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"Necessidade contínua da Revolução Cultural"


Queridos camaradas artistas, trabalhadores da cultural, compatriotas e amigos,

Estou extremamente honrado e profundamente grato por ter sido convidado como principal palestrante em sua Conferência de Cultura de 2016. Agradeço aos organizadores, artistas engajados e ao Sinagbayan pelo convite. E parabenizo os organizadores e demais participantes pelas suas conquistas no trabalho cultural e artístico e por suas soluções sempre criativas.

Em 1966, eu fiz um discurso sobre a necessidade de uma Revolução Cultural nas Filipinas. Eu mostrei como o movimento de propaganda e a entrega revolucionária do movimento Katipunan, junto do governo revolucionário das Filipinas, haviam derrotado a dominação cultural espanhola, que até então pré-condicionava as mentes do povo colonizado.

Os revolucionários filipinos de 1896 estimularam uma arte nacional, liberal-democrática e pró-povo, contra aquilo que era uma arte colonial, sectário-religiosa, obscurantista, medieval e desengajada em relação à carestia e a pobreza do povo filipino. Eles levaram a cabo uma revolução cultural, que denunciava as injustiças coloniais e feudais; e estimularam uma linha democrática e nacional, para sobrepujar mais de três séculos de domínio colonial espanhol.

As exigências revolucionárias por independência nacional e desenvolvimento econômico autônomo, para além da influência e da pilhagem colonial, não teriam ganhado terreno e permitido a vitória desta revolução filipina, sem uma revolução cultural para ganhar os corações e mentes, para inspirar o povo para a luta pela libertação nacional, levando-os até as forças armadas da revolução.

O Militarismo dos EUA e a Fraude Liberal-Democrática

Mesmo que a linha jacobinista tenha influenciado fortemente os revolucionários filipinos, de Andres Bonifácio até Apolinario Mabini e o General Antonio Luna, eles não foram capazes de superar a combinação brutal de uma força militar muitas vezes superior com a dissimulada retórica liberal-democrática dos Estados Unidos, uma potência imperialista moderna ainda emergente na época.

Para iludir os líderes do governo revolucionário, como Emílio Aguinaldo, Felipe Buencamino, Pedro Paterno e outros, os agressores norte americanos e seus emissários, apoiaram da boca pra fora as ideias patrióticas e liberal-democráticas. Mesmo quando assassinavam centenas de milhares de filipinos, sempre faziam uma pausa para garantir-lhes que não faziam isso com intenção de colonizar as Filipinas.

Eles focaram sua propaganda imperialista principalmente na burguesia nativa, em uma tentativa de recrutar mais fantoches. A linha editorial do jornal de Hearst insistiu no dever dos agressores norte-americanos em colonizar o povo filipino, para ensinar-lhes como se auto governar, e só então garantir-lhes a independência no tempo certo... Por fim, os objetivos do imperialismo norte-americano eram garantir zonas de investimento; fontes baratas de mão de obra e matérias primas; um mercado consumidor e uma base estratégica no Pacífico para participar da pilhagem da China.

Como os hispânicos, em mais de três séculos de dominação colonial sobre as Filipinas, os EUA sabiam da importância de cultivar uma mentalidade colonial entre o povo colonizado. A melhor maneira de promoverem a mentalidade colonial era utilizar a linguagem do colonizador como principal meio para governar, educar, para promover a comunicação de massas e a arte.

O imperialismo dos EUA superou o colonialismo espanhol em velocidade, profundidade e extensão de sua propaganda e na promoção da educação em inglês. Ele estabeleceu um sistema de educação pública. Mobilizaram militares e professores norte-americanos para ensinarem nestas escolas. Trouxeram missionários protestantes para atuarem como professores no interior do país. Logo criaram o sistema pensionado, que levou governantes e oficiais militares filipinos para treinarem e estudarem nos EUA.

Desenvolveram a educação em todos os níveis, visando formar o pessoal para a burocracia, os empreendimentos e para as profissões que necessitavam. Era um poder colonial determinado a mudar o sistema feudal do país para semi-feudal, antes do início da Segunda Guerra Mundial. Criaram algumas empresas manufatureiras, usando matérias-primas locais. Desenvolveram a indústria mineradora e aumentaram a mecanização das fazendas de exportação. Melhoraram os sistemas de transporte e comunicação.

Ao promover uma mentalidade colonial, na língua inglesa, um tipo conservador de democracia liberal, que se apoia numa suposta primazia da liberdade de mercado, o imperialismo norte-americano apoiou-se não apenas no sistema educacional, mas também em igrejas, entretenimento midiático de massa, sobretudo filmes hollywoodianos, programas de rádio e música pop, tudo isso desde antes da Segunda Guerra Mundial. No período seguinte, haveria ainda uma avalanche de programas de televisão produzidos nos EUA e reluzentes revistas atadas com valores consumistas e ultra-reacionários.

Após os EUA fornecerem a independência formal e nominal das Filipinas em 1946, o sistema político deve ser descrito como semi-colonial, uma vez que o país não se encontrava mais sob controle direto, mas indireto dos EUA, a partir de tratados comerciais desiguais, além de outros acordos e acertos que escancaradamente favoreciam os EUA. Os peixes grandes do governo não eram mais os oficiais norte-americanos, mas sim seus agentes políticos filipinos e a burocracia, também treinada nos EUA, da grande burguesia compradora e dos latifundiários.

Para manter a economia semi-feudal, os EUA também apoiaram-se nas classes dominantes e exploradoras locais, fazendo das Filipinas um país dependente da exportação de matérias-primas e importação de manufaturas, para implorar por lucros e investimentos externos, para manter o nível de consumo e o comércio exterior, além de minar qualquer demanda por um desenvolvimento econômico genuíno e independente para o país. A forte pressão popular que demandava pela industrialização nos anos 50 e 60, foram apropriadas pelos oligarcas norte-americanos e locais ao optar pelas chamadas indústrias de substituição de importações, que resultou na abertura de algumas indústrias de remontagem e reembalagem.

Os EUA aumentaram sua influência cultural sobre as Filipinas de várias formas. Utilizam intercâmbios e viagens escolares para ganharem as mentes dos estudantes, professores, escritores, jornalistas e artistas filipinos mais brilhantes, alinhando-as ao ponto de vista do imperialismo norte-americano. As bases militares dos EUA não estavam apenas lançando ataques contra vizinhos, mas “embelezando” sua agressão ao encorajar o povo filipino a servir no exército norte-americano e aproveitar seus benefícios.

Além de suas próprias intervenções culturais diretas, como a presença ostensiva de suas fundações filantrópicas, o imperialismo norte-americano usou a mídia de massas; as escolas e igrejas como ferramentas para sua Guerra-Fria, visando justificar a continuidade da dominação norte-americana sobre as Filipinas e desacreditar qualquer pensamento ou trabalho crítico contra esta dominação ou que defenda a independência nacional, pintando-os como comunistas ou pró-comunistas.

Desafiando a ordem semi-colonial e semi-feudal com a Revolução Cultural

Foi em 1966 que nós conclamamos por uma cultural nacional, científica e de massas, tendo em vistas resistir ao sistema semi-feudal e semi-colonial de opressão e exploração. Nós queríamos despertar, organizar e mobilizar estudantes, professores e outros profissionais; os artistas e escritores, jornalistas e todos os profissionais e ativistas da cultural, para que se juntassem ao chamado e nos livrarmos da mentalidade colonial, do obscurantismo anti-povo que bloqueava o caminho para a verdadeira independência nacional, o desenvolvimento, democracia, justiça social e todas as pautas progressistas.

De 1966 para cá, todas as condições de semi-feudalidade e semi-colonialismo se agravaram e aprofundaram. O sistema educacional e cultural que os promoveram, tornaram-se ainda mais poderosos. O regime de Marcos deu um jeito de utilizar questões pendentes com os EUA como moeda de barganha em seu plano de estabelecer uma ditadura. Ele garantiu aos EUA que eles continuariam tendo suas bases militares nas Filipinas. Também garantiu aos monopólios norte-americanos que conseguiria formas de contornar as restrições de nacionalidade para obter a posse de terra, explorar recursos naturais, operar em políticas públicas e outros negócios.

Seu principal objetivo era modificar a Constituição de 1936 através da convenção constitucional de 1971, para que se adequasse aos interesses imperialistas e suas próprias ambições fascistas. No processo, ele usou e abusou do apoio de clérigos fascistas, que há muito tempo advogavam por uma modificação constitucional como uma forma de supostamente fazer a nação avançar.

Quando declarou Lei Marcial em setembro de 1972, ele justificou seu desavergonhado aumento de poder e sua ordem abertamente terrorista com uma vasta palheta de filosofias fascistas e através da produção de mitos. A Lei Marcial criou um falso sentimento de aceitação popular ao criar um monopólio midiático e usá-lo para promover slogans tão dissimulados como “construir uma nova sociedade”; “autoritarismo constitucional”; “disciplina” e “revolução do centro”.

O povo filipino resistiu ao regime ditatorial e apoiado pelos EUA de Marcos através de um vasto movimento de massas anti-fascista e anti-imperialista, com as forças nacional-democráticas revolucionárias marchando a frente. Eles resistiram com várias formas de luta, armada e legal, diretas e indiretas. Em todas as arenas onde a luta se deu, utilizaram todos os meios de propaganda disponíveis para quebrar o monopólio midiático de Marcos e fazer avançar a Revolução Cultural.

Enquanto esteve no poder, Marcos buscou favorecer seu grupo de capitalistas burocráticos e amigos íntimos, para que se tornassem os maiores dentre a velha casta de grandes compradores e senhores de terras. Buscou investimentos e empréstimos no exterior para realizar projetos de infraestruturas enxertados. Ele prosseguiu com a industrialização com projetos de construção que mantinham a dependência da importação.

Subsequentemente, ele criou manufaturas voltadas para a exportação como caminho para a industrialização. Fábricas que empregam menos pessoas e envolvem ainda menos processamento de produtos importados do que as empresas de substituição de importação. Com as oportunidades de emprego ainda mais mitigadas, Marcos adotou uma política de exportação de mão de obra barata.

Todas estas características permaneceram intactas quando os EUA promoveram a grande mudança política para a economia de tipo neoliberal. O regime de Marcos ignorou completamente a demanda do terceiro mundo por uma nova ordem econômica mundial e mesmo os requisitos necessários para que a economia tivesse uma nova industrialização, como aconteceu em Taiwan e na Coreia do Sul.

As políticas econômicas neoliberais persistiram em todos os regimes pseudo-democráticos após Marcos. As forças anti-imperialistas e socialistas globais fizeram um recuo estratégico quando os regimes revisionistas e a União Soviética caíram e abriram caminho para a completa restauração do capitalismo. Consequentemente, os EUA e seus aliados imperialistas alegremente espalharam sua ofensivamente política e ideológica que afirmava que não havia outra alternativa além do capitalismo. Eles impulsionaram políticas neoliberais e desencadearam guerras de agressão nos Balcãs, Ásia central, Oriente Médio e África.

Desde 1966 o movimento nacional-democrático nas Filipinas continuou a buscar a resistência do povo contra o insistente e fortalecido regime semi-colonial e semi-feudal de dominação. Para tanto, demanda uma cultura nacional, científica e de massas. Ele tem impulsionado audiências e manifestações de massas cada vez maiores. Criou grupos de formação cultural setoriais e multi-setoriais em suas bases. Não existe nenhuma organização importante sem nenhum tipo de formação cultural. O trabalho cultural sem sido um fator chave para fortalecer vários tipos de organizações de massas e tem sido responsável pela participação militante de muitas pessoas em protestos populares.

A respeito disso, eu escrevi um texto relativamente extenso, que intitulei de “Arte e Literatura Revolucionária nas Filipinas dos anos 1960 até o Presente”, que apresentei de forma resumida em meu discurso no Programa de Experiência em Aprendizado Alternativo, na Universidade Diliman das Filipinas, em agosto de 2015.

Necessidade Contínua da Revolução Cultural

Há a necessidade de se levar a cabo uma contínua Revolução Cultural por causa da crise crônica do sistema capitalista, que continua a piorar e há a necessidade de alcançar todas as pessoas confusas para que a Revolução Democrática possa prosseguir. A necessidade de prosseguir a Revolução Cultural é evidenciada por oportunidades sem precedentes para o avanço da causa revolucionária no âmbito das Filipinas; pelo fato do regime político e econômico neoliberal estar se revelando e pelas guerras de agressão desencadeadas pelos EUA em vários países terem se tornado como terremotos para o imperialismo norte-americano.

Nós devemos desenvolver uma cultura nacional, que unifique o povo em uma língua nacional e em uma herança cultural comum; além de proteger e garantir a existência dos idiomas locais e diversas culturas étnicas. Nós temos uma história nacional riquíssima de lutas revolucionárias contra colonizadores e fascistas estrangeiros ou locais.

Sem um grande senso de patriotismo, poderíamos apenas idolatrar culturas estrangeiras, negligenciar nossa própria e perderíamos o desejo de aprender de nós mesmos e dos outros para a construção de uma nação. Nós temos que respeitar nossa própria produção, sermos orgulhosos de conseguirmos fazê-las ou manufatura-las ao invés de termos admiração e gosto apenas para os produtos importados.

Nós temos que ter uma cultura científica. Nós temos que reconhecer o importante papel da ciência para assegurar e garantir nossa própria independência nacional, para a promoção da democracia e a realização do desenvolvimento econômico e social. Nós devemos situar a ciência e a tecnologia no amplo espectro de conhecimentos profissionais para a realização da industrialização nacional do país.

Nós devemos mobilizar a classe trabalhadora como a mais produtiva e progressista força deste país. Nós devemos nos aproveitar do conhecimento de cientistas, engenheiros tecnólogos e dos profissionais das ciências naturais e sociais. Nós podemos nos aproveitar da solidariedade internacional e uma ampla gama de fontes estrangeiras em ciência e tecnologia.

Nós devemos ter uma cultura de massas. Sempre o ponto principal é servir ao povo, especialmente as massas trabalhadoras operários e camponeses que são explorados e oprimidos em nosso país. Sua participação completa é necessária para a afirmação da independência nacional, para o exercício dos direitos democráticos e para o desenvolvimento da economia. Suas condições de vida e de trabalho devem ser constantemente melhoradas como resultado de seu próprio trabalho.

Eles e seus filhos devem ter acesso completo aos serviços sociais, especialmente a educação, saúde e moradia. Cada vez mais, a educação para o povo deverá incluir também o acesso à outros veículos de comunicação e cultural além das mídias de massas convencionais, que devem ser democratizadas ao invés de servir apenas às elites e classes médias. O objetivo é alcançar a libertação social das massas trabalhadoras, dos milhões de camponeses e operários.

No momento, estamos engajados nos processos de paz, em que as lideranças do Governo das Filipinas nos garantem sobre oportunidades de obtenção de reformas econômicas e sociais, além de reformas políticas e constitucionais sob um clima de cooperação e confiança. Vejamos o que conseguiremos em termos de independência nacional; justiça social e desenvolvimento em todos os âmbitos.

Há uma série definida de testes que para provar se as atuais negociações de paz são mesmo o caminho para obter reformas significativas o bastante para permitir uma paz justa e duradoura. Que o Governo das Filipinas ache necessário negociar seriamente com a nossa Frente Democrática Nacional, testemunha a favor dos princípios e da maneira que o Partido Comunista das Filipinas conduziu a Revolução Democrático Popular.

Nós só podemos ter a esperança de construir uma sociedade de democracia nova nas Filipinas se o proletariado puder desempenhar seu papel de vanguarda do processo, através de seu Partido revolucionário, para realizar determinadas tarefas políticas, organizativas e ideológicas. Na melhor das hipóteses, o marxismo-leninismo-maoísmo fornece a estrutura ideológica e o programa político para uma revolução democrático popular; além de uma cultura nacional, científica e de massas. Essa ideologia revolucionária enfatiza o caráter internacionalista do proletariado, e interliga a cultura de nova democracia que está sendo feita pelo povo filipino ao muito mais rico tesouro das culturas socialistas, anti-imperialistas e progressistas da humanidade como um todo.

Uma sociedade de democracia nova deve pavimentar o caminho para um brilhante e feliz futuro socialistas para as Filipinas. Não há melhor caminho para se alcançar o socialismo além de avançar na luta por direitos nacionais e democráticos do povo filipino contra o imperialismo, feudalismo e o capitalismo burocrático. Devemos prevalecer diante destes monstros para preparar o terreno para a chegada do socialismo. No caminho, devemos continuar a brandir a arma da Revolução Cultural para ajudar a enaltecer os feitos e vitórias do povo filipino em cada estágio do processo; e prepara-los para ainda maiores avanços e vitórias no futuro.

Discurso para a Conferência de Cultura de 2016, na cidade de Bacolod, em 16 de setembro de 2016.

Pelo Prof. Jose Maria Sison, presidente da Liga Internacional da Luta dos Povos (ILPS)

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