – 1944.

39 – LOBO, HÉLIO – Manuel de Araújo Porto Alegre – Prefácio de Gustavo Capanema – Rio – 1945.

40 – SOUSA LEÃO FILHO, JOAQUIM – Frans Post – Rio – 1948.

41 – RIOS FILHO, ADOLFO MORALES DE LOS – Evolução do ensino da engenharia e da Arquitetura no Brasil – Rio – 1950.

42 – ANDRADE, MÁRIO DE – Pequena história da música – S. Paulo – 1951.

43 – SMITH, ROBERT C. – Arquitetura colonial baiana – Bahia – 1951.

44 – AZEVEDO, LUÍS HEITOR CORREIA DE – Bibliografia musical brasileira – Rio – 1952.

45 – MACHADO, LOURIVAL GOMES – Retrato da arte moderna do Brasil – S. Paulo – 1948.

46 – MARTINS, LUÍS – A arte moderna no Brasil – S. Paulo – 1937.

47 – MELO, G. T. PEREIRA DE – A música no Brasil desde os tempos coloniais até o primeiro decênio da República – Bahia – 1908.

48 – QUERINO, MANUEL RAIMUNDO – Artistas baianos – Rio – 1909.

49 – VIEIRA, HERMES – O romance de Carlos Gomes – São Paulo – 1936.

50 – RUBENS, CARLOS – Anderson (pai da pintura paraense) – S. Paulo – s.d.


Escrito por Nelson Werneck Sodré


Do Livro O que se deve ler para conhecer o Brasil? Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 1967.



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