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Foto do escritorNOVACULTURA.info

Técnicos de farmácia em alerta: Doria planeja precarizar serviços


Em recente entrevista ao programa Brasil Urgente da Rede Bandeirantes, o atual prefeito da cidade de São Paulo João Dória e seu Secretario municipal da Saúde Wilson Modesto Pollara, afirmaram que pretendem transferir as farmácias que dispensam medicamentos nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) e AMA (Ambulatórios Médicos de Ambulatorial) para as drogarias da cidade. O projeto deixou em alerta não só os trabalhadores que atuam neste seguimento, como também a classe trabalhadora de forma geral que depende do serviço que é totalmente gratuito.


Não queremos aqui desmerecer os profissionais que atuam nas drogarias, que muitas vezes estão condicionados a executar o atendimento de forma comercial. Mas, é ingênuo achar que as drogarias que visam lucro (Ultra Farma, Onofre, Drogasil, Drogaria São Paulo etc,) irão desempenhar um papel positivo na distribuição de medicamentos gratuitos para toda a população. Medidas como estas, soam como pano de fundo para diversas outras medidas que possam resultar no sucateamento do serviço público, por isso, este assunto é de suma importância para a população da cidade de São Paulo.


Os trabalhadores quando vão as unidades públicas, são tradados como pacientes, porém, nas drogarias são tratados como meros clientes, e isso é fato. Muitos pacientes que frequentam mensalmente as UBS/AMA, aproveitam o dia para fazerem diversas atividades; aferem a pressão arterial, fazem destro, marcam consulta, fazem curativos, passam no acolhimento caso estejam passando mal e etc. Diante essa mudança, ficam aqui alguns questionamentos;


  • Imagine você, paciente, sendo induzido a comprar um medicamento pela alegação da “falta”, ou pelo "termino" do mesmo (gratuito), ou ter ao mesmo tempo, que lidar com um atendente oferecendo diversos produtos como cosméticos por exemplo.

  • Imagine também, um paciente idoso após o atendimento médico, por vezes desacompanhado, ter que se deslocar para uma drogaria, quando o mesmo poderia sair do posto de saúde já com o medicamento em mãos.

  • Imagine uma drogaria, devido ao grande números de pessoas, criando categorias de clientes para um atendimento personalizado do tipo Prime.

  • Imagine quando, você paciente tiver que voltar até a unidade de saúde porque o atendente não conseguiu decifrar o garrancho na receita médica.

  • E esse paciente, que tiver que voltar a UBS para trocar a receita, terá que marcar consulta e enfrentar fila?

  • E quando um paciente optar por não comprar um medicamento, quantas drogarias ele terá que percorrer para encontrar o medicamento gratuito?

  • E a receita médica de outros municípios, será aceita? Como controlarão a entrada e a saída dos medicamentos sem o cadastro do SUS na rede privada (drogaria)?

  • Além dos atrasos poderão ocorrer no abastecimento por tudo que envolve uma distribuição, qual será a logística desses medicamentos e seu processo de compra?


Entre outros questionamentos, devemos observar que, através dos Técnicos de Farmácia, a UBS/AMA tem o dever de dispensar os medicamentos orientando o paciente da maneira correta, desde as instruções de uso ao seu modo de armazenamento. Não que o farmacêutico de uma drogaria não possa orientar o uso, mas um paciente, não retira um dipirona sequer sem estar com a receita médica, algo que não se pode afirmar nas drogarias onde uma pessoa sem receita médica, retira o medicamento sem questionamento, simplesmente porque é tratado como cliente e não como um paciente.


Técnicos de Farmácia, Enfermeiros e Médicos nas unidades atuam de forma conjunta. Um médico verifica junto aos Técnicos de Farmácia, se o medicamento que irá prescrever é padrão (da rede pública), ou seja, priorizam os medicamentos já existentes na unidade, a fim de prescrever uma medicação do qual o paciente não tenha que se deslocar e comprar na rede privada (drogaria). E vice-versa, Técnicos de Farmácia, se necessário, vão pessoalmente a sala do médico perguntar caso não tenha o medicamento prescrito, se o mesmo pode substitui-lo por outro, se o médico pode substituir a receita caso um medicamento estiver prescrito com o nome comercial pelo genérico. E isso não tem como afirmar se a drogaria, através do farmacêutico ou o atendente, irá orientar o cliente a trocar o medicamento comercial pelo gratuito.


Quando há uma receita de uso contínuo e a mesma está vencida, de forma imediata, os Técnicos de Farmácia nas unidades públicas liberam o medicamento até a data da próxima consulta, e isso, não podemos afirmar caso a drogaria alegue a falta do medicamento gratuito, e nem podemos certificar que não haverá falta de ética de uma drogaria em liberar o medicamento gratuito somente para esses casos. Só se houver um gasto muito maior, do que já se tem, para que a prefeitura não deixe faltar medicamentos nas drogarias, e isso contradiz toda sua lógica de redução de gastos com as terceirizadas, porque já faltam medicamentos básicos (hipertensão, diabete e etc.) nas unidades públicas há muito tempo. A Farmácia Popular pertencente a uma das redes privadas, que libera medicamentos como ASS e METFORMINA para diabete, por exemplo, é muito criticada pelos pacientes, por exigir que a receita de uso contínuo seja usada por três meses no máximo, além de exigir através de CPF e RG, a retirada do medicamento apenas pelo titular da receita, e no caso da impossibilidade do paciente, terceiros (filhos/parentes) não podem retirar a medicação.


A secretaria da saúde não libera boa parte dos medicamentos para doenças infectocontagiosas nas drogarias, como o caso dos medicamentos para tuberculose, que são dispensados somente nas farmácias das UBS. O medicamento para o paciente com tuberculose, que deve comparecer todos os dias na UBS, sai da farmácia e vai direto para a vigilância.


Na UBS/AMA, médicos estrangeiros do programa mais médicos, às vezes sentem dificuldades de identificar um medicamento por conhecê-lo com outra denominação, e junto com os Técnicos de Farmácia conseguem chegar a um denominador comum. A região central da cidade de São Paulo, possui um grande contingente de imigrantes, alguns refugiados, com uma grande quantidade de crianças, e que não terão um acolhimento melhor numa drogaria que não tenha responsabilidade social, justamente porque visam lucros.


Na UBS/AMA, por exemplo, se um médico prescrever um Fluconazol em comprimido por 02 (duas) ou 03 (três) vezes ao dia durante 30 (trinta) dias, um Técnico de Farmácia tem a condição de entender que o medico prescreveu desta forma, em razão do paciente esta com uma doença crônica, e mesmo assim, sabendo que o usual é 01 (um) comprimido por semana, o Técnico de Farmácia tem a plena condição de tirar essa duvida com o médico, não só por estar na mesma unidade, como por ter uma formação técnica, o que um atendente/balconista infelizmente não tem. É importante não só no caso da posologia, quem lida com medicamentos tenha conhecimento dos efeitos colaterais e os danos que podem ser causado a um individuo, sem depender do farmacêutico para orientar, mas o que vemos de corriqueiramente são atendentes/balconistas abrindo medicamentos na frente dos clientes para ler a bula ou informando aos clientes que um medicamento similar é melhor que o genérico, o que é um absurdo. As grandes redes privadas não contratam, além do farmacêutico, um profissional de acordo com sua formação, contratam atendentes/balconistas e em raras exceções auxiliares, não contratam técnicos. Na prática, funciona mais ou menos como num açougue, que por ter apenas um açougueiro, balconistas arriscam a própria mão na hora de cortar um pedaço mais fino de carne, e que muitas vezes não sabem que o coxão mole e chã de dentro são a mesma coisa.


O prefeito, alinhado com a indústria farmacêutica e as redes privadas, que se beneficiam com essas medidas privatizantes, agora aparece com a suposta “solução”, e como querem implantar essa medida, justificam tudo pela “falta de medicamento”. Essa mesma burguesia que nunca usou o serviço, propaga de forma desonesta e irresponsável uma imagem negativa desses trabalhadores que atuam nas redes públicas com a acusação de “mal atendimento”, resultando assim, numa relação hostil de grande parte população aos trabalhadores dos Hospitais Públicos e Postos de Saúde, sejam eles terceirizados ou concursados, e com isso, o argumento de que “tudo que vem do estado é ruim” sobre cai nas costas dos trabalhadores.


A partir deste senso comum, frases do tipo “Eu pago o seu salário” se tornou um hit em locais públicos, porém, mal sabem a população, que a maioria dos trabalhadores da UBS/AMA, recebe seu salário de empresas privadas e trabalham sob as péssimas condições que essas terceirizadas oferecem, e ainda estão sofrendo com a possibilidade de perderem seu emprego. A ausência de medicamentos nas unidades nunca foi culpa dos Técnicos de Farmácia, dos Farmacêuticos, nem dos seus gerentes, envolve uma série de questões, como por exemplo, à migração de muitos usuários de planos de saúde para o uso do serviço público, fator que reforça a necessidade de um investimento ainda maior no setor e não a extinção do mesmo.


Sujeitos a “cartão vermelho” os Técnicos temem realizar um abaixo assinado junto aos pacientes nas unidades e a falta de diálogo das autoridades com a classe, da informação de como será conduzido o projeto, colocam em situação delicada e emocional os trabalhadores, que até agora estão sem saber qual será seu destino. Farmacêuticos e supervisores, prevendo atitudes que possam prejudica-los, orientam os trabalhadores a não se manifestarem em redes sociais e a compartilharem informações em mensagens pelo whatsapp. Os Técnicos de Farmácia não possuem um sindicato próprio e não são reconhecidos pelo CRF - Conselho Regional de Farmácia, importante para a valorização da classe, tanto para certificar os trabalhadores que já atua na área quanto para os novos técnicos formados pelas Escolas Técnicas estaduais. Trabalhadores esses, que lidam diariamente com;


  • Superlotação de pacientes para atenderem,

  • Hostilidade de pacientes que descontam suas mazelas através de repostas atravessadas,

  • Paciente da classe média falida e arrogante,

  • Pacientes que comparecerem com a receita rasurada,

  • Paciente embriagado,

  • Até mesmo agressões verbais, palavras de baixo calão, ofensas machistas, homofóbicas e racistas.

  • Além das constantes pressões de seus superiores, que diante situações adversas, se mantem acríticos ou se colocam contra seus subordinados.


Mesmo assim, esses profissionais voltam no dia seguinte depois de horas dentro do ônibus, trem e metro, para garantir o sustento da sua família, assim como tantos trabalhadores de outros segmentos.


Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o prefeito e seu secretário estudam duas possibilidades, a primeira é o fornecimento de uma espécie de vale medicamento aos usuários, e a segunda a criação de um site especifico a ser acessado pela rede particular para checar e validar a receita apresentada. Diante de tais informações, podemos antever o que pode resultar na vida da população essas medidas, que vão da grande quantidade de demissões dos trabalhadores que atuam no setor e a grande quantidade de pacientes que terão de trocar as unidades de saúde pelas farmácias particulares (drogarias convencionais). Faz-se notório, ao pensarmos para além do que implica de forma prática, tal mudança, que envolve a distribuição de medicamentos por parte das grandes empresas do setor e resulta na exploração privada do serviço público (laboratórios e redes privadas). Este prefeito é o primeiro “trabalhador” da história que nunca na vida precisou buscar um medicamento num posto de saúde, e agora, quer tratar a farmácia do povo como mero estabelecimento comercial. Essa medida atinge diretamente os trabalhadores da periferia e todos aqueles que dependem do serviço.


Tal medida do novo prefeito, assim como várias outras, deve ser repudiada e combatida. A população deve estar em alerta e tem o dever de se colocar no lugar do outro e estar ao lado desses que também são trabalhadores e tem famílias para sustentarem. A prefeitura até agora não se pronunciou de forma oficial e a demora reflete na falta de transparência que já conhecemos, também não temos a ilusão de que se manifestem a favor da classe trabalhadora, afinal, empresários governam para empresários.

por Carlos Brandão

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