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"A Revolução Cubana é de uma só geração de revolucionários"


As campanhas inimigas tentam, maliciosamente, instalar na opinião pública, através dos meios de comunicação hegemônicos e do trabalho divisionista em relação aos setores da sociedade cubana que são vulneráveis a eles, que as novas gerações de cubanos vão reverter a construção do socialismo. Alguns teóricos da Revolução Cubana, inclusive alguns amigos, se questionam, talvez pensando na ruína do socialismo no Leste Europeu, principalmente na ex-URSS, se Cuba seguirá o mesmo caminho.

Alguns dados para nos situarmos demograficamente em Cuba: a população com 65 anos ou mais corresponde a 11,6% do total, o que faz com que Cuba seja o segundo país mais envelhecido da América Latina. Por sua vez, ao longo das décadas, houve um declínio progressivo da população entre 0 e 14 anos de idade, representando 18,2%. Apenas 16% da população está na faixa etária dos 15-40 anos. Estudos recentes confirmam que, até 2025, a ilha será o país mais envelhecido da região e um dos 25 mais envelhecidos do mundo. Na região, Cuba mantém uma transição demográfica avançada, caracterizada por populações com taxas de natalidade e mortalidade moderadas ou baixas, o que se traduz num baixo crescimento natural, na ordem de 1%, embora o crescimento total da população cubana seja ainda mais baixo.

Do ponto de vista político, a chamada ruptura entre gerações foi analisada em mais de uma ocasião por Fidel, que resumiu que, ao se falar Revolução, se falará de uma só geração:

A partir de agora não se falará da geração dos 30 ou da geração dos 60 ou dos 50; quando, no futuro, falarem desta obra revolucionária, se falará de uma única geração, porque neste minuto histórico todas as gerações se uniram, neste minuto histórico somos uma única geração em posição de batalha, todos nós obrigados a colocar o nosso esforço, todos nós obrigados a fazer o que está ao nosso alcance, obrigados a lutar

Já em 23 de junho de 1960, numa cerimônia com os membros do Diretório Estudantil, Fidel disse que colhemos os frutos do esforço realizado por todas as gerações anteriores, desde aquela que em meados do século XIX iniciou a luta por um destino próprio para a nossa terra, dos primeiros que começaram a semear a consciência, dos primeiros que começaram a criar um espírito nacional, a criar uma tradição nacional:

"Desde os primeiros que tiveram de morrer diante dos pelotões de fuzilamento de Espanha, seguidos por aqueles que iniciaram as primeiras lutas pela Independência em 1868, os que mais tarde continuaram e completaram essa tarefa, seguidos por aqueles que, nos anos da República - se quisermos chamar de alguma forma aquela etapa que se seguiu ao fim da guerra de Independência e à intervenção estadunidense - lutaram e se sacrificaram para completar o trabalho que as figuras mais elevadas e heroicas do nosso povo realizaram durante um século".

E ele prossegue: "é preciso levar em conta que fomos enormemente influenciados pela luta da geração de 20, desde [Julio Antonio] Mella até [Antonio] Guiteras: de que foi sempre para nós uma fonte de inspiração aquele papel que a juventude de 30 desempenhou na luta pela libertação nacional, na luta pela liberdade e direitos do nosso povo".

Nesse discurso, Fidel recordava:

"Nós dissemos muitas vezes que não nos consideramos os inventores desta vitória, repetimos em diversas ocasiões que ter chegado a esta etapa atual é o resultado de uma luta que dura mais de um século; que nós, em todo caso, fomos os afortunados que tiveram a oportunidade ver triunfar, de ver totalmente livre e soberana a nossa pátria, mas que isso não se deve nem mais nem menos ao esforço da nossa geração" (...)

É natural que os homens tenham que lutar, é natural que (…) sejam promovidas disparidades de critérios e divergências, e esta é a explicação daquelas lutas que antes nos dividiam. E, além disso, outra razão: existia a estratégia de nos dividirmos. Uma série de questões que não eram nossas nos dividiam; nos dividiam uma série de circunstâncias promovidas por interesses alheios aos nossos; e hoje, no entanto, estamos unidos por um motivo muito poderoso: hoje, no entanto, estamos unidos por algo que é vital para todos, decisivo para nosso povo e nossa pátria

"Isto é, que nos dividíamos pelas questões de menor importância, nenhuma das quais pode ser comparada com as causas que nos unem agora, além disso, esta Revolução encarnou as aspirações demasiado profundas e demasiado longas, encarnou anseios que vêm de de muito antes, que estruturou o sentimento e a aspiração de justiça do nosso povo”.

Em Cuba, ao longo da história da nação, houve um forte protagonismo da juventude em todos os processos sociais e um traço distintivo da participação dos jovens, especialmente dos estudantes, foi uma forte imbricação com outros atores sociais para conquistar as metas gerais e não aquelas circunscritas a interesses setoriais, corporativistas ou geracionais, ainda que esses estivessem presentes.

Um traço característico da Revolução foi fazer com que cada decisão importante da Ilha partisse de um debate coletivo e da participação massiva da população e dos jovens. Seu papel relevante a partir do triunfo da Revolução em múltiplas tarefas produtivas, culturais e de defesa vital para o país, transformou os jovens em um segmento estratégico para o desenvolvimento nacional.

A juventude potencializou sua participação social e política a partir de uma forte inserção social, resultante das novas condições criadas para o acesso à educação, em todos os níveis, e ao trabalho. Durante mais de 60 anos, os jovens cubanos sempre estiveram à frente, uma e outra vez, em diversas missões de apoio à Revolução. O desenvolvimento da ciência cubana foi o grande desafio que a Revolução precisou assumir após seu triunfo de 1 de janeiro de 1959, e esta missão teria sido impossível sem a participação ativa dos jovens.

Não foi uma exceção. Agora, os mais jovens estão presentes no enfrentamento à pandemia de covid-19: mais de 41 mil estudantes de Ciências Médicas se somaram à pesquisa ativa, com muita seriedade, e foram acolhidos pelas famílias. Outros se voltaram à produção de alimentos, à safra açucareira, ao trabalho nos centros de elaboração de alimentos, no apoio à construção de casas, às farmácias e ao sistema de atenção à família, em tarefas como a distribuição de medicamentos e de alimentos a idosos e outros grupos de risco. Os jovens estiveram presentes em todas as barreiras de contenção dos lugares onde o isolamento foi decretado e, junto com os Comitês de Defesa da Revolução, realizaram diversas ações de doação de sangue em quase toda a província, em um gesto de humanismo e solidariedade.

A maioria desses jovens integram as 26 brigas médicas que ajudam no enfrentamento à pandemia de covid-19 em 24 países, como exemplo do internacionalismo e da solidariedade em nome de uma causa, que é a vida.

No entanto, eles cresceram em um mundo complexo e desigual; em um país bloqueado, com dificuldades econômicas e assediado por uma das maiores e mais longas campanhas de desinformação e manipulação que a História da humanidade conheceu, com o objetivo declarado de confundir, subverter e apresentar o bom como mau e vice-versa; sem descartar, além disso, nossos próprios erros e imperfeições.

Especialistas no tema geracional coincidem em apontar que as gerações de jovens sempre buscam espaços diferentes, projetos de vida correspondentes ao seu momento histórico. Nossa realidade nos convence de que tampouco o farão à margem das outras gerações. O então presidente Raul Castro, em seu discurso na Assembleia Nacional, em dezembro de 2010, disse que sua geração tem a responsabilidade de resolver um conjunto de problemas, mas as novas gerações também deverão deixar sua marca nesse projeto.

Socialmente, a partir das instituições mais formais ou estatais e até mesmo nas mais cotidianas, como a família, foi introjetada uma concepção muito paternalista do tratamento à juventude. Muitos pais dizem: “eu não quero que meus filhos passem pelas mesmas coisas que eu”. Mas, com esses bons desejos, às vezes cortam suas asas. Ao invés de propiciar que busquem seus próprios caminhos – que tropecem, se levantem, sigam adiante por si mesmos – lhes dizemos como fazer e isso diminui seu entusiasmo, porque não tiveram que imaginar nada.

Sem dúvida, os desafios que a sociedade cubana enfrenta em termos de participação e integração social da juventude coincide em muitos pontos com os desafios que, em geral, a humanidade enfrenta e, em particular, a região latino-americana, onde estamos inseridos. A isso, soma-se os problemas que derivam dos ataques aos quais somos submetidos pela decisão de construir um modelo alternativo ao capitalismo. No entanto, nossa juventude conta com um conjunto de vantagens acumuladas na construção socialista que formou uma cultura política na população e uma coesão nacional em torno de valores básicos, como a soberania, a justiça social e o respeito à dignidade.

Esse capital de ideias e fatos cultivados historicamente por nossos líderes e desenvolvidos nas lutas constantes pela Independência e justiça nacional constituem um compromisso e estímulo para assegurar a continuidade.

Cuba é o único país latino-americano sem desnutrição infantil, sem problemas por tráfico de drogas, com a expectativa de vida mais alta da América Latina, com uma escolarização de cem por cento, e sem nenhuma criança morando na rua. No contexto latino-americano, Cuba conta com a maior taxa de alfabetização, expectativa de vida e atenção médica). O Estado garante a previdência plena. Não existem quadrilhas de narcotráfico nem zonas controladas por marginais fora da lei. Desta forma, para além dos indicadores macro que atestam as conquistas, a experiência cubana demonstra que, em cenários adversos e desfavoráveis, é possível construir caminhos que levem à justiça social.

Agora devemos seguir aprofundando as raízes do nosso anti-imperialismo, trabalhando para aproximar as crianças, adolescentes e jovens da história da nossa pátria – essa pequena pátria em termos de localização – e consolidando os espaços abertos à reflexão e ao diálogo.

A Internet, as redes sociais, o próprio acesso e uso, de forma massiva, das tecnologias da informação e das comunicação colocam novos desafios na ordem ideológica que não ignoramos. Tampouco tememos o trabalho subversivo dos inimigos da Revolução, que tomam nossos jovens como principal alvo. Enfrentamos isso com inteligência e segurança.

Uma jornalista cubana escreveu no portal Cuba Ahora que, em 19 de abril de 2018, Cuba ganhou um novo presidente. Os meios de comunicação de direita disseram exatamente “um novo presidente sem o sobrenome Castro”. E isso deu água na boca de uns tantos. Teve quem armasse uma festa, preparando as malas e fazendo apostas para ver quanto tempo passava até que o barco mudasse seu rumo. Levavam décadas esperando o momento.

Nesse dia, Miguel Díaz-Canel Bermúdez – o engenheiro eletrônico de 58 anos, nascido em Santa Clara, que tinha sido primeiro vice-presidente, vice-presidente do Conselho de Ministros, professor titular de Educação Superior, primeiro secretário do partido em Holguín e, antes, em Villa Clara – assumiu como Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros da República de Cuba. Vestia um terno preto e uma gravata vermelha. À primeira vista já era possível notar sua emoção. Não era preciso estar próximo do pódio do Palácio das Convenções para sentir um coração a ponto de explodir de emoção.

“Somos continuidade” não é uma frase lançada ao léu; ou, como dizem em tempos de redes sociais, um rótulo vazio. Nela está a essência de um governo renovado que se levanta sobre o sangue de seus heróis; que se declara filho de uma Revolução, que não rompe com seus guerrilheiros, que não entende de rupturas geracionais e que aposta no exercício de uma direção coletiva que não se coloque nunca acima do seu povo.

Foi o que disse Díaz-Canel, com todas as letras, há dois anos:

“A Revolução Cubana segue de verde oliva, disposta a todos os combates”. Aí está sua continuidade.

por Antonio Mata Salas é Cônsul de Imprensa no Consulado Geral de Cuba, em São Paulo.

Coluna do jornal Brasil de Fato

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