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"Lenin aos 150: Lenin vive!"

Foto do escritor: NOVACULTURA.infoNOVACULTURA.info

Queridos Amigos e Camaradas,

Eu agradeço à Liga Internacional da Luta dos Povos pelo convite de ser orador da abertura do evento intitulado "Lenin em 150: Lenin Vive!", para comemorar o aniversário de 150 anos de nascimento de Vladimir Ilych Ulyanov, ou V.I. Lein, em Amsterdam, em 28 de março. Entretanto, o evento foi abortado em virtude da regra de distanciamento seguro, das restrições de viagem e de outras interferências consequentes da pandemia do COVID-19.

A alternativa mais breve e mais apropriada para mim é a de publicar o meu texto no dia 22 de abril, data de nascimento de Lenin. Eu também propus que os organizadores do evento publicassem outros textos comemorativos de maneira pontual. Todos os textos podem ser coletados e publicados como um livro e lançados em um encontro de autores e seus leitores, quando oportuno.

A pandemia é lamentável, mas nos serve como objeto de estudo e diálogo com os ensinamentos de Lenin sobre o imperialismo e a revolução do proletariado. Esta pandemia coincide com o agravamento e a crise do sistema vigente, que se acentua. A pandemia enfatiza a total falência da ganância desregrada do privado dentro do neoliberalismo, bem como o prejuízo ao bem público.

Mesmo antes da pandemia ocorrer, o sistema capitalista mundial já estava à beira de um grande colapso econômico e financeiro. Os indicadores eram de dívidas insustentáveis de famílias, empresas e bancos centrais; de super acumulação e inflação de ativos nas mãos da burguesia monopolista; de depressão da produção e rendimento salarial e das crescentes medidas de austeridade adotadas em escala mundial.

A pandemia contribuiu consideravelmente para o agravamento da crise do sistema capitalista mundial. Além disso, expôs como a política econômica neoliberal aumentou a exploração dos trabalhadores, bem como os privou de sistemas de saúde pública adequados ao erodi-los com privatizações; a pandemia nos evidencia como tal processo ampliou as medidas repressivas e causou perdas ainda maiores em matéria de renda e de serviços sociais durante uma grave crise de saúde.

As forças do fascismo também estão usando a pandemia, os lockdowns gerais e as interrupções de negócios como pretexto para tomar o “centro do palco”; para pressionar e impor poderes de emergência e a tomada militar de funções civis; para aumentar as medidas repressivas e forçar a diminuição de recursos, criando, desta maneira, uma mistura explosiva que pode gerar tanto uma maior rivalidade interimperialista quanto disputas políticas internas entre as facções da classe dominante.

No entanto, as condições cada vez mais intoleráveis de opressão e exploração têm levado o proletariado e as amplas massas populares a travar a luta revolucionária contra o imperialismo e toda a força reacionária. Na maior parte dos países afetados pela pandemia, existem as dificuldades diárias do povo em lidar com a crise sanitária e com a crise socioeconômica, sem contar as venalidades burocráticas e a repressão. Tudo isto num momento em que se intensificam as rivalidades entre as classes dominantes. Estas agruras estão levando as massas a compreender mais depressa as falhas básicas do sistema capitalista-imperialista e a abraçar a necessidade de mudança deste. Certamente podemos esperar lutas mais generalizadas e intensas do povo nos meses e anos vindouros.

Em meio a este período turbulento, é altamente apropriado e necessário que revisitemos o imenso legado histórico do grande Lenin a respeito (1) da importância da construção de um forte movimento operário, (2) do necessário conhecimento da teoria revolucionária e (3) do valor da estratégia e das táticas adequadas às condições atuais de cada país.

É de grande importância e necessidade discutir o papel crucial, a teoria, a estratégia e as táticas do movimento operário neste momento em que a crise do sistema capitalista mundial agudiza todas as grandes contradições do mundo.

Refiro-me às contradições entre trabalho e capital; entre as potências imperialistas e os povos e nações oprimidos; entre as potências imperialistas e os Estados que afirmam a independência nacional e a causa socialista e entre as potências imperialistas.

A atual crise do sistema capitalista mundial está gerando as condições intoleráveis de opressão e exploração, além de arrastar o proletariado e o restante dos povos dos países imperialistas e não-imperialistas, desenvolvidos e subdesenvolvidos, a travar diversas formas de resistência de massa.

Desde o ano passado, assistimos ao surgimento de protestos em massa contra o neoliberalismo, o terrorismo de Estado, as guerras de agressão e a destruição do meio ambiente. Os momentos incitantes dos protestos de massa são de grande variabilidade, mas são manifestações da crise e da falência do imperialismo e de todas as forças reacionárias.

As lutas de massa anti-imperialistas em curso têm o potencial de provocar o ressurgimento da revolução proletária mundial. Neste sentido, precisamos rever os ensinamentos filosóficos e políticos do grande Lenin, a fim de buscar orientação e entender o que deve ser feito para garantir o avanço revolucionário do proletariado e dos povos do mundo.

Devemos compreender e aprofundar o quadro filosófico do materialismo dialético, bem como o ponto de vista proletário e revolucionário que forneceu a Lenin a perspectiva científica, as ferramentas mais afiadas de análise e métodos de trabalho para avançar nas tarefas revolucionárias em seu próprio tempo.

1. A importância da construção de um forte movimento da classe trabalhadora

Na era da livre concorrência capitalista do século 19, Marx e Engels estudaram e puseram a nu as leis do movimento capitalista; previram que a crise recorrente de superprodução levaria, em última análise, o proletariado a enterrar a ditadura de classes da burguesia e a estabelecer o socialismo.

Parecia que o capitalismo monopolista (ou imperialista) prolongaria a vida do capitalismo no século 20, sem qualquer interrupção séria. Mas Lenin levou a Grande Revolução Socialista de Outubro à vitória na Rússia, no elo mais fraco da cadeia das potências imperialistas. Assim, confirmou, na teoria e na prática, as condições que definiriam a era do imperialismo moderno e a revolução proletária mundial.

Devemos a Lenin o ensinamento de que, para a revolução proletária vencer a crise do sistema dominante, deve ser tão severa a ponto de incapacitar a burguesia de governar da maneira antiga; o povo deseja uma mudança revolucionária e o partido revolucionário do proletariado deve ser forte o suficiente para capitanear tal processo.

Não se discute que é necessário um movimento revolucionário de massa dos trabalhadores e das grandes massas populares. Contudo, deve haver um forte partido revolucionário do proletariado para liderar o movimento de massa. De acordo com Lenin, a derrota da burguesia e a direção ao futuro socialista do movimento cabe ao Partido de vanguarda.

Lenin estabeleceu claramente, na última década do século XIX, que a consciência de classe e a energia potencial do proletariado russo estavam crescendo rapidamente e ultrapassando a influência da burguesia liberal — esta tornava-se um mero apêndice do czarismo e do imperialismo — e da pequena burguesia, que tendia a romantizar o campesinato. As primeiras lutas ideológicas de Lenin contra os Narodniks e os "marxistas legais" tiveram um grande impacto prático no trabalho de lançar as bases do partido revolucionário da classe trabalhadora e do movimento de massas.