
Há quase um século, com o golpe de mão, o imperialismo francês empreendeu o roubo de nosso país.
Houve a conquista. Houve o massacre de mulheres e crianças, a queima de aldeias e colheitas, o roubo de riquezas por um exército ávido por saques e sangue.
De 15 anos para cá, saquearam dos nativos: 18 milhões de cordeiros, três milhões de bois, quase um milhão de dromedários e, durante a expedição na Cabília, 300 aldeias foram queimadas.
Relataremos aqui apenas alguns fatos dentre os milhares que ocorreram.
Mas é importante notar que enquanto os massacres são feitos, o trabalho do banditismo continua com a perversidade característica do imperialismo francês. Desde a conquista, 11 milhões de hectares das melhores terras foram roubados; deste modo, os nativos são escorraçados para o sul árido e, consequentemente, dizimados por fomes periódicas. Multas coletivas atingem aldeias inteiras, os sequestros completam a ruína do povo argelino, que está mergulhado na pobreza.
Em poucas palavras, estes são os resultados da conquista.
Para nos impedir de gritar “Ladrões! Assassinos!”, o imperialismo nos engasga com o Code de l'Indigénat, um vestígio da mais obscura barbárie. Em virtude deste código, toda a violência praticada pelos colonos é legitimada antecipadamente. Roubo, tortura e homicídio são encorajados, e os culpados são assegurados pela impunidade.
Sem direitos políticos, sem liberdade para argumentar ou para se reunir.
Embora 98 anos nos separem da conquista, permanecemos como reféns da guerra de 1830, e a liberdade de viajar nos é concedida de maneira comedida. Nem durante o regime feudal - que o imperialismo alega ter abolido - essa iniquidade não existia.
Tudo isso sob a máscara hipócrita da civilização.
O imperialismo força-nos ao alistamento em seu exército.
O imperialismo, a fim de sanar investidas fracassadas de alguns países europeus, não hesita em nos massacrar em lutas fratricidas; nós mesmos contribuímos inconscientemente para a escravização de nossos irmãos marroquinos e sírios e, do mesmo modo, reforçamos nossa própria opressão.
Em nossas próprias fileiras essa posição pró-escravidão encontra adeptos e propagadores entre os traidores e vendedores. O imperialismo francês, graças à corrupção, soube envolver em suas políticas os elementos pelos quais exerce sua influência e dominação. Através das bocas de Bentami e Chekiken, podemos esperar uma chamada “generosidade” de lobos para os cordeiros.
Muçulmanos! Nossa conduta é estabelecida para nós sob a jurisdição de um regime tão odioso.
Unam seus esforços para melhorar nosso destino. Pela supressão do Code de l'Indigénat, pela liberdade de imprensa e de reuniões, pela igualdade do serviço militar, pela liberdade de imigração, contra o envio de tropas nativas para terras estrangeiras, contra a guerra em Marrocos! Lutar contra o imperialismo francês e por isso:
ENTRAR EM MASSA NA ÉTOILE NORD-AFRICAINE!*
VIDA LONGA À INDEPENDÊNCIA DA ARGÉLIA!
1928
Messali Hadj
Nota:
* Estrela Norte-africana (ENA)