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"Impressões de uma viagem à URSS"



Em maio de 1938, Alfonso Rodriguez Castelao, deputado da Frente Popular em 1936 e símbolo do nacionalismo galego, esteve na União Soviética em uma visita de 26 dias. Aqui podemos ler uma carta de Castelao enviada ao seu grande amigo Rodolfo Prada, no dia 27 de maio de 1938, onde descreve suas impressões sobre o país no qual “está gerando uma nova vida que deverá ser o molde para os demais povos do mundo”. O documento que vamos transcrever a continuação é uma entrevista pouco convencional (melhor dizendo, um texto redigido pelo entrevistado) que Castelao concedeu ao periódico “Nova Galiza” no dia 12 de junho de 1938, dias após regressar da URSS.


Impressões de Uma Viagem à URSS


Nosso compatriota, Alfonso R. Castelao, um genial cartunista antifascista e deputado da Frente Popular, fala para a “Nova Galiza” em razão de sua recente viagem à União Soviética.


No volume anterior de a “Nova Galiza” demos conta sucinta do retorno da delegação À Espanha que, por motivo das Celebrações de Primeiro de Maio, visitou o grande país soviético e conviveu com os camaradas da URSS durante vinte e seis dias.


Com essa delegação, foi a URSS nosso distinto compatriota Alfonso R. Castelao, com o o qual recolhemos uma rápida impressão de sua viagem no momento de sua chegada à Barcelona antes de sair do ônibus que o transportou de Port-Bou, e que publicamos em nosso volume da semana passada.


Logo – com mais calma – o visitamos em seu domicílio, onde ele nos falou extensamente – para a “Nova Galiza” - de múltiplos aspectos políticos, culturais e econômicos do grande país amigo.


O problema das nacionalidades – que segue sendo um problema em todos os países do mundo – foi resolvido de maneira definitiva e satisfatória na Rússia soviética. Castelao, autoridade indiscutível sobre o assunto, primordial para sua ocupação política, chega à Espanha maravilhado com a vida feliz dos trabalhadores soviéticos e do desenvolvimento progressivo das distintas nacionalidades que compõem a URSS.


Castelao, cartunista, escritor, profissional da educação, médico e deputado galego da Frente Popular, encontrou ali os motivos mais interessantes para um estudo detalhado e profundo, e deseja visitar novamente o grande país onde o socialismo está sendo construído.


Durante os dias que se passaram até sua chegada à Espanha, nosso distinto compatriota interveio em diversos atos organizados pelos Amigos da União Soviética; conferências públicas, parlamentos por rádio, recepções, visitas às autoridades, e teve que atender a numerosas entrevistas de diários e revistas; visitou quartéis, jornais, a Câmara Municipal de Barcelona, a Catalunha, etc., tendo sido oferecida a toda a delegação uma refeição na Embaixada da URSS, durante a qual nosso compatriota fez o uso da palavra, em galego.


Porém, suas manifestações mais íntimas, mais emotivas e mais transcendentais ele fez para a “Nova Galiza”, direcionado à todos nossos compatriotas da Espanha e da América, para que tenham uma informação ampla de sua viagem, na qual levou a representação espiritual de todos os galegos antifascistas.


Além da valiosa informação que escutamos durante mais de duas horas – e que publicamos de maneira resumida -, nos disse o grande cartunista galego que lhe foi destinada uma sala no Museu de Arte Ocidental Contemporânea de Moscou, o qual é um dos melhores do mundo.


Por outra parte, as atenções recebidas do povo soviético têm sido constantes e de um valor inestimável, as Edições de Arte “Iskusstvo” irão publicar em breve mais desenhos inéditos sobre nossa guerra de independência, e os Sindicatos soviéticos o fizeram reconhecer pelo grande sábio oculista Abervach.


Eis aqui a continuação da síntese do que o deputado galego nos revelou sobre as impressões que teve em sua recente viagem.


O que Castelao nos disse


A Viagem


Ao sair da Espanha e ao chegar na França e Inglaterra, tive a primeira impressão desagradável. Me deparei com colarinhos com gravatas borboleta e chapéus com formato de cogumelo, o que não tinha visto há tempo.


Ao embarcar no navio soviético que nos conduzia para a URSS, sentimos uma sensação de alegria por estarmos em território amigo. No entanto, teríamos que atravessar o canal de Kiel e isso nos causou um pequeno mal-estar, pois teríamos que atravessar a Alemanha. Ao ver os “teutões” no cais de Kiel, me pareceram esverdeados, antipáticos, odiosos. Logo, fomos para o Báltico, que nos deu a impressão de um mar amistoso, mesmo que distante e desconhecido. O Golfo da Finlândia nos ofereceu um espetáculo magnífico pois estava gelado e, por fim, chegamos à tarde em Leningrado. Antes de desembarcar, ouvimos uma música de longe, que vinha de uma banda cujos músicos paravam de vez em quando e de repente, todos começavam a cantar. Eram canções georgianas muito belas, lembravam as canções galegas.


Leningrado


Ao desembarcar, houve uma comissão no mesmo cais de Leningrado. Me pareceu que estava em Galiza, pois as pessoas tem uma notável semelhança com os galegos. Os meninos mais ainda: de cabelos ruivos, que vão escurecendo na medida que vão ficando maiores; olhos azuis, maçãs do rosto salientes, rostos bondosos. No geral, tive a sensação que falava em um comício de alguma vila galega. Quando chegamos em Leningrado, fomos recebidos com uma marcha; uma parte dos músicos tocava e outra, cantava. Era uma canção que Stalin gostava e que é cantada por toda a URSS. Inclusive, foi tocada pelas quarenta bandas na Praça Vermelha durante o desfile militar. Essas são minhas primeiras e rápidas impressões, sem grande profundidade.


A Chegada em Moscou


Quando chegamos em Moscou, descobrimos que nos prepararam um hotel magnífico, sem luxo supérfluo, mas com uma riqueza real, pelo material empregado. Uma coisa que me surpreendeu neste hotel é que sobre a pia havia um pacote de escova e pasta de dentes, tudo minuciosamente esterilizado, pois é uma preocupação da União Soviética que todos limpem seus dentes.


As Fábricas


No dia seguinte após a chegada, fomos visitar uma fábrica que conta com 40.000 trabalhadores e uma população de 100.000. Pela noite, participamos de uma festa que nos ofereceram no clube da fábrica. Foi um espetáculo verdadeiramente extraordinário. Os mesmos trabalhadores da fábrica eram os artistas; formavam dez coros e cantavam canções dos diversos países da URSS. Muitas canções, danças. Também cantaram coro de crianças, grandes coros de massas, dirigidos por crianças e, por último, os estudantes de engenharia da mesma fábrica nos fizeram ouvir sua “banda de jazz”, quer dizer, sua música matemática.


1° De Maio


Na véspera do 1° de Maio nos avisaram que sairíamos cedo do hotel, que o desfile seria grande e, portanto, deveríamos ir preparados. A Delegação espanhola durante o trajeto foi ovacionada de forma clamorosa. Na Praça Vermelha nos designaram uma tribuna à direita do mausoléu de Lenin. O desfile foi algo realmente espantoso. O que mais me impressionou foram os regimentos de Honra, cujos soldados levavam a baioneta tocando as costas de quem ia na frente, em forma de lança. Vimos máquinas de guerra magníficas. Um tanque passou pela Praça Vermelha na velocidade de um automóvel e parecia um navio de guerra pelos seus canhões e por sua forma. Depois, uma estrela formada por aviões cercou o céu, uns setecentos, ou talvez até mais. O desfile me causou um entusiasmo delirante e, não posso negar, um pouco de tristeza, não porque eu não compreenda a necessidade deste enorme Exército e eu me alegro e desejo que se superem cada dia mais; porém, é inegável que é um pouco triste que um Estado que está em construção, que está realizando um esforço realmente gigantesco, tenha a necessidade de empregar parte de suas energias na organização da defesa de seu país contra o egoísmo alheio. Seria maravilhoso se não tivessem de manter tal defesa e que se dedicassem com tranquilidade absoluta no desenvolvimento de criações culturais, econômicas e sociais. O povo da URSS mostra-se seguro que não correm nenhum risco e me deram a sensação que é o único país da Europa que está em paz.


Ao terminar o desfile militar, começou o desfile do povo, que durou desde as dez da manhã até as cinco da tarde. Pode-se calcular que um milhão de pessoas desfilaram pela Praça Vermelha. Todo o povo fez da Delegação Espanhola o objeto de suas preferências – mais ainda de sua atenção exclusiva – pois nos homenagearam e dispensaram as demais delegações. Se uma representação chinesa tivesse comparecido, teríamos compartilhado as ovações, mas como ela estava ausente, a Espanha foi o objeto exclusivo desta apoteose popular. O povo soviético passou em frente à nossa tribuna saudando o povo espanhol e provando que todos os trabalhadores soviéticos acompanham a luta espanhola com grande interesse e atenção, pois deram vivas aos nossos dirigentes e chefes militares: a Miaja, "La Pasionaria", ao Dr. Negrin.


Fixei meu olhar principalmente nos rostos que passaram diante de nós e notei várias coisas: o aspecto do bem-estar, físico e moral, de todos os cidadãos e o carinho com que os pais levaram os seus filhos a este magnífico desfile: eles os colocaram em seus ombros ou em seus braços com um carinho extraordinário.


Em seguida, grupos de homens e mulheres desfilaram vestindo trajes nacionais e dançando danças típicas. Outros passaram carregando faixas, retratos e até estátuas de Stalin e Lenin. Olhei as pessoas para ver se estavam bem nutridas e verifiquei que todas têm rosto saudável, rostos felizes, rostos gordinhos, que expressavam uma satisfação interior e, principalmente, que estavam bem alimentadas. Os ternos não eram elegantes, era óbvio que eram feitos em série, "do bazar", mas não vi ninguém vestido miseravelmente; eles estavam todos no mesmo nível, confortavelmente vestidos.


O processo industrial


Visitamos várias fábricas, entre elas a "Stalin", uma fábrica automotiva, e uma de calçados. Claro, o progresso da URSS não pode ser compreendido sem o antecedente da América do Norte. O sistema de fabricação é em série e pelo método em cadeia. Esse trabalho é feito com a rapidez exigida pelas necessidades. Os trabalhadores trabalham com muito conforto: sete horas por dia e depois descansam nos clubes, o que me deixou maravilhado. Os magníficos clubes onde o trabalhador pode descansar e desfrutar de mostras de arte e nos quais encontra ao seu alcance meios para estudar e, consequentemente, melhorar as suas condições e se elevar.


O trabalho em linha de montagem desde já garante a produção, porque sabe-se de antemão que "tantos" automóveis e "tantos" pares de calçados vão ser produzidos, e naturalmente se empregam os trabalhadores necessários para produzir em uma determinada velocidade. Me parece que a linha de montagem é um procedimento necessário e não tenho nada contra ela, porque é a única que garante uma produção regular e ordenada. Confesso que fiquei impressionado com o filme “Tempos Modernos” de Chaplin, e só entendo o ridículo da linha de montagem em um regime capitalista que explora o trabalhador.



As creches


Depois de visitar várias fábricas, vimos as creches, nas quais as crianças são cuidadas de um modo verdadeiramente científico. Nessas creches não podíamos entrar com roupa de rua, pois era necessário colocar blusas esterilizadas na autoclave. Até me pareceu que as crianças eram bem gordas, parecendo bolas de manteiga.


O pessoal de saúde que atende as crianças estão magnificamente preparados: três ou quatro médicos estão constantemente de plantão.


Assim, o trabalhador comum, sem ambição, sem aspiração de melhoria, do tipo que existe em todos os países - na URSS menos do que em qualquer - este trabalhador comum, que se limita ao seu salário, sem outras aspirações, pode viver, apesar tudo, com grande alívio, já que seus filhos estão muitíssimos bem cuidados. A mãe pode sair da fábrica para amamentar e à noite ela pega o filho para levá-lo para casa.


O stakhanovismo


Uma família com dois salários pode viver muito bem; tem um dia de descanso a cada seis meses e um mês a cada ano. Mas o trabalhador que tem ambição nobre, não se contenta com o salário mínimo, quer dirigir e ser útil à sociedade e se tornar um stakhanovista, ganhando até cinco vezes mais do que o trabalhador comum, e pode dar um conforto em sua casa que o trabalhador comum, naturalmente, não tem.


Para se ter uma ideia e economizar tempo, posso citar as palavras que ouvimos de um trabalhador stakhanovista em uma fábrica de tratores em Rostov. Este camarada de estatura hercúlea e mãos fortes, com um rosto simpático de boa pessoa, satisfeito com a vida, disse: “Quando nasci éramos sete irmãos. Meu pai só poderia ter um par de sapatos para seus sete filhos. Mais tarde, devido à organização soviética - após a Revolução - fui trabalhar nesta fábrica e, levantando-me pela minha força física, tornei-me um trabalhador stakhanovista. Hoje tenho nove pares de sapatos para mim e oito ternos. Minha esposa tem trinta vestidos e quinze pares de sapatos. Tenho uma filha que é aficionada por música e comprei um piano para ela. O comissário da indústria pesada me presenteou com um carro. Além disso, como tenho direito a descansar em um spa, mesmo a última vez que fui descansar coincidi com o camarada Stalin no sanatório e eu, que sou um simples trabalhador, tive a honra de apertar a mão do camarada Stalin e conviver com ele”.


Não há razão para dizer que na URSS a ambição de um operário não basta para se tornar um Stakhanovista, porque ninguém pode trabalhar mais do que sua força física e intelectual lhe permite, pois para realizar uma tarefa extraordinária é preciso ser reconhecido por médicos especialistas para ver se isso pode ser feito sem prejuízo para o indivíduo.


A seleção de valores


Na URSS, a seleção das crianças começa desde o momento em que nascem. Nessas mesmas creches, sabe-se se uma criança é mais forte que outra, se esta é mais inteligente que aquela, e o "valor" de cada criança começa a ser conhecido a partir dos dois anos. A seleção agora é mais fácil nas escolas porque as crianças são submetidas a testes intelectuais e físicos. Mais tarde nos Centros Pioneiros é onde se determinam a vocação e as aptidões.


Também há seleção de valores em oficinas, fábricas e clubes para adultos. Ora, essa operação realizada em um país de 170 milhões de habitantes sem dúvida resultará na formação de uma elite de pessoas que garantirá a hegemonia da URSS no mundo.


Os palácios de pioneiros


Os palácios de pioneiros são dirigidos por técnicos. Lá são produzidos carros de pequeno porte que não apenas ensinam os engenheiros a construí-los, mas também dão aulas teóricas. Aviões e ferrovias são construídos; o trabalho é feito em oficinas mecânicas com todos os elementos essenciais; rádios são construídos, é claro, sempre estudando teoria; são dadas aulas de pintura, escultura, canto, dança, etc., de tal forma que uma criança que entra em um palácio de pioneiros encontra uma facilidade extraordinária para determinar imediatamente qual é sua vocação e saber exatamente se uma criança pode ser um dançarino ou engenheiro.


A atenção sanitária


Não posso dizer se os sentimentos universais de natureza humanitária de que todos têm de salvar os fisicamente débeis, os afetados por doenças naturais ou adquiridas, estão mais despertos na URSS do que nos países capitalistas progressistas, porque a verdade deve ser dita: não vi doentes na URSS e, portanto, não posso dizer se os sentimentos humanitários são mais desenvolvidos do que em outros países; mas eu vi a extraordinária bondade do povo soviético e acredito que esse sentimento será superado neles. O que me admirou muito na URSS é que se toma muito cuidado para fortalecer os fortes, coisa que não se faz em nenhum país capitalista e, além disso, para conservar suas forças, de forma que quando um homem forte, física ou intelectualmente, vê suas energias esgotadas, este companheiro descansa o tempo necessário para se recuperar.


Casas de repouso


Vimos os grandes Sanatórios e Casas de Repouso da Crimeia, que são uma obra admirável. Não creio que nenhum milionário norte-americano possa descansar melhor do que um trabalhador da URSS. Os palácios que os sindicatos soviéticos levantaram são um verdadeiro espanto. Fiquei num verdadeiramente magnífico: o dos funcionários do Banco. Não são luxuosos pois não têm coisas supérfluas; mas, por outro lado, são muito ricos pelos materiais utilizados, que são algo maravilhosos e extraordinários. A vida nesses sanatórios é algo encantador por sua alegria saudável. Antes de comer, eles dançam um pouco. A dança é um exercício agradável que é feito sob a direção de uma atleta dançarina, que aponta vários passos de dança para serem repetidos todos ao mesmo tempo. A dança que se realiza é quase sempre algo cômico e quando as pessoas marcham para a sala de jantar riem com grande otimismo pelos corredores, após este pequeno exercício que tem produzido uma saudável alegria. Nada de dançar agarrados, é claro.


A conquista da felicidade


A URSS é o país do mundo onde o homem sente o maior incentivo para se elevar.


Em um país capitalista, nos Estados Unidos, por exemplo, não há dúvida de que com o liberalismo econômico um homem pode surgir do nada e se tornar um milionário, mas não acredito que um milionário possa ser feliz. Para se tornar um milionário é preciso lutar com os homens - contra os homens - e essa luta produz ressentimentos, mágoas, desconfianças. Você tem que explorar os outros colegas. Uma vez milionário, viverá em constante medo porque tem medo dos outros homens, tem medo de perder tudo o que adquiriu.


Esse contraste oferecido por um homem da URSS e dos Estados Unidos é muito interessante. Na URSS, onde não há liberalismo econômico, o homem pode subir não à categoria de milionário, mas à categoria de homem feliz, sem ter lutado contra seus colegas e companheiros de trabalho, sem medo de ninguém, satisfeito com ter produzido bem; e quando obtém uma vantagem, fica satisfeito e contente, porque não pode se preocupar em perder o que conquistou ou em roubá-lo de quem quer que seja. Ele nem mesmo sofrerá pela vida de seus filhos que têm o presente e o futuro assegurados. De qualquer forma, a diferença é esta: em um país capitalista organizado sob um regime de liberalismo econômico você tem a chance de se tornar um milionário, na URSS você pode se tornar um homem feliz.


O estímulo do trabalho


Na URSS, é claro, existem categorias. Nos trens, há primeira, segunda e terceira classe. Você viaja de acordo com o dinheiro que tem, ou seja, de acordo com o dinheiro que ganhou, porque na URSS você é pago pela quantidade e pela qualidade do trabalho que faz.


O stakhanovismo me parece um meio admirável de garantir a produção, evitando assim qualquer demora, sabotagem ou resistência passiva aos slogans e que garante que estes sejam sempre cumpridos antes do prazo indicado.


A arte


Uma das coisas que devo apontar é esta: a produção em massa, ou então, em todos os países capitalistas estende-se a todos os tipos de objetos, até mesmo ornamentos, o que é precisamente o que torna a produção em massa desagradável. Não há dúvida de que ninguém pode discordar do progresso da produção em massa da fabricação de sapatos. Agora, o que um artista não pode concordar é a produção em massa de obras artísticas.


Na União Soviética, a produção em massa para em objetos puramente utilitários. Posso apontar um fato e uma causa. A URSS também passou seu período infantil da arte. Os edifícios foram quase todos construídos no "tipo moderno", imitando a simplicidade das construções puramente utilitárias dos Estados Unidos ou Alemanha. Atualmente, todo esse processo está abandonado e um sentido que poderíamos chamar de "clássico" domina na URSS.


Na Rússia, certas artes não estavam ainda plenamente desenvolvidas, por exemplo a arquitetura que sempre viveu das criações alheias, mas os arquitetos da URSS estão fazendo construções cheias de beleza e sinceridade e, por enquanto, têm a preocupação essencial de utilizar materiais nobres nas construções que realizam. Portanto, não é surpreendente que alguns homens desavisados ​​digam que na URSS a alvenaria é subdesenvolvida. O mesmo acontece com a Catedral de León, onde não havia pedreiros. Na URSS usam-se pedras, mármores, jaspe e granito.


O “Grande Metrô” de Moscou


Agora, irei falar sobre o “Grande Metrô” de Moscou. O metrô é uma obra de carácter puramente utilitário, ao serviço do povo, e a URSS construiu o melhor metrô do mundo. Não posso saber se esta obra, como uma construção da engenharia, é extraordinária, porque careço de conhecimentos técnicos para o dizer, mas deve ser extraordinária, porque o metrô de Moscou não cheira a metrô, aquele cheiro característico que todos metrôs do mundo têm, uma mistura de umidade e “salsa”. Na URSS o "Metro" não cheira a nada, o que mostra que existe um sistema de ventilação que não tinha sido utilizado antes. Porém, este metrô não é uma obra puramente utilitária. Cada estação é um verdadeiro palácio subterrâneo e, para escapar da padronização das construções utilitárias, a construção das estações foi encomendada a diferentes arquitetos. Cada estação é dirigida, é planejada por um arquiteto, em rivalidade com outras, para ver quem faz uma obra artística de maior valor e durabilidade - e acredito que as estações de Moscou podem resistir ao teste dos séculos. Se essas estações saíssem do subsolo para a superfície, seriam suficientes para comprovar a riqueza de uma grande cidade. Numa das estações existem, seguramente, quarenta ou cinquenta grupos escultóricos, alguns dos quais ainda não acabados, visto que ainda se podem ver os modelos de gesso. Por outro lado, o sistema de iluminação é magnífico. Este trabalho maravilhoso seria impossível de fazer em um país capitalista, pois seria antieconômico para a empresa e poderia levar à uma verdadeira ruína. O estado também tampouco poderia fazê-lo.


As nacionalidades


E agora vamos falar sobre o problema das nacionalidades. Este problema está completamente resolvido - já não é mais um problema. Fez-se uma federação das onze nacionalidades que compõem a URSS, porque convém saber que só existem onze nacionalidades, onze grupos em que coincidem os quatro atributos que Stalin aponta e que todos os quatro devem ser dados ao mesmo tempo: idioma, território, problemas culturais e problemas econômicos. Logo, vem uma infinidade de povos da URSS: alguns que têm uma língua, outros territórios, outros problemas econômicos ou culturais, mas que não têm todos os quatro atributos ao mesmo tempo e, portanto, são repúblicas autônomas, regiões autônomas ou territórios autônomos.


Na URSS, o Estado se estruturou de acordo com realidades vivas e permanentes, como deveria ter acontecido na Espanha se não persistisse com a mania de fechar os olhos para as realidades. Na URSS, cada república tem plena autonomia e total liberdade, o que não impede a existência de uma unidade na URSS. A unidade é dada pelo Partido Comunista, na União Soviética não há nacionalidade oprimida.


Além disso, na URSS a solução para este problema garante todos os sucessos dos planos. Tudo se estrutura de acordo com as realidades vivas, e sobre essa base pode se realizar todos os planos econômicos e sociais. Esta é uma questão verdadeiramente importante que a Espanha não pôde ou não quis considerar devidamente, porque uns acreditam que não existe, outros que não tem importância, outros que pode ser adiada e outros que pode e deve afogar-se. Bloquear uma nacionalidade é colocar obstáculos explosivos.


Lenin


Acredito que aquele carro blindado que conduziu Lenin de Genebra à URSS não levava apenas um gênio, um homem extraordinário, um pai da humanidade, nela ia também um plano concebido no exílio por um operário de enorme capacidade que consultou todas as "bíblias" místicas e econômicas.


As indústrias pesadas


Desde o primeiro momento, ter resolvido o problema das nacionalidades facilitou a construção socialista.


A visão justa de futuro que Stalin tem permite compreender o caso extraordinário de se ter dado preferência à criação de indústrias pesadas, antes de dar manteiga e ternos ao povo, pois só com a criação de indústrias pesadas se pode dar manteiga e ternos mais tarde.


Tudo me faz crer que esse culto, essa veneração que o povo tem por seus grandes homens, não é um culto supersticioso e banal, criado, dirigido e mantido por interesse de apenas um partido. Não; é a gratidão, a admiração que um povo redimido sente pela sua pátria, pelos homens que sem serem deuses conquistaram a felicidade do povo, que deixaram de acreditar que este mundo é "um vale de lágrimas". Este, sim, é um verdadeiro milagre: o de ter alcançado a felicidade de um povo, porque o povo soviético é um povo feliz e se ainda não o é totalmente, sabe quando o será, tem a certeza que terá a felicidade completa.


O molde para o mundo


Agora é conveniente para mim fazer um pequeno esclarecimento. Eu não sou comunista. Não sei se tenho condições de ser. Não sei, se pesam sobre meus preconceitos adquiridos na infância e na leitura de livros venenosos. Porém, me considerando um modesto republicano, posso afirmar que tenho um espírito aberto, disposto a tudo sem pedir nada, e que em minha viagem à URSS adquiri a convicção de que ali está se engendrando uma nova vida que terá de ser o molde dos demais povos do mundo. E disso não tenho absolutamente nenhuma dúvida. Se a experiência soviética tivesse falhado, sempre deveríamos ser gratos a um povo que faz experimentos em sua própria carne, não na carne dos outros. Se a experiência tivesse falhado, seria sempre motivo de admiração e gratidão de todos os homens para com o povo soviético que tão generosamente se entregou para fazer esta experiência. Mas se a experiência triunfa como triunfou, então com a gratidão devemos adicionar admiração e submissão a alguns princípios que são os únicos que podem salvar o mundo.


Ao voltar da URSS e passando por Londres e país, notei que viveria de forma muito mais confortável na Rússia Soviética.


Texto publicado em espanhol no site Cultura Proletária

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