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"Linchamento: Uma arma de opressão nacional"



Mais de 500 pessoas pararam e observaram um negro lentamente queimando até os ossos. Algumas mulheres estavam espalhadas por entre a multidão de plantadores do Arkansas...


Por vez alguma o assassino implorou por piedade, apesar dele ter sofrido uma das mortes mais horríveis de se imaginar. Com o negro acorrentado a um tronco, membros do grupo colocaram uma pequena pilha de folhas ao redor de seus pés. Então, gasolina foi derramada nas folhas e o cumprimento da pena de morte estava começando...


Enquanto as chamas devoravam seu abdome, um membro do grupo se aproximou e lançou gasolina ao corpo. Foi então uma questão de minutos até que o negro ser reduzido a cinzas...


- Memphis Press, 27 de janeiro de 1921.


É assim que uma testemunha ocular descreveu o linchamento de Henry Lowry.


Quem foi Lowry? Qual foi seu crime? Henry Lowry foi um meeiro negro em Nodena, Arkansas. Por dois anos ele vem trabalhando duro sob sol escaldante, mas mesmo assim por dois anos ele não recebeu um centavo sequer de seu salário legal. O senhorio o tinha provido cada vez menos comida para ele e para sua família. Eles estavam quase morrendo de fome.


Ele foi até a casa do senhorio e exigiu seu salário. O senhorio primeiramente olhou para ele com estranheza, como se ele não tivesse entendido o que ouviu. Mas quando ele entendeu que um de "seus" meeiros estava pedindo pelo seu pagamento, ele levantou numa fúria insana, insultando e agredindo Lowry com sua arma. Então ele levantou seu revólver até a altura da cabeça de Lowry, e disparou, ferindo-o. Enfurecido por ser tratado como a um cão, Lowry revidou. Na luta, o senhorio foi morto.


Assim que este fato ficou conhecido, os senhorios brancos de terras ao redor ficaram obcecados, tinham apenas um desejo - o de torturar e linchar o tal meeiro negro, matá-lo, para que nenhum outro trabalhador negro na plantação, nenhum de seus inquilinos famintos ousariam protestar, assim como Lowry fez, contra a brutal exploração dos senhorios.


Se recusar a morrer de fome, se recusar a ser roubado. Estes foram os terríveis "crimes" pelos quais Lowry, o trabalhador rural negro, foi queimado na estaca - linchado pelos senhorios e seus capangas. É dessa forma que a classe dominante branca tenta subjugar qualquer oposição à sua exploração impiedosa do povo negro.


A classe dominante e sua opressão sangrenta


Em seus esforços para subjugar os trabalhadores e camponeses negros, a classe dominante tomou um terrível caminho. Desde 1882, o primeiro ano na qual foram feitas algumas tentativas de coleta de estatísticas sobre o linchamento, mais de 4.000 negros foram enforcados, queimados, ou ambos. Destes, 75 eram mulheres; algumas vítmas tinham menos de 15 anos.


Aqui temos apenas alguns casos recentes:

George Johnson, em maio de 1930, acusado pelo seu senhorio de falsificar papéis de dívidas. Lutando para se defender, ele matou o senhorio. O homem foi linchado, e seu corpo foi arrastado pela área de moradia dos negros e queimado em frente a uma igreja de negros.


John Parker, trabalhador negro desempregado e faminto de Conway, Arkansas, foi acusado de roubar alguns pêssegos. Ele foi linchado por donos de plantações em agosto de 1931.


Bill Fane foi um trabalhador negro que se recusou a trabalhar sem pagamento. Ele foi linchado por um grupo de mercadores e plantadores em setembro de 1931.


Will Jones e sua família de cinco foram baleados à sangue frio por um senhorio e seus capangas em outubro de 1931. O senhorio disse que na discussão sobre salários, "Jones respondeu de volta".


Dave Tillis de Crockett, Texas, exigiu seu pagamento ao senhorio. Ele foi apreendido e acusado de "entrar no quarto de uma mulher branca". Ele foi linchado pelo seu senhorio e mais quatro latifundiários vizinhos em abril de 1932.


Cada um desses trabalhadores negros foi assassinado como um resultado direto da luta de classes, expresso por sua exigência por salários ou melhores condições aos senhorios brancos que exploram as massas de negros com intensidade ainda maior do que eles roubam os trabalhadores brancos. Outros linchamentos são resultados da negação do trabalhador ou camponês negros militantes de se submeterem à todo tipo de abuso e perseguição social. Os próprios linchadores davam desculpas extremamente absurdas para o linchamento, que incluíam: tentar votar, acusar um homem branco de roubo, testemunhar contra um homem branco, ser bem-sucedido, retrucar a um homem branco.


Certos "líderes" do povo negro como Walter White, secretário da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (em inglês, National Association for the Advancement of Colored People; NAACP), e tais "amigos" do povo negro como a “educada” classe alta branca (como W.E.B DuBois os chama) na Comissão Interracial tem atribuído a selvageria e brutalidade do linchamento à monotonia da vida sulista, ao desejo por diversão dos "brancos pobres que não tem rádios e não vão ao cinema". Isso não é nada mais que evasão covarde da causa real do linchamento, e uma fuga da luta contra o linchamento. É a política tradicional destes "líderes raciais" e seus amigos brancos de preservar o sistema presente do capitalismo, com sua segregação e linchamento, fazendo com os trabalhadores negros e fazendeiros pobres acreditarem que os trabalhadores brancos são seus inimigos, e os homens brancos "educados" (os patrões) são seus amigos.


Brutalidade e selvageria marcam todos os linchamentos. Jovens e velhos, homens e mulheres, foram torturados com extrema crueldade; uma mulher grávida de cor foi pendurada pelos tornozelos e teve o feto arrancado de seu abdome. Essa selvageria da classe dominante tem um propósito: causar terror nos corações do povo negro oprimido para que eles não ousem lutar por sua libertação.


Qual a real causa e propósito do "linchamento"?


Cada linchamento, cada degradação, cada perseguição social e proscrição, cada humilhação baseada na Jim Crow, que as massas negras sofrem neste país é o resultado do fato de milhões de negros estarem na situação de nacionalidade oprimida. Eles são subjugados a uma exploração mais intensa e cruel no campo e nas fábricas. Enquanto os trabalhadores brancos são miseravelmente explorados pelos ladrões capitalistas, os trabalhadores negros são explorados e perseguidos. Eles são sobre-explorados. São dados a eles os piores trabalhos, com as maiores cargas horárias, e com menor pagamento. Eles são os últimos a serem contratados e os primeiros a serem demitidos. Eles são obrigados a trabalhar nas condições mais precárias. É inegável hoje, quase 70 anos após sua “libertação”, as populações negras estão praticamente escravizadas ainda, produzindo um grande lucro, e este indo para seus patrões e latifundiários capitalistas.


Concentrado nas terras no Black Belt (ver The American Negro, por J.S. Allen, International Pamphlets, Nº 18), mais de três quartos dos nove milhões e meio de negros no sul vivem em pobreza indescritível, esmagados por dívidas e fome. Todo ano, após o "acordo" com o latifundiário, centenas de milhares de trabalhadores rurais negros, sem nenhum tostão e não tendo nenhuma terra, percebem que estão trabalhando sem nenhuma esperança, acorrentados ao latifundiário por dívidas nas quais nenhum trabalho pode pagar.


O único modo que a classe capitalista pode preservar essa exploração extra das massas negras é mantendo-as isoladas, como um grupo degradado. Para isso, foi criado um asqueroso sistema de perseguição social através da Lei Jim Crow, forçando essas populações a viverem em guetos miseráveis. É ensinado aos trabalhadores brancos e às suas crianças que os brancos são "superiores" aos negros. É o método típico usado por um poderoso país capitalista para fazer uma divisão entre "seus" trabalhadores e os trabalhadores da nacionalidade oprimida. Isso serve à dois propósitos: danifica a resistência da nacionalidade oprimida isolando-a; e cega os trabalhadores "superiores" ao fato de que eles estão sendo roubados pelos mesmos capitalistas que exploram os trabalhadores "inferiores".


Aqui chegamos à verdadeira origem e propósito do linchamento. É com o auxílio de tais métodos como linchamento, terrorismo e violência que todo este sistema de opressão nacional, superexploração e perseguição social pode ser estabelecido. E a maior vitória para os governantes capitalistas é conseguir trabalhadores brancos para serem seus agentes para sua campanha de terrorismo. Linchamentos defendem o lucro!


Linchamentos são um aviso para os trabalhadores negros. Linchamento é uma das armas na qual a classe dominante branca reforça sua opressão nacional do povo negro, e tenta manter a divisão entre os trabalhadores brancos e negros.


A mentira do "estupro"


Para incitar os trabalhadores brancos contra os negros e construir ainda mais o mito da "superioridade branca", a classe dominante branca forjou a insana e venenosa mentira de que os negros são "estupradores" por natureza. Hoje, o imperialismo estadunidense está usando a mesma mentira do "estupro" contra as massas do Havaí enquanto prossegue com o projeto de uma grande e poderosa base naval, em preparação a uma guerra contra o povo chinês e a União Soviética. Em defesa aos linchadores brancos de Havaí, Clarence Darrow, do Conselho Administrativo do NAACP, auxiliou nos preparativos desta guerra e na divulgação da mentira do "estupro".



Somente é necessário lembrar de alguns fatos para ver a grande falsidade dessa calúnia da classe dominante.


O primeiro fato é que dos 2522 negros linchados durante o período de 1889-1918, apenas 19%, ou uma a cada cinco vítimas do linchamento foram acusadas de estupro. Quando lembramos que essas acusações são usadas como desculpa, o fato de os linchadores acusarem formalmente apenas 19% de suas vítimas revela como, à base da mentira, eles matam trabalhadores negros para "proteger as mulheres brancas". Como mencionado no caso acima de Dave Tillis, que foi linchado por exigir seu pagamento ao latifundiário, o grito que diz "ESTUPRO" é dado sempre que um trabalhador negro começa a se levantar. Podemos estar certos de que dos trabalhadores negros linchados por "estupro", pouquíssimos - ou nenhum deles - eram culpados de um crime cometido inúmeras vezes por brancos contra mulheres negras, e punidos, se houvesse punição, por alguns meses na prisão.


O segundo fato ainda mais incisivo que o primeiro, deixa a mentira do "estupro" em pedaços. Sempre que o leitor ouvir o grito de "estupro" para justificar o linchamento de um trabalhador negro, lembre-se deste fato histórico profundamente esclarecedor: que os negros estiveram neste país por trezentos anos; que durante os primeiros 200 anos nenhum foi acusado de estupro, ainda que centenas de milhares de trabalhadores negros viviam em proximidade com brancos. Por 200 anos, oito gerações, não houve nenhum indício sequer sobre os negros serem "estupradores". A primeira vez que ouvimos essa mentira foi aproximadamente no ano de 1830, duzentos anos após os negros serem descarregados dos navios negreiros na Virgínia. Por que ela apareceu nesta época? Porque este ano marco o início do movimento abolicionista no Norte, e o aguçamento da luta dos escravos pela liberdade. Por 200 anos os trabalhadores negros não foram "estupradores". Mas logo que sua posição como escravos fora ameaçada, repentinamente se tornaram "estupradores".


Nos últimos 50 anos, 76 mulheres negras foram linchadas, algumas com uma crueldade bestial. Elas também eram "estupradoras"?


Os latifundiários sulistas e seus capangas consideram todas as mulheres negras como presas legítimas. Muitos negros morreram por protestar contra estupros de garotas e mulheres negras por homens brancos. A Sra. Wise foi linchada em Frankfort, Virgínia, em maio de 1931, por se opor em ter sua filha levada para "passeios" por integrantes da Klan. Clyde Payne foi morto na Flórida em setembro de 1931, pelo empregado de sua esposa, quando ele tentou protegê-la de um ataque. Em Geórgia, um negro idoso foi linchado por tentar prevenir o estupro de duas garotas de cor por dois homens brancos.


Muitos brancos tiram vantagem da mentira capitalista do "estupro" para se protegerem. Em Nova Jersey, em 1927, um homem foi morto enquanto dirigia um automóvel com sua esposa. Ela disse à polícia que dois negros o mataram quando ele tentava protegê-la de um estupro. Sobre interrogatório foi revelado que ela e seu esposo cometeram o crime.


Em Filadélfia, em 1930, uma garota de 17 anos ficou a noite toda fora com seus colegas.


Na manhã seguinte, ela relatou que foi pega e atacada por dois negros. Pressionada por seus questionadores, ela confessou que inventou essa estória para enganar sua mãe. Em Norfolk, Virgínia, em novembro de 1930, uma mulher branca, lutando contra um assaltante "negro", rasgou sua camisa e descobriu que ele era um homem branco que pintou seu rosto e suas mãos. Essas são as contagens de tais crimes "rolha de cortiça". Ninguém consegue saber quantos negros inocentes foram queimados e enforcados como resultado de tais armações.


Quem organiza os linchamentos?


A impressão criada propositalmente pela propaganda da classe dominante, e nutrida pelos “líderes raciais” da NAACP e o tipo de Kelly Miller, que os linchamentos são ações de "grupos irresponsáveis" ou de "elementos fora da lei". Muito longe da verdade. Um exame dos fatos de centenas de linchamentos mostra que cada linchador sabe muito bem que cada linchamento é um homicídio cuidadosamente planejado, feito com total cooperação de cada agência da classe dominante; a polícia, os xerifes, a milícia, os jornais, todo o aparato governamental… Sem a liderança ativa dos "melhores elementos", que são os ricos e poderosos latifundiários e chefes, sem o tácito ou participação ativa do governo e seus oficiais, os linchamentos nunca ocorreriam.


Aqui estão alguns fatos tirados diretamente de – literalmente - milhares de casos similares. Quando George Hughes foi cruelmente queimado vivo em sua cela na prisão, em 1930, em Sherman, no estado do Texas, o Governador proibiu o xerife de disparar no grupo de linchadores, portanto, garantindo que o linchamento ocorreria.


Quando John Hatfield, trabalhador negro, foi apreendido por um grupo de linchadores em Ellisville, Mississípi, o maior jornal do estado, o Jackson Daily News, publicou manchetes anunciando a hora e local exato do que iria acontecer. Dez mil pessoas responderam o convite do jornal e eles foram avistados pelo Promotor T.W. Wilson enquanto o linchamento ainda acontecia.


Em Marion, Indiana, em agosto de 1930, um grupo de linchadores anunciou sua intenção de linchar dois garotos negros que estavam presos na cadeia. Quando o grupo chegou, eles encontraram as portas da prisão e da cela completamente abertas, e as autoridades dando total cooperação aos linchadores.


Quando Matt Williams foi apreendido em Salisbury, Maryland, em dezembro de 1931, das autoridades hospitalares não-resistentes, o xerife e o promotor subitamente deixaram a cidade. E enquanto a horrenda tortura ocorria em uma das seções mais populosas da cidade, a polícia estava direcionando o tráfego para que o linchamento não fosse interrompido!


O Estado e o Governo Federal como protetores


“Mas o estado e o governo federal serão” uma proteção muito melhor para os trabalhadores negros, dizem os liberais e negros burgueses - “líderes raciais”. Veremos.


Quando Raymond Gunn foi queimado em Maryville, Missouri, em 1931, a Guarda Nacional estava presente durante todo o linchamento. O oficial no comando relatou que suas instruções foram de agir apenas quando solicitado pelo xerife. E já que o xerife se recusou a solicitar seus serviços, ele e seu regimento observaram o linchamento sem levantar um dedo.


Em outubro de 1930, uma unidade da Guarda Nacional foi requisitada para Darien, Geórgia, para prevenir o linchamento de George Grant. Mas o grupo de linchadores não teve dificuldade em apreender e linchar o negro. Esse comandante, Coronel Neal, fez um relatório no qual ele disse que o guarda tinha feito seu trabalho. Ele enviou um soldado, para vigiar o prisioneiro. O negro foi apreendido pelo grupo que entrou na porta da frente desprotegida. O xerife disse: "Eu não sei quem matou o crioulo e não me importo.” O Governador Hardman da Geórgia não iria ler o relatório de um dos oficiais de estado que relataram estes fatos. Ele estava completamente satisfeito com o curso dos eventos.


A Guarda Nacional foi enviada para “proteger” os garotos Scottsboro, em abril de 1931, para que eles pudessem ser linchados legalmente “com o devido processo da lei”. Essas tropas permitiu o espancamento impiedoso enquanto estavam “escoltando” eles.


Quando trabalhadores militantes tentam lutar contra os cortes salariais e a fome, todo o aparato policial e militar é mobilizado contra eles. Mas alguém raramente ouve falar de qualquer ação governamental contra linchadores.

Grandes jurados, legistas e governadores repentinamente se tornam “estranhamente” inativos. Centenas de vezes grandes jurados se recusaram a fazer acusações contra qualquer linchador porque a vítima encontrou a morte nas "mãos do grupo no qual seus membros são desconhecidos". O Governador de Mississípi aceitou tal veredito no caso de Jim Ivy. Ainda o jornal da cidade, o News Scimitar, de Rocky Ford, publicou fotografias nas quais os rostos de pelo menos cem linchadores eram claramente visíveis.


Linchamentos não são a “vitória dos sem lei sobre a lei”. Eles ocorrem não apenas com completa cooperação, mas em centenas de casos, com a participação ativa de toda a máquina legal e governamental, os xerifes, os deputados, os promotores, e assim por diante. E isso acontece porque os exploradores da classe dominante e o governo estão unidos para usar o linchamento como uma arma na opressão nacional das massas negras.


Não é apenas no Sul que os negros são a camada mais oprimida da classe trabalhadora. No Norte, também, o trabalhador negro vive em guetos, é forçado dentro dos piores trabalhos, é pago de 20% a 65% menos em relação aos trabalhadores brancos, mesmo que seja o mesmo trabalho. No Norte, os negros são a minoria da população e sofre toda a exploração e opressão adicionada de uma minoria nacional. Aqui, também, os chefes respondem as demandas dos trabalhadores negros com linchamento - Matt Williams em Salisbury, Maryland; Tom Shiff e Abe Smith em Marison, Indiana; Raymond Gunn em Maryville, Missouri.


Leis contra o linchamento


A Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor se orgulha do fato de que ela luta contra o linchamento coletando assinaturas para a Lei Dyer Anti Linchamento. Somos informados tanto pelos nossos “amigos” negros e brancos que o linchamento pode ser abolido simplesmente passando leis.


Leis antilinchamento já foram passadas em vários estados. Virgínia tem uma lei para a "dispersão de grupos". A única vez que ela foi usada foi para separar uma linha de piquete de trabalhadores têxteis grevistas em Danville. O estado de Geórgia passou uma lei anti linchamento em 1893. Ela prevê 20 anos de prisão para qualquer um culpado de "cercar em grupo ou linchar um cidadão sem processo legal". Essa lei na realidade dá proteção legal aos linchadores. Ninguém nunca foi condenado por essa lei, apesar de Geórgia ter tido pelo menos 600 linchamentos desde a sua aprovação.


A Carolina do Norte tem uma lei que prevê multas contra linchadores que invadem prisões. Após a lei ser aprovada, grupos de linchadores simplesmente apreenderam suas vítimas antes que elas fossem presas e, portanto, não poderiam ser condenados.


Alguns estados como a Virgínia Ocidental, Kentucky, Texas, Tennessee, Ohio e Nebraska possuem leis que preveem o pagamento de danos a parentes. Mas já que em todos estes estados, os grandes juízes e os tribunais se recusam a agir, as leis se tornaram palavras escritas vazias. Leis antilinchamento do estado não preveniram linchamentos. Mais de 1000 linchamentos ocorreram nestes estados desde que as leis foram aprovadas.


Mas seguindo pela ilusão de que o linchamento pode ser detido por tais leis - mesmo uma lei federal - o NAACP tenta divergir os trabalhadores negros de uma luta agressiva contra o linchamento. Eles pedem para confiarem nestes mesmos oficiais do estado e na classe dominante que organiza, perpetua e defende o linchamento.


Linchamentos tribunais


O que pode se esperar dos tribunais e do estado é mostrado muito claramente pelo número de linchamentos que ocorreram sobre a capa do "sobre processo da lei". Como em qualquer fase da vida, como também no sistema judicial, o negro não tem as mesmas chances que o trabalhador branco. Na base da mentira do "estupro" sete de nove dos garotos Scottsboro agora (em julho de 1932) esperam a execução na cadeira elétrica. Apenas o protesto em massa em nível mundial da classe trabalhadora internacional os salvou da cadeira elétrica e forçou a Corte Suprema dos Estados Unidos a concordar em rever o caso deles.


Dois trabalhadores desempregados negros, Robert Strickland e Percy Irvin foram eletrocutados no Alabama por roubarem 50 centavos. No Norte, também, a mentira do "estupro" foi usada para tornar legal o linchamento do Willie Brown de 17 anos de idade na Filadélfia, Pensilvânia.


O que está por trás de todos estes linchamentos legais? A resposta foi dada pelo Governador Ross Sterling do Texas. Em janeiro de 1932, Barney Lee Ross, garoto negro, foi executado após um julgamento que durou menos de duas horas. Ao negar ficar para a execução, o Governador disse algumas palavras, que nenhum trabalhador negro ou branco jamais deve esquecer:


“Pode ser que este garoto seja inocente, mas às vezes é necessário queimar uma casa para salvar a vila inteira.”


Essa declaração admite descaradamente duas coisas. Primeiro, que trabalhadores negros que "podem ser inocentes" estão sendo mortos não por algum crime, mas para "salvar a vila". O que é a "vila" que o governador está tentando salvar? Obviamente, é todo o sistema de roubo, fome, leis de Jim Crow e linchamento - o sistema capitalista.


A segunda coisa que este governador sulista admite é que todo o governo, incluindo juízes e governadores, é uma parte consciente da campanha de terror contra as massas negras, particularmente durante a crise geral presente.


A luta contra o linchamento


Nos “distúrbios raciais” após a última Guerra Mundial—quando soldados negros retornaram de um exército que seguia as leis de Jim Crow demandavam aqueles direitos iguais prometidos para eles pelo Presidente Wilson e W.E.B DuBois—a classe dominante agitaram a lei de linchamento em larga escala no Norte para manter o negro “onde ele pertencia”. Eram distúrbios raciais, e não linchamentos em massa, apenas porque os negros se defenderam e lutaram de volta.


Hoje, no meio da crise que espalha fome e sofrimento em massa entre todos os trabalhadores, e quando uma nova guerra mundial está sendo preparada, a união entre trabalhadores negros e brancos cresce rapidamente. É esta união de trabalhadores negros e brancos, lutando contra seu inimigo comum - os chefes brancos e seus "Tios Tom"- que no final irá varrer todas as leis Jim Crow e acabará com o sistema de classe e opressão nacional. A luta militante por direitos dos negros, com participação crescente de trabalhadores brancos, está expondo a mentira e a calúnia dos "líderes raciais" de que os trabalhadores brancos são inimigos dos negros.


Já em 1/6 do mundo, na União Soviética, os trabalhadores e camponeses estabeleceram seu próprio governo. Eles liberaram todas as nacionalidades oprimidas que murmuravam sobre o açoite capitalista dos czares. Hoje na União Soviética 132 povos que antigamente foram ensinados a se odiarem ou desconfiarem uns dos outros agora estão cooperando em completa igualdade social e política na construção de uma sociedade socialista. Os trabalhadores ali destruíram a mentira capitalista do “ódio racial” e "inferioridade racial". Qualquer trabalhador que mostra qualquer traço deste veneno capitalista é expulso das fábricas, assim como dois engenheiros estadunidenses aprenderam recentemente. Os trabalhadores soviéticos mostraram aos trabalhadores estadunidenses, negros e brancos, um exemplo glorioso e o verdadeiro caminho.


E como a União Soviética aponta o caminho para a eliminação de todas as opressões e mentiras de "raça", toda a classe dominante hoje está preparando uma grande guerra contra ela. Quando soldados negros voltaram da última guerra, eles retornaram à mesma velha perseguição e insultos racistas. Alguns soldados negros foram linchados ainda vestindo seus uniformes. Hoje, a classe dominante está tentando deixar os negros "seguros" para a próxima guerra. O imperialismo estadunidense não quer abaixar a guarda, como o que aconteceu entre a Irlanda e o Império Britânico na última guerra. Apenas os esforços organizados da classe trabalhadora lutando em união - negros e brancos - pode defender a União Soviética e lutar contra a guerra imperialista. Apenas essa união pode destruir o linchamento e o sistema que o causa.


Os trabalhadores brancos, levados a um entendimento adequado pelo Partido Comunista, estão começando a perceber que qualquer ataque aos negros, qualquer negação de diretos para eles, também é um ataque aos trabalhadores brancos, também é uma negação aos seus direitos. Trabalhadores brancos militantes estão na realidade tomando frente na luta pelos direitos dos negros e contra o linchamento.


Como é mostrado no caso de Scottsboro e em outras lutas semelhantes, os trabalhadores brancos revolucionários são os primeiros a exigir o direito dos trabalhadores negros de sentar em júris, a eliminação das leis de Jim Crow e da segregação. James W. Ford, um trabalhador negro nascido no Alabama, cujo avô foi uma vítima de linchamento, é candidato do Partido Comunista para vice-presidente dos Estados Unidos nas eleições de 1932, mostrando, como em inúmeras outras ocasiões, para o povo negro uma de suas mais importantes lutas.


Trabalhadores revolucionários brancos e negros exigem a pena de morte para linchadores. Eles organizam juntos na luta contra linchamento e pelos direitos dos negros. Eles convocam grupos de defesa de trabalhadores brancos e negros para combater grupos de linchamento e organizações terroristas como a Klu Klux Klan, os Night Riders, etc. Trabalhadores brancos sulistas, sobre a liderança da Defesa Internacional do Trabalho (International Labor Defense), estão entre os mais ativos na defesa dos garotos Scottsboro.


Em Bridgeport, Ohio, no dia 13 de junho de 1932, trabalhadores negros e brancos salvaram Alex Dorsey, um organizador negro do Sindicato Nacional de Mineradores (National Miners' Union) de um linchamento orquestrado por um grupo de homens liderado pelo organizador do Trabalhadores de Minas Unidos (United Mine Workers), no qual os oficiais, como aqueles da Federação Americana do Trabalho, são apoiadores da lei de linchamento.


Enquanto luta por direitos iguais para negros em todas as partes do país, o Partido Comunista combate a raiz da opressão do povo negro exigindo e lutando pelo direito de autodeterminação no Cinturão Negro do Sul, onde os negros formam a maioria da população. É o direito do povo negro no Cinturão Negro para exercer autoridade governamental sobre essa terra na qual eles trabalharam por anos, e o direito de se separar do governo dos Estados Unidos se eles assim desejarem. Assim, e apenas assim, o povo negro conquistará direitos iguais com todos os outros povos da terra, eliminando, através da aliança militante com os trabalhadores brancos, a abominável opressão nacional, a qual faz parte do sistema capitalista.


Escrito por Harry Haywood e Milton Howard


Publicação original: Lynching - A Weapon of National Oppression. New York: International Publishers, 1932.

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