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Zhdanov: "As tarefas da literatura na sociedade"


Transparece claramente na resolução do Comitê Central que o erro mais grosseiro da revista "Zviezda" foi ter posto suas páginas à disposição de Zostchenko e Akhmatova para a publicação de suas "criações" literárias. Creio que não é necessário citar aqui a obra de Zostchenko, "As aventuras de um macaco". Provavelmente todos vós a lestes e a conheceis melhor do que eu. Essa obra visa — tal é sua significação — apresentar os homens soviéticos como vagabundos e monstros, como pessoas estúpidas e primitivas. O trabalho dos homens soviéticos, seus esforços e seu heroísmo, suas altas qualidades sociais e morais, não interessam absolutamente a Zostchenko. Este tema está sempre ausente de suas obras. Pequeno burguês e vulgar, escolheu ele como tema a análise dos aspectos mais baixos e mesquinhos da vida. Essa análise dos fatos insignificantes da vida não é fortuita. É familiar a todos escritores burgueses, vulgares, aos quais também pertence Zostchenko. Gorki falou muito sobre eles em sua época; deveis lembrar como no Congresso dos Escritores Soviéticos, realizado em 1934, Gorki estigmatizou os "literatos", se assim posso dizer, que não enxergam além da fuligem da cozinha.

"As aventuras de um macaco" não sai do quadro habitual dos trabalhos de Zostchenko. Essa novela só chamou atenção da crítica porque é o exemplo mais surpreendente de tudo quanto existe de negativo em sua obra literária. Sabe-se que quando voltou a Leningrado, depois de sua evacuação, Zostchenko escreveu vários trabalhos que se caracterizam por sua incapacidade em encontrar na vida soviética um único elemento positivo, um único tipo positivo. Como n'"As aventuras de um macaco", Zostchenko está habituado a zombar das massas soviéticas, das instituições, dos cidadãos soviéticos, disfarçando essa ironia sob uma máscara de brincadeira vazia e de espírito inútil.

Se lerdes mais atentamente e se meditardes sobre essa novela em questão, vereis que Zostchenko atribuí ao macaco o papel de juiz supremo de nossas instituições sociais, fazendo-o ministrar aos homens soviéticos uma espécie de curso de moral. O macaco é apresentado como um ser racional capaz de julgar a conduta dos homens. Zostchenko precisou apresentar uma imagem da vida dos homens soviéticos deliberadamente monstruosa, caricata e vulgar para pôr na boca do macaco uma frase pérfida e antissoviética, segundo a qual era melhor viver no Jardim Zoológico do que em liberdade, e que era mais fácil respirar na jaula do que entre os homens soviéticos.

Poder-se-á cair mais baixo, moral e politicamente, — e como puderam os habitantes de Leningrado aceitar tal perfídia? — uma sujeira dessas em suas revistas? Se a revista "Zviezda" oferece aos seus leitores obras desse gênero, como deve ser precária a vigilância dos que a dirigem para deixar que obras envenenadas com uma hostilidade bestial para com o regime soviético sejam publicadas. Só a escória da literatura pode produzir obras semelhantes e só cegos e apolíticos podem publicá-las. Diz-se que o conto de Zostchenko percorreu as ruas de Leningrado. Como deve estar enfraquecida a direção em Leningrado para que fatos semelhantes tenham podido ocorrer!

Zostchenko, com sua moral repugnante, soube introduzir-se numa grande revista de Leningrado e nela se instalar comodamente. Ora, a revista "Zviezda" é um órgão que deve educar nossa juventude. Mas uma revista que hospeda um escritor tão vulgar e tão pouco soviético como Zostchenko, estará à altura dessa tarefa? A redação da "Zviezda" então ignorava a feição de Zostchenko? Pois ainda recentemente, em princípios de 1944, a revista "Bolchevique" criticou violentamente uma revoltante novela de Zostchenko, "Antes do nascer do sol", publicada em plena guerra de libertação do povo soviético contra os invasores alemães. Nessa novela, Zostchenko esvazia sua alma pequena, vulgar e baixa, com deleitos, com glutoneria, desejoso de dizer a todos: "Vejam como sou canalha".

É difícil encontrar em nossa literatura algo mais repugnante do que a "moral" apresentada por Zostchenko em sua novela "Antes do nascer do sol"; nesta, retrata os homens soviéticos, e ele próprio, como animais horrendos e lúbricos, sem pudor e sem consciência. Ofereceu essa moral aos leitores soviéticos na ocasião em que nosso povo derramava seu sangue numa guerra penosa, sem precedente, quando a vida do Estado Soviético estava por um fio, quando o povo soviético fazia um sem-número de sacrifícios para derrotar os alemães. Enquanto isso, emboscado em Alma-Ata, absolutamente na retaguarda, Zostchenko nada fez para ajudar o povo soviético nessa ocasião, de guerra contra os invasores alemães. Por isso foi absolutamente justa a vergastada pública que esse escritor levou no "Bolchevique", considerado como um estranho à literatura soviética, como um vulgar libelista. Porém pouco lhe importava a opinião pública; tanto é que, dois anos depois, sem nem secar a tinta do artigo no "Bolchevique", volta triunfantemente a Leningrado e se agita livremente nas páginas das revistas da cidade. Não só a "Zviezda", mas também a revista "Leningrado" aceita de bom grado as suas colaborações. As salas dos teatros são postas graciosamente à sua disposição. Muito mais: dão-lhe a possibilidade de ocupar uma posição destacada na seção de Leningrado da União dos Escritores e de desempenhar papel ativo na vida literária da cidade. Por que razão permitir que Zostchenko percorra dessa maneira os jardins e os parques da literatura de Leningrado? Por que os ativistas de Leningrado, ou melhor, por que a organização dos escritores de Leningrado permitiu fatos tão vergonhosos?

Essa feição social, política e literária de Zostchenko, completamente podre e corrupta, já se definiu há algum tempo. Esses trabalhos não foram escritos por acaso; são a continuação de seu trabalho literário que remonta aos anos da década de 20. Quem era Zostchenko no passado? Era um dos organizadores do grupo literário denominado "Os irmãos Serapião". Qual feição social do escritor na referida época? Permitam-me retornar a revista "Anais literários", n. 3, de 1922, onde os fundadores publicam o seu "credo". Entre outras revelações, encontramos o "símbolo da fé" de Zostchenko, num opúsculo intitulado "Sobre mim e sobre mais alguma coisa". Neste escrito, o escritor em questão, sem a menor cerimônia, declara e exprime publicamente suas "opiniões" políticas e literárias. Vejam só o que ele diz:

"Em geral é difícil ser escritor. Tomemos a ideologia. Hoje exige-se uma ideologia do escritor. Que peso, francamente. Digam-me: qual ideologia exatamente eu posso ter, se nenhum partido, em seu conjunto, me atrai? Do ponto de vista dos homens de Partido, sou um homem sem princípios. De acordo com meu ponto de vista, diria a respeito de mim mesmo: não sou nem comunista, nem social-revolucionário, nem monarquista, mas simplesmente russo, e ainda por cima politicamente amoral. Palavra de honra, não sei até hoje, digamos, por exemplo, Gutchkov, a que partido pertence? Para o inferno com o Partido a que ele pertence. Sei que ele não é bolchevique, mas será social-revolucionário ou cadete? Não sei, nem quero saber, etc. etc."

Que achais, camaradas, dessa ideologia? Passaram-se 25 anos desde que Zostchenko publicou essa confissão. Mudou ele desde então? Não parece. Parece, na verdade, que nada aprendeu e não mudou; ao contrário, com franqueza cínica continua a ser o apologista da indiferença e da vulgaridade, um canalha literário sem princípio e sem consciência. Isto significa que as Instituições soviéticas, tanto hoje quanto ontem, desagradam a Zostchenko. Hoje, assim como ontem, ele é estranho e hostil à literatura soviética. Se, apesar de tudo, ele quase se tornou o Corifeu da literatura em Leningrado, só podemos nos espantar com o grau de indiferença daqueles que permitiram a sua asensão.

Permitam-me, ainda, citar outro fato que ilustra a feição dos "Irmãos Serapião", grupo que Zostchenko fazia parte. Neste mesmo número dos "Anais literários" de 1922, um outro Serapião, Lev Lounz, procura também imprimir um fundo ideológico à orientação nociva e estranha à literatura soviética, que representa o grupo em questão. Lounz escreveu:

"Nós nos reunimos num momento de poderosa tensão revolucionária e política. 'Aquele que não está conosco, está contra nós', repetiam-nos de um lado e de outro. Com quem estão, Irmãos Serapião? Como os comunistas, pela Revolução, ou contra a Revolução? Como quem estamos, Irmãos Serapião? Estamos com o anacoreta Serapião. Durante muito tempo e de maneira muito dolorosa, a literatura russa foi regida pela política. Não queremos utilitarismos. Não escrevemos para fazer propaganda. A arte é uma realidade, assim como a própria vida, e, como a própria vida, não tem objetivo, nem significação: existe porque não pode deixar de existir."

Eis o papel que os Irmãos Serapião destinam à arte, negando-lhe qualquer ideologia, qualquer significação social, proclamando sua indiferença, a arte pela arte, a arte sem objetivo e sem significação. É pura propaganda de um apoliticismo podre, da burguesia e da vulgaridade. Quê conclusão tirar, portanto? Se as Instituições soviéticas desagradam a Zostchenko, que se deverá fazer: adaptar-se a Zostchenko? Não somos nós que devemos nos adaptar a seus gostos. Não somos nós que devemos modificar nossos costumes e nosso regime à sua vontade. Ele que se adapte; e, caso não queira, que se despeça da literatura soviética. A literatura soviética não tem lugar para obras corruptas, vazias de ideias e vulgares. Foi isso que determinou o Comitê Central a tomar uma decisão a respeito das revistas "Zviezda" e "Leningrado".

Degradação do Grupo Literário dos Akmeistas

Examinaremos agora a obra literária de Anna Akhmatova. Ultimamente suas obras têm reaparecido nas revistas de Leningrado, que lhe têm concedido espaço considerável. É tão espantoso e desconcertante isso, como se alguém tivesse tido a ideia de reeditar hoje as obras de Merejkovsky, Vietcheslav Ivanov, Michel Kuzmin, André Beely, Zinaide Hippius, Feodor Sologub, Zinovieva Annibal, etc.; em outras palavras, todos aqueles que nossa literatura e a vanguarda de nossa opinião pública sempre consideraram como representantes do obscurantismo reacionário, como renegados na política e na arte.

Gorki em sua época dizia que os dez anos, de 1907 a 1917, mereciam ser considerados como a década mais vergonhosa e estéril da história da intelectualidade russa, quando depois da Revolução de 1905 uma porção considerável dessa intelectualidade afastou-se da Revolução e acabou se afundando nos charcos da mística reacionária e da pornografia, brandindo a indiferença ideológica como uma bandeira, disfarçando sua traição nesta "bonita" estrofe: "E queimei tudo o que venerava, rendendo homenagens ao que queimará".

É exatamente dessa época que datam as obras de renegados como "O Corsário Branco", de Ropchin, as obras de Vinnitchenko e outros desertores do Campo da Revolução para o da reação, que se apressaram a trair os grandes ideais pelos quais lutou a parte mais progressista da sociedade russa. Surgiram os simbolistas, os imaginistas, os decadentes de toda espécie, renegando o povo, proclamando a tese da "arte pela arte", preconizando o apoliticismo na literatura, camuflando a sua corrupção ideológica e moral em busca da beleza vazia da forma. O medo animal da Revolução proletária que se avizinhava, unia-os a todos. Basta lembrar que um dos maiores ideólogos dessas correntes literárias reacionárias foi Merejkovsky, que chamava a Revolução proletária iminente de "Rei malandro", e que recebeu a Revolução de Outubro com um ódio bestial.

Anna Akhmatova é uma das representantes desse pântano literário apolítico e reacionário. Pertence ao grupo literário denominado "akmeistas" que se destacou, na ocasião, do grupo dos simbolistas. É um dos arautos da poesia vazia, apolítica, aristocrática, de salão, absolutamente estranha à literatura soviética. Os "akmeistas" representavam uma corrente extremamente individualista na arte. Preconizavam a teoria da "arte pela arte", da "beleza pela beleza". Não queriam nada com o povo, nada com suas necessidades, interesses, nada com a vida pública.

No que diz respeito a suas origens sociais, era uma corrente de nobreza burguesa na literatura, numa época em que os dias da aristocracia e da burguesia estavam contados, e em que os poetas e os ideólogos das classes dirigentes procuravam evitar a realidade desagradável, refugiando-se nas alturas nebulosas e nas brumas da mística religiosa, nas suas pequenas experiências pessoais e na análise de suas almas pusilânimes. Os "akmeistas", como os simbolistas e os decadentes, ou outros representantes da dissolvente ideologia burguesa, foram os apologistas do derrotismo, do pessimismo, da crença num mundo do além.

Toda a inspiração de Akhmatova é essencialmente individualista.O diapasão de sua poesia é extremamente pobre; o que nela domina são os temas amorosos, eróticos, acompanhados dos temas da tristeza, da melancolia, da morte, da mística e da fatalidade. O sentimento da fatalidade — sentimento compreensível num grupo social que se extingue — e o tom doloroso do desespero mortal, de transportes místicos mesclados de erotismo, esse mundo espiritual de Akhmatova, não é senão o vestígio de uma velha cultura aristocrática desaparecida para sempre.

Essa é Akhmatova, com sua pequena e mesquinha vida pessoal, seus sentimentos pusilânimes e seu erotismo religioso e místico. Sua poesia não tem nada de comum com o povo. É a poesia de 10 mil privilegiados da velha Rússia aristocrática, condenados a suspirar pelos "velhos bons tempos". As casas de campo senhoriais do tempo de Catarina II, com suas avenidas de árvores seculares, fontes, estátuas, arcos de pedra, estufas, pequenos bosques românticos e seus brasões decrépitos sobre os portões. A São Petersburgo de antanho; o Tsarkoé-Selo; a música de Pavlovsk e outras relíquias da cultura aristocrática. Tudo isso esvaiu-se num passado que não volta. Os vestígios dessa cultura tão longínqua e estranha ao povo, conservados por um milagre qualquer até nossos dias, não têm nada de melhor a fazer do que serem encerrados em si próprios e viver de quimeras. "Tudo foi pilhado, traído, vendido", escreve Akhmatova. Um dos mais importantes representantes desse grupo, Osip Mandeistam, escrevia pouco antes da Revolução, a respeito dos ideais social-político e literários dos "akmeistas"

"Os akmeistas têm o mesmo amor do organismo e da organização que a idade média fisiologicamente genial... A idade média, determinando à sua maneira o peso específico do homem, o considerava e reconhecia como absolutamente independente de seus serviços... Sim, a Europa passou pelo labirinto de uma cultura cuidadosa quando a vida abstrata, a existência pessoal sem qualquer ornamento era considerada como uma façanha. Daí a intimidade aristocrática, ligando todos os homens, tão estranha ao espírito de igualdade e fraternidade da grande Revolução... A idade média nos é cara porque nela existia um alto sentimento dos limites e das barreiras. A mistura generosa do pensamento e da mística, a concepção do mundo como um equilíbrio vivo, nos aproximam dessa época e levam a sorver forças nas obras nascidas na era romana, lá pelo ano de 1200"

Essas ideias de Mandeistam exprimem as aspirações e os ideais dos "akmeistas". "Voltemos atrás para a idade média" — eis o ideal comum desse grupo aristocrático dos salões. Voltemos ao macaco — responde-lhe Zostchenko. Diga-se de passagem, tanto os "akmeistas" como os Irmãos Serapião têm o mesmo antepassado. Para uns e para outros, Hoffman é um dos fundadores da decadência e do misticismo aristocrático de salão.

Por que, então, de repente, popularizar a poesia de Akhmatova? Que tem ela de comum conosco, com o povo soviético? Qual a necessidade de conceder uma tribuna literária a todas essas tendências decadentes e que nos são profundamente estranhas?

Sabemos pela história e pela literatura russa que mais de uma vez as correntes literárias reacionárias, a que pertencem os simbolistas e os "akmeistas", procuraram pregar uma cruzada contra as grandes tradições democráticas-revolucionárias da literatura russa, contra seus representantes de vanguarda; procuraram privar a literatura de seu significado elevado, ideológico e social, de rebaixá-la ao pântano do apoliticismo e da vulgaridade. Todas essas tendências que estão "em moda" foram afagadas no Lethes e rejeitadas no passado. Todos esses "akmeistas", simbolistas, "camisas amarelas", esses "valetes de ouro", esses "negadores", que deixaram eles em nossa literatura soviética russa?

Servilismo ante a Literatura Pequeno-Burguesa

Os "Akmeistas" proclamaram "Não modificar nada na vida e não a criticar". Por que se opunham a ideia da vida ser modificada? Porque esses velhos costumes burgueses e aristocráticos lhes eram agradáveis e o povo revolucionário se preparava para destruir esse modo de vida. Em outubro de 1917, as classes dirigentes, bem como suas ideologias e seus poetas, foram atirados aos esgotos da história.

E eis que no 29º ano da Revolução Socialista, inopinadamente, reaparecem essas antiguidades do mundo das trevas e se põem a doutrinar nossa juventude sobre a maneira de viver. Akhmatova teve abertas, bem grandes, as páginas da revista e pôde, livremente, envenenar a consciência da juventude com o espírito deletério de sua poesia. A revista Leningrado publicou em um de seus números uma espécie de antologia das obras de Akhmatova, escritas de 1909 a 1944. Em meio a esse montão de inutilidade, notemos um poema escrito na ocasião de sua evacuação durante a Grande Guerra Patriótica. Nessa poesia, ela descreve sua solidão, que foi obrigada a partilhar com um gato preto. O gato preto a encara como os olhos do século. O tema não é novo. Akhmatova já falava do gato preto em 1909. O sentimento da solidão e do desespero, estranho à literatura soviética, encontra-se por toda a obra de Akhmatova.

Que há de comum entre essa poesia e os interesses de nosso povo e de nosso Estado? Absolutamente nada. A obra de Akhmatova pertence ao passado longínquo; é absolutamente estranha à realidade soviética atual e não devemos admiti-la nas páginas de nossas revistas. Nossa literatura não é uma empresa privada, destinada a satisfazer os diversos gostos do mercado literário. Não somos absolutamente obrigados a ceder um lugar em nossa literatura aos gostos e costumes que nada têm em comum com a moral e as virtudes dos homens soviéticos. Que podem ensinar à nossa juventude as obras de Akhmatova? Nada, a não ser o mal. Não podem senão semear o desânimo, o derrotismo, o pessimismo, o desejo de se afastar das questões fundamentais da vida social, de deixar a grande estrada da vida e da atividade social por um pequeno e estreito universo de emoções pessoais. Como é possível confiar-lhe a educação de nossa juventude? E, no entanto, foi com grande solicitude que se publicaram as obras de Akhmatova em "Zviezda" e "Leningrado" e, o que é pior, publicou-se toda a coleção de seus versos. Foi um grande erro político.

Não foi por acaso que depois de tudo isso as revistas de Leningrado começaram a publicar as obras de outros escritores que também haviam adotado atitudes de indiferença e decadência. Refiro-me às obras de Sadofiev e de Komissarova. Em alguns de seus versos, esses dois poetas seguiram os passos de Akhmatova, cultivando, eles também, um espírito de desânimo, de tristeza, de solidão, tão caro à alma de Akhmatova. Sem dúvida alguma, essas tendências, ou um estado de espírito dessa natureza, não podem deixar de ter influência negativa sobre nossa juventude, de envenenar sua consciência com o espírito corrupto da indiferença, do apoliticismo e do desânimo. E que teria acontecido se houvéssemos educado nossa juventude no espírito de desânimo e de descrença a respeito de nossa obra? Não teríamos, certamente, obtido o triunfo na Grande Guerra Patriótica. Foi precisamente porque o Estado Soviético e nosso Partido, com o auxílio da literatura soviética, educaram a juventude no espírito de entusiasmo, de confiança em suas forças, precisamente porque superamos as maiores dificuldades na edificação do socialismo, que pudemos conquistar a vitória sobre os alemães e japoneses.

Que decorre de tudo isto? Decorre que a revista "Zviezda", publicando obras de valor, ideológicas, estimulantes, juntamente com obras apolíticas, vulgares, reacionárias, tornou-se uma revista sem orientação, que ajuda os inimigos a desagregar nossa juventude. Ora, nossas revistas sempre foram fortes devido a suas tendências estimuladoras e revolucionárias, e não pelo ecletismo, a indiferença e o apoliticismo. A propaganda da indiferença recebeu regalias na revista "Zviezda". Mais ainda, diz-se que Zostchenko adquiriu tal influência entre as organizações de escritores em Leningrado que chegou a atacar os indóceis e ameaçar de difamação os que criticassem suas obras futuras. Parecia quase um ditador literário. Vivia cercado de um grupo de admiradores que o lisonjeavam.

Por que razão? Perguntamos. Por que permitistes essas atividades antinaturais e reacionárias? Não foi absolutamente por acaso que as revistas literárias de Leningrado se encheram de admiração pela literatura contemporânea burguesa ocidental e de baixo nível. Alguns de nossos escritores começaram a se considerar não como mestres, mas como alunos dos escritores pequeno-burgueses e adotaram o tom de servilismo e de admiração para com uma literatura estrangeira e mesquinha. Por acaso nos convém, a nós patriotas soviéticos, esse servilismo? Por acaso nós, que edificamos o regime soviético, mil vezes melhor do que qualquer regime burguês, devemos nos submeter a esse servilismo? À nossa literatura, progressista, a mais revolucionária do mundo, nos convém esse servilismo a literatura mesquinha e pequeno-burguesa do ocidente?

O grande erro de nossos escritores foi, de um lado, terem se afastado dos temas soviéticos atuais, se acantonarem num tema histórico e, de outro, procurarem utilizar apenas temas divertidos e vazios. Certos escritores, para se justificarem de terem se afastado dos grandes temas soviéticos atuais, dizem que chegou a hora em que o povo tem necessidade de uma literatura divertida e vazia, em que não se precisa de ideologia nas obras. Isto é fazer uma concepção profundamente errada e um desrespeito para com os interesses e necessidades de nosso povo. O nosso povo espera que os escritores soviéticos exprimam e generalizem a imensa experiência que ele tirou da Grande Guerra Patriótica; espera-se, portanto, que nossos escritores descrevam e generalizem o heroísmo com que esse mesmo povo trabalha hoje para reerguer, agora com os inimigos expulsos do país, a economia nacional.

A Revista "Leningrado" e a causa de seus erros

Algumas palavras a respeito da revista "Leningrado": Zostchenko nela ocupa uma posição ainda mais sólida do que na "Zviezda", assim como Akhmatova. Tornaram-se os dois uma força literária ativa nessas revistas. Assim a revista "Leningrado" é responsável por ter posto suas páginas à disposição de um escritor tão vulgar como Zostchenko e de uma poetisa de salão da espécie de Akhmatova. Mas a revista "Leningrado" cometeu outros erros. Eis por exemplo a paródia de Eugênio Oneguin, escrita por um certo Hazin: "A volta de Oneguin".

Diz-se que se pode assisti-la frequentemente nos teatros de Leningrado. É incompreensível que os leningradenses permitam que se ridicularize publicamente Leningrado, como o faz Hazin. Pois o sentido de toda essa paródia, dita literária, não é apenas uma caçoada inofensiva das aventuras de Oneguin, correndo atualmente em Leningrado. O sentido desse libelo de Hazin consiste em comparar nossa Leningrado de hoje à São Petesburgo da época de Pushkin e em demonstrar que nosso século é inferior ao de Oneguin. Examinemos pelo menos alguns versos dessa paródia. Nada agrada ao autor na Leningrado de hoje. Somente zombarias malévolas e calúnias dos homens soviéticos e de Leningrado, ao passo que o século de Oneguin é a idade de ouro, segundo Hazin. Hoje as coisas são diferentes, surgiram os salvo-condutos, os cartões de racionamento, o serviço nos quartéis. As jovens, aquelas criaturas etéreas e sobrenaturais que Oneguin admirava outrora, tornaram-se agora inspetoras de trânsito, elas reconstroem as casas, etc. Permiti-me citar ao menos uma passagem dessa "paródia":

"Eis que nosso Eugênio sobe no bonde. Pobre, bom homem! Seu século inculto não conheceu essa meia de transporte. A sorte lhe sorriu. Só lhe pisaram os pés. E, apenas uma vez, empurrando-o, chamaram-no de idiota. Ele, lembrando-se dos costumes de outrora, quis encerrar o incidente com um duelo. Remexeu nos bolsos. Mas há muito tempo já lhe haviam subtraído as luvas. Na falta das luvas não teve remédio senão ficar de boca fechada"

Eis aí que Leningrado tal como era e tal como se tornou hoje em dia: feia, inculta, grosseira; como desagradou ao pobre, ao bom Oneguin. E assim que Hazin apresenta Leningrado e seus habitantes. Que tendência maldosa, corrupta e podre nessa paródia caluniadora! Como pôde a redação de "Leningrado" deixar passar essa maldosa calúnia da cidade e de seus magníficos habitantes? Como pode se admitir Hazin nas revistas de Leningrado? Tomemos uma outra obra, a paródia de uma paródia sobre Nekrasov, escrita de tal sorte que é um insulto direto à memória do grande poeta e do homem público que ele foi, insulto com o qual se devia indignar todo homem culto. Ora, a redação de "Leningrado" publicou com boa vontade esse vulgar ensopado literário.

Que encontramos ainda na revista "Leningrado"? Uma anedota estrangeira, sem graça e vulgar, tirada provavelmente das antigas coleções de anedotas surradas do fim do último século. Não terá, essa revista, nada melhor para publicar? Não há nenhum assunto literário? Publique, por exemplo, sobre o tema da reconstrução de Leningrado. Um trabalho magnífico se desenrola, a cidade cura suas feridas causadas pelo cerco. Os leningradenses estão cheios de entusiasmo e de alegria ness esforço de reconstrução da cidade pós-guerra. A revista "Leningrado" diz, por acaso, uma palavra sobre isso? Os habitantes de Leningrado teriam prazer de ver seus feitos refletidos nas páginas da revista.

Consideremos agora o tema da mulher soviética. Será possível permitir que se cultivem entre os leitores soviéticos as opiniões de Akhmatova sobre o papel da mulher, sem dar uma única ideia exata da mulher soviética em geral, da jovem e da mulher heroína de Leningrado em particular, que suportaram todo o peso das enormes dificuldades da guerra e que trabalham hoje abnegadamente para levar a cabo as árduas tarefas da reconstrução econômica?

Como se vê, a reconstrução de Leningrado da União dos Escritores é tal que no momento atual as obras de valor não são suficientes para duas revistas literárias e artísticas. Eis porque o Comitê Central do Partido decidiu suspender a revista "Leningrado" a fim de concentrar todas as melhores forças literárias na revista "Zviezda". Isto, naturalmente, não significa que Leningrado não possuirá, em condições favoráveis, uma segunda e mesmo uma terceira revista. A questão será decidida pelo número de obras de qualidade, de grande valor. Se estas forem bastante numerosas e se uma única revista não for suficiente, então poder-se-á criar uma segunda ou uma terceira revista, mas sob a condição única de que nossos escritores de Leningrado produzam obras de valor, do ponto de vista ideológico e artístico. Foram esses os erros e as deficiências maiores revelados e destacados pela resolução do Comitê Central do Partido Comunista em relação às revistas "Zviezda" e "Leningrado". Qual a origem desses erros e dessas deficiências?

Sua origem decorre do fato de que os redatores das revistas em questão, nossos escritores soviéticos, bem como os chefes de nossa frente ideológica em Leningrado, esqueceram-se de alguns dos princípios fundamentais do leninismo sobre a literatura. Numerosos escritores, e entre eles os que ocupam postos de responsabilidade como redatores, ou na União dos Escritores, pensam que a política é um negócio do governo, um negócio do Comitê Central. Quanto aos literatos, a política não lhes diz respeito. Se um homem escreve bem, artisticamente, numa bela forma, é preciso publicar, apesar das passagens corrompidas que desorientam nossa juventude e a envenenam. Exigimos que nossos camaradas, tanto os responsáveis literários como os que escrevem, se inspirem no princípio sem o qual o regime soviético não pode viver, isto é, a política, a fim de que nossa juventude não seja educada num espírito de indiferença e de displicência, e sim num espírito revolucionário e de entusiasmo.

Do livro "Zhdanov: Escritos". Edições Nova Cultura, 2015.


Escrito por Andrei Zhdanov


Publicado originalmente na Revista "Problemas", n. 20 — Agosto/Setembro de 1949.

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